Helena chegou ao apartamento de Dayane, pensando que explicação daria. Ao entrar, se deparou com ela cochilando no sofá. Ela até queria deixar a amiga dormir, mas precisava lhe dar alguma satisfação.
— Oh mon Dieu Helena, por onde esteve durante todo esse tempo?
— Eu fui dar uma voltinha...

— A gente estava preocupada com você, principalmente Sam. Ela acha que você está brava com ela.
— Não estou. Eu pensei e muito sobre o assunto, para poder conversar com ela.
— Por favor não vão brigar.
— Não vou. Quero mesmo me acertar com ela.
— Quer ajuda?
— Valeu amiga, mas preciso fazer isso sozinha. Mas qualquer coisa te aviso.

E lá foi ela até o quarto de Samantha. Entrou sem bater. Ela já estava dormindo, mas resolveu acordá-la. Precisava mesmo conversar com a amiga.
— Lena, por onde esteve? — Perguntou sem ter acordado direito.
— Eu fui dar uma volta... precisava refletir sobre o que aconteceu...
— Le, eu... — ia explicar, quando foi interrompida. Helena somente pegou em suas mãos carinhosamente e olhou no fundo de seus olhos verdes.

— Espere. Antes de mais nada, eu é que peço desculpas por não te escutar, mas eu estava muito nervosa para ouvir naquela hora. E não importa o que tenha a me dizer ou que tenha feito, não vou te julgar. Você é a minha melhor amiga. Minha companheira velha de guerra de todas as horas. Minha irmã. E eu te amo!
Ao ouvir aquilo, Samantha se comoveu e mais uma vez chorou. Realmente Helena era uma boa amiga, uma pessoa maravilhosa e não merecia ser enganada durante anos e pior, ter descoberto a verdade daquela forma para lá de escrota.
— Ah Le... não sei nem por onde começar...
— Pelo começo né Sam.
As duas riram.
— Foi quando comecei a trabalhar na academia. Fui até a secretaria e dei de cara com o Luiz. E eu o achei muito charmoso!
"Isso é verdade!" Concordou. Realmente Luiz era do tipo de homem que arrasava corações... até ela mesma se sentiu atraída por ele quando o viu pela primeira vez.
— E é claro que quando ele me convidou para sair, eu aceitei! Mas assim como todos, ele somente queria saber da supermodelo que brilhava nas passarelas e campanhas publicitárias... assim como o meu ex marido... assim como os sócios da academia. Mas nunca se interessou pela pessoa atrás da supermodelo. Nunca gostou de mim de verdade. Ele só queria a minha imagem para fazer bonito para os amiguinhos dele.
— Mas vocês saíram?
— Algumas vezes... eu fiquei muito arrasada com o fim do meu casamento. Larguei a minha carreira a pedido dele e para quê? Para ele simplesmente me abandonar? Fui paga para me separar dele sem escândalos... eu só saí com Luiz para amenizar a minha dor. Só fui mais uma na lista de peguetes dele. Quando me dei conta do que ele queria mesmo, terminei. Claro que ele não gostou e chegou a pedir a minha demissão!
— Que horror, ele não tinha esse direito! — Helena protestou, indignada com a atitude de Luiz e comovida com o depoimento da amiga: — E ainda bem que não te despediram.
— Pois é... eu não me senti bem naquela situação. E isso foi meses antes de você ir até a academia para fazer a minha aula, que isso fique bem claro! — Explicou.
Helena lembrou deste episódio. Na época em que começou a namorar Luiz, chegou a perguntar tanto para a amiga quanto para o namorado se eles se conheciam. E os dois confirmaram que sim e disseram que só se cumprimentavam por educação. Chegou a brincar com Luiz, perguntando o que ele achava de sua amiga. E ele respondeu: "Ela realmente é uma mulher muito bonita! É um mulherão da porra! Mas ela se dá ao respeito e todos a respeitam, o treinador já deixou isso bem claro!"
E fez a mesma pergunta para ela: "Ele é mesmo um homem muito bonito e a maioria das alunas babam por ele. Eu só escuto os comentários..."
— Sam... eu queria perguntar uma coisa, mas não sei se devo...
