Capítulo 123
1874palavras
2022-07-25 06:19
Naquela manhã, quando cheguei à empresa, Joana me esperava na porta da minha sala. Novamente usava vermelho, que na opinião dela, devia achar que lhe caía bem. Passei pela porta, tentando não dar importância para a presença dela, que logo estava dentro da sala comigo:
- Acho que vamos trabalhar juntas por um longo tempo. – ela disse.
- Veio até aqui para me dizer isso? – olhei nos olhos dela ironicamente.
- Estou cuidando de tudo para Tom...
- Deveria estar triste, afinal, perdeu o namorado. – observei enquanto abria minha agenda.
- Mas ganhei ações na Paradise Resort... Então acho que saí ganhando.
- Acho que agora seu pai vai parar de me perturbar, já que você conseguiu o que ele queria.
- Estamos organizando uma pequena comemoração na nossa casa quando eu receber oficialmente os documentos no meu nome.
- Veio me convidar? – levantei os olhos para ela.
- Claro que você é minha convidada, maninha.
- Era isso que você queria comigo?
Ela me olhou confusa:
- Sim...
- Então, por favor, fora da minha sala.
Nossos olhos se confrontaram e ela saiu, furiosa.
A gravidez me tirou um pouco da paciência, que eu já não tinha. Então estava quase nível zero. Também não tenho certeza de quanto tempo eu ficaria naquele escritório, só olhando para o mar ao longe. Minha presença ali era completamente dispensável. E agora que eu estava grávida, Nicolas me daria menos trabalho ainda.
Eu me sentia bem comigo mesma... Depois de tantos anos de lamentações e culpa. Retirei da bolsa o caderno que Lorraine havia me dado, que estava com a caneta junto, ainda sem mexer. Deslizei com as rodinhas da minha cadeira até o vidro, sem levantar, e olhei para a paisagem perfeita que me era proporcionada. Acho que estava na hora de escrever... E depois queimar... Ou não. Ela havia dito para eu coloca ali minhas angústias e minhas culpas. Toquei minha barriga, sabendo que ali tinha um serzinho fruto do meu amor com Nicolas. Então pensei em escrever sobre a minha vida... E isso também envolvia as cartas de amor que Nicolas havia mencionado. E não, eu realmente nunca escrevi uma carta de amor para ele, sendo que Nicolas foi o único homem que eu realmente amei de verdade. Então aquela seria minha carta de amor... Junto com a história da minha vida. E a minha vida não existia sem Nicolas. Então eu partiria exatamente do momento em que eu comecei a viver de verdade:
“Eu o vi pela primeira vez numa noite como outra qualquer no Manhattan Bar. A banda tocava um pop rock enquanto eu dançava ao som contagiante da música, deixando que o efeito da bebida me deixasse mais zen. A cada gole, eu me animava mais e fechava meus olhos, deixando o ritmo entrar na minha mente e alma. Como eu gostava daquele lugar...
Quando abri os olhos novamente, ele estava no mesmo lugar, conversando com alguém, sem desviar o olhar. Embora estivesse escuro e somente os flashes de luz nos iluminassem, era impossível não mergulhar naqueles olhos azuis claros estonteantes.
Eu estava na parte da pista de dança, que descia um degrau. E ele acima, próximo do bar. Ele era alto... Muito alto. Vale ressaltar que eu sou baixa... Muito baixa.”
Comecei a rir enquanto lembrava exatamente como tudo havia acontecido. Eu não esqueci nenhum detalhe, por menor que fosse.
Alguém bateu na porta e eu fechei rapidamente o caderno, assustada. Não queria que ninguém lesse aquilo.
- Juliet, tem um advogado querendo falar com você. – disse Eliete.
- Comigo? – senti um frio na barriga. Simon havia armado algo para mim, com certeza.
- Poderia chamar Nick, por favor? Não quero atendê-lo sozinha. – expliquei.
