Capítulo 121
2720palavras
2022-07-25 06:18
Olhei para Nicolas completamente desarrumado e com os braços avermelhados. Pela porta eu conseguia ver todos de pé, assistindo à cena lamentável. Hora de partir. Não seria eu que ficaria no meio daquela possível família. Eu já havia sido rejeitada por meu pai e não deixaria Nicolas fazer o mesmo. Meu coração batia tão forte que eu o sentia no mesmo ritmo da minha perna trêmula.
- Deve haver um engano. – disse Nicolas gesticulando nervosamente com as mãos, enquanto andava para trás, confuso. – Eu... Não posso ter um filho. Eu nem conheço você. – ele olhou para a mulher.
- Me desculpe. – ela disse, retirando os óculos e descansando-o na cabeça. – Não é você que eu procuro.
- Você falou “o dono do resort”. – falei atônita.
- Se não há outro dono do Paradise Resort... Eu fui enganada. – ela disse.
Olhei para Nicolas e senti tudo ficar escuro e não suportei o peso do meu próprio corpo.
Despertei sentada em uma cadeira, com a cabeça para trás. Vi Eliete e Nicolas sobre mim, preocupados.
- Afinal, o filho é seu ou não? – perguntei preocupada e sentindo meu coração voltando a disparar.
- Não é meu... – ele se defendeu. – Não tem como ser, porra! Eu não teria dormido com uma mulher desconhecida sem usar camisinha.
- Ei, não é hora de discutirem isso... Você desmaiou, Juliet.
- Eu não me importo...
- Acalme-se... – Nicolas pediu.
Levantei e senti tudo girar e me sentei novamente.
- Tudo bem? – perguntou Nicolas se abaixando ao meu lado.
- Não me sinto bem...
Ele pegou meu rosto entre suas mãos e me fitou com aquele olhar azul que me tirava completamente a sanidade:
- Eu amo você, rainha do drama... O menino é lindo como eu, mas juro que não é meu filho. – ele garantiu sarcasticamente.
Ele me deu um beijo, fazendo-me esquecer por um momento tudo que havia acontecido.
- Preciso ir ao banheiro. – falei com a boca dele ainda na minha.
Ele se afastou:
- Chamei um médico.
- Não... Não precisa.
- Foi pra mim. – ele sentou na minha cadeira quando levantei. – Acho que você pode ter quebrado algum osso do meu corpo.
- As bolsadas foram agressivas e cruéis. – Eliete começou a rir.
- Eu... Preciso da minha bolsa. – falei, percebendo que não estava ali.
- Vou buscar. – disse Eliete saindo.
- O que houve com a mulher e o menino?
- Encontraram o pai. – ele disse.
- Finalmente. – respirei aliviada. – Quanto mal entendido.
- Não quer saber quem é o pai de Ivan? Só se importou em me bater? – ele olhou para os braços marcados.
- Quem é? – perguntei pouco me importando.
- Espie ali fora.
Fui até a porta e vi Tom, a mulher e o pequeno Ivan sentados conversando numa sala.
- O que... Tom está fazendo aqui?
- Incrivelmente ele veio ver você... – Nicolas girou na cadeira. – E adivinha? Encontrou um filho.
Estreitei meus olhos, confusa... Tentando entender.
- Como assim?
- Fico feliz que não vai dar bolsadas nele. Isso significa que não se importa se o filho é dele.
Eliete me trouxe a bolsa, que peguei enquanto olhava a cena. Tom me olhou e imediatamente abaixou o rosto, envergonhado.
- Ele está bem... – observei.
- O dono do resort. – disse Eliete.
- Mas... Pela idade do menino, ele ainda não sabia que teria parte disso. – falei.
- Ou seja, não foi coisa de uma noite. – disse Nicolas.
- Você parece estar se divertindo com isso. – observei.
- Estou feliz por ele. Cara, ele tem um filho lindo... Talvez isso o faça refletir sobre o que quer da vida, não é mesmo?
- Canalha... Traiu-me. – olhei para ele novamente. – Quantas mil vezes isso deve ter acontecido?
- A sorte é que você não abriu mão do preservativo, Juliet... Porque ele não se preocupou com isso pelo visto.
