Capítulo 23
1687palavras
2022-09-07 03:08
Enquanto isso na cozinha de Dayane, Helena preparava as caipirinhas e trocava mensagens calientes com Sabriel.
"Hola chica, conseguiu se acertar com sua amiga?"
"Sim deu tudo certo obrigada"

"Posso te ver amanhã?"
"Sim no final da tarde. Qualquer coisa te aviso"
"Ok se prepara!"
"Para que?"
"Vou te pegar de jeito"
Helena deu risada:

"ok, Boa noite. Besitos mi amor"
"Ok durma bem e sonhe comigo mi hermosa! Te quiero mucho!"
E ela voltou, toda faceira com as caipirinhas, para a companhia de suas amigas. Ela estava feliz. Nem parecia que havia chorado durante o dia.
— Credo Lena, que demora. Voltou ao Brasil para comprar os limões, é?

— Não encontrava o pote do açúcar... — tentou disfarçar. Elas trocaram uns olhares de cumplicidade, mas não disseram nada: —..., mas estão aqui.
— A gente pode saber o motivo de tanta alegria?
— Sim, o motivo é que estou com as minhas melhores amigas na cidade - luz! E um brinde a nós três, pois somos lindas, poderosas e guerreiras!
— Longue vie à la France!
— Amigas para sempre!
E elas passaram a noite toda comemorando e cantando um dos maiores sucessos de Edith Piaf, Non Je Ne Regrette Rien.
*
No dia seguinte (na verdade no mesmo dia, pois as três passaram a madrugada comemorando a amizade) as três melhores amigas foram tomar café na cozinha... ou pelo menos tentaram, já que todas estavam de ressaca e cambaleavam umas por cima das outras.
— Ainda bem que somente tenho uma reunião depois do almoço. Não ia aguentar falar com ninguém agora de manhã... — Helena resmungou com dor de cabeça.
— A culpa é sua! Quem mandou se entupir de caipirinha de vinho, sabendo que tinha de trabalhar no dia seguinte? — Dayane esbravejou também com dor de cabeça.
— Será que dá para as duas rugirem mais baixo porra? — Samantha esculhambou com as duas, também com dor de cabeça.
— Quem tá rugindo aqui é a tarada por bananas... — Disse Helena apontando para Dayane, lembrando da cena erótica protagonizada por ela e pelo namorado dela, o jornalista Mitchel Junqueira. Ela encarou as duas, incrédula. Samantha deu risada com o comentário tosco de Helena, mesmo com dor de cabeça. Mas quando viram que ela não gostou, tentaram se redimir.
— Desculpa Day, não devia ter dito isso... ainda mais que deve ter sido um momento muito importante para você.
— Verdade, sentimos muito, mas... é que foi muito estranho ver você fazendo aquilo. Você tinha praticamente duas bananas, uma na boca e a outra na...
— Samantha, para! — Helena a reprendeu antes que ela falasse mais alguma besteira.
— Tudo bem... — ficaram se olhando em silêncio, até que ela se pronunciou: — vocês não vão me perguntar nada?
— Sobre o que? — Uma delas perguntou.
— Sobre ontem?
Helena e Samantha se olharam entre si, se perguntando o que ela queria conversar, se era sobre a sua noite com o namorado ou sobre o vídeo.
— Depende sobre o que quer conversar... — Disse Samantha: — ... se for sobre a sua noite, a gente espera você se sentir à vontade para falar sobre o assunto.
Elas sabiam o quanto era difícil para Dayane. A sua primeira vez foi horrível e desde então não conseguia e nem queria se envolver com mais ninguém.
— Agora se for para falar daquela merda de vídeo, esquece! — Helena declarou com amargura: — estou com enxaqueca desde o dia em que vi aquela maldita postagem no Facebook e piorou por causa daquele jornalista de meia tigela que tinha de tocar no assunto. Ainda vou ter um AVC de tanta dor de cabeça. Desculpa mais uma vez Day, sei que é o seu namorado, mas eu já tô cheia de toda esta putada!
Samantha e Dayane sabiam que Helena estava magoada não exatamente com o jornalista, mas com toda a confusão que foi criada devido a traição de Luiz.
— Bom era um pouco dos dois que eu ia falar. Mas se vocês não estão dispostas...
— Conte sobre a sua noite. — Pediu Samantha para quebrar a tensão do momento: — já que é para conversar, que seja coisa boa.
— É sério isso? — Perguntaram as duas.
— Sim. Vejam bem, a Day passou anos aprisionada pelo passado. E finalmente ela se libertou, ainda que tenha sido com aquele cara... ela conseguiu despertar a sua deusa interior.
Helena riu com a careta que Samantha fez, se referindo ao namorado da amiga, mas concordou com o que ela disse. Aquelas eram as sábias palavras de sua avó.
Dayane começou a contar como foi a sua noite com o jornalista, o quanto ele foi super gentil e compreensivo com ela. Em momento algum, não avançou o sinal sem o seu consentimento. Pelo contrário, a todo momento respeitou o seu tempo e as suas vontades. E assim como ela, ele também tinha complexos em relação ao seu corpo.
