Capítulo 125
2485palavras
2022-07-25 06:20
Quando cheguei em casa Nicolas já estava me esperando, ansioso e furioso. Maria Emília já havia feito toda a fofoca assim que eu saí.
- Como você foi sozinha? Eu não quero que deixe o resort sem um segurança de forma alguma. É perigoso. Simon pode estar seguindo seus passos. Você corre risco... Nosso bebê corre risco, entende? – ele quase gritava e eu fiquei um pouco melindrada com a forma como ele falava.
Mas eu sabia que ele tinha razão. Se eu tivesse ouvido-o antes, não teria encontrado Simon. Mas que diferença faria não encontrá-lo? Nicolas não era intocável em Paraíso, então, de um jeito ou de outro, Simon teria nos encontrado. Não poderíamos ficar trancados no resort para sempre. Aquilo tudo era surreal.
Eu comecei a chorar, não só pela forma como Nick falava comigo, mas também pelo que havia acontecido e eu não podia dividir com ninguém. Nicolas me abraçou com força:
- Me perdoe... Eu não queria que ficasse triste comigo.
- Você tem razão, Nick... Tudo bem.
- Não! Perdoe-me.
Eu o apertei contra mim, sentindo-me protegida. Eu não sabia o que faria com relação a Simon, mas no momento eu só queria sentir o perfume dele e seus braços envolvendo meu corpo.
Ficamos ali, entre nossas duas casas, sem dizer nada, somente sentindo nossos corpos numa profunda entrega de amor.
- E como foi? Tudo preparado para o casamento? – ele me olhou, limpando minhas lágrimas.
- Eu não fui... – confessei envergonhada. – Acabei indo até o hospital... Preocupei-me com Lorraine.
- Eu entendo. Vocês duas são muito ligadas. Mas já estou decidido a eu mesmo organizar este casamento antes que ele não saia.
- Não estou fugindo do casamento, Nick... – brinquei.
- Acha que vou me contentar só com a prostituta na esquina? Nem pensar... – ele deu um beijo no meu rosto. – Me perdoa, minha baixinha.
- Eu nem sei porque chorei... Acho que me assustei. Você quase gritou comigo.
- É que fiquei muito preocupado.
- Sua mãe é uma fofoqueira.
- Ela ficou preocupada, rainha do drama. Todos sabem que você não dirige muito bem.
- Isso pode ser passado. Gostei de um certo carrão importado que encontrei na garagem.
- Jura? Vai querer meu carro?
- Me saí bem... Fui e voltei intacta. – me soltei dele e dei uma voltinha.
Ele me pegou no colo e eu comecei a rir. Nicolas era tudo que eu precisava para ficar tranquila. Eu iria aproveitar cada momento ao lado dele, pois já tinha quase certeza de que não duraria para sempre, como eu já imaginava desde o início.
- Minha casa ou sua casa?
- Nick, você precisa ir trabalhar.
- Não... Eu vou ficar com você o resto do dia. Preciso me redimir por cada lágrima que fiz você derramar.
- Ok, só se for cada lágrima, um dia.
- Combinado. Não posso dizer não para a futura mãe do meu filho. – ele beijou a minha barriga. E só para constar, detesto isso de “minha casa” ou “sua casa”. Acho que está na hora de termos a “nossa casa”.
Ah, se Nicolas soubesse o quanto eu queria isso. Mas estava ficando cada vez mais difícil acreditar nesta possibilidade. Enquanto ele me levava para a casa dele, fiquei tentada a lhe contar a verdade... Mas tive medo. E se Simon realmente fizesse algo contra ele? Ou Otto? E tinha Felipe, Lorraine e Vitória. Eu não podia arriscar... Não poderia pagar para ver... Ou podia? Eu estava muito confusa.
Tomei um banho e fui deitar. Havia sido uma manhã conturbada, embora ninguém soubesse. Nicolas não se importou de eu querer ficar deitada, jogando conversa fora a tarde inteira. O que importava era estarmos juntos e nada mais.
A semana transcorreu normalmente. E eu não havia conseguido entregar as minhas ações para Joana ainda. Simplesmente porque eu não achava justo. E se eu desse aquilo e eles quisessem mais? Qual seria o próximo passo? Afinal, logo eles saberiam do bebê... E então haveria ameaças com relação a meu filho e aquilo se tornaria um círculo vicioso. E eu viveria sob chantagem para sempre. Eu tinha que fazer algo... Só não sabia como e o que fazer para me livrar daquela gente que me sugaria até o último vintém - que eu nem tinha.
Felipe era meu novo motorista e segurança. Mas eu não tinha mais intenção de sair do resort. Tentaria focar somente nas consultas de pré-natal fora dali.
No final da tarde daquele dia, recebi uma ligação de um número desconhecido. Fiquei com medo de atender e ser Simon, afinal, o tempo estava passando e eu não fiz o que ele pediu.
Resolvi atender para não ficar com a dúvida me atormentando.
- Alô...
Era uma voz feminina do outro lado e eu já fiquei um pouco mais tranquila.
- Oi, quem fala?