- Eu... Vou terminar minhas tarefas. – disse Eliete saindo.
Fiquei escorada na porta, ainda atônita com tudo.
- Eu faço você desmaiar por mim, rainha do drama... – Nicolas me puxou, fechando a porta. – Você não precisa mais se preocupar com ele...
- Me desculpe, Nick... – olhei para as marcas nos braços dele. – Não sabia que bolsa machucava tanto...
- Talvez se não botar toda a sua força enquanto bate não machuque...
- Eu... Fiquei cega de ódio.
- Por quê? O menino era tão fofo... Você me deixaria se fosse meu?
Passei meus braços em volta do pescoço dele:
- Acho que não... Por isso bati em você. Nada mais me faria ficar longe de você, Nicolas.
- Quando eu comecei a chamar você de rainha do drama era porque realmente achava você dramática. Mas jamais pensei que você poderia ser tão perfeita para o nome.
- Não foi um drama, Nick... Isso foi sério.
Ele me deu um beijo, empurrando meu corpo contra a porta.
- Me perdoa? – pedi novamente.
- Sim... Perdoo. Mas eu que vou comprar suas bolsas a partir de agora. E estou falando sério. Esta dói pra caralho.
- Você que é dramático, Nick... – peguei minha bolsa. – Eu vou ao banheiro.
- Em breve um médico estará aqui.
- Por quê?
- Chamei-o para ver você.
- Não precisa... Foi só um desmaio.
- Acompanhado de tontura. – ele me olhou seriamente.
- Não é o que você está pensando. – falei.
- Sei que sua menstruação continua normal... Mas... São sintomas de gravidez, não?
- São, mas não é. Eu estou menstruando... E tomando anticoncepcionais.
Ele sentou novamente na minha cadeira, girando feito criança:
- Eu ia querer um menino como aquele. – o sorriso dele iluminou seu rosto, com as pequenas rugas que sua boca fazia nos cantos, que eu achava extremamente sexy e que eram meu ponto fraco.
- Eu vou lhe dar um menino, Nick. – sorri saindo, incapaz de olhar nos olhos dele depois de ter falado aquilo.
Quando cheguei ao banheiro, sentei-me no vaso sanitário e abri o teste de gravidez que ainda estava dentro da minha bolsa. Li rapidamente o rótulo e urinei sobre a parte metálica, conforme indicado. Aguardei três minutos e fiquei ansiosa esperando, sentindo meu coração querendo saltar pela boca. Até que uma listra vermelha apareceu e em seguida outra, um pouco mais fraca. Fiquei ali, olhando pra aquela coisa na minha mão sem conseguir me mexer. Levei a mão até minha barriga e fiquei em choque. Tinha um bebê dentro de mim... Um bebê meu e de Nicolas... Isso era muito, mas muito estranho. E ao mesmo tempo a coisa mais linda que já aconteceu na minha vida inteira.
Eu não sei exatamente quanto tempo eu fiquei ali, olhando para o teste, sem saber o que fazer. Coloquei de volta na bolsa e sai do banheiro, sem saber exatamente o que fazer.
Desci e fui até o carro, mas Edu não estava lá. Perguntei na recepção e me disseram que ele havia pedido demissão e não era mais meu motorista.
Peguei a chave do carro e dirigi até o estacionamento do resort. Depois andei até a praia, que estava praticamente vazia. A maior parte dos hóspedes estavam na piscina ou participando das atividades diárias. Tirei meu sapato de salto e o peguei na mão, sentindo a areia fina sob meus pés. Sentei de frente para o mar, olhando sua imensidão azul que se misturava ao céu... As pequenas ondas parecendo espumas na beira, alcançando meus pés... O som inebriante do vai e vem das águas, que me davam tanta tranquilidade que chegava a me deixar sonolenta.
- Mãe... Eu vou ter um bebê! – falei sentindo as lágrimas escorrerem. – E eu nem sei como eu vou fazer... Eu queria contar para você antes...
