Capítulo 119
2160palavras
2022-07-25 06:17
- Não.
- Tem certeza?
- Absoluta. – confirmei.
Ele saiu finalmente.
- O que deu nele? – perguntei.
- Também pensei na hipótese de um bebê. – Otto falou.
- Não... Não é. Só estou engordando muito. Então decidi que vou parar de comer coisas engordantes e abolir o refrigerante.
- E por que está engordando?
- Acho que estou comendo muito.
- Eu pensei em lhe dar tantos presentes... Mas achei, sinceramente, que este era o melhor que eu poderia lhe dar.
Otto me entregou a pequena caixa aveludada. Abri e me deparei com um chaveiro em prata, com a foto dele e de minha mãe, juntos. Atrás, tinha escrito: “Temos orgulho de você”. Senti as lágrimas invadirem meus olhos rapidamente.
- Pai... Eu... Amei.
- Não quero que chore. – ele limpou as lágrimas. – Quero que fique feliz. E que lembre que você sempre foi nosso orgulho. Em seu discurso, aposto que ela lembraria todos da sua colocação no vestibular bem como da menção honrosa na formatura. Mas eu sou um pouco mais reservado.
- Vai ficar comigo para sempre. E quando me sentir diminuída, por qualquer motivo, saberei que vocês sempre estarão comigo...
- E orgulhosos da mulher que você se transformou.
Lorraine chegou com Vitória no colo e Felipe. Otto pegou Vitória do colo dela e saiu com a garota. Minha prima me entregou uma embalagem em sacola plástica.
- Preservativos? – perguntei ironicamente.
- Antes fosse, linda. – disse Felipe sarcástico.
Abri a sacola e dentro tinha uma pequena caixa, estreita, escrito: teste de gravidez.
Olhei para os lados, para me certificar de que ninguém viu aquilo:
- Vou matar você, Lorraine.
- Não vai mesmo. Tive que pedir uma tele da farmácia quase de helicóptero.
- Faça xixi na porra do negócio e me diga o resultado. – ela ordenou.
Coloquei na bolsa:
- Eu não vou fazer isso aqui... Na minha festa.
- Quero saber.
- Eu não estou. – afirmei.
- Meu Deus, vocês duas são hilárias. – disse Felipe.
- Se você contar para Nicolas eu mato você. – ameacei ele.
- Cara, você tem que contar para ele.
- Felipe, isso é coisa da cabeça de Lorraine. Eu não estou grávida. Estou menstruando normalmente e tomando pílulas.
- Amor, você está fazendo isso com ela? – ele olhou para a esposa.
- Ela engordou quatro quilos. – Lorraine alegou.
- E você uns sete. – acusei rindo.
- Mas eu estou grávida. – ela se defendeu.
- E eu...
- Também? – perguntou Felipe.
- Não... Infelizmente estou ficando muito gorda, só isso.
- Faça a porra do teste antes de parar de comer.
- Ninguém fica grávida menstruando e tomando anticoncepcional. Só se eu estiver dentro dos 0,001 % da bula.
- Não duvido... Você não é normal, Juliet.
- Eu vou matar você, Lorraine.
Ela saiu correndo e eu fui atrás dela. Um jovem me parou, com uma linda caixa branca fechada com um laço vermelho.
- Para a senhora.
Olhei, incerta se ele havia sido convidado. Eu não o conhecia.
- Obrigada. – falei pegando a caixa.
- É presente do senhor Welling.
Procurei Nicolas e nossos olhos se cruzaram. Ele me deu um lindo sorriso, que eu retribui. Peguei a caixa curiosa e o rapaz simplesmente desapareceu. Percebi alguns olhares curiosos sobre mim. Havia um pequeno papel enrolado junto do laço. Abri, identificando a caligrafia de Nicolas:
“Encontrarei você à meia-noite nesta esquina (havia um endereço). Você deverá vestir o que está dentro da caixa. Seu motorista a levará até o local, mas não ficará lá.
Com todo meu amor...”
Edward.
Procurei por Nicolas, mas não encontrei-o em lugar algum. Eduardo e Eliete vieram até mim, enquanto eu ainda segurava a enorme caixa.
- Só abra antes de irmos. – ela avisou. – Vou ajudá-la a vestir.
- Ok. – assenti. – Onde está Nick?
- Preparando a segunda parte da surpresa. – avisou Eduardo.
Eliete pegou a caixa e disse:
- Guardarei isso para você. Às onde horas deixaremos a festa para que você possa se preparar.
Olhei-a confusa e curiosa:
- É o que estou imaginando?
