Capítulo 134
2519palavras
2022-07-25 06:27
Eu sorri e continuei, vendo a sua imagem no vidro à minha frente, refletida dentro do mar azul:
- Eu me masturbei pensando em Nicolas Welling...
- Eu quebrei um pacto entre amigas por Nicolas Welling...
- Eu fiquei com Cadu no Lounge 191 já gostando de Nicolas Welling...
- Eu menti que estava bêbada para tirar Nicolas Welling da minha amiga...
- Eu vomitei nos pés de Nicolas Welling...
- Eu cantava alto e desafinado para irritar Nicolas Welling...
- Eu dizia que odiava Nicolas Welling quando na verdade eu o amava...
- Eu fiquei com a parte do pingente de Nicolas Welling por anos...
- Eu tentei ficar com o amigo de Nicolas Welling...
- Eu quase transei com Nicolas Welling no banheiro da minha casa, escondida da minha mãe...
- Eu quase desci da minha cama naquela noite para dormir no chão com Nicolas Welling...
- Eu acreditei que fui traída por Nicolas Welling sem deixá-lo falar a verdade...
- Eu menti que não sabia matemática para ver Nicolas Welling...
- Eu derrubei a moto de Nicolas Welling sobre mim e quebrei a perna...
- Eu fiz Nicolas Welling me levar para um motel fuleiro e escrevi nossos nomes na parede...
- Eu chamei a mãe de Nicolas Welling de bruxa... Umas mil vezes... E outras dez mil em pensamento...
- Eu dirigi o carro de Nicolas Welling sem permissão...
- Eu usei Eduardo para fazer ciúmes em Nicolas Welling...
- Eu puxei os cabelos de Joana por Nicolas Welling...
- Eu acreditei que Nicolas Welling havia dormido com uma prostituta enquanto eu estava no quarto ao lado...
- Eu parti... E também voltei por Nicolas Welling...
- Eu fiz Nicolas Welling me buscar numa esquina de prostitutas...
- Eu transei na escada de emergência do shopping com Nicolas Welling...
- Eu transei um mês com Nicolas Welling com a minha perna engessada...
- Eu transei no banheiro do Manhattan com Nicolas Welling...
- Eu fiz Nicolas Welling pagar a entrada da minha prima várias vezes...
- Eu fiz Nicolas Welling me dar um cd autografado do TNT...
Eu gemia de prazer com cada estocada seguida de uma palmada.
- Eu dormi cinco anos com Tom Panetiere imaginando Nicolas Welling na minha cama...
Então eu gozei, ao mesmo tempo que o senti se derramar dentro de mim.
Quando o iate atracou no Paradise, eu estava com a bunda ardente de tantas palmadas e havia feito sexo como nunca antes em toda a minha vida. Será que isso era a vida de casada? Ou uma saudade incontrolável que nos consumia? Ou o desejo ardente que tínhamos um pelo outro?
Não importava... Eu não queria explicações. Tudo que eu queria era viver ao lado do meu marido, Nicolas Welling, para sempre, sem nada nem ninguém nos separar.
Consegui ir em casa e trocar de roupa antes de irmos à boate para minha última surpresa. Enquanto eu me maquiava, olhando Nicolas pelo espelho, disse:
- Você sabe que sou muito ansiosa, não é mesmo?
- Se eu sei? Claro que sei, rainha do drama.
- Então você poderia pelo menos dar uma dica da surpresa. Porque na minha cabeça, pode ser você me raptando da boate e me levando para o banheiro. Ou talvez à prometida sauna do Paradise.
Ele riu e veio até mim, me observando de frente pelo espelho enquanto me envolvia com seus braços:
- Rainha do drama, fazer amor com você é uma das coisas que eu mais gosto na vida... Mas hoje nem pensar... Você me destruiu.
- Eu destruí você? – ri. – Quem é que mal consegue sentar de tantas palmadas?