- Eu gostaria de falar com... A Rainha do drama.
- Como assim? – perguntei confusa. Só Nick e os mais próximos sabiam do meu apelido.
- Quem gostaria?
- Eu sou de uma editora. Estou acompanhando a postagem da sua história. E tenho interessada em publicá-la. Você viu quantas pessoas estão acompanhando?
Não, eu não tinha visto. Comecei a postar e sequer mexi naquela semana no computador. Haviam sido dias difíceis e de decisões que sequer foram tomadas.
- Bem, na verdade eu não estou acompanhando. Estou grávida e não tive tempo nos últimos dias...
- Acho que você é quase famosa, Rainha do drama. Mas me diga, é seu interesse revelar sua identidade ou pretende seguir anonimamente?
- Eu não pensei sobre isso... – confessei.
- Você tem uma imaginação e tanto...
- Não é imaginação. – falei. – É uma história real.
- Então Tom Panetiere... É realmente Panetiere, da rede de viagens e turismo?
- Sim... Acha que eu devo retirar o nome dele?
- Bem, você pode ter problemas mencionando ele na história. Já pensou em pedir autorização para o uso do nome dele? Teria que ser por escrito... Legalmente.
- Entendo... Mas não me importo de trocar o nome dele também. Jamais pensei que meus rabiscos poderiam interessar a alguém.
- Hoje em dia tudo é muito rápido... Uma boa história, envolvendo pessoas conhecidas nacionalmente é quase uma biografia. E temos o assunto “drogas” e o quanto isso influencia na vida das pessoas, assim como o tráfico e a corrupção.
- Você poderia me dizer qual poderia ser o alcance da minha história? – perguntei interessada e com uma ideia louca começando a tomar conta de mim.
- Não... Porque isso é quase impossível de prever. Mas vejo grande potencial.
- Posso pensar e lhe dar a resposta depois?
- Claro, rainha do drama. Aguardo ansiosamente sua posição. Queremos muito sua história.
- Ok, prometo pensar com carinho.
Peguei meu telefone e liguei para Tom e lhe expliquei sobre a história que comecei a escrever e a proposta que recebi. E pedi autorização para usar o nome real dele.
- Isso é um pouco complicado... Quer que eu responda agora ou posso pensar, gatinha? – ele perguntou.
- Claro que pode pensar, Tom. Eu também estou pensando. Mas o problema é que seu nome já está lá... Mas sequer pensei que isso fosse ter tanta visibilidade. O bom é que não sei se associaram você, o grande empresário do turismo, ao meu personagem. Se a própria editora não percebeu, acho que os demais leitores também não.
- Talvez você possa ter o seu nome por aí com seus próprios esforços, gatinha. E eu estou orgulhoso de você. Quer saber? Pode usar meu nome sim.
- Mas... Não quer pensar? Tem certeza?
- Acho que eu tenho uma dívida com você.
- Tom, você me deixou milhões em ações no resort. Não me deve nada...
- Aquilo foi financeiro. Sua parte pelo tempo que foi minha companheira, que dividiu sua vida comigo. Agora eu vou retribuir pela parte pessoal... Por você ter ficado comigo no hospital, por ter me apoiado com Ivan. Sua opinião sempre foi importante para mim.
- Nunca fiz para receber algo em troca.
- Não me custa nada ajudar você, gatinha. Meu nome vai levantar sua história. E é real... Talvez o que eu vivi ajude alguém pelo menos.
- Você... Tem usado? – perguntei curiosa e preocupada com a resposta que ele daria.
- Não... Mas está sendo difícil.
- Tem conseguido ajuda?
- Estou fazendo terapia. E passei um tempo curto numa clínica. Não posso abandonar o trabalho e você sabe disso. Só confiava em você para fazer minhas coisas.
- Terá que conseguir alguém de confiança. Você precisa descansar... Se curar... E cuidar do seu filho... Ser um pai presente. Como Ivan está?
- Ivan está bem. Estamos nos adaptando... Nós três.
- Você deu uma chance à Gabriela?
- Estou tentando.
- Ah, fico tão feliz, Tom. Espero que vocês sejam felizes, porque formam uma bela família.
- Tenho receio de ela estar interessada no meu dinheiro.
- Dê uma chance a eles, Tom. Talvez não seja isso... Nem tudo gira em torno de dinheiro, entende?
- Eu sei...
- Bem, já que você autorizou a usar seu nome, preciso que me mande isso por escrito, assinado.
- Falarei com meu advogado e mandarei por email, gatinha, sem problemas.
- Vou aguardar.
- Boa sorte, gatinha. E outra coisa... Vai usar o nome de Nicolas?
- Não sei... Mas vou ter pedir autorização para ele também, caso decida fazer isso.
- E... De Simon?
Senti meu coração bater mais forte. E fiquei em silêncio.
- Já pensou que isso pode lhe trazer problemas, não é mesmo?
- Já estou envolvida nos maiores problemas possíveis com ele, Tom.
- E aposto que não contou para Nicolas.
- Não... Não posso.
- Cuide, Juliet. Não faça nada sem pensar muito bem.
- Pode deixar. Obrigada, Tom.