- Juliet, acho que você tem uma boa imaginação, então prefiro não comentar. Teoricamente não sei de nada... Só imagino mesmo. – ela e Eduardo começaram a rir.
Virei-me para cumprimentar alguns colegas de trabalho e tive uma leve tontura. Respirei fundo. Acho que eu estava cansada e ansiosa. Conversei um pouco com cada um, percebi Otto com Vitória na praia, deixando a garota molhar os pés enquanto Lorraine e Felipe estavam num dos pergolados: ele sentado e ela deitada com os pés sobre ele comendo uvas. Juro que parecia uma cena de Cleópatra... E porra, eles eram perfeitos juntos.
Coloquei a mão na bolsa e fiquei tentada a fazer o tal teste de gravidez.
- Onze horas. – disse Juliet me pegando pela mão.
- Já? Eu nem comi...
- Nem vai.
- Eu posso morrer de fome... E você será a culpada. Nicolas ficará furioso e...
- Ok. – ela parou. – Agora eu entendo porque ele chama você de rainha do drama. O que quer que eu pegue para você?
- Frutas.
- Hum, gostei de ver, garota. – ela sorriu, saindo.
Logo Eliete voltou com um prato com uma mão, uvas e uma fatia de melancia.
- Só isso? – perguntei. – Maçã não mata a fome, melancia vai me fazer ir ao banheiro várias vezes e uva nunca foi minha fruta preferida.
- Ah, rainha do drama, coma isso e pronto. – ela voltou a me puxar.
Fomos para dentro do prédio que abrigava os hóspedes enquanto eu comia a maçã como se fosse um sanduíche do Mac Donald’s.
Subimos uma escadaria e ela abriu uma porta, que fazia parte de um dos quartos do resort.
- Isso é legal. Eu teria gostado de ficar aqui... Mais do que na Villa. – observei.
Ela colocou a caixa sobre a cama e eu desatei o laço. Havia um vestido preto justo, tomara que caia, curto e com uma fenda gigantesca. Um conjunto de lingerie com espartilho perfeitos estava por baixo do vestido caríssimo. Embalado cuidadosamente, um sobretudo fino de grife.
- Porra... Isso é perfeito. – falei tirando minha roupa e indo para o banheiro.
- Vocês sempre fazem isso? – Eliete me gritou do lado de fora.
- Nem sempre... Mas Nick costuma levar a sérios minhas fantasias sexuais.
- Acho que você e o senhor Welling foram feitos um para o outro.
- Eu poderia apostar que sim. – assenti. – Nick é perfeito.
Desliguei o chuveiro e me sequei rapidamente. Ela me ajudou a vestir a roupa e teve um pouco de dificuldade para fechar o zíper.
- Não me diga que estou gorda. – falei antes que ela pensasse em mencionar qualquer coisa.
- Eu não faria isso, Juliet.
- E não, eu não estou grávida.
Ele riu:
- Eu não acho que esteja.
Assim que terminei de vestir-me, me analisei no espelho de corpo inteiro. Não tinha barriga nenhuma com aquele vestido. Sorri para mim mesma com meu batom vermelho vivo. Eliete colocou o sobretudo em cima de mim:
- Vamos evitar falatórios no resort.
- O senhor Welling vai casar com uma prostituta. – eu ri, já imaginando as fofocas.
- Você já está se acostumando com o Paradise, senhora Welling.
Descemos e Eduardo me esperava com o carro na saída da porta principal. Ele abriu a porta para mim:
- Bem-vinda, senhora Vivian.
Eu não aguentei e comecei a rir:
- Isso foi ordem de Nicolas.
- Foi... – ele disse sorrindo e fechando a porta.
- Boa sorte. – acenou Eliete.
- Obrigada, minha amiga.
Eu passei o bilhete com o endereço para ele.
- Não precisa. – ele disse. – Já sei onde é.
- Hum, estou curiosa.
- Espero que se saia bem, Vivian.
- Por quê?
- É um ponto de prostituição.
- Jura? – falei empolgada.
- Acho que o senhor Welling levou um pouco a sério a brincadeira.
- Ele me conhece. Sabe que vou amar.
- Não arrume confusão por lá.
- Eu? Imagina...
Andamos por uns quinze minutos até ele parar o carro numa rua movimentada. Olhei para os lados e vi o lado suburbano e obscuro da noite de Paraíso.
- Não sabia que tinha este lugar... – confessei.
- Todos sabem... Inclusive alguns canastrões do resort. As prostitutas levam uma vida boa por aqui.
