Capítulo 128
2683palavras
2022-07-25 06:22
No dia seguinte, Nicolas partiu pela manhã para sua breve viagem enquanto eu fui para a empresa. Ainda não me sentia preparada para assumir tudo no lugar dele, mas foi assim que aconteceu. Então eu estava tão atarefada, que não deu tempo de pensar em nada.
Depois do meio-dia recebi a ligação da mulher que havia se interessado pela minha história novamente.
- Oi, sou eu novamente, Isabelle.
- Oi... Eu já consegui autorização de Tom Panetiere para usar o nome dele no livro.
- Isso é ótimo. Então quer dizer que você vai aceitar a proposta?
- Eu ainda não decidi sobre como vou fazer... Mas estou finalizando a história.
- Achei que já teria uma decisão sua. Até porque já tenho outra proposta para lhe fazer.
- Outra proposta? Mas nem aceitei a primeira ainda.
- Quero além da publicação do livro, um tour seu país, com a divulgação e o lançamento.
- Mas eu estou grávida. É praticamente impossível fazer isso.
- Seria rápido. Um dia em cada capital. Claro, depois de você ter aceitado a nossa proposta.
- Eu sinceramente não sei... Preciso mesmo pensar.
- É uma viagem, algum tempo fora. Caso você não estivesse grávida, haveria a possibilidade de publicação e visitas inclusive em outros países.
- Estou muito tentada... A questão das viagens que me deixa receosa.
- Como eu disse, podemos fazer ser mais rápido em função da sua gravidez.
- Quando você quer a resposta?
- Podemos combinar no final desta semana?
- Sim, pode ser.
- Juliet, você precisa tirar o livro da internet. Nossa editora se encarregará de toda a distribuição física e digital da história. E seria interessante interagir com as pessoas que seguem você. A curiosidade está grande em torno da rainha do drama e do senhor perfeito.
- Eu não sei se teria tempo para isso... Mas vou ver.
- Aguardo sua ligação.
- Uma pergunta, Isabelle: por que a minha história?
- Justo porque é a sua história. E envolve muitas coisas... Adolescência, perda de pessoas importantes, drogas, traição, e um resort que acredito que tenha tido um nome fictício até então, assim como o senhor perfeito e seu nome.
- Sim... Não vou envolver ele nisso. Decidi isso há pouco tempo atrás... E troquei todas as partes que o mencionava com o nome real.
- Não entendo como decide não envolver o personagem principal nisso, deixando-o com nome fictício, enquanto Tom Panetiere é lançado como personagem real.
- Tom não se importou... Aliás, Tom gosta de holofotes e aparecer na mídia. Para ele será um prazer, eu garanto. Mas o meu senhor perfeito não gosta disso. Ele sequer tem uma rede social, entende? Não posso fazer o mundo conhecê-lo... E embora saibam sobre nossa intimidade, não quero que saibam que é ele. Porque eu não quero dividi-lo. Ele é meu... Só meu.
- Estou tentando entender. – ouvi a risada dela do outro lado da linha. – Gostaria muito de conhecê-la pessoalmente, rainha do drama. Ou seria Juliet?
- Juliet e rainha do drama são uma só pessoa... Elas estão juntas há muitos anos e são indissociáveis depois que ele criou. Mas também não tenho certeza se vou assumir que este realmente é o meu nome.
- Muito prazer, Juliet.
- Prazer, Isabelle. Assim que der, retorno.
- Obrigada.
Aquela ligação me deixou empolgada e ansiosa. Eu sempre dizia que queria fazer algo que eu gostasse e escrever realmente passou a fazer parte da minha vida. Era prazeroso contar minha história com Nicolas. E depois eu poderia contar a história das minhas amigas mais profundamente, sobre Lorraine e Felipe, sobre minha mãe e Otto e tantas outras histórias reais que pareciam ficção, mas aconteciam no dia a dia... Reais.
Estar ao lado de Nicolas na empresa nunca foi meu objetivo. Eu sempre quis algo além, e sequer sabia o que era. Acho que eu estava entendendo a minha missão e paixão: a escrita.