- Olhe a minha boca... Vou ter que aparecer assim na minha própria festa.
Observei para o lábio roxo dele e ri:
- Acho que você passava mais tempo assim do que normal antes de eu ir embora. O bom é que, como você sempre diz, todos vão saber que gozei.
Ele se abaixou ao meu lado e encostou nossos cordões, me olhando profundamente:
- Eu quero um bebê, Juliet.
Fiquei um pouco tensa e pensei antes de responder:
- Eu... Tenho medo, Nick.
- Não vai acontecer novamente... Eu juro.
- Ainda tenho na memória a imagem dele naquela tela.
Nicolas alisou meu rosto:
- Eu sei que você sofreu com a perda... Porque eu sofri também. Mas saber que eu seria pai e imaginar o futuro ao lado do nosso bebê me fez ter os dias mais felizes da minha vida.
Suspirei e tentei brincar:
- Acabamos de casar e você já quer me engravidar?
- Faz dez anos, rainha do drama... Que nos vimos pela primeira vez...
- Numa noite qualquer no Manhattan Bar. – completei sorrindo.
Ele abriu a gaveta da penteadeira e retirou o livro de dentro:
- Quero meu autógrafo.
Senti meu coração bater tão forte que podia ouvi-lo fora do meu corpo. Ele me entregou a caneta. Abri a primeira página em branco e escrevi:
“Eis sua carta de amor, Nicolas Welling, com meus mais sinceros pedidos de desculpas. Você sempre foi perfeito e eu completamente imperfeita.
Obrigada pela inspiração.”
Da sua “rainha do drama”.
Ele fechou o livro e disse:
- Sabe que nossa história não termina aqui, não é mesmo?
- Sei... Mas eu não escreverei mais sobre ela. Porque é só nossa a partir de agora... E de ninguém mais.
- Quero que saiba que não me importo em onde vamos morar... Podemos ficar aqui se você quiser, ou voltar para nossa cidade. Ou ir até mesmo para outro país... Eu só quero é ficar com você.
- Eu fico onde você estiver bem, senhor perfeito. Porque não existe felicidade longe de você.
Ele beijou levemente meus lábios:
- Preparada para a surpresa?
- Acho que sim... E ansiosa. – confessei.
Descemos e nos dirigimos para a boate do resort. Minhas amigas estavam lá, assim como Edu e Eliete. Apesar do som alto, gritávamos o suficiente para nos entendermos, porque quando nos encontrávamos, uma queria falar mais que a outra, então as vozes iam se alterando.
- Casada de novo, Val? – perguntei.
- Não vou desistir porque não deu certo algumas vezes. – ela disse.
- Fico feliz em ouvir isso.
O tempo não passou para Valquíria. Ou melhor, parece que ela rejuvenesceu. Enquanto nós envelhecíamos, ela ainda parecia a mesma adolescente de dez anos atrás. Agora mais segura de si e uma mulher linda, que queria ser feliz, não importa quantas vezes a infelicidade quisesse bater à sua porta.
- Desejo do fundo do meu coração que você seja muito feliz, Juliet. A forma como vocês se olham chega a me arrepiar. – ela disse enquanto observava o olhar de Nicolas na minha direção.
Ele conversava animadamente enquanto bebia com os pares das minhas amigas.
- Não achei que você pudesse se separar de Denis, Alissa. – falei surpresa.
O namorado dela era bonito e bem diferente do estilo de homens que ela gostava.
- Fomos acometidos por uma coisa chamada rotina.
- Ainda bem que isso não faz parte da minha vida. – confessei.
- Nem deixe fazer... Nunca. Especialmente se tiver filhos.
- Acho que eu jamais faria isso.
- Juliet, desejo felicidades a vocês. Que o casamento nunca caia na rotina...
- E que você nunca mais quebre “pactos idiotas”. – falou Lorraine ironicamente, não perdendo a oportunidade de enfrentar Alissa.
