Capítulo 132
2770palavras
2022-07-25 06:25
Assim que descemos no aeroporto, eu fui quase correndo até os táxis. Era mais de 9:30. Assim que sentei no banco traseiro, avisei ao motorista:
- Precisamos chegar ao Paradise Resort... Em menos de trinta minutos.
Ele virou para trás e me encarou:
- Posso tentar, mas acho difícil.
Otto disse:
- Não quero tente... Quer que chegue. Tempo é dinheiro. Cada segundo pode valer uma boa gorjeta, rapaz. Guardei dinheiro a vida inteira para usar com esta pequena mulher. – Otto pegou minha mão. – E estou disposto a gastar tudo numa corrida de táxi. – ele riu.
- Chegaremos em quinze minutos. – o motorista disse. – Nem que eu tenha que ir pela beira da praia.
Ele partiu cantando pneus e isso me deu um pouco de esperanças.
- Se não estiver usando roupas brancas, não poderá entrar no casamento, filha. – Otto observou.
Olhei para meu conjunto com calça e casaco cinza e blusa preta.
- Eu... Não tenho uma roupa branca aqui... Teríamos que parar...
- Bem, Lorraine deixou algo preparado na casa dela. Mandou colocar o vestido que ela deixou. E desejou-lhe boa sorte.
Chegamos na casa de Lorraine em vinte minutos. Então eu só tinha dez para chegar no local do casamento. Encontrei um vestido branco rendado em cima da cama dela e coloquei rapidamente. Assim que desci, vi Otto vestido de bermuda e camisa branca.
- Você... Trouxe isso no bolso ou pegou emprestado? – perguntei confusa.
Ele riu:
- Posso ter trazido no bolso.
- Otto, temos cinco minutos... – eu comecei a chorar. – Não... Não vou conseguir. Se quando eu chegar e ele já tiver casado, mesmo que me veja não vai “descasar”... Porque Nick jamais faria. Então estará tudo definitivamente acabado... E não haverá mais senhor perfeito...
- Nem rainha do drama. – ele pegou minha mão e saímos rapidamente da casa. – Você é mesmo dramática, filha.
Chegamos na área externa e ele disse:
- É agora que vamos correndo até a praia? Isso levaria uns trinta minutos... Talvez um pouco menos.
- Me espere aqui. – falei enquanto corria até a garagem da casa de Nicolas.
O carro dele estava estacionado ao lado da moto. Encontrei a chave na ignição e girei-a rapidamente, dando a partida. Em dois minutos eu já havia pegado Otto e estávamos indo em direção à praia.
- Acho melhor você não dirigir tão rápido, filha. Eu não quero morrer ainda... Acho-me jovem, acredite. – ele segurou-se no painel da frente do carro.
- Eu não tenho tempo, pai. E como nada na minha vida é fácil, eu tenho que lutar mais uma vez para não ter minha vida destruída definitivamente.
Eu nem conseguia ver direito o que tinha na minha frente, pois as lágrimas insistiam em cair, mesmo eu limpando com força. Assim que vi o estacionamento, abandonei o carro, sem sequer ajeitá-lo na vaga.
O dia estava lindo. O sol brilhava alto no céu. E o calor parece que nos deixava ainda mais lentos.
- Acho que vou precisar correr. – falei olhando para Otto.
- Vamos correr juntos. – ele disse.
Retirei meus sapatos de salto alto e deixei ali mesmo. Então eu e Otto começamos a correr até a praia, que pela impressão que eu tinha, nunca chegava perto de nós.
Avistei ao longe as cadeiras e alguns poucos convidados. Nossos pés já alcançavam a areia fina, de toque macio. Uma pequena tenda foi montada, com voils brancos voando com o vento. Para chegar até ela, um caminho de pétalas de rosas vermelhas sob a areia.
Cheguei ao casamento de Nicolas tão cansada que quando o avistei no altar e nossos olhos de cruzaram, eu não conseguia pronunciar uma palavra porque eu estava quase sem ar e com a boca seca. Procurei a noiva, mas certamente ela ainda não havia chegado. Ainda assim todos os olhares estavam sobre mim.
- O que você quer aqui, rainha do drama? – Nicolas me perguntou em voz alta.