Terminei as minhas tarefas mais tarde naquele dia e não entendia como Nicolas aguentava tanto trabalho diário. Quando o bebê nascesse eu sugeriria que ele conseguisse alguém com quem pudesse dividir um pouco as tarefas e esta pessoa não seria eu, com certeza.
À noite, jantei com Lorraine, Felipe e Vitória enquanto Otto estava num jantar entre amigos. Sim, Otto já tinha amigos no resort, daqueles que jantavam juntos uma vez na semana e pescavam dia sim outro também.
Maria Emília me ligou à noite perguntando sobre meu estado de saúde, que eu confirmei que estava bem. Depois ela disse que já estava providenciando uma casa na Villa, para deixar a residência de Nicolas. Falou também que tinha intenção de viajar e voltar quando o bebê nascesse, para me auxiliar. Eu fui gentil, mas não tinha certeza se quereria ela me ajudando com meu filho. Só o me tempo faria ter certeza de como seria nossa relação.
Nicolas me ligou pouco antes da meia noite.
- Boa noite, rainha do drama.
- Achei que não me ligaria.
- Não tive tempo... Foi corrido. Mas quer a notícia boa?
- Claro, senhor perfeito.
- Amanhã pela manhã estarei de volta em Paraíso.
- Convenceu tão facilmente assim o acionista?
- Não foi tão fácil, mas sim, o convenci.
- Parabéns, senhor perfeito.
- Estou com saudades.
- Eu também. E não sei como você consegue dar conta de tanto trabalho naquele lugar. Precisamos conversar seriamente sobre isso.
- Falando em trabalho... Acho que vou perder minha vice-presidente.
- Como assim?
- Estou fazendo uma leitura online por aqui.
- Não acredito. Que vergonha, Nick.
- Achou mesmo que eu não leria?
- Achei que pudesse não ter tempo.
- Eu sempre vou ter tempo para você, Juliet. Optou por não mencionar meu nome verdadeiro?
- Não quero dividi-lo com o mundo.
- Sou só seu... Para sempre.
- Eu sei...
- Mas confesso que gostei da sua história... E por não ter mencionado meu nome real. Não sei a proporção que isso vai tomar e não gostaria de aparecer por aí... Sou muito tímido.
Eu ri:
- Não acho você tímido.
- Só não sou com você, rainha do drama. Mas gosto de discrição. E você sabe disso.
- Por isso não mencionei Nicolas Welling, nem o Paradise Resort. Vocês receberam nomes fictícios.
- Juliet, eu estou feliz que tenha escrito a nossa história. E foi exatamente assim que tudo começou. Mas me conte, como será o fim?
- Vou inventar um fim, Nick... Porque não posso escrever a nossa história para sempre.
- E já pensou em como será?
- No casamento? – perguntei sugestiva.
- Hum, boa opção.
- Mas amanhã conversamos melhor sobre isso. Eu estou com sono.
- Está me cortando desta conversa, rainha do drama?
- Seu filho quer dormir.
Ele riu:
- Acho que é a mamãe dele...
- Eu amo você, Nick.
- Também te amo, rainha do drama. Sempre...
Desliguei e meus olhos já ficaram pesados. A gravidez me deixava muito sonolenta.
Na manhã seguinte, no café da manhã, contei a Otto sobre Isabelle e sua ligação sobre o meu livro. Ele me incentivou a seguir em frente, mas também achou complicada a questão das viagens durante a gravidez. Eu já não sentia mais as dores pélvicas e minha barriga começava a ficar saliente. E eu já optei por roupas mais largas, louca para que alguém que ainda não soubesse perguntasse se eu teria um bebê. Porque eu amava dizer “sim, estou grávida”.
Quando Felipe me buscou para levar-me à empresa, recebi uma mensagem de Nicolas:
“Já estou no aeroporto. Em breve estarei aí. Estou louco para enchê-la de beijos, onde você quiser. Comprei o primeiro presente para o nosso bebê. Senhor Perfeito.”
Eu sorri:
- Nick já está no aeroporto. – avisei Felipe.
- Ele não ligou para eu buscá-lo.
- Deveria?
- Bem, talvez ele pegue um táxi, já que sabe que neste horário eu estou disponível para você.
