Capítulo 27
1763palavras
2022-09-07 03:24
A pedido de Thierry, Helena ligou para suas amigas irem até o apartamento dele e buscá-la. Elas ficaram se perguntando o que aconteceu para ela estar no prédio ao lado. Até imaginaram o porquê.
— Oh mon Dieu Lena, o que houve com você? — Perguntou Dayane preocupada.
— É uma longa história... e para piorar, a Cérbera* da Núbia fez um novo vídeo muito pior do que aquele outro...
— A gente já sabe que aquela vagaba dos infernos fez um novo vídeo difamando você. — Samantha confessou.
— Como vocês ficaram sabendo?
Elas não sabiam como contar a amiga como foi que souberam do vídeo. Ficaram se olhando, com medo de sua reação.
— Por que estão me olhando desse jeito? Aconteceu alguma coisa? Se aconteceu, foi com alguém da minha família?
— Eu acho bom vocês abrirem o bico! — Disse Thierry perdendo a paciência: — é melhor contarem o que sabem antes que mais uma vez ela descubra pela internet.
— A gente ficou sabendo pela sua mãe. — Disse Dayane segurando a sua mão.
— Minha mãe? — já imaginou como a sua mãe deve ter reagido em relação ao vídeo. Com certeza deve ter surtado ou torcido o pescoço de alguém.
— Seu irmão Hermes viu o vídeo. Alguém viu e enviou para ele. Na hora, sua mãe entrou no quarto dele, viu e entrou em choque. Seu pai e sua avó também viram. Os dois passaram mal e precisaram ser hospitalizados...
Helena já estava passando mal com o depoimento das suas amigas. Também lhe contaram que por causa do vídeo, dona Sophia saiu no braço com uma vizinha que a procurou para fazer piadas sobre ela. Heitor ficou detido uma delegacia porque se envolveu em uma briga com um conhecido para defendê-la. Constantino foi tentar tirar o filho da cadeia, discutiu com o delegado e quase acabou preso.
— Coitada da minha família... eles não mereciam passar por tudo isso...
Bem que ela tentou ser forte, mas não conseguiu. Mais uma vez ela chorou. Foi amparada por Thierry e suas amigas. Ela já não sabia mais o que fazer. Nunca se sentiu tão perdida como agora.
*
Depois de passarem praticamente o dia inteiro na casa de Thierry, Samantha e Dayane levaram Helena para casa. Não aguentaram a curiosidade e perguntaram o que ela fazia no prédio ao lado. Como nada mais importava, contou:
— Eu conheci um cara... logo após a nossa festa, eu fui me sentar na varanda. Não conseguia dormir. Então eu o vi. Eu tava tão chateada pelo que Luiz me fez que não percebi que ele me observava. Ele era tão lindo. Era o homem mais bonito que já vi na minha vida... por várias vezes, a gente ficou se paquerando pela janela.
— Mas como e onde vocês se conheceram? Tipo, se encontraram para valer.
— Foi na noite da festa da Torre Eiffel. Era com ele com quem eu estava quando Pierre fugiu de você, Sam.
— E se não fosse por aquele babaca, você teria se dado bem! _ Disse Samantha, fazendo uma careta ao se lembrar daquele episódio. Dayane deu risada.
— Na noite seguinte, eu criei coragem e o chamei para conversar. Por isso que saí naquela noite e falei que daria apenas uma volta. Era para me encontrar com ele.
— E vocês se encontraram?
— Sim, chegou até ser engraçado. Ele disse que tentou pegar um atalho pela saída de emergência do prédio, mas não sabia que dava para a rua de trás.
— Ai coitado... — disseram as duas com pena do rapaz.
— Depois que ele se explicou, nós dois fomos caminhando até um bar e...
— Espera aí, você foi com ele até um bar? — Samantha perguntou incrédula.
— Foi o que ela acabou de dizer Sam. — Respondeu Dayane mais incrédula ainda.
— Qual o problema de eu ir com ele em um bar? — Helena perguntou, sem entender onde a amiga queria chegar.
— Você estava com ele em um bar... e chegou em casa, querendo se entupir de caipirinha de vinho?
— É com isso que você tá preocupada? — Helena a interrogou indignada.
— Ora, mas você é mesmo uma pinguça! — Debochou Dayane.
Depois de um tempo olhando umas para as outras, as três amigas deram risada. Após pararem de rir, ela continuou a sua história:
— Depois que voltamos do bar, eu fui me despedir... eu queria subir para conversar com você Sam. — Disse olhando para a amiga: — mas ele insistiu para que eu fosse até o apartamento dele...
— Você foi? — Perguntaram as duas ao mesmo tempo.
— Sim, eu fui. Chegando lá, ele pediu para que eu ficasse, mas eu achei melhor vir embora.
— Por que não ficou, sua boba? Podia ter ido se divertir com o bofe, depois a gente conversava! — Samantha a repreendeu por ela não ter ficado. Dayane só lançou um olhar nada amigável para ela.
— Ora Sam, até parece que você não conhece a Helena. Em hipótese alguma ela deixaria uma amiga para trás por causa de homem.