- Acho que às vezes é preciso romper algumas barreiras... E quebrar alguns pactos para encontrar a felicidade. – ela deu um meio sorriso.
Dani me abraçou com força:
- Eu sempre soube que vocês se casariam. No fim, ele quase a obrigou. – ela riu.
- Acho que já sabíamos que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde... Mas não depois dos trinta anos. – eu ri.
- Já decidiu se vai ou fica?
- Acho que Paraíso pode ser minha casa. E tem Otto, que ama este lugar. Voltarei para nossa cidade novamente só para ver minhas tias e minha vó.
- Puta que pariu, que papo mais depressivo. Vocês tem tempo para falar sobre isso. Vamos nos divertir e dançar até se acabar... Porque eu tenho poucas horas para aproveitar. Daqui a pouco a babá liga que meu filho está chorando sem parar e eu tenho que voltar. Então não posso perder um minuto.
A música parou e todos se direcionaram para o palco. E logo os instrumentos foram ocupados por nada mais nada menos que eles... TNT. Eu comecei a rir, incrédula.
Quando vi, Nicolas estava atrás de mim. Senti suas mãos na minha barriga enquanto ele descansava a cabeça no meu ombro, falando baixo no meu ouvido:
- “Garota, eu te falei, a vida é nada fácil. Eu detesto dizer isso, mas o mundo é maior que o teu quarto... Só quero amar, vivendo em paz!”.
- Obrigada... Eu amo você.
Então a banda começou a tocar, exatamente a música que ele cantou no meu ouvido. Eles estavam ali para mim... No entanto eu não tinha certeza se conseguiria falar com eles depois do show ou novamente ficaria completamente muda e imóvel quando os visse frente a frente. Só saberia depois que eu me acabasse dançando e cantando desafinadamente.
Casar não foi só assinar um papel numa cerimônia na beira da praia. Eu tinha que trocar de casa mais uma vez. Lá estava eu voltando com minhas coisas para a casa de Nick.
- Vou deixar uma coisa bem clara por aqui: eu não faço mais as malas para me mudar novamente, Nick. – reclamei enquanto organizava minhas roupas no armário.
- Vai reclamar também que não teve noite de núpcias? – ele perguntou deitado tranquilamente na cama, com os braços para trás, apoiando a cabeça.
- Vou... Não tive noite de núpcias... Só dia de núpcias. – falei enquanto dobrava uma blusa e colocava no devido lugar. – Não vai ter lugar para todas as minhas coisas aqui.
- Pode usar outro quarto para guardar... Ou até mudamos de casa se preferir. – ele deu de ombros.
- Preciso de um espaço para escrever.
Ele sentou na cama:
- Poderia ser um dos quartos vagos?
- Não haverá quartos vagos. Em breve nossos filhos ocuparão. E preciso de um lugar tranquilo... Com claridade e...
- Repita, por favor. – ele me interrompeu.
- Um lugar tranquilo, com claridade...
- Não, a outra parte.
O olhei confusa.
Ele levantou e veio até mim:
- A parte dos filhos que ocuparão os quartos.
Eu sorri:
- Sim... Não ocuparão os quartos?
- Então você já decidiu?
- Quer saber se eu já decidi em uma semana? – ri. - Nick, eu nunca planejei ficar grávida... E fiquei. Então vamos deixar acontecer. Afinal, tudo que a gente planeja muito parece que não dá certo.
- Nisso você tem razão.
- Eu não estou tomando anticoncepcionais... Há um bom tempo.
- Não?
- Desde que fiquei grávida na verdade... Depois veio o aborto... E eu viajei... E fiquei quase um ano sem sexo. Então por que tomar anticoncepcional, não é mesmo?
- Sim...
- Então, senhor perfeito, talvez ontem mesmo a gente tenha feito um bebê. – falei mordendo levemente o lábio dele levemente arroxeado.
- Vou mandar preparar um lugar para você escrever na beira da praia... Um lugar só seu, com vista para o mar. O que acha?