Fui para a sala de Nicolas. Assim que cheguei, loguei o computador e retirei a minha história da internet, conforme Isabelle havia solicitado. E comecei a responder algumas leitoras. Eu realmente não imaginava a proporção que aquilo havia tomado. E fiquei feliz.
Pedi um cappuccino e continuei escrevendo, sem me importar com o mundo lá fora, especialmente as questões do Paradise.
Meu telefone vibrou. Era uma mensagem:
“Ameaça cumprida”.
Não havia identificação. Senti meu coração bater descompassadamente. Liguei para Nicolas e chamou até cair. Disquei o número de Otto, que me disse estar pescando. Não quis preocupá-lo, então só mencionei que gostaria de saber onde ele estava. Em seguida liguei para Lorraine, que estava trabalhando de casa com Vitória. Felipe continuava no prédio. Então somente Nicolas não havia me garantido que estava seguro. Continuei tentando por mais de quinze minutos até que simplesmente parou de chamar.
Levantei a abri a porta quando me deparei com Eliete. E eu já a conhecia o suficiente para saber que alguma coisa havia acontecido.
- O que houve com Nick? – perguntei.
- Como... Você sabe?
- Não importa como eu sei, Eliete... O que houve? – perguntei num fio de voz.
- Ele está no hospital...
- O que aconteceu?
- O carro em que ele estava sofreu uma represália. Ele levou um tiro.
- Onde ele está? – perguntei mecanicamente.
- No Hospital da cidade vizinha. Não deu tempo de chegar em Paraíso.
Peguei minha bolsa e desci imediatamente. Encontrei Felipe no telefone. Assim que ele me viu, desligou, me encarando:
- Já sei o que houve... Vamos ao hospital.
Entrei no carro, ainda confusa e com a sensação de que tudo era um pesadelo e quando eu acordasse estaria tudo bem. Ele passou em casa e pegou Lorraine antes de partirmos. Ela sentou ao meu lado e me abraçou enquanto ele dirigia. Então eu deixei as lágrimas caírem grossas e doloridas. E eu não lembro de quando havia sentido uma dor tão horrível nos últimos tempos.
- Se acontecer algo com ele, eu nunca vou me perdoar. – falei aos prantos.
Ela levantou meu rosto e me fez encará-la:
- Olhe para mim... Você não tem culpa. Pare de achar que tudo que acontece de ruim a culpa é sua.
Mostrei a mensagem no celular para ela e expliquei o que havia acontecido entre mim e Simon.
- Juliet, ainda assim não a acho culpada. Você tem razão quando pensa que isso nunca mais vai parar. Se fizer o que Simon quer, ele vai continuar exigindo outras coisas. Até que um dia ele vai querer e resort inteiro. E vocês estarão dispostos a dar?
- São vidas que estão em jogo, Lorraine. E eu joguei com elas, entende?
- Você não agiu errado. Eu no seu lugar faria a mesma coisa. Nick vai ficar bem.
- Ele levou um tiro...
- E não foi culpa sua. – ela me apertou contra seu corpo.
- Felipe, você consegue ir mais rápido. – pedi.
- Estou indo o mais rápido possível, Juliet. Mas com segurança. Tenho duas grávidas no carro.
A sensação que eu tive foi que demoramos uma eternidade para chegar até o hospital da cidade vizinha. O bom é que ele era muito grande e talvez tivesse mais recursos que o de Paraíso. Desci rapidamente, mal esperando o carro parar.
Assim que cheguei na recepção, perguntei sobre Nicolas.
- Ele acabou de dar entrada, senhora. Ainda não temos informações. Precisa aguardar.
- Eu não posso aguardar... Eu preciso saber... Por favor. – implorei, limpando as lágrimas.
- Senhora...
- Acalme-se, Juliet. – Lorraine me abraçou. – Aguardaremos aqui, na sua vista. – ela avisou a recepcionista. – Assim que tiver notícias, por favor, nos avise.
Felipe foi até a recepcionista e começou a passar os dados de identificação de Nicolas enquanto eu e Lorraine esperávamos.
- Acho melhor você sentar. – ela disse.
- Eu posso dizer o mesmo a você, Lorraine. Estamos no mesmo estado. E não, eu não vou sentar.