— Você quer saber se eu já dormir com ele? Ou se ele te traía comigo? Em nome da nossa amizade, não. Já fizeram e muito isso comigo e desde criança vejo meus pais fazerem isso um com o outro. Eu não ia fazer uma sacanagem dessa com você. Não faça para os outros aquilo que não quer que façam para si.
Ao ouvir aquilo, suspirou aliviada, mas ao mesmo tempo se sentiu culpada por desconfiar da amiga. Repetiu para si mesma: "E daí se eles já dormiram juntos? É passado."
— Mas... — ela continuou: — teve uma vez que ele me procurou.
— Por quê?
— Ele me pediu para nunca te contar sobre a gente.
— E por que ele te pediu isso?
— Não sei, eu também não entendi. Mas também eu não quis falar nada, porque eu sempre via o quanto você estava feliz ao lado dele. E também era uma coisa que eu queria esquecer, que um dia saí com ele.
Helena até compreendeu o fato de Samantha não ter lhe contado nada... ou pelo menos tentou entender. O que estava difícil de engolir era o porquê Luiz nunca contou para ela, mas contou para Núbia e ainda a deixou postar na internet.
— Acho que ele nunca gostou de mim de verdade... — disse se segurando para não chorar de novo: — enquanto eu o amava, eu deveria ser mais uma no seu harém.
— Ou talvez não, pois ele te levou para conhecer a família dele e fez questão de conhecer a sua. Quando um homem faz isso é porque quer coisa séria. — Disse Samantha numa tentativa de consolar a amiga: — Ele viu que você era moça séria e não sei, talvez quisesse se melhorar.
— Ah, mas você também não é nenhuma largada. Não é porque não te valorizaram, não significa que você não tenha nenhum valor. Pelo contrário, você tem e muito valor.
— Valeu amiga.
— Só mais uma pergunta: quando comecei a namorar o Luiz, você teve ciúmes da gente?
— Sim. Fiquei. E muito.
Helena arregalou os olhos quando Samantha disse que ficou com ciúmes.
— É sério isso?
— Sim, eu fiquei com muito ciúmes de você. Não dele.
As duas riram.
— Só você mesmo para fazer piada numa hora dessas...
— Eu cansei de chorar... e cansei de ver você chorar por causa daquele bosta. Mas assim como todos, eu também achava muito estranho uma moça fina e sofisticada como você se envolver com um ogro feito o Luiz. Perto dele, você é uma princesa. Desculpa, sei que isto não é da minha conta. Eu só respeitava a sua escolha em nome da nossa amizade.
Helena já estava cansada de ouvir sempre a mesma história. E vai ver que Luiz também deveria estar farto dela. Mas ainda assim não era desculpa para ele ter lhe traído.
— Você me perdoa Le?
— É claro, não esquenta com isso. Mas quero que me perdoe também. E não quero mais saber de Luiz entre nós... até porque ele já encontrou a alma gêmea dele!
E entre choros e risos, as duas amigas se abraçaram. Finalmente conseguiram se entender. Voltaram a sorrir e tirar sarro uma da cara da outra. E foi neste clima descontraído que Dayane bateu na porta, trazendo uma garrafa de vinho e uma tabua de frios.
— Está tudo bem meninas?
— Agora ficou melhor, porque você chegou. — Disse Samantha segurando a mão de Helena.
— Mas ficaria melhor ainda com uma caipirinha de vinho.
— Pelo jeito, vocês já estão melhores... — A parisiense debochou.
— Ah já que é para se embebedar...
— Ótima ideia Lena! — Samantha concordou com Helena.
— Você tem limão Day?
— Sim estão na fruteira da cozinha, mas...
— Ótimo, deixa que eu faço! — E saiu às pressas do quarto com a garrafa na mão.
— Nossa, ela realmente quer ficar de porre... — Samantha observou impressionada.
— Eu acho que é outra coisa... — Dayane comentou desconfiada: — acho que ela conheceu alguém. Ela chegou com um sorriso estampado no rosto e cheirava a perfume masculino.
— Sério? Mas porque ela não falou nada para a gente?
— Acho que está esperando o momento certo. E também quer se divertir um pouco. Vamos dar um tempo a ela. Ela merece depois do que passou.
Samantha só levantou os ombros, concordando com a amiga.
— E nós não desconfiamos de nada.
— Do que desconfiamos mesmo?
E elas riram, concordando e torcendo pela felicidade de Helena.