Respirei profundamente antes de responder, com a boca completamente seca:
- Água.
- Fugiu de mim por dez meses e viajou não sei quantos quilômetros para vir ao resort me pedir água?
Alguém me alcançou uma garrafa de água, que bebi até a última gota.
- Agora eu posso falar... – disse enquanto andava alguns passos em direção a ele.
- Pare onde está. – ele falou em voz alta.
Parei, sentindo meu coração bater violentamente. Ele não permitiria que eu sequer me aproximasse dele?
- Sou eu, Nick... E eu juro que posso lhe explicar tudo... Se você deixar.
- Você sempre tem uma explicação, não é mesmo?
Dei mais um passo e ele ordenou:
- Nenhum passo a mais, Juliet.
Soltei minhas mãos ao longo do meu corpo. Eu acho que estava tão cansada que talvez sequer conseguisse falar, de tanto que meu corpo doía e minha mente estava inquieta e procurando mil explicações para lhe dar. Fechei meus olhos com força, tentando recobrar a consciência e não deixar as lágrimas tomarem conta de mim novamente.
- Nick... – continuei. – Eu não vou desistir. Enquanto você não disser sim e não estiver com aliança no dedo, eu ainda terei esperanças.
- Não quero que ande correndo até aqui, rainha do drama. Quero que ande passo a passo e aproveite cada minuto do nosso momento, ao lado do seu pai. – Otto veio até mim e me entregou seu braço. – É com ele que você entra no altar. É ele que a entrega para mim... Juntos para sempre, até o final dos nossos dias.
Vi os rostos conhecidos de colegas de trabalho sorrindo para mim. Mas foi só quando avistei minha avó e minhas tias, todas juntas na segunda fileira de cadeiras, foi que entendi que o casamento não era só de Nicolas... Era nosso.
Então minhas lágrimas vieram, sem pedir licença, sem que eu pudesse impedi-las de forma alguma. Olhei para o meu vestido branco rendado e comecei a rir. Eu estava descalça, mas todos ali também estavam. Tudo planejado perfeitamente.
- Você sabia disso? – perguntei para Otto enquanto ele me conduzia ao altar sob o sol de uma manhã de primavera.
- Sim, eu sabia. – ele confessou com um sorriso. – Tudo planejado há um bom tempo.
Então, com meu coração dando saltos dentro do meu peito, meu cabelo solto desgrenhado pelo vento da beira mar, eu fui conduzida por Otto, o homem que eu escolhi para ser meu pai, que estava ao meu lado desde os meus cinco anos de idade, para casar com o único e verdadeiro amor de toda a minha vida, Nicolas Welling... Ou senhor perfeito.
Quando encontrei o azul profundo dos olhos de Nicolas, juro que pude lembrar da primeira vez que o vi, naquela noite no Manhattan Bar. E jamais passou pela minha cabeça que anos depois eu estaria casando com ele, depois de todas as besteiras que fiz e tudo que passamos juntos. Mas a vida é assim... Nada é como a gente planeja. Mas no fim, tudo acontece como deveria ser. Porque acredito que nossos destinos já estavam traçados, no momento que nascemos. O senhor perfeito e a rainha do drama um dia se encontrariam e viveriam uma linda história de amor. E nada nem ninguém poderia separá-los.
Eu não vi nada nem ninguém presente naquele momento. Eu só via ele... O amor da minha vida. E quando Otto me deu um beijo e Nicolas pegou minha mão e senti sua pele na minha, me arrepiei ao toque. E eu o abracei, com força, sentindo os braços dele me envolverem. Era saudade de quase um ano. Ouvi palmas, mas não me importei. O único sentimento que eu tinha era o mais forte e profundo amor... E meu coração batendo no mesmo ritmo do dele.
Um juiz de paz realizou a cerimônia de forma breve. Se eu tivesse planejado aquele casamento, não teria sido tão perfeito. Assim que recebi a aliança no meu dedo, foi como se Deus estivesse me dizendo que eu estava perdoada... Que minha dívida estava zerada. E agora eu poderia finalmente ser feliz, sem ninguém impedindo. E quando coloquei a aliança no dedo dele, eu disse claramente, mas em voz baixa, para que só ele ouvisse:
- Finalmente você é meu... E vou te amar ontem, hoje e sempre... Por toda a minha vida.
