Capítulo 9
1936palavras
2022-04-20 06:05
Próximo à hora marcada para irem ao encontro, Ami estava apavorada. Juntamente com sua mãe, procuravam Katherine como duas malucas pelo castelo. Ao ver as duas humanas preocupadas, Takara que passava por elas, perguntou:
– Algum problema, majestades?
– Rainha, nos perdoe, mas não conseguimos achar a princesa Katherine em lugar algum.
– O que aconteceu?
Ami diz, um pouco confusa:
– Estávamos conversando. Quando fui me banhar, voltei ao quarto e ela havia desaparecido.
– Onde teria ido? Será que algo aconteceu?
– Não sabemos, Morning Star está no castelo. Ela nunca sai sem o dragão.
– Oh Kami Sama, o que pode ter acontecido?
– Não sei, estou preocupada com esse sumiço.
Ami pensa um pouco e diz:
– Acho que Katherine desapareceu para não passear com os príncipes Inu.
– Por que diz isso, princesa?
Pergunta Takara, com o olhar um pouco preocupado:
– Ela ficou bastante chateada com o que o príncipe disse no jantar, não parece disposta a se aproximar.
– Meu filho pode ser bem intempestivo, às vezes. Deve estar magoada.
Ao ouvir as palavras da rainha, Lianor diz, suspirando:
– Katherine é uma moça muito sensível e orgulhosa. Não sei se haverá como realizar esse casamento.
– Vamos ter, ao menos, que tentar.
Diz a rainha sorrindo e continuou:
– Deixe o desaparecimento da princesa a meus cuidados. E a senhorita, princesa Ami, prepare-se, o príncipe Shuji a aguarda.
– Sim, majestade!
Diz Ami, saindo com um sorriso meigo e lindo no rosto, deixando as duas rainhas sozinhas por instantes. Antes que Takara também desaparecesse no corredor indo para o quarto de Kanji, entrando sem bater, queria surpreendê-lo e foi o que aconteceu. O jovem mestiço de youkai estava sentado sobre a cama, de cabeça baixa enquanto Cho terminava de falar sobre a princesa humana, ao ver os dois ali, perguntou:
– O que está havendo?
– A princesa fugiu de mim, mãe.
– Pudera, agiu como um bárbaro e não como um príncipe.
– O que faço, mãe?
– Vá ao encontro dela, mostre que você não é um monstro.
– Aonde vou achá-la?
– Filho?! Você é meio youkai, procure o cheiro dela.
O príncipe ergueu uma das sobrancelhas e sorriu para a mãe, abraçando-a, ela fez um cafuné nas orelhinhas de cachorro que esse possuía sobre sua cabeça, dizendo só para que ele escutasse:
– Filhinho, se a deseja ao seu lado, esforce-se ou então, deixe-a partir.
– Sim, mãe, eu entendo.
O garoto a beijou no rosto e saiu com pressa pela porta do quarto indo atrás da princesa Katherine. Um pouco distante dali, Ami e Shuji andavam a cavalo, dirigindo-se a um dos lindos bosques próximos ao castelo, aquele estava especialmente preparado para o casal de noivos passarem um agradável dia a sós, já que Kanji estava ocupado procurando por Katherine, bem longe deles.
Shuji não estava muito à vontade, não era do feitio dele conversar, muito menos, com jovens e belas humanas. Tentava lembrar, fora sua madrasta, qual outra havia falado em sua vida. Já estava se sentindo desconfortável, quando ouviu:
– É muito bonito aqui. É sempre assim?
Pergunta ela, surpreendendo-o:
– O quê?
– As árvores de cerejeira.
Responde a garota, com um lindo sorriso. Ele se desarma:
– Acho que sim.
– Acha? Aqui não é sua casa?
– Não fico muito tempo aqui.
– Tem outros compromissos?
– Na verdade, prefiro cuidar da parte sul de nosso reino.
– Parte Sul?
– Sim, era de minha mãe. E quando ela morreu, passou a pertencer às terras do Clã Inu youkai.
– Entendo. Sinto muito por sua mãe.
– Não sinta, faz muito tempo.
– Mesmo assim, uma perda é sempre difícil.
– Deve ser.
