Capítulo 13
1958palavras
2022-04-27 04:42
Como havia pensando, Shuji procurou pelo rastro de Kikyou por todo o castelo, sem muito sucesso, achando muito tempo depois, próximo ao rio, tentando acalmar a dor que sentia em seu corpo e fazendo seus machucados cicatrizarem antes de encontrar Kanji outra vez, ao perceber o estado da jovem, o grande youkai se aproxima, sem que essa perceba, questionando:
– Por que permite isso, serva?
– Porque eu o amo.

Respondeu ela, sem sequer olhar para Shuji, esse responde em tom de desprezo:
– Não creio que isso tenha nada a ver com amor, creio ter a ver com sua ambição.
– Ele me prometeu...
– Não creio que tenha lhe prometido nada.
– Você não sabe...
Antes que ela conseguisse dizer algo, teve seu ombro transpassado pelo chicote de veneno, o que a fez gritar, enquanto era arrastada até à frente do frio youkai, que lhe advertiu:

– Mantenha-se longe de meu irmão e sua noiva. Se eu a perceber perto dele. Darei a você uma morte lenta e dolorosa, entendeu serva?
- S... sim... senhor.
Respondeu ela, com dificuldade, logo depois caindo ao chão, sentindo o veneno injetado pelo youkai percorrendo suas veias, fazendo-a perder os sentidos por algumas horas, até que outra serva a encontrou. Um pouco depois, Shuji procurou a madrasta, estava preocupado, embora jamais demonstrasse isso, Takara, ao ver o enteado, pergunta sorrindo:
– Bom dia, meu querido, está tudo bem?

– Bom dia, rainha, eu espero que sim.
– O que aconteceu para vir me procurar tão cedo, príncipe?
– Tem algo com seu filho.
– Kanji, por que diz isso?
– Hoje, pela manhã, surpreendi uma moça saindo do quarto dele.
– Bem, isso não é tão estranho assim, meu querido, você conhece seu irmão.
– Sim, o conheço. Por isso estou aqui.
– O que viu afinal?
– A moça estava bastante machucada e o quarto dele...
– Não diga mais nada, Shuji. Você lembra como era a moça?
– Era uma mestiça de Inu Youkai, de cabelos escuros.
Takara suspira, olhando para baixo, tomando uma decisão sobre o assunto, ela beija a testa do príncipe carinhosamente, saindo com pressa da presença dele, foi até a cozinha, onde achou Cho. Aproximou-se, dizendo:
– Cho, venha comigo.
– Sim, senhora, Takara Sama.
As duas saem da cozinha, andando para frente do castelo, enquanto se afastam a rainha diz:
– Cho, onde está aquela serva mestiça de Inu Youkai?
– Deve estar no alojamento dos empregados, disse que não se sentia bem hoje.
– O que ela tinha?
– Não sei, senhora, ela não falou muito, apenas se deitou.
– Quero vê-la, imediatamente.
As duas se aproximam do alojamento dos empregados do castelo, era uma ala na parte de trás do castelo, muito grande e arejado, onde ficavam os quartos dos servos do castelo, não tiveram de andar muito até chegar onde Kiku dividia o quarto com outra jovem, uma raposa youkai de cabelo vermelho- alaranjado e olhos verdes, um pouco gordinha e muito sorridente. Quando Cho e a rainha se aproximavam, a jovem estava saindo de dentro do local, a velha questionou, altiva:
– Como está, Kiku?
– Agora melhor, não sei que youkai atacou a garota...
– Como assim, menina?
– Desculpe, Cho Sama. Mas não sei o que poderia ter deixado uma mestiça de Youkai naquele estado, sem ser um youkai.
– Quero vê-la agora mesmo, Cho.
– Sim, majestade, venha.
As duas mulheres entraram no quarto de forma intempestiva, a rainha se aproximou da jovem, deitada sobre a cama, encolhida, encostou a mão no ombro da menina, que deixou escapar um pequeno gemido, Cho disse:
- Menina, levante-se, a rainha deseja vê-la.
