Capítulo 7
2273palavras
2022-04-18 03:44
Mal havia amanhecido nas terras do oeste e a realeza já estava desperta e posta para a partida da princesa Katherine e suas tropas atrás de Darak. A princesa estava de pé parada ao lado de seu grande dragão, altiva, apenas sendo observada pelos outros na porta do castelo.
Logo o céu foi tomado por cerca de cem dragões, muitos sendo montados por guerreiros, Seidy se juntou a eles como comandante de uma das tropas com suas ordens já definidas. Ao ver seu exército, Katherine voltou-se em direção aos pais e à realeza Inu youkai que a observavam, fez uma respeitosa reverência sem maiores demoras, desejava partir logo, estava se dirigindo ao seu dragão, quando Kanji chamou:
– Princesa?!
Ela o olhou sobre o ombro, com uma expressão de surpresa e desprezo, guardada sob sua máscara. Katherine estava decida a ignorar o chamado, mas seu pai a observava atentamente, pela expressão no rosto de Hideki, não permitiria que a princesa ignorasse o chamado de seu jovem noivo. Foi na direção do mestiço de youkai com seus passos firmes, como todo o senhor da guerra faria, ao se aproximar, ouviu um pedido gentil:
–- Pode retirar sua máscara, por favor?
Ela olhou para o pai rapidamente que assentiu com a cabeça positivamente já imaginando do que se tratava. Katherine baixou um pouco o rosto, com um leve toque tirou-a de seu rosto, voltou-se para o príncipe a sua frente, olhava-o inexpressivamente, não fazia ideia o que ele pudesse desejar, porém, se fosse outro de seus ataques de superioridade, iria arrancar a pele dele e ninguém seria capaz de impedi-la. Naquela distância, Kanji sentia o par de olhos azuis frios, como as geleiras, o observando.
– Bem...
Começa ele, sem jeito, nervoso, procurando algo para lhe dizer. Seu coração batia forte como se fosse saltar do peito a qualquer momento, queria pedir para que Katherine não fosse, queria se desculpar, mas a verdade é que não conseguia pensar em nada para falar. Katherine aguarda a sua frente sem que nada dissesse ou fizesse, nenhuma expressão era percebida no seu belo rosto. Naquele momento, o mestiço de youkai lembrou-se de uma história que seu pai contava, tomou fôlego e continuou:
– Entenda princesa, é uma tradição do meu povo... então eu...
Ele a surpreendeu beijando-lhe os lábios. A princípio, Katherine ficou sem reação alguma, tentou até afastá-lo, mas seu corpo foi tomado por uma sensação quente e agradável. Sem perceber, Katherine se deixou, correspondendo ao beijo do Inu youkai. Kanji tinha em mente dar lhe apenas um selinho nos lábios como mandava uma tradição Inu inventada, certa vez, pela mãe de Shuji que, ao ver seu noivo e futuro marido partindo para guerra, lhe deu um beijo, para que esse tivesse um motivo para voltar.
Antes que percebessem, Kanji estava segurando-a pela nuca com os dedos enlaçados a seus cabelos e Katherine o havia abraçado pelo tronco, forte e delicada, trazendo-o junto ao corpo. Só parando quando escutou Takeo rosnar baixo para o filho:
– E ainda tem coragem de dizer que não quer se casar.
Hideki complementa olhando para a filha de sobre o ombro:
– Agora entendo com ela desejava matá-lo.
Os dois param o beijo e se olham por um instante, o mestiço de youkai diz:
– Volte em segurança, princesa.
Katherine diz, logo depois colocando a máscara e partindo para cima do dragão, não sem deixar escapar um terno e doce sorriso que só o príncipe viu o quão belo era:
– Trarei a cabeça de seu inimigo como presente para você.
Aquele beijo mexeu demais com ambos, o coração de Katherine batia rápido no peito como se exige ficar ao lado daquele príncipe. A visão dela se afastando fazia o coração dele doer, que exigia ficar perto dela, poder protegê-la. Seu corpo foi tomado por um arrepiou teimoso sobre a pele e um medo eminente de jamais vê-la novamente. Kanji entendeu o óbvio, queria aquela mulher para si.
Assim que a esquadra de dragões se moveu rápido em direção à localização de Darak, Kanji partiu com pressa, saltando nas copas das árvores, tentando segui-los o mais longe no território que fosse possível, deixando dois reis perplexos com sua reação. Só desejava ver outra vez aqueles olhos azuis e aquele sorriso maravilhoso.
Não viajaram mais do que cinco horas sobre os dragões, mas foi o bastante para que aquele beijo fizesse a alma de Katherine ferver, não conseguiria ir embora, não seria tão fácil aceitar aquele mestiço de youkai, mas não poderia mais ficar sem ele.
