Capítulo 126
2776palavras
2022-07-25 06:21
Entrei no quarto rapidamente e fui até eles, puxando-a pelos cabelos do colo do meu namorado. Ela não esperava pela minha atitude a acabou caindo no chão. Peguei uma jarra de água que estava sob a mesa, próximo da janela e joguei no rosto de Nicolas:
- Acorde, Nick, esta vagabunda deve ter drogado você.
Ela já estava de pé, me encarando furiosa, enquanto Nicolas não conseguia se mover de onde estava, completamente sem ação.
- Saia agora desta casa e não volte mais. – avisei.
- Nicolas me chamou, querida. – ela alegou.
- Nick não chamaria você, Joana. E eu tenho certeza disto. Só vou tentar entender, quando ele estiver bem, como você conseguiu chegar na Villa e entrar na nossa casa.
- Você está brincando com fogo, maninha.
- Não somos irmãs... Não temos o mesmo sangue, muito menos o mesmo pai. Evite tentar me ofender, pois não vai conseguir. Avise seu pai que não vou passar a porra das ações para o seu nome... Muito menos para o dele.
- Vai pagar para ver?
- Vou... Vocês são amadores demais. – eu ri debochadamente e peguei a blusa dela quando ela tentou apanhá-la do chão. – Entrou não sei como, mas sairá sem a blusa, querida.
- Me entregue a porra da blusa agora. – ela gritou.
- Nem pensar... Vai embora de sutiã... E sem calçados. – peguei os sapatos dela. – Tente pegar e eu chamo a segurança agora.
- Vou acabar com você. – Joana ameçou.
- Tente... Você é ridícula. Acha mesmo que eu acreditaria que Nicolas me trairia com você? Eu confio nele... Nick não me trocaria por ninguém. Nós vamos casar e... – eu mencionaria o bebê, mas optei por não. – Sermos felizes. Eu não sei o que você usou nele, mas se não me disser como parar isso, vou levá-lo imediatamente ao hospital e junto com o laudo médico registrar um boletim de ocorrência mencionando o seu nome.
Vi lágrimas escorrendo do olhar furioso dela:
- Ele está sonolento. Coloque-o para dormir e acordará bem... Talvez não lembre do que aconteceu.
Ela limpou as lágrimas com força, manchando a maquiagem.
- Agora vá embora. E nunca mais pise seus pés na Villa. Vou proibir sua entrada. Aliás, vou proibir sua entrada em qualquer parte do Paradise. Não há lugar para nós duas neste resort.
- Não há lugar para nós duas em Paraíso, maninha. – ela pegou a bolsa. – Eu vou embora sem sapatos e sem blusa... Mas se prepare: vou deixá-la completamente sem nada.
- Não tenho medo de você... – repeti. – Suma daqui agora. Você tem exatos três minutos para deixar esta casa ou chamo a polícia.
Ela saiu rapidamente. Fiquei olhando para os sapatos de salto e a blusa nas minhas mãos e joguei imediatamente na lixeira
. Fui até Nicolas, que continuava confuso e parecendo cansado na poltrona.
- Nick, você está bem?
- Sim... Um pouco tonto. – ele disse. – Meus olhos pesam.
- Venha, vou lhe dar um banho.
Ajudei-o a ir até o banheiro e liguei a água fria. Ele despertou um pouco, mas continuava em silêncio. Depois o coloquei na cama e o cobri. Ele dormiu em alguns minutos, ainda sem falar e certamente não entendendo muito bem o que estava acontecendo. Fiquei com medo do que ela poderia ter usado nele... Mas ao mesmo tempo eu realmente a achava amadora, então acredito que ela não tenha mentido sobre os efeitos da droga. Claro que eu temia Simon, mas admitir isso ou fugir era pior. Tinha que enfrentá-lo ou minha vida viraria um inferno.
Quando Nicolas acordasse talvez eu precisaria lhe dizer a verdade. Estava cansada de mentiras, de fugir e de tentar enfrentar Simon sozinha. Qual seria o próximo passo deles?
Certamente a intenção de Joana foi de que eu visse a cena e ficasse furiosa, acabando meu relacionamento com Nick sem deixá-lo explicar. Aliás, mesmo que ele tentasse explicar, ele não conseguiria, pois não saberia o que havia acontecido de fato.