Kiku nada disse, apenas se moveu na cama, levantando-se com dificuldade entre alguns gemidos baixos, a garota estava pálida como se algo tivesse sugado suas energias, Takara não podia deixar de notar o pescoço da menina, todo marcado, e nos seus pulsos os arranhões e os hematomas, parecia estar sentindo muita dor e estar enfraquecida, perguntou chocada:
– O que houve?
– N... nada, minha senhora.
– Como se machucou dessa forma?
– Foi uma queda, minha senhora.
– Caiu?
– Sim, minha senhora.
– Menina, eu estou vendo as marcas de garras e de dedos nos seus punhos e no seu pescoço. Eu sei que não foi uma queda. Diga a verdade.
Ela viu sua chance de ouro naquele momento, se tornaria a princesa em uma única conversa com a rainha do Clã Inu, fez sua melhor cara de pobre moça, cobrindo o rosto com a mão:
– Eu tenho vergonha, senhora.
– Diga-me, o que houve?
– O príncipe e eu passamos a noite juntos...
– Meu filho fez isso a você?
– Sim, senhora! Nos amamos muito, a senhora sabe como é...
A rainha estava chocada, podia sentir a dissimulação na voz da jovem, sabia que estava sendo torturada, mas estava disposta a aceitar isso pela possibilidade de ser a princesa daquele Clã. Chegou a ficar com pena da jovem. Afastou-se, dizendo-lhe:
– Descanse, menina. Assim que estiver se sentindo melhor, quero vê-la. Venha Cho.
– Obrigada, majestade.
Disse Kiku, voltando a se deitar. Assim que ficou sozinha, sorriu para si mesma, a coroa real agora era sua, pelo menos era o que essa imaginava. Já se dirigindo para o palácio, Takara diz a Cho com voz firme:
– No fim do dia, mande arrumar as coisas dessa moça, quero que a traga pessoalmente até mim. E depois disso, cuide para que vá embora das terras do Clã Inu Youkai. Entendeu, Cho?
– Sim, Takara Sama.
Um pouco distante dali, dentro do quarto de Kanji, o rapaz parecia ocupado trabalhando em um tipo de closet em seu quarto, passou a tarde trancado, só saindo no fim do dia para ver sua noiva, que havia voltado da terra dos dragões. Ao ver o noivo, Katherine estranhou algo nele, parecia que o rapaz estava com olheiras, ao ver a amada o rapaz se jogou em seus braços, abraçando-a forte contra o peito, parecia que não a via há muito tempo. A garota sentia que havia algo errado, perguntou junto ao seu ouvido:
– Está tudo bem, meu príncipe?
– Sim, sim eu senti tanto a sua falta.
– Tudo bem. Eu estou aqui.
– Nunca me deixe, por favor.
Ela riu um pouco, tentando olhar no seu rosto, mas o rapaz permanecia agarrado ao seu peito como se precisasse dela para sobreviver, Katherine ficou surpresa com aquela reação, respondendo:
– Kanji, eu fiquei fora algumas horas...
– Prometa, por favor.
– Eu prometo, nunca vou te deixar.
– Obrigada, minha princesa, eu te amo tanto.
Estava desconcertada com aquela atitude dele, mas nada disse, apenas andou com ele até o jardim interno do castelo, onde ficaram abraçados quase o tempo todo.
À noite, quando encontrou a irmã, Katherine lhe perguntou:
– Ami, algo aconteceu na minha ausência?
A menina gelou.
– Não, por quê?
– Tem algo estranho com Kanji.
– Kanji? E isso, o que quer dizer, irmã?
Katherine olha para Ami por um instante, apertando os olhos, aproximou-se um pouco, em silêncio, e só assim disse:
– Fale, Ami.
– N... nada... n... não.
– Eu não acredito.
– Irmã, eu não conseguia dormir, eu queria tanto passar a noite com ele... você também dormiu no quarto do seu noivo.
– Eu dormi no quarto do meu noivo, apenas dormi.
– Katherine... eu não pude resistir mais.
– Ami?!
– Eu sei, ele também disse que eu não deveria ter ido procurá-lo, mas eu o amo muito.
– É uma descarada. Agora, por favor, espere até o casamento antes que acabe engravidando.
– Sim, irmã.
– Estou falando sério.
– Eu sei. Katherine, não sei se deveria te dizer isso, mas...