Fiquei ali, um tempo, sentindo meu coração finalmente em paz. Eu acho que Deus havia me perdoado e eu sentia que começava a fazer as pazes comigo mesma. E aquele bebê que eu carregava era a prova de que eu merecia ser feliz. Sabia que Nicolas ficaria completamente louco de felicidade quando eu lhe contasse. E eu nem sabia como lhe dar a notícia.
O menino Ivan havia aparecido no mesmo dia que eu descobri que um serzinho igual ele se formava dentro de mim. Se fechasse meus olhos ainda conseguia lembrar dos olhos do filho de Tom. Eu sorri sozinha, alisando meu ventre. Eu tinha certeza de que Tom não me decepcionaria e criaria o seu filho. Aquele menino merecia um pai que lhe desse todo o amor do mundo. E Tom era capaz de fazer isso.
Dirigi devagar até a minha casa na Villa. Quando abri a porta, Otto estava sentado com Tom, na sala de estar. Fechei a porta e disse:
- Você veio rápido.
Ele levantou, preocupado:
- Eu preciso lhe explicar, Juliet... Sobre o que aconteceu.
- Você bateu em Nicolas com a sua bolsa? – Otto me perguntou incrédulo.
- Posso ter batido algumas vezes... – falei envergonhada.
- Quem lhe ensinou isso? Lorraine?
- Na verdade, eu achei que ele era o pai do menino. – expliquei.
- Você não tem jeito, Juliet...
- Pai... Eu...
Ele levantou o braço:
- Ok, não preciso de mais explicações. Se Nicolas não se preocupou com isso, quem sou eu para criticar, não é mesmo?
- Otto, poderia nos deixar a sós um minuto? – pediu Tom.
Otto olhou para Tom:
- Devo confiar em você depois de ter falado mal de minha filha para todo mundo? Ou por ter se juntado a Simon e Joana para fazê-la sofrer mais do que ela já sofreu a vida inteira? Será que devo me preocupar se você vai oferecer cocaína para ela? Ou talvez tente agredi-la, como já pensou em fazer e só não o fez porque Nicolas impediu?
- Me desculpe, Otto... Eu estava sob efeito de drogas. Eu jamais faria nada que pudesse ferir Juliet, física ou psicologicamente.
- Deveria ter pensado nisso antes. E depois de tudo que houve, ela ficou ao seu lado, vários dias, quando nem sua própria família se preocupou com você. Bela pessoa você é, Tom. – ele falou sarcasticamente.
- Pai... Tudo bem. – olhei no relógio. – Eu tenho cinco minutos, Tom. – falei quando meu pai me fez relembrar as coisas ruins que ele havia feito comigo.
Otto estava saindo quando eu pedi:
- Pai... Peça para Lu preparar algo especial para o jantar.
- Temos alguma comemoração? – ele perguntou curioso.
- Mais ou menos... Na verdade, um pedido de desculpas oficial a Nick... E... Eu queria todos juntos. Isso inclui Maria Emília.
- Maria Emília? – ele me encarou.
- Sim. E você pode convidar, por favor?
- Quer que eu convide a bruxa velha? Só pode estar brincando.
- Peça para Nick avisá-la. – sugeri ao perceber a resistência dele.
- Ok.
- Lorraine e Felipe também.
- Eu não pensei em deixá-los de fora. – ele sorriu. – Estou curioso.
Otto saiu e Tom me encarou:
- Eu soube que você bateu em Nicolas...
- Achei que ele era o pai do menino. Cometi um grave engano.
- Eu cometi um grave erro... Eu traí você.
Eu sentei, retirando meus sapatos e arrumando-os ao lado do sofá, sentindo o tapete peludo acolhendo meus pés.
- Acho que eu sempre soube, Tom. Mas fingia que não via o que estava debaixo do meu nariz.
- Perdão...
- Está tudo bem. Você ficava com outras mulheres... E eu nunca deixei de pensar em Nicolas. Eu não o traí da forma como você me traiu, Tom... Mas em pensamento eu o traí todos os dias em que estivemos juntos, por seis anos. Então eu acho que também não fui de um todo fiel.
- Isso doeu... – ele confessou.
- O que você vai fazer? O menino é lindo...
- Sim... – ele sorriu. – Eu vou assumir a paternidade... Depois de um exame de DNA, claro. Mas acredito que seja meu.