Não tenho certeza de quanto tempo fiquei ali, alisando o rosto dele enquanto ele estava num sono profundo. Ah, se Nicolas soubesse o quanto ele era importante para mim. Mas acho que ele sabia. Porque eu tinha a mesma importância na vida dele. Tive saudade de quando vivíamos nossa vidinha há anos atrás... Adolescentes tentando resolver problemas de amor, amigos e família. Crescer não foi fácil, principalmente do modo como foi para nós dois. A morte da minha mãe foi um divisor de águas na minha vida. Foi como se o mundo inteiro tivesse se acabado no momento que ela se foi. E depois disso, por um longo tempo, só houve escuridão. E mesmo que eu tentasse encontrar a luz, eu não conseguia. Porque além dela, Nicolas também havia ido embora. Sem os dois, que faziam todas as minhas vontades e me amavam incondicionalmente, mais que tudo, eu tive que crescer e amadurecer de forma abrupta. E eu não estava preparada. Então eu decidi que iria me punir por tudo que eu achava que fiz errado, incluindo a morte de minha mãe e a partida de Nicolas. Eu só fiquei com Tom porque ele era parte do meu passado e tudo que eu queria: recuperar o que vivi, o que passou... Que era irrecuperável. E Tom também não era mais aquele homem que eu conheci, ou melhor, eu não o conheci de verdade. Morar com ele foi a forma como ambos nos conhecemos. E aqueles anos eu não vivi e sim sobrevivi. Reencontrar o meu Nick tempos depois foi a luz na minha vida. Eu senti que Deus não estava tão de mal comigo. Ele me tirou minha mãe, mas devolveu meu amor, depois de eu tê-lo perdido e convivido anos com a culpa. E agora eu tinha um bebê dentro de mim. Eu não precisava de mais provas de que eu estava perdoada. E não deixaria ninguém entrar no meu caminho. Não era por dinheiro... Porque eu tenho a impressão de que era mais feliz quando não tinha. Contar o dinheiro para o táxi, não ter um celular porque minha mãe não tinha dinheiro para pagar a parcela, muito menos a conta mensal, juntar o que sobrava mês a mês para colocar na poupança para pagar a minha faculdade... Não era para ser bom, mas no final, era a melhor das coisas. Eu sempre sonhei em ser alguém na vida, mas nunca desejei ser rica, a ponto de ter tanto dinheiro que não soubesse o que fazer dele. Tanto que tudo que fiz quando tive acesso aos cartões de Tom foi gastar com roupas e calçados... Porque eu não tinha noção nenhuma do que eu queria ou devia fazer. Nicolas se tornou um homem milionário. E nem sei se ele criou aquele resort com esta intenção. Acho que ele queria muito mais construir um lugar perfeito do que ter milhões na conta. E agora eu entendia que o dinheiro trazia muitos problemas, assim como pessoas interessadas e dispostas a fazer qualquer coisa por ele. Simon e Joana eram exemplos destas pessoas. E eu não entendia o motivo, porque eu vim de origem humilde e ainda assim não seria capaz de fazer o que eles faziam: roubar a própria família, não ter limite nenhum e fazerem qualquer coisa para conseguirem o que queriam. Então não era sobre ambição. Era sobre caráter.
Na manhã seguinte despertei e Nicolas ainda estava deitado do mesmo jeito, dormindo feito um anjo. Dei um beijo nele, mas não o acordei. Optei por deixá-lo dormir. Ele estava respirando normalmente.
Assim que desci, com a intenção de ir para minha casa, encontrei Maria Emília.
- Bom dia.
Maria Emília me cumprimentando sem querer me matar? Olhei para ela surpresa e respondi gentilmente:
- Bom dia.
- Nicolas já foi?
- Não... Continua dormindo.
- Ele não costuma dormir tanto. Não irá trabalhar hoje? Vocês planejaram algo?
- Bem, na verdade, não. Por acaso você viu ontem Joana entrando aqui ontem?
- Joana? Não...
- Pois ela veio. Encontrei-a com Nick no quarto.
- Como assim? – ela perguntou surpresa.