O cerco ao castelo onde Darak se tornará lorde, derrotando covardemente o antigo senhor, tirou a princesa de seus delírios românticos. Aquelas terras agora eram sombrias e banhadas pelo medo dos poucos humanos que ainda residiam por lá. Os dragões cercaram o castelo sem sobreaviso e Katherine, com um sinal, deu o comando para que cercassem e matassem todos os youkai da guarda de Darak, e que apenas poupassem os aldeões, se estes não se envolvessem na luta, não tinha interesse em mais nada a não ser na morte do inimigo. Ao ver aquele silencioso sinal, os poderosos seres atacaram massivamente, matando e queimando tudo a sua frente.
Os dragões menores sobrevoavam o exército de muito perto, deixando os youkai apavorados, tentando se esconder do fogo deles e de suas garras. Os dragões partiam os guerreiros ao meio, segurando com suas garras e os dilacerando. Os maiores sobrevoavam, queimando tudo naquele território, derrubavam e queimavam o alto do palácio como se fosse feito de papel.
Katherine andava pela entrada daquele palácio no meio do caos causado pelos dragões, alguns guerreiros do exército de Darak ainda tentavam atacá-la, sendo mortos pela lâmina de suas espadas. Katherine já tinha sua presa, iria dar a cabeça do inimigo ao seu amado.
Não demorou muito até que Darak aparecesse com sua energia sinistra, a fim de acabar com aquele que o atacava. Ao percebê-lo no campo de batalha, Katherine saltou até a sua frente, deixando claro que ela seria sua adversária enquanto suas tropas instauravam o caos e destruição. Andou na direção do youkai, que riu furioso, dizendo:
– Como uma reles humana ousa me atacar?
– Você é Darak?
– Quem deseja saber?
A princesa pôde ver claramente sobre o peito dele a joia que seu pai desejava. Andou mais rápido na direção de seu inimigo, liberando sua energia, que quase lembrava a energia das sacerdotisas mais poderosas que já existiram. Saltou, chutando Darak enquanto ele tentava se proteger, sem sucesso algum. O pé daquela humana conseguiu transpassar sua proteção facilmente, tentava desviar e revidar, mas Katherine era mais veloz e forte, a cada chute e soco que desferia, deixava o youkai muito ferido, como se arrancasse a energia de sua carne que caia morta no chão.
Os seus dragões e generais destruíram tudo a sua volta. E para Katherine, não tinha atrativo nenhum ali. Seu adversário era fraco, não possuía poder suficiente para sequer fazer um único arranhão em sua máscara. Quase não havia mais castelo, Darak estava acabado junto ao chão. Nesse momento, Katherine segurou o longo cabelo negro para que pudesse ver o par de olhos vermelhos furiosos, olhou demoradamente antes de lhe arrancar a cabeça e disse:
– Sou Katherine, princesa do Clã dos Dragões. Agora você sabe o nome de quem o mandou ao inferno.
Arrancando-lhe a cabeça com um único golpe de espada, fazendo seu corpo virar uma gosma verde e logo após apenas uma poeira que o vento consumiu. Ela juntou a joia desejada enquanto segurou a cabeça sem vida em sua mão, agarrando pelos longos cabelos negros, ouviu Seidy chamá-la:
– Princesa.
– Sim?
– Parece que esse Youkai possuía um harém. O que faremos com essas mulheres e com os serviçais?
– Vamos levá-los. O senhor dos Dragões e o Rei Inu youkai que decidam.
Disse, dirigindo-se para seu dragão, agora impassível e dócil após ter destruído tudo ao seu redor junto com os demais. Após organizarem os refugiados e os montarem em cavalos para seguirem viagem, retornaram vitoriosos. Havia sido uma vitória fácil. Katherine não conseguia entender o porquê dos youkai não conseguirem vencer tão insignificante criatura, havia percebido que sua energia combativa de origem quase divina afetava os youkai.
Já quase no fim da tarde, Ami que passeava no jardim, avistou Morning Star se aproximando com pressa do castelo. Pensou no pior, algo havia acontecido com a irmã, correu para dentro do castelo, chamando:
– Mamãe! Mamãe!
Deparou-se com Shuji que a observava há algum tempo passeando no jardim e ao escutar os gritos assustados da garota, foi em sua direção, por instinto de proteção, segurou a gentilmente próximo a si:
– O que foi, princesa?
– Morning Star, o dragão de minha irmã, está voltando. Algo aconteceu com Katherine. Onde está meu pai...
– Acalme-se, vamos vê-la.
Ami segue com youkai até o pátio onde encontra Katherine descendo do dragão, andando para dentro do palácio com uma cabeça em uma das mãos. Olhou para Ami que estava quase em prantos e lhe perguntou:
– Ami!? O que aconteceu?
– Irmã...