- Hum, posso escrever sobre um surfista... – minha mente já borbulhou.
- Agora termine logo isso, pois Otto deixou um bolo de coco que ele acabou de fazer lá na cozinha.
- Ah, eu termino depois. Primeiro vou comer o bolo de coco.
Claro que quando cheguei à cozinha, o bolo já estava sendo cortado e pronto para ser servido.
- Preciso aprender a fazer este bolo, senhora Welling. – disse a cozinheira.
- Não precisa, só meu pai sabe fazer, acredite. – falei pegando a bandeja das mãos dela e saboreando um pedaço. – Desde criança sempre foi meu bolo preferido.
Quando cheguei à sala de estar, Otto estava sentado, conversando com Nicolas. Sentei ao lado dele, dando-lhe um beijo, com a bandeja ainda no colo:
- Pai, ficou maravilhoso, como sempre.
- Sempre terá seus bolos de coco, filha.
- O que eu fiz mesmo para merecer você como pai, Otto Franco? – brinquei.
- Teve a melhor e mais linda mãe do mundo. – ele observou.
- Olga gostaria muito daqui. – disse Nicolas.
- O que é engraçado é que quando fecho meus olhos, a vejo nitidamente, em cada momento que vivi com ela. No entanto a saudade é como se eu não há encontrasse há mais de vinte anos. Porque dói tanto dentro do meu peito que eu não consigo explicar.
- Espero ser tão inesquecível quanto ela quando eu me for. – falou Otto.
- Não é sobre ser inesquecível... É sobre o amor que ela tinha em tudo que fazia. – Nicolas observou. – Olga era intensa, divertida...
- Como a filha. – Otto riu.
- Espero ser tão boa mãe quanto ela. – falei.
- Será, minha filha. Certamente será.
Um mês depois, Nicolas e eu estávamos tomando café da manhã quando Felipe apareceu na sala de jantar:
- Já viram as notícias de hoje? – ele perguntou jogando um jornal sobre a mesa.
- Além de você e Otto, mais alguém compra jornal neste país? – perguntei abrindo o exemplar.
Nada que me interessasse na primeira página, nem na segunda. Assim que li a notícia em letras garrafais, mas não chamativa, olhei para Felipe.
- Achei que você se interessaria. – ele disse.
Lá estava escrito que Simon Dawson havia se suicidado no presídio onde cumpria pena.
- Eu... Sinto muito. – disse Felipe.
Nicolas pegou o jornal das minhas mãos e leu. Depois me olhou e perguntou:
- Tudo bem, rainha do drama?
- Nick... Podemos dar uma festa para comemorar?
Nicolas me olhou incrédulo, mas sim, tivemos uma comemoração íntima pela morte de Simon Dawson, o homem que engravidou minha mãe e foi embora, voltando quase vinte anos depois e levando todo o dinheiro do meu futuro, guardado durante uma vida inteira por meus pais para que eu pudesse fazer a faculdade. Ele foi o responsável pelo tiro que Nicolas recebeu, que poderia tê-lo matado. E também o causador da perda do meu bebê, tão esperado por toda nossa família.
Então eu respirei tranquilamente. Não precisava mais ter medo. Tudo que nos ameaçava não existia mais.
Ainda havia Joana. Mas eu duvidava que ela se atrevesse a colocar os pés no Paradise. Eu não soube mais sobre ela desde que tivemos notícias de que havia se mudado com a família. E pouco me interessava. Eu não queria mais saber sobre nenhum Dawson. Se eles poderiam me incomodar novamente depois de um tempo? Talvez... Mas eu não sofreria por antecedência. Afinal, Simon Dawson tinha escrito uma carta de despedida muito antes de se suicidar e Joana teve que se mudar porque eu havia transformado a vida nela num inferno. Então, eu estava preparada se mais algum deles quisesse cruzar o meu caminho.