Diz ele, olhando para sua frente. Como Ami não conseguia identificar o que queria dizer aquela expressão no rosto dele, continuou falando:
– Nosso reino é bem diferente.
– O que quer dizer?
– Moramos em uma grande montanha. Até que é bonito por causa da neve, mas não temos essas flores lindas.
– Chegamos, princesa.
Disse ele, descendo do cavalo e indo na direção da princesa para ajudá-la a desmontar, segurando-a delicadamente pela cintura. Assim que sentiu as mãos do príncipe a segurando firme, descendo-a em sua frente, Ami suspirou, sentiu um arrepio percorrer seus seios, o rosto tomou um leve tom de vermelho, disse-lhe doce:
– Não precisa me chamar de princesa.
– Como devo chamá-la?
– Ami, está bom!
Ela sorriu, olhando-o, enquanto andava a seu lado:
– Venha Ami, vamos sentar-nos sob as cerejeiras.
– Sim!
Ela o acompanha enquanto andavam até a toalha estendida sobre as cerejeiras, toda arrumada para os namorados ficarem aconchegados. Ami falando quase incessantemente e Shuji ouvindo atentamente quase em total silêncio. A verdade é que gostava dos raros momentos a sós com Ami, gostava de tudo nela, do temperamento alegre ao perfume de seus cabelos.
Do lado oposto ao deles, bem distante dali, Katherine estava sentada sobre as raízes de uma enorme árvore à beira de um rio tranquilo, apenas observando a beleza e a tranquilidade do local, enquanto assistia uma pequena raposa coletar comida próximo a si, o animalzinho não parecia amedrontado, pensou:
“De repente, ele tem razão. Sou tão insignificante que nem mesmo uma raposa me teme. Como se eu me importasse com que o príncipe cachorro pensa sobre mim... e o pior, eu me importo. Que droga, por que eu me importo com ele? Não entendo, por que dói tanto? O que eu esperava? O que eu quero dele afinal? Por que eu estou tendo tanta dificuldade de manter minha raiva por ele, afinal? Por que eu não posso ficar com ele e ser feliz?”
Pensava Katherine. Há dias, essas perguntas rodeavam sua cabeça, tirando seu sono, fazendo-a se remoer e até mesmo se arrepender pela surra que havia dado no jovem mestiço de youkai. Tirou a máscara e suspirando, olhou para o alto da árvore sobre sua cabeça, seu rosto tomou um ar de desânimo, estava inconformada com aquela situação, queria ficar com aquele príncipe ao mesmo tempo em que seu orgulho não lhe permitia. Foi arrancada de seus pensamentos, quando ouviu:
– Ei princesa, o bosque não era esse.
Ela arqueou uma das sobrancelhas em silêncio, não podia acreditar que Kanji a havia seguido e estava sentando-se a seu lado, quase sobre suas pernas. Ela o olhou incrédula, sem responder nada, estava surpresa. Ele continuou, debochado:
– Não tem senso de direção, não é?
– Meu senso de direção é melhor que o seu.
– Então, o que faz aqui?
– Não desejava encontrá-lo, hoje.
Disse com tom frio, voltando os olhos para longe dele. Kanji notou que provocando, nada conseguiria. Então, se fez de desentendido:
– Por quê? O que eu fiz?
– Você está brincando?
Ela olhou duramente, voltaria a espancá-lo se ele insistisse com aquele assunto. Kanji olhou para o rio e disse o mais sinceramente que conseguiu:
– Comecei errado com você, não foi?
– Sim.
– Eu realmente sinto muito, mas entenda, não é nada contra você. É que eu não sabia sobre os planos do meu pai.
– Eu também não sabia, nem por isso fiz um escândalo.
– Mas para você é diferente.
– Diferente, por quê? Por que sou humana? Não seja idiota de acreditar nisso, derrotei seu pior inimigo em vinte minutos, poderia tê-lo matado caso desejasse. É, posso fazer agora mesmo, se eu quisesse. Não ganho nada com um casamento com um mestiço de youkai idiota como você. Então me diga, por que eu não faria um escândalo? Por que me casaria com um mestiço como você?
