Capítulo 117
1624palavras
2022-07-25 06:15
Demoramos mais do que eu previa no trajeto até o hospital.
- Não deveríamos já ter chegado? – perguntei nervosa para o enfermeiro.
- Estamos indo ao hospital de outra cidade. Tem mais recursos.
Então acho que era sério. Olhei para ele e senti meu coração em pedaços. Sim, não havia como simplesmente odiá-lo do dia para a noite. Ele havia vivido seis anos ao meu lado. E sem não fosse a cocaína e a bebida, poderíamos ter tido uma vida feliz. Eu não julgava Tom uma pessoa ruim.
Assim que chegamos ao hospital, outras pessoas vieram até a ambulância e Tom foi levado de perto de mim.
Senti os braços de Nicolas me envolvendo e virei para ele, abraçando-o com força. Não consegui conter as lágrimas.
- Ei, vai dar tudo certo. – ele disse me apertando contra ele.
- Nick... Eu aposto que ele usou mais do que conseguia.
- Isso faz parte, Juliet... Tom sempre soube o que estava fazendo.
- Eu... Devo avisar a família dele eu acho. – peguei meu telefone.
Liguei para a irmã dele e expliquei o que estava acontecendo. Ela pareceu preocupada, mas em momento algum disse que viria para Paraíso.
- Você não vem para cá? – perguntei, quase suplicando.
- Mas... Você está aí, Juliet.
- Eu e Tom não estamos mais juntos... Como eu lhe expliquei.
- Mas... Não estavam juntos quando ele passou mal?
- Coincidentemente sim.
- Eu não estou entendendo, Juliet. Por que você não pode ficar aí com ele até que tudo esteja bem?
- Laila, não é que eu não vá ficar com ele... Claro que estarei aqui... Mas... E se ele não ficar bem? Vocês são a família dele.
- Eu aposto que ele considera você mais família do que nós, Juliet.
Finalizei a ligação furiosa:
- Não consigo entender como Tom reclamava da minha família.
- Talvez ele nem saiba o que isso significa. – Nicolas falou.
Sentei no sofá da recepção e Nicolas sentou ao meu lado.
- Nick... Obrigada por estar comigo. Eu não teria coragem de deixar Tom sozinho.
- Eu sei.
- Por isso você é o senhor perfeito.
Aconcheguei-me nos braços dele e deitei minha cabeça em seu peito. O perfume dele me deu náusea e me afastei imediatamente.
- O que houve? – ele perguntou preocupado. – Você está pálida.
- Por que você colocou tanto perfume?
- Eu não coloquei muito perfume... – ele alegou, cheirando a camisa.
Sentei no outro lado do sofá, enquanto ele me fitava confuso:
- Vai ficar longe de mim por causa do meu perfume?
- Acho que vou. – garanti, sentindo embrulho no meu estômago. – Nick, acho que bebi demais.
- Vou buscar uma água pra você. – ele levantou.
Fui até a recepção e perguntei sobre Tom.
- Assim que os médicos puderem, lhe informarão sobre o estado de saúde dele, senhora.
- Obrigada. – falei andando de um lado para o outro, nervosa.
Logo Nicolas trouxe a água, que bebi toda de uma vez. Eu nem percebi que estava com tanta sede.
Sentei novamente no sofá enquanto Nicolas fez algumas ligações. Fomos ter notícias somente duas horas depois.
Assim que o médico chegou, levantei-me imediatamente.
- A senhora é a esposa de Tomas Panetiere? – ele perguntou.
- Ex. – corrigi. – Mas a única pessoa que ele tem.
- O senhor Panetiere teve um infarto. Provavelmente foi causado pelo uso de algum tipo de droga e bebida alcoólica concomitantemente.
- Ele é dependente químico. – expliquei.
- Ele procurou este hospital há dez dias atrás... Alegava dores no peito. Foram feitos exames e ele foi liberado, sendo solicitado mais exames e que ele retornasse. Mas ele não o fez.
Olhei para Nicolas, preocupada:
- Como ele está, doutor?
- Resistiu bem. Ficará na Unidade de Terapia Intensiva até ficar totalmente fora de risco. Ele inspira cuidados.
- Eu posso vê-lo?
- Posso autorizar que entre por cinco minutos... Porque ele pediu pela senhora. Depois é preciso que siga os horários indicados de visita. Uma pessoa por dia, no tempo máximo de quinze minutos. Pelo menos até ele sair da Terapia Intensiva.
- Juliet, você se sente bem para vê-lo? – Nick perguntou antes de eu acompanhar o médico.
- Sim... Tudo bem. – falei incerta, pois ainda sentia o estômago embrulhado.
Eu havia bebida umas cinco taças de espumante e comido pouco. Certamente era aquilo. Fazia tempo que eu não bebia daquela forma.
Acompanhei o doutor pelo corredor amplo e bem limpo, com paredes, teto e piso brancos. Ao final, dobramos à esquerda e chegamos a uma sala com metade em vidro, monitorada por vários enfermeiros e médicos, alguns sentados, outros entre os pacientes, que eram separados por espécies de cortinas pesadas.
