Capítulo 26
1160palavras
2022-09-07 03:22
Helena acordou em um quarto digno de um rei. A cama onde dormia era também de dossel, mas um modelo diferente. Estava com o corpo todo dolorido devido à queda na escada.
— Onde estou?
— Está em minha humilde residência mon chéri! — Disse alguém na porta do quarto, com um delicioso lanche francês sobre a bandeja nas mãos. Era o vizinho gay de Sabriel, Thierry Beaumont. Ele é escritor, além de ser um renomado professor de literatura. Também era poliglota, por isso ele falava e entendia português. E estava para lançar o seu primeiro livro.
— O que houve comigo?
— Bom, o que houve mesmo, eu não sei te dizer... eu te encontrei caída e chorando no hall do meu andar do prédio. Vi que não tinha se machucado gravemente e a trouxe para minha casa. Mesmo assim chamei uma vizinha daqui do prédio que é médica, ela te examinou, viu que não aconteceu nada grave, mas precisou lhe dar um calmante, pois você estava muito nervosa.
— E por que eu não me lembro de nada disso?
— Efeitos colaterais. Provavelmente você não se lembraria de muita coisa ou quase nada. Aos poucos, sua memória será estabilizada.
Tirando a parte do resgate, infelizmente lembrava do jeito que Sabriel olhou para ela ao ver o novo vídeo da Núbia.
— Por quanto tempo eu dormir?
— Por algumas horas... já é quase de manhã!
— Ó Christé mu, eu estou fora de casa todo esse tempo?
— Bom chéri, eu não sei por quanto tempo você está fora de casa, então...
— Por favor o meu celular?
— Calma meu amor, está aqui?
Helena desbloqueou o celular e viu que havia centenas de mensagens em seu WhatsApp, de Samantha e Dayane preocupadas com ela, de sua família e amigos de trabalho. Havia até mesmo uma mensagem do Sr. Shinguen. A essa altura do campeonato, o novo vídeo da Núbia já deve ter sido visto por muita gente. E ela também estava muito tempo fora, daí as mensagens...
E por incrível que pareça, havia inúmeras mensagens de Sabriel. Parecia mesmo que ele estava preocupado com ela... ou talvez esteja preocupado com o tipo de pessoa que Núbia comentou no vídeo e estava na companhia dele.
“Por que raios essa garota tem tanto ódio de mim? Ela já não está com o Luiz? O que ela ou eles ganham em ficar me perseguindo?”
Mas uma vez ela chorou... chorou pela humilhação nas redes sociais. Chorou por sua família, que deveriam estar sofrendo represálias por causa dela. Chorou pelo medo de perder o contrato com a empresa francesa e por consequência, perder o emprego. Thierry não estava entendendo nada, mas ficou com muita pena dela. Suspeitou que Sabriel tivesse algo a ver com o seu sofrimento.
— Aquele cara te fez algum mal? Pois se ele fez, não se preocupe, eu o botei para correr!
— O quê? Como assim? Ele veio atrás de mim?
— Sim ele veio. Achei que ele tivesse feito alguma coisa contra você.
— O quê? Não! Não foi ele. Quem me dera se fosse...
A situação era pior do que imaginava.
— Amiga ... se é que posso te chamar assim... mas pode me contar a sua história? Não precisa contar os detalhes sórdidos nem os seus podres... só quero entender o seu problema para poder te ajudar. Pelo menos desabafe.
Helena contou toda a sua história para Thierry, desde o dia em que viu no Facebook do Luiz, que ele estava em um relacionamento sério com a Núbia, até o novo vídeo dela visto por Sabriel.
— Oh mon Dieu, pobre criança!
Para mostrar que estava dizendo a verdade, pediu para ele procurar o perfil de Luiz e Núbia no Facebook. Ainda mantinham os status de relacionamento sério um com o outro. Também pediu para ver os dois vídeos dela no YouTube.
— Credo, ele teve a coragem de trocar você por isso? — Disse Thierry ao ver perfil de Núbia. Ela não era feia, mas era muito vulgar. Era uma verdadeira periguete. E ficou de queixo caído quando viu o perfil de Luiz.
— Nossa, é ele? Ele é gostoso! Que músculos! Tem jeito de quem tem uma pegada superforte! E essa boca? Deve fazer um oral divino que te fazia ir até o espaço!
Quando terminou a sua narrativa pornográfica, Thierry viu que Helena chorava. Se tocou que estava falando do seu ex que a traiu e ainda postou no Facebook para todo mundo ver.
— Oh pardon (perdão), não devia ter falado isso! Eu esqueci completamente que ele era seu namorado e o que ele fez com você.
— Tudo bem... realmente ele era tudo isso que o senhor disse...
— Ai, por favor não me chame de senhor! Dá a impressão de que sou um velho e eu ainda estou na flor da idade. Me chame apenas de Thierry.
— Obrigada se... quero dizer, Thierry. Eu precisava mesmo de um pouco de carinho.
— Imagina mon chéri ami (minha querida amiga), me simpatizei com você desde a noite que te vi naquela cena hot na escada... ou melhor dizendo, naquela cena muy caliente. Eu sabia que não devia ter deixado você ir embora!
Se lembrou daquela noite e do que a levou estar naquela situação. Riu e chorou ao mesmo tempo.
— Oh mon petit, você tem um rosto tão bonito, não deveria estragá-lo chorando por aquele bofe... ainda que ele seja uma delícia! E muito menos por aquela poule de baixo nível.
— Mais uma vez obrigada...
— Bom, eu vou deixar você descansar. E seria bom você ligar para suas amigas e sua família, porque depois dessa, todos que te amam devem estar preocupados com você.
Assim que Thierry saiu do quarto, Helena mais uma vez verificou o seu celular. Tinha mais mensagens e áudios do que antes, principalmente dele. Resolveu ler e ouvir algumas por curiosidade e a cada mensagem lida ou escutada, uma lágrima caía de seus olhos. Pareciam até que tinham vida própria.
"Deixa para lá... Não era para ser..."
Decidiu que o melhor a fazer era esquecer... o que será uma tarefa difícil, pois ela sempre se lembrará da noite em que o viu pela janela de seu quarto sem camisa e cantando, do encontro inesperado na Torre Eiffel, da conversa no bar e do momento muy caliente na escada.
Realmente será difícil esquecer daquele caliente guapo que a fez sorrir em um momento de tristeza. Que a fez se sentir bem consigo mesma. Que a fez lembrar de quem ela era.
"Foco Helena! Tem um problema de extrema importância para resolver neste exato momento, manter o seu emprego!" Desta vez não foi a sua deusa interior que disse, mas sim a profissional séria que veio a Paris para fechar um contrato.
E foi neste instante em que a contadora Helena Petropoulos assumiu o comando e entrou em contato com o seu chefe.