- Enfim, ela deu alguma coisa para ele... Não sei o que... Mas o “drogou”. Então ele não sabia que ela estava literalmente em cima dele, na poltrona.
- E você... Acreditou que Nicolas não havia feito nada?
- Deveria ter pensando o contrário? - perguntei arqueando minhas sobrancelhas, curiosa com a resposta dela. - Mas sim, acredito que não tenha acontecido nada. Por vários motivos... Acha que seu filho pode ter chamado Joana e tentado “comê-la”, mesmo eu estando na casa ao lado, disposta a “dar para ele” quantas vezes ele quisesse?
Ela pensou um pouco e disse:
- Odeio seu linguajar. Odeio o linguajar da sua prima. E odeio o fato de Nicolas ter escolhido você. Mas ele escolheu... E a escolha infelizmente depende unicamente dele e não de mim. Mas eu não acho que ele possa tê-la traído. Meu filho não faria isso... Porque ele é louco por você. E talvez seja pelo fato de “você dar” para ele o tempo todo e ter bastante experiência quando dormiu com ele pela primeira vez. Isso pode ter sido o que fez com que ele se apaixonasse perdidamente por você desde o início, como se fosse enfeitiçado.
Eu ri:
- Fico feliz pela parte do “completamente apaixonado por mim desde o início”. E não, eu não tinha experiência. Eu era virgem quando conheci Nicolas e demoramos onze anos para nos beijarmos pela primeira vez. Imagine então o tempo que levamos para dormirmos juntos e ele tirar minha virgindade. Eu creio que possa ser este o motivo que ele se apaixonou. A forma como ele me tratou na minha primeira vez foi simplesmente perfeita. E eu não me apaixonei ainda mais por ele porque era impossível gostar mais do que eu já gostava. Infelizmente a vida fez com que eu e Nick nos separássemos um tempo. Mas por sorte nos encontramos novamente... E agora estamos felizes e temos um filho a caminho. E eu sei que desta vez é para sempre. Mas me conte, Maria Emília, como foi sua primeira vez com o pai de Nick? Você era virgem? Ele sempre foi um bêbado ou começou depois do casamento? Como você se sentia quando sabia que Nick odiava a vida que levava e ainda assim você o obrigava a conviver naquele ambiente completamente horrível para uma criança? Pensou em primeiro lugar em você mesma ou no seu filho? Pergunto porque vou ser mãe e quero levar em conta sua experiência.
Ela me olhou sem dizer nada. Tudo que eu queria era ser acolhida. Estava passando por momentos horríveis e ela ainda queria me julgar. Quem se importava se eu era experiente ou não? O que ela tinha a ver com isso?
Senti uma pontada abaixo da barriga, na região pélvica e levei minha mão até lá, não conseguindo disfarçar o semblante de dor.
- Está tudo bem? O que houve? – ela perguntou se aproximando de mim preocupada.
- Uma leve dor. Tudo bem. – falei indo em direção a porta.
- Me desculpe, Juliet.
- Tudo bem, Maria Emília. Sei que não é possível escolher a nora, não é mesmo? Eu também não escolheria você como sogra se tivesse opção. Mas fico feliz que Nick amava minha mãe e ela sentia o mesmo por ele. Minha família o acolheu com muito amor, porque sabiam que ele era a minha escolha. Eles não julgaram, nem quiseram saber nada sobre o passado dele ou sua família. Tudo que queriam era nossa felicidade. E nós só tínhamos 18 anos. Imagine esta situação hoje, com nós adultos e com um filho a caminho. – eu sorri. – Minha mãe ficaria tão feliz com o bebê... E com o amor que sentimos um pelo outro e a felicidade que sentimos quando estamos juntos. – limpei minhas lágrimas teimosas. – Eu não quero que me aceite. Mas espero que aceite nosso filho. Assim como peço que deixe a casa de Nicolas o mais breve possível, antes que eu tenha que colocá-la para fora. Em breve estarei morando aqui com meu filho. E não quero sua presença constante. Talvez tenhamos que combinar os dias e horários de visita. O que acha?
Senti novamente a pontada forte. Porra, hora de parar de humilhar a bruxa. Acho que o cara lá de cima estava me mandando um aviso: “ultrapassando limites de maldade”.