Quando cheguei na cama onde Tom estava, o vi com tantos aparelhos monitorados ao peito que nem pensei que aquilo pudesse ser possível. Ele estava deitado e a respiração dele era ofegante e parecia difícil.
Coloquei a mão sobre a dele, que apertou-a. Ele abriu os olhos:
- Obrigado por estar aqui.
- Eu jamais o deixaria sozinho. – falei sorrindo, tentando não deixá-lo nervoso.
- Acho que eu quase morri.
- Você infartou. – expliquei. – Mas agora está tudo bem.
- Se eu morresse, você sentiria minha falta? – ele me olhou profundamente.
Senti as lágrimas rolando pela minha face, quentes e doloridas:
- Sim, eu sentiria. – confessei.
- Eu amo você, gatinha.
Eu ri, limpando as lágrimas:
- Eu sentiria até falta desta porra de gatinha, que eu odeio.
Ele alisou minha mão:
- Obrigado.
- Tom... Você precisa parar... Ou vai morrer.
- Eu sei.
- Me prometa, Tom... Por favor... Diga-me que vai parar.
- Eu vou...
Eu me abaixei e o abracei cuidadosamente:
- Você é importante para mim... Sempre vai ser. Quero que você fique bem, Tom.
- Eu vou ficar... Mesmo que você não esteja lá quando eu estiver limpo.
- Você vai encontrar alguém que sempre estará lá por você... Eu sei disto.
- Mas a minha gatinha sempre será você.
- Ah, eu não aceitaria outra gatinha na sua vida. – brinquei. – Mas sei que você vai arranjar um apelido carinhoso para sua futura mulher. Só espero que ela goste... Porque eu odeio o meu.
Ele riu, com um pouco de dificuldade:
- Só você para me fazer rir... Mesmo num momento horrível.
- Fico feliz em pode lhe fazer algum bem...
- Momento da visita encerrado, senhora Panetiere. – disse a enfermeira com um sorriso no rosto.
- Preciso ir... – olhei para ele.
- Você volta?
- Volto. – garanti.
Dei um beijo no rosto dele e voltei para a recepção. Nicolas estava sentado com a cabeça no encosto do sofá, com os olhos fechados.
Dei um beijo nos lábios dele, que despertou num susto. Eu ri:
- Sou só eu...
- Rainha do drama... Assim você me mata de susto.
- Podemos ir, senhor perfeito?
Ele levantou e olhou no relógio:
- Estou exausto.
O abracei e nos dirigimos para a porta de saída.
- Está se sentindo melhor? – ele perguntou.
- Sim. Acho que eu tinha bebido demais.
- Não devo mais usar este perfume? – ele perguntou se cheirando novamente.
Eu comecei a rir:
- Não invente de não usar mais seu perfume... Que é o meu preferido.
- Cara, acho que você está ficando louca.
- Louca de amor por você, meu senhor perfeito.
Ele me pegou no colo.
- Nick, me coloque no chão.
- Não... Estou com saudade. Porque eu estive com você a noite inteira, mas sequer a toquei.
Passei meus braços em torno do seu pescoço e o beijei.
- Nick, me desculpe por ter feito você vir até aqui por Tom.
- Eu não vim por Tom, Juliet. Eu vim por você.
Eu sorri, olhando seus olhos claros contrastando com a roupa escura e a noite sobre nós. Ele era simplesmente perfeito... Desde sempre. E não eu não me referia somente ao fato de ele ser lindo. Nicolas era a pessoa mais compreensiva e altruísta que já conheci.
- Nick, eu amo você.
- Então case comigo. – ele disse sem me soltar do seu colo.
Fiquei olhando-o confusa e sentindo meu coração bater intensamente.
- Não precisamos esperar quando tivermos 30 anos, entende? Eu quero que você seja minha esposa agora...
- Já estamos juntos, Nick... Por que casar?
- Por que não casar? – ele me encarou.
Respirei fundo e disse:
- Eu quero.
- Quer o quê? – ele riu.
- Ser a senhora Welling.
- Você já é a senhora Welling. Agora vai ser a minha esposa.
- Eu quero ser a sua esposa, senhor Perfeito.
Ele me largou no chão e foi andando até me escorar na porta do carro, colocando os braços sobre a lataria, me impedindo de mexer-me:
- Rainha do drama, meus braços dizem que você engordou.
Olhei para ele seriamente:
- E minha mente diz que acho que estou arrependida de dizer sim para você... Chamando sua futura esposa de gorda de forma sutil.
- Me perdoe... Escapou.
- Ok, posso ter comido além do que devia no resort. Para quem se alimentava de bolo e fast food, ter uma infinidade de coisas a minha disposição pode ter me deixado um pouco compulsiva.
- Vou analisar as celulites atentamente... Com a minha língua. Sou especialista nisso.
Eu ri.
Senti sua língua quente invadindo minha boca e toda a preocupação com Tom se foi. Ele estava bem e isso que importava. E eu estava com Nicolas... E aquilo era tudo que eu precisava para me confortar e curar de qualquer coisa que eu pudesse sentir.