Capítulo 13
1620palavras
2022-09-07 02:38
Alguns dias depois, as três melhores amigas ficaram sabendo de uma balada que aconteceria na Torre Eiffel. Não se sabe o porquê da festa, mas a população local e turistas adoraram a ideia. É claro que elas não podiam perder essa.
Todas foram de boinas e lenços amarrados no pescoço, como se fossem francesas, com exceção de Dayane, que realmente é. E ela combinou com o namorado de se encontrarem na festa.
Chegando lá, a maioria das pessoas também estavam de boina e lenço no pescoço. A festa estava lotada e animada, DJ tocando vários tipos de música, muita bebida e é claro, muita pegação!
Assim que chegaram, Helena notou que alguém cantava para a multidão. Não conhecia a música, mas a voz era bem familiar...
— Bonne nuit mademoselles! (Boa noite senhoritas) — Era Pierre, também de boina. Olhou para Samantha com admiração, mas lançou o mesmo olhar para Helena e Dayane. As três se olharam e se seguraram para não caírem na risada.
— Bonne nuit Pierre. — Ela ronronou, caminhando em sua direção. Era bem mais alta que ele, o que o deixou sem jeito: — muito prazer, sou Samantha, amiga de Helena. Ela me contou sobre você querer me conhecer...
— Contou é? — Ficou nervoso ao imaginar o que Helena deve ter contado a ela. E começou a tremer feito vara verde, quando ela chegou mais perto, praticamente encostando nele.
— Tem razão Le, ele é mesmo uma graça!
Pierre só olhava com o olho esbugalhado para ela e depois desviava para as duas. Para apimentar ainda mais a situação, elas ficaram se alisando e quase simularam um beijo. Faziam muito isso quando estavam em alguma balada, quando eram mais jovens e queriam provocar. Ele quase teve um ataque cardíaco quando viu aquilo.
— Com licenças meninas... — Disse Samantha o arrastando sabe-se lá para onde. Os dois desapareceram no meio da festa.
— Viu a cara que ele fez? Parecia que estava implorando para não ir. — Dayane riu.
— Sinto pena dele... mas se quer saber, tomara que Sam acabe com ele, porque homem safado merece mais é apanhar.
Naquele momento, Dayane não pode deixar de sentir pena de Helena. Ela ainda estava muito triste devido a traição de Luiz.
— Você ficou muito magoada com o que Luiz te fez, non?
— Magoada é apelido... fiquei totalmente destruída, tragada pela vida... se a intenção dele era partir o meu coração em mil pedaços, ele conseguiu. Ainda estou juntando os caquinhos...
— Guarde o maior. — Sugeriu a aristocrata parisiense.
— Para que? — Perguntou Helena, estranhando aquela sugestão.
— Para rasgar a cara dele.
As duas caíram na risada.
— Entendo como se sente mon chéri... quando um homem marca a nossa vida, é difícil seguir em frente.
Dayane usou a mesma frase que Samantha disse algumas semanas atrás. Helena já imaginava sobre o que a amiga se referia, apesar de achar meio estranho já que ela está namorando.
— Pode até ser difícil, mas não é impossível. Veja você mesma, está com alguém.
— Eu sei..., mas confesso que não foi fácil. Eu sempre acho que vou me machucar... — desabafou: — ... ainda me lembro do sorriso macabro dele.
*
Meses depois da morte de seus pais, um certo primo afastado do pai de Dayane se aproximou dela, o que foi muito estranho esse interesse repentino por ela. Pelo que ela sabia, os dois não se davam muito bem. Como se sentia muito sozinha, aceitou namorá-lo, mais por carência do que por amor. Ela sempre achou que ninguém a queria por conta do seu físico. Como toda adolescente, tinha complexos em relação ao seu corpo..., mas o tempo foi passando e quando menos se esperava, ela estava perdidamente apaixonada por ele.
Helena não via este namoro com bons olhos. Mal começaram a namorar e o sujeito vivia pedindo a ela uma "prova de amor". Percebendo que era uma ameaça aos seus planos, começou a envenenar Dayane contra ela. Chegou a assediá-la numa tentativa de afastá-la da amiga.
Um dia, ele sugeriu a Dayane que o visitasse para conhecer alguns parentes e amigos da família. Ele dizia fazer parte da alta sociedade paulistana. Helena fez de tudo para impedir, mas foi tudo em vão. Somente deu o último conselho a amiga: "Pensa bem se é isso que você quer!"
Ela foi até a suposta casa dele, uma bela residência localizada em um bairro nobre da cidade. Chegando lá, percebeu que a casa estava vazia... e mais uma vez, ele pediu uma "prova de amor"... e ela deu a "prova" que ele tanto queria. E quando ela finalmente percebeu o que ele realmente queria, era tarde demais. Simplesmente se vestiu sem encará-la e foi embora, a deixando sozinha numa casa estranha.
