Capítulo 14
896palavras
2022-09-07 02:39
O namorado de Dayane era homem bonito e ao mesmo tempo, estranho. Um dos lados de seu rosto era marcado por uma imensa cicatriz de origem cirúrgica. Um dos seus belos olhos castanhos era vermelho. E quando ele estendeu a mão para cumprimentar Helena, ela logo notou que sua mão também tinha uma outra cicatriz, como se tivesse sido perfurada.
— Mon prince (meu príncipe), esta é a minha amiga de infância, Helena Petropoulos que junto com Samantha, vieram do Brasil para passar um tempo comigo. — disse Dayane ao apresentá-la. Ela só olhou para o casal, reparando o quanto eles eram diferentes. Enquanto a sua amiga era elegância pura, ele tinha um visual um pouco mais despojado, mas ainda estava bem-vestido.
Diferentes, assim como ela e Luiz eram...
— Senhorita Petropoulos? — Ele teve de perguntar, já que Helena não o respondia. Dayane teve que pegar na mão dela para que ele pudesse cumprimentá-la. E ela só observava.
— Tenho que perguntar: estava ouvindo a nossa conversa Sr. Junqueira? — Ela o intimou com agressividade. Não gostou muito do fato de ele aparecer do nada, se é que já não estava ali ouvindo a conversa delas. Por medo e vergonha do julgamento alheio, Dayane não queria que ninguém soubesse do seu passado. Helena sabia e respeitava a sua decisão. Mitchel tentou se explicar:
— Não, de jeito nenhum, eu estava passando quando ouvir a senhorita dizer o nome da minha namorada. Desculpe ter causado alguma má impressão. — De repente ele olhou para as duas, já farejando algo de errado. Não era à toa que ele é jornalista: — eu atrapalhei alguma coisa?
— Não, imagina. — disseram as duas tentando disfarçar.
— É que pareceu que vocês estavam tristes... — E elas estavam, mas claro que não queriam falar e ele preferiu respeitar o silencio delas. Para mudar de assunto, disse uma boa notícia, que algumas blogueiras de moda vieram para a Semana da Moda, estavam também ali na balada e quando souberam que a estilista Dayane Remy era sua namorada, pediram a ele para conhecê-la.
Helena e Dayane se olharam e olharam para ele: — agora?
— Sim e por que não? Já que estamos todos aqui, porque não aproveitar a ocasião... a não ser que queira marcar para uma outra vez.
— Pode nos dar licença um instante? Eu já volto — Pediu Dayane, pegando Helena pelo braço. Elas se afastaram um pouco para conversar em particular: — E então, o que você acha?
— O quê? Se você deve ir conversar com as blogueiras? Vai lá.
— Não foi isso que perguntei. É sobre dar “aquele próximo passo” ...
Helena se admirou com a atitude de Dayane. Parecia até que ela havia superado o trauma do passado em questão de segundos. A olhou de cima a baixo, virou para analisar o jornalista e perguntou se ela realmente queria ter a “conversa” naquele momento. Achou que foi muita falta de noção da parte dela.
E pelo modo com ela a encarava com os seus olhos cinza lunar, sim.
— Eu não acredito que você quer falar disso agora!
— Mas qual é o problema? Não foi você mesma que disse agora pouco que somos mais fortes e melhores do que nos aconteceu?
— Sim, mas eu não imaginei que seria tão rápido!
— Bom, eu... eu queria sair um pouco da minha zona de conforto... e durante anos, eu sempre senti vontade de "namorar"..., mas eu sempre travava. Será que tem alguma coisa errada comigo? — Confessou meio que sem jeito, fazendo aspas com os dedos em "namorar".
Helena entendeu o que Dayane queria dizer e ficou com pena dela. Era uma bela mulher e uma boa pessoa. O que aconteceu com ela foi hediondo. Tentou ajudar:
— Amiga, não é porque aquele babaca foi um cretino com você, que todos serão. — Ela até queria acreditar no que acabou de dizer: — deixe acontecer naturalmente. Não crie expectativa e seja você mesma. Não tem nada de errado em não querer fazer, mas também não tem nada de errado em querer fazer. Você é mulher, aliás, uma mulher muito linda. Você merece ser feliz, mesmo que seja por apenas uma noite.
Mesmo não tendo se simpatizado muito com Mitchel e vendo que Dayane estava decidida, sentiu que precisava dar mais alguns conselhos à amiga. Disse o que a sua avó diria naquela hora:
— Escute a sua deusa interior, liberte- a quando for preciso e peça proteção caso seja necessário.
Dayane já conhecia aquela frase. Eram as sábias palavras da vovó Tina.
— Conselhos da vovó?
Helena só balançou a cabeça afirmando e dando risada. Suas amigas sabiam dos sábios conselhos e das dicas apimentadas de sua avó.
— Bom, vai lá com o seu namorado conversar com as blogueiras.
— E você, não quer vir conosco?
— Ah não, eu vou dar uma voltinha. Vou procurar a Sam. Aproveitem a festa e qualquer coisa me liga! — deu uma piscadela e sumiu no meio da multidão.
*
Helena ficou andando pela festa meio que sem rumo. Estava lotado de gente. Paris em peso deveria estar ali presente. Enquanto andava distraidamente, acabou meio que esbarrando em alguém.
— Oh excusez-moi... — pediu desculpas em francês. Quando levantou os olhos para ver quem era, ela ficou boquiaberta...
Era ele, o seu misterioso vizinho.