– O quê?
– No dia em que fiquei com Shuji, vimos uma moça sair do quarto do seu príncipe, ela estava bem estranha. E depois disso quase não o vi.
– Uma moça?
– Sim, irmã.
– Me fale mais sobre isso, sei que sabe muito mais do que está dizendo. Conte-me tudo.
Ami, então sentando-se sobre a cama com a irmã, relatou tudo o que tinha visto, as desconfianças de Shuji e o que esse havia visto no quarto e algumas coisas que ela havia conseguido deduzir da situação toda. Katherine ouvia atentamente o que a irmã lhe dizia e, em silêncio, tirava daquelas palavras suas próprias conclusões.
Como o ordenado pela rainha, após o jantar, Cho levou Kiku até ela, tendo o cuidado de não ser vista por ninguém, a menina carregava nas mãos uma pequena trouxinha com suas coisas. Ao entrar no escritório do rei, Takara foi taxativa:
– Menina, eu serei clara com você.
– Sim, majestade.
– Libere meu filho do seu encantamento imediatamente.
– Como assim, senhora?
– Eu não a julgo por sua ambição, mas não posso permitir que enlouqueça meu filho com sua magia, Kanji é meio inu youkai, você deveria saber que não se pode enfeitiçá-lo da forma que está tentando, sem levá-lo à loucura.
– Não sei do que está falando, senhora...
– Não se faça de ingênua, garota. Me entregue o amuleto que mantém meu filho sobre seu poder, talvez eu possa desfazer seu feitiço.
Kiku baixa o rosto, dando um sorriso diabólico, havia sido descoberta pela rainha não poderia mais negar, disse friamente:
– Não entregarei o amuleto sem nada em troca, senhora.
– O que deseja? Quanto quer?
Kiku sorri, iria dizer que desejava o trono para entregar o amuleto, mas antes que dissesse algo, Takara suspirou, voltado seu doce rosto na sua direção:
– Isso é inútil, não é? Cho, traga o ouro.
A garota tentou se mover, mas foi envolta por uma forte energia purificadora que a circundou rapidamente, deixando-a imóvel. A rainha se aproximou, arrancando de dentro do quimono da jovem o amuleto que mantinha o filho enfeitiçado, o segurou entre as mãos, enquanto dizia alguns encantamentos afastando-se de Kiku, que ficou sentada no chão da sala. Cho colocou em sua frente um grande saco com ouro, uma fortuna para qualquer pessoa, e deixou, dizendo:
– Nunca mais volte ou eu mesma a matarei, Kiku.
A jovem mestiça de Youkai estava enfurecida, embora fosse uma grande quantidade de ouro, não era o suficiente para sua ambição, queria mais. Iria tentar uma última jogada. Pegou o ouro e suas coisas do chão, correu pelo palácio até o quarto de Kanji e entrou, o surpreendendo, parecia que o príncipe não fazia ideia do que aquela garota desejava em seu quarto naquela hora. Kiku percebeu que ele estava saindo de seu controle, ofegante, disse:
– Kanji, me escute. Sua mãe quer me expulsar do castelo, me deu até dinheiro para que eu o deixe.
– Vá para onde desejar então.
Disse, calmo, continuando a olhar à sua frente:
– Você ouviu o que eu disse? Irei embora. Você nunca mais me terá.
– Por que eu me importaria? Existem várias como você no castelo. E, em breve, me livraria de você.
– Você acha que a humana te fará feliz como eu posso? Nós somos iguais, meu príncipe.
Ela se aproximou para tocar em seu rosto, mas foi afastada sob o olhar de nojo dele, Kiku se enfureceu:
– Eu estou esperando seu filho. Você acha que sua noiva vai lhe perdoar se souber disso? Case-se comigo, é a única coisa que lhe resta.
Kanji permaneceu em silêncio tentando perceber qualquer coisa que lembrasse uma gravidez, mas nada sentia. A certeza das palavras daquela mulher apertava seu coração. Se fosse verdade, Katherine o abandonaria e sequer poderia pedir perdão, pois o negaria sem deixar que tentasse qualquer explicação. Estava tentando pensar em algo, mas o que poderia fazer?