"Mas você disse que me amava... e que queria casar comigo! Eu te dei a prova que você tanto queria!"
"E você acreditou? Garota, olha para você, eu te fiz um favor! Quem vai querer uma magricela feito você! Foi divertido enquanto durou! Vai lá contar para o seu papai... oh esqueci que ele foi comer capim pela raiz!”
Consumida pelo ódio, deu-lhe uma tremenda bofetada. Revidou com mais palavras ferinas: "Ninguém vai querer mulher usada!"
E depois deste dia, ela nunca mais teve notícias dele...
*
Ao se lembrarem do que aconteceu, tanto Dayane quanto Helena choraram. Ela chorou pela amiga, que teve a juventude destruída por causa de um canalha. Se envergonhou por achar que era só ela estava sofrendo, quando Dayane passou por coisa pior, e ela era apenas uma menina. Tentou consolá-la amiga numa tentativa de diminuir a própria dor.
— Eu devia ter ouvido você, estava certa o tempo todo! Oh me perdoe!
— Eu tinha lá as minhas dúvidas... e você já me pediu perdão na época, não precisa pedir agora. — E no meio daquele papo deprê, Helena lembrou de um fato engraçado: — Quer ouvir um babado?
— Babado? De quem?
— Sobre o cretino. — Dayane somente a observou dar aquele sorrisinho safado de quem sabia algo e espera que alguém demonstre interesse em saber. Quando ela demonstrou o interesse, Helena despejou: — Ele foi preso.
— QUE? COMO? QUANDO? E POR QUÊ?
— Parece que ele virou estelionatário e fazia alguns bicos como garoto de programa. Falsificava documentos e saía com as mulheres e filhas de ricos e poderosos. Alguns senhores e filhos deles também.
Dayane se sentiu como uma recém-saída do inferno e aceita no paraíso com aquela revelação:— continue por favor!
— O seu reinado acabou quando falsificou um balancete de verificação de uma empresa, que por coincidência era cliente do escritório onde eu trabalhava na época.
Vendo que a amiga não entendia de termos contábeis, explicou:
— É um demonstrativo contábil que reúne todas as contas em movimento na empresa e seus respectivos saldos (saldos devedores e saldos credores). Achei estranho a empresa receber muito dinheiro sem gastar quase nada e comentei com a minha chefe na época. Consultamos um perito contábil que descobriu a fraude. Quando a perícia chegou até ele, também foi descoberto que falsificou diplomas, certificados e identidades. Clonava cartões de crédito das clientes que saíam com ele.
— Oh mon Dieu Helena (Oh meu Deus), que babado!
— Ah e tem mais. O que ele fez com você, fez a mesma coisa com outras meninas, tentou falsificar a identidade de algumas delas para dizer que eram maiores de idade, para não ser preso por sedução de menores, o que não adiantou, pois foi um exame de corpo de delito comprovando os estupros. Juntaram este caso com os outros e viram que ele estava mais sujo que pau de galinheiro. Já tinha a ficha suja desde quando seu pai era vivo.
— Nunca entendi o porquê eles não se davam...
— O pai dele e o seu eram primos. Parece que ele andou cometendo pequenos furtos numa região nobre da cidade e chamaram a polícia. Achava que foi seu pai que o denunciou. Se foi mesmo, não se sabe, mas depois dessa, o seu primo virou a vergonha da família. Desde então, passou a odiá-lo.
— Como eu nunca soube disso?
— Eu escutei uma conversa do seu pai com o meu. E pediu para não comentar com ninguém. Esse primo dele só quis te "namorar" para se vingar do seu pai, mesmo já ter falecido.
— Pois foi muito bem-feito para aquele patife!
— E o babaca ainda teve a cara de pau de falar que ferrei com ele de propósito, porque eu nunca quis sair com ele.
— Oh ele não falou isso? — Perguntou dando risada.
— Sim e falou coisa pior: se eu abafasse o caso, ele sairia comigo. Como se eu quisesse... além de lhe dar um fora, também contei isso a perícia e levei o caso adiante.
— Oh minha heroína! — A abraçou: — você me fez justiça!
— Sim, eu fiz por você. Agora, ele está pagando pelo mal que que te fez.
— Merci mon ami. (obrigada minha amiga) Mais uma vez te peço desculpas ..., mas a prisão dele não vai apagar o que ele fez comigo.
— Que isso Day, olhe para você, é uma estilista de sucesso. Você é mais forte e melhor do que isso. Que você foi marcada, sim você foi, mas sobreviveu. Você é a Dayane Remy...
— Exatamente quem eu procurava. — Alguém falou atrás dela. Ela se virou e viu um belo rapaz, que olhava fascinado para Dayane, que por sua vez, ficou muito feliz ao vê-lo. Após se cumprimentarem com um beijo, o apresentou para Helena:
— Amiga este é o meu namorado, o jornalista Mitchel Junqueira.