- Terminou o que estava por me dizer a vida toda? – ela perguntou.
- Me ligue imediatamente assim que Nicolas acordar. – falei e saí.
Antes que eu entrasse na porta de casa, Maria Emília me pegou pelo braço. Olhei em seus olhos e ela disse:
- Me desculpe, Juliet. Eu não queria dizer o que eu disse.
- Não tem problema. No fim disse o que pensou e não o que queria dizer. E foi sincera, assim como eu.
- Você também conseguiu dizer o que queria, não é mesmo?
- Maria Emília, eu estou cansada disto tudo. Eu tento passar por todas as adversidades que surgem entre o meu relacionamento com Nick... Mas às vezes eu tenho vontade de jogar tudo para o alto e viver a minha vida longe de tudo e todos que tentam acabar comigo. E acredite, isso não inclui só você.
- Eu tive um relacionamento horrível com o pai de Nicolas. Sim, ele era alcoólatra e embora nunca tenha feito nada contra meu filho, fazia contra mim. E Nicolas presenciava tudo. E eu não conseguia me desvencilhar. Não era porque eu não queria. Eu não tinha coragem. Eu tinha medo de não conseguir dar a Nicolas a vida que ele tinha... Sendo que a vida que ele tinha era simplesmente horrível. – vi lágrimas nos olhos dela. – Depois que o pai dele morreu eu me vi livre. E Nicolas ficou rico em tão pouco tempo que eu mal consegui acreditar. Ele sempre foi um filho perfeito, esforçado... E se não fosse ele me tirar daquela casa eu estaria até hoje sofrendo todo tipo de abuso e agressão possível. Eu me tornei uma mulher amarga. E jamais serei capaz de acreditar em felicidade ao lado deu um homem novamente. Então só me restou Nicolas. E para ele você é mais importante que tudo, até mesmo que eu. Então sempre me senti ameaçada por você, rainha do drama. – ela riu. – Eu acho fofa a forma como ele a chama. Mas o fato de você chamá-lo de senhor perfeito deixa meu coração completamente cheio de amor e orgulho. Porque Nicolas é realmente perfeito... E você descobriu isso há muitos anos atrás, antes de eu sequer perceber que meu filho era tão especial. Eu quero você na vida de Nicolas... Simplesmente porque se você não estiver na vida dele, meu filho morre. E estou imensamente feliz com este bebê que está vindo.
Eu não disse nada. Não sabia exatamente como eu me sentia com relação às palavras dela. E ao mesmo tempo ainda sentia dores, embora mais fracas.
- Eu vou pedir para Nicolas encontrar uma casa para mim na Villa. E prometo não atrapalhar mais o relacionamento de vocês.
- Por que isso significa que ele pode excluir você completamente das nossas vidas?
- Não, porque eu quero participar da vida de vocês. E tentar superar todo rancor que eu tenho com a minha...
- Prometo tentar levar em conta isso, Maria Emília. Mas agora... Eu preciso ir para casa.
- Aviso assim que Nicolas acordar.
- Ok.
- Posso lhe dar um abraço? – ela perguntou abrindo os braços.
Eu suspirei e fui sincera:
- Por enquanto não. Eu poderia dizer que sim, mas não estaria sendo honesta com você e comigo mesma. Juro que tentei ser legal um pouco antes, quando expliquei o que havia acontecido com Joana e Nicolas. Mas não fui bem tratada por você.
- Acho que precisamos de um tempo. – ela disse abaixando os braços. – Da minha parte, estou disposta a recomeçar.
- E eu estou disposta a vê-la provar que merece um recomeço da minha parte.
Entrei em casa rapidamente. Não estava disposta a ficar ouvindo as lamentações dela. Eu estava sentindo uma leve e incômoda dor.
Fui até o quarto de Otto, que ainda estava dormindo. Liguei a luz e ele abriu os olhos, surpreso:
- Filha?
- Pai, eu não estou me sentindo muito bem.
- O que aconteceu? – ele levantou rapidamente, usando só um calção colorido e engraçado.
- Estou com dor aqui. – mostrei. – E acho que isso não é normal.