- Vai casar com ela?
- Creio que não.
- Ela nunca lhe falou sobre a gravidez?
- Não... Depois que nos envolvemos ela começou a ligar com frequência... Então eu bloqueei o número dela.
- Como ela soube do Resort?
- Deve ter visto na mídia... Ela é do nosso país, mas reside na Itália.
- Ah, as viagens à Itália e meus lindos presentes... Presenteava-me por culpa, Tom?
- Não... Por amor.
Eu gargalhei:
- Como você consegue ser tão hipócrita?
- Sempre foi amor... Por mais que eu tenha errado com você, por mais canalha que eu tenha sido... Sempre foi amor.
- Tom, isto tudo acabou. E não é de agora. Sinceramente, eu não quero mais falar de amor com você. A não ser amor paterno... Ou materno.
- Materno? – ele me olhou.
- Esquece... Você tem um filho agora. E do fundo do meu coração, eu gostaria que você lembrasse tudo que eu sofri por um pai ausente e drogado... Que abandonou a mim e minha mãe logo que eu nasci. Sinceramente, eu não acredito que você faria isso. Porque eu vejo uma pessoa boa aí dentro, Tom... Você é esta pessoa quando não usa nada, entende?
- Eu tenho um motivo para seguir minha vida agora, Juliet. – ele olhou nos meus olhos. – Não tenho mais você... Mas tenho um filho.
- E eu estou feliz por você, Tom. Ivan é lindo!
- Não vai me bater com sua bolsa? – ele perguntou preocupado.
- Não... – eu ri.
- Eu vou embora de Paraíso.
- Eu... Fico feliz que esteja tentando reorganizar a sua vida.
- Vou ficar com Gabriela e Ivan... Na “nossa casa”. Tudo bem para você?
- Na “sua” casa, Tom.
- Vou mandar deixar seus pertences todos na casa de Otto.
- Sem problemas. Ainda não sei quanto tempo vou ficar por aqui e nem o que vai acontecer agora.
- Agora?
- Eu... Vou casar com Nicolas.
Ele balançou a cabeça:
- Confesso que é difícil aceitar que eu trouxe você para ele...
- Sim, assim como é difícil acreditar que você tem um filho de dois anos, quando estávamos no auge do nosso relacionamento. – coloquei o dedo indicador no minha boca, ironicamente. – Acho que neste tempo até nos dávamos bem, não é mesmo? Então você teria... Zero motivos para me trair.
- Aposto que se me batesse com a bolsa doeria menos.
- Você não merece a minha bolsa na sua cara, Tom. – eu levantei. – Enfim, estou feliz por você e sua nova família. O garoto é um encanto. E espero que você o faça feliz... E lhe dê a família que você não teve. Tente ver como seu pai foi e fazer tudo exatamente ao contrário. É assim que tento ver o meu futuro... Aprendendo com os erros do passado e com as pessoas que pisaram na bola comigo.
- Obrigada por ter estado ao meu lado quando ninguém mais esteve.
- Obrigado por ter estado ao meu lado quando minha mãe morreu... E por ter me mostrado uma vida a qual jamais pensei existir. Obrigada pelas pinas coladas... – eu sorri. – E pela atenção que me deu há oito anos atrás... E depois por ter me tirado da vida horrível que eu estava vivendo quando me convidou para morar com você.
- Se refere às bebidas e homens?
- Também. Mas muito mais às minhas culpas.
- Não vou esquecer de você, Juliet.
Eu o abracei:
- Fique bem, Tom. E tente não infartar novamente. – brinquei.
- E você cuide-se com Simon e Joana.
- Pode deixar... Cuidarei.
Ele me deu um beijo no rosto. Antes que ele dissesse qualquer outra coisa, abri a porta, para que ele se fosse de uma vez. E assim ele o fez. Eu o perdoava, mas também não queria ser amiga dele e ouvir suas lamentações. Só queria que ele ficasse em paz, como eu estava naquele momento. No entanto não queria vê-lo novamente.
“Seja feliz, Tom... Assim com eu serei”.
Subi e tomei um banho, certa de que Otto havia avisado todos do jantar.