- Obrigado por me ligar... E querer saber sobre como estou.
Eu começava a clarear um pouco a minha mente e a ver uma luz no fim do túnel para sair da chantagem de Simon. Era arriscado, mas eu acho que estava disposta a pagar o preço.
Voltei para casa com Felipe. Ele contou que Lorraine estava trabalhando em home Office porque continuava sentindo dores nas pernas.
- Será que vou sentir isso? – perguntei.
- Eu não sei... Ela não sentiu na gravidez de Vi.
- Acho que não é igual, não é mesmo?
- Você tem tido menos enjoos?
- Sim... Mas estou ansiosa por ver minha barriga crescer. Só engordei... E nada da barriga.
Ele riu:
- Isso demora um pouco. Mas eu já acho que sua barriga está um pouco crescida.
Logo chegamos em casa. Ele me deixou e foi para casa com Lorraine e a filha. Minha prima estava trabalhando para o Paradise na parte de Recursos Humanos, mas em casa. Felipe havia assumido toda a parte de segurança, mas tinha que estar disponível para me levar a qualquer lugar, assim como Nicolas também. Nick confiava muito nele e em suas habilidades enquanto policial.
Quando entrei em casa, Otto estava deitado no sofá, lendo um livro.
- Você lendo? – perguntei impressionada.
- Eu leio de vez em quando. – ele brincou.
- Isso me deixou muito surpresa, confesso.
- Estou cansado. Passei o dia jogando golfe, tomando água de coco e nadando no mar. Leitura me acalma.
Eu ri:
- Que vida cansativa, pai!
- Nem me fale... Amanhã tenho que fazer tudo de novo. Nem nos meus melhores sonhos eu imaginei viver num resort de luxo... Mas confesso que trabalhei muito para poder passar o dia me divertindo, mesmo na velhice. E ainda temos um bom dinheiro guardado. A intenção era comprar parte do resort para você, mas Tom acabou lhe dando bem mais do que eu pretendia. Então resolvi deixar minhas economias descansando um pouco. Talvez para o nosso bebê, se é que ele vai precisar, sendo praticamente o dono disto tudo.
- Deixe-as lá, pai. Não precisamos por enquanto. E eu tenho uma coisa para lhe contar.
- Estou curioso. – ele sentou no sofá.
Falei sobre a história que eu estava escrevendo e a ligação que havia recebido, bem como a autorização de Tom. Otto ficou feliz e me aconselhou a seguir em frente:
- Você sempre disse que queria fazer algo por você... Que gostasse.
- Sim. E acho que por isso eu fiquei tão empolgada. É mérito só meu, entende? Não tive ajuda de ninguém... A não se de Lorraine, que me deu o caderno e a caneta. – sorri.
- Claro que entendo. Siga seu coração, filha.
- Lorraine me mandou queimar... Mal sabia ela que aquelas páginas poderiam ir tão longe.
- Estou feliz por você.
- Bem, vou subir, tomar um banho, escrever mais um pouco, já que sou quase famosa... E depois vou ver Nick.
- E jantar antes, não é mesmo?
- Claro. Eu jamais recusaria o jantar. – eu ri e subi.
Tomei um banho e depois pedi para Lu me trazer comida no quarto. Enquanto comida, escrevia no caderno com a caneta perfeita que Lorraine havia me dado junto do caderno. Talvez fosse um tipo de transtorno obsessivo compulsivo, mas eu só conseguia escrever com caneta de ponta fina. Tinha verdadeira aversão à ponta grossa. Depois da escrita manual, passaria para o computador, postando novamente online. Eu ainda não havia mencionado o nome de Simon Dawson em nenhuma linha. Somente como o homem que abandonou minha mãe com um bebê nos braços. Será que eu conseguiria chegar na parte que fui chantageada e ameaçada por meu próprio pai?
Meu telefone tocou. Era Nick.
- Ju... Você vem... Na minha casa?
- Eu já estou indo.
- Vem logo, linda...
- Nick... Está tudo bem?
- Claro, Ju...
Desliguei e olhei no visor para ter certeza de que era ele. A voz era de Nick... Mas estava lenta e arrastada. E ele nunca me chamou de Ju, muito menos de linda... Era bem estranha a atitude dele.
Desci rapidamente as escadas e fui até a casa dele. A maior parte das luzes estavam apagadas e só a luz do teto, fraca, iluminava o ambiente.
Subi até o quarto dele e ouvi vozes. Senti meu coração bater mais forte. Parecia voz de mulher... Mas Nick não me ligaria chamando para ir até a casa dele se estivesse acompanhado por alguém. Quem ligaria para a namorada enquanto a estivesse traindo?
Abri a porta e o vi sentado na poltrona, com Joana sobre ele, o beijando, somente de sutiã. Nicolas estava sem camisa, mas suas mãos descansavam sobre o traseiro dela.
Fiquei parada na porta e Nicolas me encarou, com os olhos parados e confusos enquanto ela sorriu satisfeita. Se doeu em mim a cena? Porra, doeu mais que eu imaginava. Se eu ia chorar? Claro que não.