— Eu disse que tinha certas coisas em mim que ele poderia não gostar e...
— Pode parar por aí. — Helena a interrompeu: — que história é essa de que tem “coisas em você que ele não ia gostar”?
— Bom... — enrolou-se para responder: — vocês sabem que eu sou magricela desde criança. E sempre ouvimos falar que homem gosta é de mulher que tenha onde pegar.
As duas olharam para ela e depois se olharam entre si. Apesar de entenderem o drama da amiga, discordavam do seu depoimento. Bom a culpa não era dela, mas da sociedade machista. Na adolescência, enquanto suas amigas ostentavam curvas generosas, ela tinha os braços e pernas fininhos, o perfil do corpo quase reto... na escola, sofreu bullying por ser magra demais... ou magricela, como os idiotas de plantão a chamavam.
— Para começar, você não é magricela. Para começar, não tem problema nenhum em ser muito magra. A não ser que seja doença e não é o seu caso. Pare agora mesmo de ficar se colocando para baixo! — como sempre, Samantha precisou dizer umas boas verdades para Dayane: — você é linda do seu jeito. O seu corpo não foi feito para homem nenhum ficar pegando. E se o seu namorado não pode lidar com isso, então o problema está é nele, não em você.
Apesar de achar que Samantha foi meio ríspida com Dayane, Helena concordou com a amiga. Sabia que bem lá no fundo, ela só quer ajudar.
— A Sam tem razão Day, você é bonita sim, tanto na aparência quanto na alma. E o seu namorado deve se considerar um cara de sorte por estar com você.
A mesma sorte que o imbecil do Luiz tinha e jogou no lixo..., porém isso agora não vem ao caso. Helena pediu para Dayane continuar a sua narrativa, que naquele momento estava muito mais interessante:
— Quando eu falei de mim, ele disse que teríamos um problema, pois ele também tinha coisas que eu não iria gostar de ver. Aí ele tirou a blusa para me mostrar as suas cicatrizes.
— O que eram aquelas marcas?
— Como eu já havia dito antes, ele é jornalista investigativo, se arrisca investigando golpes, facções e crimes... e quando acontece o azar de ser descoberto, sofre tiros, facadas e torturas. Aquele olho vermelho por exemplo, foi resultado de um soco que levou de um contrabandista de material radioativo.
— Você não ficou com receio?
— No começo sim..., mas eu queria e muito sair da minha zona de conforto e a minha deusa interior me fez ver que por baixo daquele monte de cicatrizes, havia um homem maravilhoso que queria me fazer feliz. Eu senti isso o tempo todo em que ficamos juntos... me sentir a mulher mais linda do mundo, até a hora em que ele estragou tudo contando sobre o vídeo daquela poule da Núbia.
Helena e Samantha se orgulharam da amiga. Entretanto ficaram tristes por ela ter se desentendido com o namorado, ainda mais depois da noite romântica que teve com ele. Mesmo não sendo culpa sua, pediu desculpas pela mancada dele.
— A culpa não é sua Day. E vamos reconhecer que também não é dele. A gente ia descobrir de qualquer forma. Então não fica chateada com ele. — Helena por mais que esteja aborrecida, ainda encontrou animo para aconselhar a amiga.
— Lena tem razão, não é você que nos deve desculpas..., mas sim aquele escroto do Luiz. Nossa, me deu até ânsia de vomito... — Samantha fez uma cara de nojo ao pronunciar o nome dele. Deve ter lembrado que um dia já saiu com ele e o fato de estar de ressaca ainda ajudou. Helena não podia culpa-la, pois sentiu o mesmo: — ..., mas voltando ao assunto, deu tudo certinho entre vocês? Tipo, se preveniram?
— Oh oui..., mas na hora ele não tinha nenhuma no bolso e eu também não tenho o costume de ter em casa... então peguei uma das suas coisas... espero que não se importe. — Dayane explicou um tanto sem graça. Ela não é de mexer nas coisas dos outros e também sabe o quanto Samantha detesta que mexam em seus pertences. Porém como foi por uma boa causa, ela assentiu.
— Tudo bem... espero que vocês não tenham usado a de sabor frutas vermelhas, é a minha favorita...
— Na verdade foi exatamente essa que eu peguei. Foi mal... como é que eu ia saber que era a sua favorita? Acha que na hora eu ia lembrar desse detalhe ou esperasse você chegar da rua para perguntar?
Ao ver a expressão que Samantha fez ao ouvir Dayane dizer que pegou justamente o seu sabor preferido, Helena explodiu em risos mesmo com dor de cabeça. E vendo que não valia a pena discutir por besteira, ela só parabenizou a amiga pela iniciativa:
— Bom o importante é que venceu os seus medos. E nós estamos muito orgulhosas de você, né Le?
— Verdade e um viva para você, porque é linda, poderosa e guerreira.
— Mérci mon cher amis. (Obrigada minhas queridas amigas.)