- Claro, vou avisá-lo.
Eliete saiu e logo entrou o homem vestido socialmente.
- Sente-se, por favor. – ofereci a poltrona à frente da minha mesa, que nunca recebia ninguém.
Sentei novamente, analisando-o:
- Eu acho que conheço você... – lembrei. – Advogado de Tom.
- Sim. – ele sorriu.
Nicolas entrou na minha sala e fechou a porta:
- Tudo bem, meu amor?
- Eu não sei... – olhei para o advogado. – Vamos ver agora, Nick.
Nicolas se apresentou como meu marido e apertou a mão do homem. Claro que eu estava bem nervosa, mas ouvir Nick dizer: “sou o marido dela” me deixou completamente sem palavras... E apaixonada por aquela frase.
- Gostaria de saber o que o traz até minha esposa. – Nick continuou.
- Bem, venho em nome do Tomas Panetiere.
- O que Tom aprontou desta vez? – perguntei preocupada.
- Bem, Juliet... Franco, estou certo?
- Sim. – confirmei.
- Tomas Panetiere deixou todas as suas ações do Paradise para você.
- Para mim? – perguntei pasma.
- Exatamente. – ele me entregou uma pasta.
Peguei e senti minhas mãos trêmulas.
- Por que para mim? – perguntei, não conseguindo achar explicações.
- Isso eu não sei lhe responder. Dentro de alguns dias estará tudo legalmente pronto. E terá poder para fazer o que bem entender com a sua parte.
- Eu... – não encontrei palavras para falar naquele momento.
Meu telefone vibrou e vi que era mensagem de Tom. Abri imediatamente:
“Achou mesmo que eu deixaria você sair deste relacionamento sem nada, gatinha?
Faça o que achar melhor com isso, inclusive devolver para Welling se assim preferir. Mas é tudo seu. Menos do que você merece, mas o que eu posso lhe oferecer por hora.
E antes que me encha de perguntas: não quero nada em troca. Tom.”
Meu coração batia descompassadamente. Era verdade... Tom deixou tudo para mim.
O advogado levantou e apertou a minha mão:
- Meu cartão está com meu telefone junto dos documentos. Se tiver alguma dúvida, é só me ligar. Boa sorte com suas ações.
- Obrigada.
Nicolas abriu a porta e ele saiu.
- Estou impressionado. – disse Nicolas.
- E eu... Não sei o que dizer. Mas sei o que fazer. – me levantei.
- Ei... Aonde você vai?
Fui até a sala que Joana estava ocupando, que era de Tom há dias atrás. Entrei sem bater enquanto ela estava ao telefone.
- É só a minha irmãzinha. – ela sorriu sarcasticamente. – Papai no telefone, querida.
- Poderia desligar, por favor? – pedi, já sentindo o cheiro de Nicolas atrás de mim.
- Porra, já não disse que este perfume me enjoa? – olhei para ele.
- Disse? – ele começou a rir. – Eu não lembro disto. E se começar a enjoar de mim, o que eu faço?
- Ah, eu nunca vou enjoar de você, senhor perfeito... – passei meus braços no pescoço dele e fiquei na ponta dos pés, prestes a lhe dar um beijo, sem me flagrar de onde eu estava e o que estava indo fazer.
- Me mandou desligar o telefone para ver o “agarramento” de vocês dois? – ela perguntou. – Saiam da minha sala. – ela quase gritou.
Larguei Nicolas e disse:
- Era bem isso que eu ia lhe dizer: “saia da minha sala agora, Joana”.
Ela me olhou e começou a rir:
- Você é engraçada, Juliet.
- Jura?
- Vamos, fora da minha sala... Os dois.
Nicolas se escorou na porta e cruzou os braços:
- Teoricamente, estou na minha parte. A que lhe pertence deve ser exatamente do tamanho da sua sala.
- Nick, não pertence a ela.