Ele sorriu e eu vi seus lábios enrugarem levemente sua pele. Como eu amava aquilo... Um detalhe que certamente só eu observava e que sempre achei perfeito nele. Seus dedos encontraram o pingente descansando no meu colo e ele disse em voz baixa:
- Só você tem a chave do meu coração. A entreguei a você há quase dez anos atrás.
Nossos lábios de encontraram, depois de mais de trezentos dias separados. Senti sua língua na minha, macia, quente, saudosa de um espaço que só pertencia a ela. Eu não deveria, mas senti minha calcinha molhar e tive vontade de tê-lo dentro de mim, me pegando por trás e me dando palmadas fortes e estrondosas até me fazer gozar. Minhas mãos apertaram seu pescoço num beijo mais forte e logo ele se desvencilhou, falando no meu ouvido:
- A noite de núpcias é só depois, rainha do drama.
- Estou morrendo de “saudades de nós”. – retribui.
- Eu também.
E assim eu me casei com Nicolas Welling. Incrivelmente encontrei não só minha família, que eu não via há algum tempo, mas também Dani, Val e Alissa, todas acompanhadas, finalmente. Eu digo finalmente mais por Val. Sinceramente, eu não queria ela sequer pensando no meu marido.
Dali fomos para um espaço preparado para a festa. Era próximo, ainda na praia particular do resort. Tinham poucas mesas, mas lindamente decoradas com poucas flores e muitas conchas do mar. Achei diferente e tão lindo que jamais passou pela minha cabeça algo tão original. O bolo era branco, tradicional e com três andares. No topo, os tradicionais noivos. E foi bem observado a questão da nossa diferença de altura. Um noivo alto, magro, moreno, com olhos azuis. Uma noiva baixa, com cabelos avermelhados e sapatos de salto alto. Taças de cristais eram servidas com espumantes de boa qualidade. Um almoço com todas as opções possíveis era oferecido aos presentes.
Recebemos os cumprimentos de todos e pude matar a saudade das minhas tias e minha avó. Rever minhas amigas depois de tanto tempo foi muito bom. Mas o abraço de Lorraine era o que mais aquecia o meu coração e a minha alma. E o bebê dela era tão lindo quanto Vitória.
- Ele é um fofo... E dorme a noite inteira. – ela disse orgulhosa.
- E eu perdi o posto de dinda.
- Claro que não, sua boba. Acha mesmo que eu o deixaria sem uma dinda famosa e um dindo podre de rico?
- Lorraine, obrigada. Sei que tem dedo seu nisto tudo.
- Um pouco... Mas a mão toda é do seu homem.
Meus olhos encontraram os dele e finalmente ele chegou até mim, me abraçando e dizendo:
- Estou louco para sair daqui. Temos tanto que fazer...
- E conversar. – eu disse.
- Primeiro fazemos, depois conversamos.
- Nick... Você me perdoou. Eu não acredito!
- Rainha do drama, eu não deixaria acabar como no fim da sua história. Trinta anos era muito tempo para mim.
- Você... Leu?
- Claro que li... Tudo.
- É a sua carta de amor... Que eu nunca escrevi. Pecados no Paraíso foi feito para você... Com todo meu amor, minha culpa e meu mais sincero pedido de desculpas... Por tudo que eu fiz, mesmo sem querer.
- Eu nunca duvidei do seu amor, Juliet.
- Nem eu do seu, Nick.
Ouvimos gritos e gargalhadas e lá estava o bolo espatifado no chão, com uma Vitória apavorada ao lado e um bebê engatinhando rapidamente até lá, se lambuzando com tudo e passando o dedo no glacê branco, colocando na boca.
- Puta que pariu! – gritou Lorraine indo até eles, pegando o menino no colo e a menina pela mão. – Eu não disse que faria filhos para destruir o casamento de vocês? – ela nos olhou com o rosto ruborizado.
- Eu lembro exatamente do que você falou... Sentada no banco traseiro de um Uno Mille enquanto tínhamos uma Juliet arrancando retrovisores e tentando acabar com a nossa vida antes mesmo de ficarmos adultos. – disse Nicolas arrancando risos de todos.