- Que interessante.
- Não vou levá-la até lá porque elas acharão estranho você descer de um carro com um homem lindo como eu e depois ser pega pelo magrelo do senhor Welling.
- Edu, você não vale nada. E antes que me ofereça qualquer coisa, saiba que sou exclusiva de Edward. – brinquei.
- Posso apostar que sim, Vivian. Qualquer coisa, me ligue.
- Como assim?
- Caso ele se atrase um segundo.
- Quer me assustar, Edu?
- Não mesmo... Eu estou assustado da seriedade da brincadeira de vocês.
Eu ri:
- Tchau, Edu.
Peguei minha bolsa praiana que em nada combinava com a minha roupa, mas que tinha meu celular, alguns poucos documentos e a porra de um teste de gravidez. Fui andando pela calçada na beira mar, com o oceano na escuridão à minha direita e casas noturnas movimentadas com músicas que se misturavam à minha esquerda. Fechei meu sobretudo e andei em direção à esquina, onde havia um grupo de cinco moças.
Parei perto delas, que me observaram atentamente. Acenei e sorri timidamente. Mas a cara delas não era de amizade. Pelo contrário... Pareciam bem furiosas. Logo andaram até mim, em bando. Cercaram-me rapidamente. Eram altas, bonitas tanto de corpo quanto de rosto e se vestiam bem... Em nada se pareciam com a prostituta caricata que eu me transformei.
- Este ponto é nosso. – a loira me disse.
- Eu sei... – falei levantando meu rosto par encará-la. – Porra, você tem quantos metros?
- Tenho 1,78 sem salto, nanica. – ela puxou a etiqueta do meu sobretudo. – Original, garotas.
- De onde você é? – perguntou-me a morena.
- Sou de longe daqui... Muito longe.
- E o que a faz pensar que pode pegar nossos clientes. Temos nossos fixos neste ponto.
- Juro que o meu também é fixo.
Uma passou a mão no meu rosto:
- Você não tem cara de puta.
- Juro que eu sou... E quem não é na cama, não é mesmo? Meu sonho sempre foi ser uma puta.
- Então não é puta, porra? – questionou a outra.
- Quem é seu cliente fixo? De onde ele é?
- Ele é o dono do Paradise. – confessei.
- Nicolas Welling é seu cliente fixo? – uma delas gargalhou. – Você é muito petulante.
- Engraçada. – observou a primeira.
- Já mandamos meninas muito mais fortes que você para fora daqui a pedradas.
Olhei-as sentimento um pouco de medo:
- Eu não quero confusão... Mas se vocês me provocarem, eu sei brigar. – menti.
Uma abriu a minha bolsa e pegou meu celular, minha habilitação e o teste, mostrando para as demais:
- Que porra você faz com um teste de gravidez na bolsa, Juliet? – ela perguntou olhando para o aparelho na sua mão.
- Não se preocupe... Eu nem vou fazer isso. Minha prima quer que eu faça, mas eu estou menstruando normalmente e tomo minhas pílulas.
- Não usa preservativo?
- Com meu cliente fixo não. – confessei.
- Você é louca? Ficar grávida de um cliente é mancada.
- Não se for de Nicolas Welling. – observou a outra, pegando as coisas e colocando de volta na minha bolsa. – Daí ela e o bebê vão estar com a vida feita.
- Não percebe que ela é uma mentirosa? – observou a mais baixa delas, que ainda não tinha se manifestado.
- Sabe que eu engravidei tomando pílulas e menstruando os nove meses. O bebê nasceu e eu menstruei normalmente. – alertou uma delas.
- Mas... Não usou preservativo? – perguntei confusa.
- Foi do meu marido. Então eu não usava. – ela explicou.
- Mas... Isso não é possível. – falei confusa.
- Sim, entendo. Jordan é filho do impossível... Descobri quando eu já estava com quase quatro meses. Porque fui engordando pra cacete e enjoava até de olhar para cara do meu marido.
Elas começaram a rir e eu fiquei pensativa. Ouvi o som ensurdecedor da moto de Nicolas, que parou na esquina. Fiquei olhando para nossa moto amarela, quase sem fôlego. Ele abriu o visor do capacete e disse:
- Oi, Vivian.
Percebi o sorriso dele, mesmo não conseguindo vê-lo sob o capacete. Peguei o que ele me ofereceu e coloquei na cabeça.
- Até mais, meninas. Foi um prazer conhecê-las. – falei fechando o capacete.
- Espero que não volte aqui, ladra de ponto. – gritou uma delas.