Ela riu:
- Sim, pertence a mim. E por menor que seja, Nicolas, eu não me importo. É o suficiente para acabar com você... Pouco a pouco.
- Não mais, irmãzinha. Fora da minha sala. Acabei de receber a visita do advogado de Tom e oficialmente a parte dele é minha.
Ela ficou me olhando atônita.
- Não sei se prefere ler os papéis agora ou mandar um advogado de sua confiança verificar a veracidade dos documentos. Aliás, onde está o documento assinado por Tom que lhe dava o direito de ficar na sala dele? Porque empregada do Paradise Resort você não é... E muito menos da parte de Panetiere, que agora oficialmente pertence a mim. E adivinha qual minha primeira providência ao assumir tudo? Você está demitida, irmã. Ou seria meia irmã? Ou seria sem vínculo algum? – coloquei meu dedo indicador na boca, fingindo dúvida.
- Tom não faria isso...
- Quer ler a mensagem que ele me mandou? Ele fez questão de dizer: “é muito menos do que você merece, gatinha”. Acha mesmo que Tom lhe daria um valor absurdo em ações sem sequer conhecê-la? Meu ex pode ser muitas coisas, mas burro ele nunca foi. Não é a toa que é dono de um império.
Joana sentou na cadeira, completamente confusa com tudo.
- Não lhe dei tempo... Fora. – eu disse novamente, apontando para a porta da sala.
Ela pegou a bolsa e saiu rapidamente. Deu alguns passos e virou, me ameaçando:
- Você sabe que isso vai ter volta, não é mesmo?
- Eu não tenho medo de você, Joana. – afirmei.
Nicolas me olhou seriamente:
- Ele chamou mesmo você de “gatinha” ainda?
Comecei a rir:
- Você está com ciúme, Nick?
- Um pouco. – ele confessou.
O abracei, puxando-o para dentro da sala e fechando a porta.
- Todos vão achar que vamos transar na sala de Tom.
- E você quer transar na sala de Tom, Nick?
Ele me olhou estranhamente.
- Estou brincando, Nick. – dei um beijo no rosto dele.
- Juliet, eu quero que você tome cuidado. Evite sair do resort, por favor. Aqui você está segura... Fora eu não tenho como garantir.
- Se refere a Simon e Joana?
- Sim.
- Sinceramente, não tenho medo por mim, Nick. Mas pelo que ele pode fazer com as pessoas que amo. Ele sabe que isso sim me feriria mais do que qualquer coisa.
- E eu me preocupo não só com você, entende? Agora tem nosso bebê.
- Amanhã eu vou na cidade vizinha... Conhecer uma organizadora de casamentos.
- Jura?
- Hum, seus olhos brilharam. – eu observei sorrindo.
- Vou mandar Felipe ir com você.
- Felipe?
- Eu só confio nele para sua segurança. Confesso que gostava também de Eduardo, mas ele se foi.
- Felipe é um policial. Ninguém mais competente que ele. – lembrei.
- Exatamente. E não quero impedi-la de ir ao encontro desta mulher... Pelo contrário, queria que fosse hoje. Aliás, quer que eu vá junto?
- Sinceramente, não precisa, Nick. Gostei de conversar com a mulher no telefone e ela achou melhor acertarmos os detalhes pessoalmente. Ela tem ideias maravilhosas e quero ver com meus próprios olhos o que ela tem para me oferecer. Ela faz desde os convites até a lua de mel, acredita?
- Se vamos sair em lua de mel é preciso que seja bem antes de sua barriga crescer.
- Ou depois de o bebê nascer.
- Está tentando atrasar o casamento, Juliet?
Eu comecei a rir:
- E você está querendo adiantar?
- Estou pensando no bebê...
- Eu também. Eu não sairia sem ele depois de nascer... – falei seriamente. – Então acho que realmente vamos ter que fazer em alguns meses.
Ele suspirou:
- Enfim...