Ela estava irritada, olhava ferozmente para seu rosto. Por um instante, o mestiço de youkai baixou o rosto e disse:
– Eu não tinha o direito de te ofender. Eu sinto muito por isso. Mas não tenho como retirar minhas palavras e nem o que fiz. Às vezes, eu falo sem pensar e... eu gostaria tanto de me desculpar com você e tentar mostrar que eu não sou apenas um mestiço idiota, eu posso ser boa companhia... posso, ao menos, tentar fazê-la me desculpar?
Ela tentou se afastar, mas o mestiço de youkai tomou sua mão, procurando seus olhos. Katherine sentiu seu coração disparar quando o viu sorrir, sentiu toda e qualquer possibilidade de mágoa lhe abandonando quando sentiu os lábios dele tocarem a pele de sua mão, sorriu com a sinceridade e falta de jeito dele com as palavras e com a total falta de medo. Um sorriso franco e debochado que, raramente, deixava alguém ver, o príncipe a olhou impressionado enquanto escutava:
– Você nunca se desculpa, não é?
– Não, na verdade, não!
– Imaginei! Eu aceito suas desculpas, apenas dessa vez. Entendeu?
– Sim, princesa! A partir de agora, não haverá mais motivos para desculpas.
Ela deu um meio sorriso sem entender o que aquilo significava exatamente. Katherine não se conteve e perguntou:
– Príncipe, importa-se de responder uma pergunta?
– N... não!
– Realmente não deseja se casar comigo? Diga a verdade, eu entenderei.
Ele a olhou surpreso, Katherine era direta, não gostava de rodeios, queria uma resposta e não aceitaria embromações, queria a verdade era o que esperava, Kanji pensou por alguns instantes e respondeu:
– Eu não me oponho de me casar com você. Mas não me casaria com outra.
– Por quê?
– Porque eu gosto do seu sorriso.
Ela virou o rosto na sua direção, parecia estar tentando entender a resposta do mestiço de youkai. Kanji a estava olhando de perto, os olhos azuis pareciam dois lagos límpidos convidando para um mergulho, assim ele deixou escapar a seguinte frase:
– E eu serei feliz em ver seus olhos todos os dias e em poder te beijar.
Ela se surpreendeu, visivelmente ficando corada. Ele segurou seu queixo com uma das mãos e a beijou nos lábios, deixando-a mais surpresa ainda. Um beijo delicado que foi se aprofundando em um abraço longo para junto às raízes da árvore, sentando-se, colocando a cabeça da princesa apoiada em seu peito. Katherine estava entregue aquele beijo, enquanto acariciava a nuca, os cabelos e as orelhas delicadas sobre sua cabeça. Kanji suspirava, adorava quando tocavam em suas orelhas, só não admitia isso em voz alta.
O casal passou entre beijos, cafunés e conversas a tarde inteira, debaixo daquela árvore. Um carinho inocente, quase sem malícia alguma. Quando Katherine ficou com fome, no fim do dia, Kanji achou melhor voltarem. Como queria ir por cima das árvores, decidiu levá-la sobre as costas. Ela protestou, mas se rendeu quando o garoto falou que se ela montava em dragões, podia muito bem montar em youkai e, assim, voltaram ao castelo, Kanji brincando e rindo e Katherine com uma fisionomia amena, parecia apenas uma jovem apaixonada.
No fim da tarde, Ami e Shuji também estavam voltando para o castelo. Como a princesa não sabia cavalgar direito, um pequeno incidente acabou acontecendo, o cavalo disparou e a princesa quase caiu de cima dele, mas o príncipe, muito hábil, conseguiu alcançá-la e pegá-la nos braços antes de se machucar, levando-a de volta em seu cavalo. Para agradecê-lo, a princesa lhe deu um beijinho nos lábios.
O que surpreendeu o youkai e fez a menina corar com a própria ousadia, ele deu um meio sorriso e tornou a beijá-la, segurando sua cintura enquanto parava o cavalo, segurando as rédeas. O beijo daquela humana mexeu com ele a ponto de esquecer quase completamente que deveria voltar ao castelo, mas não passou de um primeiro beijo entre o casal embora a princesa quisesse secretamente que algo a mais acontecesse.