Ficamos ali trinta minutos. Neste meio tempo chegaram Otto e Maria Emília, juntos. Assim que me viram, os dois vieram até mim e me abraçaram.
- Como ele está? – perguntou Maria Emília preocupada.
- Ainda sem notícias. Estamos aguardando há exatos quarenta minutos. – constatei no meu relógio.
Otto me puxou para o lado e perguntou com tom de voz baixo:
- Foi ele?
Mostrei a mensagem no celular e ele passou as mãos pela cabeça careca, confuso e preocupado:
- Temos que ir a polícia. Não podemos deixar este safado fazer isso e se sair bem.
- E temos provas, Otto?
- Não, mas deve haver um jeito, Juliet.
- E se Nick morrer, Otto? Se ele me deixar, como minha mãe fez?
- Isso não vai acontecer, Juliet. – ele me abraçou.
O médico veio até nós. Ficamos atentos, esperando as notícias.
- São os familiares do senhor Welling? – ele perguntou.
- Sim. – disse Maria Emília.
- Ele levou um tiro no ombro. Conseguimos retirar a bala. A cirurgia foi bem sucedida. Ele está dormindo ainda, mas em breve, quando passar o efeito da anestesia, ele estará bem e poderão vê-lo, um a um.
Senti como se um peso saísse de cima de mim. Sorri em meio às lágrimas que insistiam em cair.
- Agora que está tudo bem, vamos comer algo. – disse Lorraine. – Você não tomou nem água desde que saímos do Paradise.
- Eu não estou com fome. Vou ficar aqui... Até vê-lo.
- Vai comer algo sim. – disse Otto. – Vou buscar.
Sentei um pouco, sentindo meu corpo relaxar. Maria Emília sentou ao meu lado e senti sua mão enlaçar a minha. Encarei-a.
- Tudo deu certo... Ele voltou para nós.
Eu não respondi. Eu só queria ver Nicolas... Só isso. Precisava me certificar de que estava tudo bem. Encarar o azul dos olhos dele e ter a certeza de que eles ainda brilhavam por mim. Otto trouxe um lanche, mas eu não conseguia engolir nada.
Levou duas horas para o médico autorizar que eu entrasse no quarto. Acompanhei-o lentamente pelo corredor enquanto ele me explicava que estava tudo bem, embora eu mal conseguisse prestar atenção ao que ele falava. Eu precisava vê-lo... Só isso.
Assim que ele abriu a porta e eu vi Nicolas deitado na cama, com o lençol branco cobrindo da sua cintura para baixo e seu peito nu com um enorme curativo no ombro, senti um embrulho no meu estômago, como se tivesse levado um soco. Ele virou o rosto e senti seus olhos azuis dentro dos meus. E um frio percorreu minha barriga, causando em seguida um arrepio.
- Rainha do drama... Eu só queria vê-la. – ele disse direcionando a mão livre para mim.
Enlacei sua mão na minha e disse:
- Você está aqui, Nick... – minhas lágrimas quentes caíam sobre ele.
- Eu... Vou deixá-los um pouco a sós. – disse o médico. – Volto em alguns minutos para o próximo visitante entrar.
- Eu não quero outro visitante... – ele disse. – Só quero minha Juliet...
- Ok, como preferir. Ainda assim, não posso permitir que ela se demore muito.
Ele fechou a porta e eu disse imediatamente:
- Mais uma vez a culpa foi minha. Foi Simon.
- A culpa não é sua...
- Nick... Ele me ameaçou. E disse que se eu não passasse as ações de Tom para Joana eu iria me arrepender. E eu paguei para ver. E ele tentou matar você. – eu estava quase em pânico.
- Eu estou bem... E vamos resolver isso... Juntos.
- Achei que eu perderia você... Para sempre.
- Não vai me perder, rainha do drama.
- Me diga que você se sente bem, por favor.
- Só se você limpar estas lágrimas.
Eu limpei as lágrimas num meio sorriso.
- Eu estou bem. – ele disse.
Senti algo no chão e olhei para os meus pés. Havia sangue.
- Nick... Você está sangrando. – falei preocupada.
Ele virou o rosto e olhou para o chão:
- Eu não estou sangrando... É você, Juliet.