Grita Ami, agarrando o pescoço de Katherine, enquanto chorava com um bebê. Katherine estava imóvel e Shuji, em dúvida sobre o que se tratava, a princesa chamou:
– Ami!?
– Por que me assusta assim, Katherine? Que cheiro é esse? Está ferida? Onde dói? Não minta para mim, sinto cheiro de morte vindo de você? Ele te machucou? Tentou algo pior?
– Ami!?
– Irmã, você tem que me dizer, onde está ferida? O que está sentindo?
Katherine suspira enquanto tentava pela última vez:
– Ami!?
– Fale comigo, que ferimento mortal é esse? De onde vem esse cheiro de morte?
Katherine, irritada com a irmã lhe sacudindo, gritando e chorando ao mesmo tempo, fez o que sempre a fazia se afastar dela naqueles momentos. Colocou a cabeça morta de Darak em frente aos olhos da garota, que saiu correndo de perto, parando atrás de Shuji, que agora continha-se para não rir. Ainda tremendo de medo por causa da cabeça que a irmã trazia, Ami disse:
– Eu achei... que bom que está bem.
– Por que não estaria? Onde estão os reis e o outro príncipe?
Shuji dá um meio sorriso discreto, observando a cabeça do youkai sendo trazida pela moça. Não pôde conter uma risada, então se afasta, dizendo:
– Venham comigo.
Ambas o seguem até o escritório real, onde Hideki, Takeo e Kanji estavam pensando em como defender o território que era de Darak, quando surpreendem-se com Shuji entrando no local, seguido de Ami e Katherine, que trazia uma cabeça consigo. Todos ficaram de pé, a princesa se dirige a eles com uma educada reverência, entregando ao pai, a Caveira de Sangue, dizendo-lhe:
– Eis a joia que desejava, senhor rei, meu pai.
Antes que alguém tivesse dito algo, parou em frente a Kanji e entregou-lhe, retirando a máscara com um ar sério, enquanto dizia:
– Como prometi, ofereço-lhe a cabeça de seu inimigo.
O príncipe olha nos profundos e vitoriosos olhos azuis. Fascinado, aceita em suas mãos, o presente que havia sido prometido. Estava envergonhado por tê-la chamado de inútil, estava lisonjeado pelo presente ofertado. Takeo observa o rosto do filho segurando o bizarro suvenir em suas mãos, nada diria naquele momento, apenas mais tarde. Antes de sair, Katherine diz:
– O restante de meu exército chegará trazendo alguns exilados de guerra, serviçais e algumas mulheres que o tal Darak mantinha prisioneiras em um Harém. Deixo a critério de vossas majestades o destino deles.
Dizendo isso, sai imediatamente da sala. Queria um banho, estava com fome e sentia vontade de dormir. Vendo a saída da irmã, Ami a seguiu para o quarto, queria se assegurar de estava bem. Assim que as moças deixaram a sala, Hideki entregou a joia nas mãos de Takeo falando a todos os presentes:
– Passo a suas mãos, meu amigo, o presente de casamento do Clã dos Dragões ao Clã Inu.
O rei Inu youkai sorri ardiloso, seus olhos cor de âmbar brilhavam. Todos os presentes olhavam para o Mestiço de youkai que estava absorto olhando para a cabeça em suas mãos, parecia extasiado com o presente recebido. Hideki diz, dando de ombros enquanto saia:
– Mande empalhar e ponha em sua sala de troféus para que todos a vejam, esse é um costume do nosso Clã. Terá várias dessas em sua sala.
O mestiço de youkai olhou assustado, mas achou interessante, despertando-se do transe ao ouvir seu pai dizer:
– Kanji!
– Sim, pai?
– Você vai se desculpar com a princesa. E para que não esqueça, casará com ela no próximo mês.
– Como vou me desculpar?
– Os dois casais terão algum tempo para se conhecer, então sugiro a ambos que passem algum tempo com suas noivas. Amanhã farão um passeio, sua mãe organizou com Cho.
Diz o rei Inu youkai, apontando para ambos os príncipes, Kanji repetiu para se assegurar, enquanto ainda segurava a cabeça sem vida de Darak:
– Passeio?
– Sim, próximo ao bosque das cerejeiras.
Shuji olhou ardiloso para o pai, que deu um discreto sorriso, dizendo:
– Estejam apresentáveis. Agora vão. Kanji deixe essa coisa no chão, mandarei que seja empalhado o mais breve possível, que costume estranho.
– Sim, senhor!
Os dois saem da sala, sem muita pressa. A ideia de se casar com Katherine não parecia incomodar mais Kanji, que pensava:
“Shuji tinha razão, aquelas princesas humanas têm algo de especial... preciso me desculpar com a minha princesa. Vou conquistar seu coração para que sempre possa beijar seus lábios e para que sempre sorria para mim daquele jeito.”