— Na verdade, eu ia fazer isso... desculpa meninas. — Helena confessou um tanto sem graça. Dayane olhou para ela, indignada e Samantha riu que se acabou. A esperam parar de rir para continuarem a conversa e isso levou uns dez minutos... foram os dez minutos mais longos da história.
— Tá, mas e depois, você foi até a casa dele, ele pediu para você ficar...
— Nos despedimos e vim embora. Mas de repente...
— De repente o quê?
— Eu não sei o que deu em mim... e resolvi fazer uma brincadeira com ele. Eu meio que fiquei o provocando, tipo eu batia na porta dele e me escondia. Fiz isso uma duas vezes. Na terceira, eu o beijei.
— Você fez isso?
— Sim e então ele correu atrás de mim e a gente deu uns amassos na escada.
Samantha e Dayane somente observavam a narrativa sexy de Helena, sem dizer uma palavra. Ela continuou:
— E foi neste exato momento em que a minha deusa interior me obrigou a voltar ao apartamento dele... ele queria que eu voltasse para... ah vocês sabem!
Elas sabiam do que ela estava falando, mas somente perguntaram para provocá-la.
— Sim, nós sabemos.
— Porém, queremos que você nos diga com todas as letras.
Helena até tentou fazer algum suspense. Mas ao ver que sorriam maliciosamente para ela, não resistiu e encheu a boca para dizer:
— Para me jogar na cama dele e a gente fazer muito amor!
— AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! — Gritaram as duas ao mesmo tempo. Helena riu com a euforia delas.
— Oh la la mon ami!
— Quebra tudo amiga!
As três ficaram rindo com a história de Helena. Perguntaram se ela realmente voltou ao apartamento de Sabriel e o que aconteceu depois.
— Eu ia voltar..., mas quando olhei para o lado, vi que Thierry estava assistindo toda a cena. Foi assim que a gente se conheceu.
As duas olharam para ela e depois se olharam entre si, a imaginando a vergonha que deve ter passado na hora. Ela continuou.
— Então depois do flagra, achei melhor voltar para casa.
— Mas como você foi parar na casa de Thierry? E como soube do novo vídeo da Núbia?
— Nós combinamos de se encontrar na noite seguinte. Fui até a reunião da empresa para...
— Espera, você não disse que estava numa confraternização da empresa?
— Sim eu estava..., mas saí cedo para me encontrar com ele. Eu menti... desculpa meninas por ter mentido. É que eu não queria falar nada por enquanto.
Suas amigas estranharam o fato de ela mentir, mas entenderam e por isso não a julgaram. Mas a pior parte veio depois.
— Voltei ao apartamento dele. Nossa, foi tão lindo... ele tinha um piano, tocou e cantou a canção La Vie Em Rose para mim. Nós cantamos juntos. Depois ele me mostrou alguns vídeos antigos dele cantando quando mais jovem... ele já foi astro mirim de um programa infantil no México. E é claro que o clima foi esquentando, mas teve um momento em que saí do quarto para pegar um preservativo na minha bolsa que deixei na sala. Aproveitei para ir ao banheiro. Quando voltei, lá estava ele vendo aquela bosta de vídeo!
Samantha e Dayane se horrorizaram com o depoimento da amiga.
— Mas como foi que ele viu?
— Segundo ele, foi colocar num vídeo romântico e aquela porcaria apareceu nas notificações. Tinha uma foto minha, é claro que ele foi ver... — Helena começou a chorar: — ... foi horrível ver o jeito como ele olhava para o vídeo e depois para mim. Até uns minutos atrás, dava para ver o desejo nos olhos dele... e de repente, me olhou de um jeito tão esquisito! Acho que ele deve ter acreditado em tudo aquilo que aquela bruaca falou...
— Eu não acredito que ele fez a putada de acreditar na putice daquela porca? — Samantha cuspiu as palavras cheia de ódio.
— Amiga, já parou para pensar que ele pode não ter acreditado? Pois como você mesma disse, ele ficou confuso na hora. Afinal, a internet está cheia de notícias falsas. Ele pode ter achado que era mais uma dessas Fake News que circulam por aí. — Dayane comentou numa tentativa de animá-la, o que estava muito difícil.
— Ah eu não sei, eu não quis ficar para descobrir... tudo o que eu só queria naquele momento era sumir. Peguei minha bolsa e saí de lá do apartamento dele o mais rápido possível. A minha pressa em fugir foi tanta que devido a correria, tropecei e cai da escada. E foi Thierry quem me salvou!
Quando terminou, ela já estava com os olhos vermelhos, inchados e cheios de lágrimas. Nunca chorou tanto na vida e para piorar, por causa de homem, coisa que ela mesma nunca se permitiu fazer. Suas amigas a abraçaram e choraram com ela. E juraram estarem sempre do seu lado.
— Não se preocupem comigo... eu vou ficar bem.
— Tem certeza? — Perguntaram as duas ao mesmo tempo e mais uma vez.
— Não..., mas tenho que acreditar que vou ficar!
*Cérbero:(em: Κέρβερος, : Kerberos –: "demônio do poço"; em: Cerberus), na, era um monstruoso cão de três cabeças que guardava a entrada do mundo inferior, o reino subterrâneo dos mortos, deixando as almas entrarem, mas jamais saírem e despedaçando os mortais que por lá se aventurassem.