- E eu fui convidado para este casamento há muitos anos atrás... Quando ela fingiu um afogamento no mar. E ela disse que queria ter filhos para destruírem o evento. – Felipe riu, pegando o bebê do colo dela e lhe dando um beijo no rosto.
- Lorraine, você disse que queria ter filhos com ele no primeiro encontro? – perguntou minha avó.
- Ei, você fingiu afogamento? – questionou minha tia.
- Sim, eu fingi afogamento para o boca a boca. – ela admitiu. – E vó, eu não só disse que queria ter filhos com ele no primeiro encontro. Eu tentei fazer os filhos a noite inteira, acredite.
Enquanto todos à nossa volta se divertiam, Nicolas pegou minha mão e disse:
- Vamos embora?
- Sim. – falei certa de que era isso que eu queria. Só ele... Nada mais.
Antes que déssemos mais de um passo, Maria Emília parou na minha frente. Ela me encarou e me abraçou, envolvendo meu corpo com força entre seus braços:
- Me perdoe. – ela alisou meu rosto. – Eu julguei você sem conhecê-la. E hoje eu sei que você abriu mão do meu filho por tanto tempo para protegê-lo.
- Me desculpe pelas palavras rudes que eu lhe disse. Foram na hora da raiva.
- Está desculpada. – ela disse sorrindo.
- Mas isso não significa que você pode morar conosco. – falei depressa.
Ela riu:
- Eu sei disto. Vou morar longe... Mas nem tanto. Quero ser presente na vida das crianças que vocês terão.
- E eu quero você presente na vida dos nossos filhos. – confessei.
- E não vou deixar nem você nem Lorraine falarem palavrões na frente das crianças.
- Porra, isso é assunto para discutirmos depois, mãe. – reclamou Nicolas.
- Será que você pode autografar meu exemplar do seu livro depois? – ela pediu sorrindo.
- Depois, mãe. – disse Nicolas me puxando pela mão.
Demos mais alguns passos e Otto nos parou. Eu comecei a rir antes que ele começasse a falar.
- Prometo ser breve. – ele se defendeu.
- Pode ser bem breve. Não vamos fugir para nunca mais voltar. Só quero ficar um minuto a sós com ela. – reclamou Nicolas.
- Sei muito bem o que você quer, Nicolas. – ele disse com cara de bravo.
- Agora estamos casados, “sogro”. Então você não pode criticar. Está tudo nos conformes, como manda a lei de Deus e dos homens.
- Só quero dizer, filha, que estou orgulhoso de você. E aposto que sua mãe, onde quer que esteja, está sorrindo de felicidade neste momento.
- Aposto que ela está dizendo: “Aquela lá é minha filha, Juliet. Ela ficou entre os primeiros colocados na listagem geral do vestibular. E recebeu menção honrosa pela melhor nota no curso dela na faculdade”.
- “E ela casou com Nicolas, que eu sempre soube que seria o marido dela. E só para constar, ele é muito rico. E ela, uma escritora famosa nacionalmente”. – ele completou, com lágrimas nos olhos.
Nicolas me pegou no colo e me colocou sobre seu ombro, chamando a atenção de todos.
- Anuncio oficialmente que a festa não acabou. Mas eu e minha esposa estamos nos retirando e só voltaremos à noite, encontrando todos na boate do resort, onde preparei um presente para minha noiva. Tenham uma boa estadia.
- E o bolo? – perguntou alguém.
- E o buquê? Ela não vai jogar?
Então ele saiu, sem se importar. A minha visão era somente das costas dele sob a blusa branca e a calça da mesma cor. Eu adorava quando ele me pegava daquele jeito, firme, forte, sabendo que ele jamais me soltaria enquanto eu não estivesse segura.
- É agora que você bate na minha bunda? – perguntei.
- Vou bater na sua bunda quando ela estiver sem nada de roupa. E vou bater tão forte que vou deixar as marcas dos meus dedos.
- E depois promete beijar cada uma delas e curar a dor com o calor com sua língua?
- Eu já disse que você não vale nada, rainha do drama?
- Algumas vezes...