Capítulo 113
2036palavras
2022-07-25 06:13
Mas mal sabíamos que nossa luta contra Simon Dawson estava apenas começando.
- Preciso ir para casa trocar de roupa. – ele observou. – Mas é tão difícil deixar você... Ainda mais na cama.
- Não acredito que você ficou aqui comigo, mesmo eu estando dormindo. – falei alegre pela presença dele.
- Eu fazia isso quando namorávamos, lembra?
- Sim... – alisei o rosto dele. – Mas ainda namoramos. – eu ri.
- Hum... E será que é hora de fazer o pedido oficialmente?
- Acalme-se, Nick.
- Por que a espera?
- Tenho umas vinganças pendentes. – brinquei.
- Eu quero ter um bebê... Com você.
O olhei confusa. Era a primeira vez que discutíamos aquilo, mesmo ele sabendo que eu tinha certo trauma de crianças.
- Isso não é para agora, não é mesmo? – perguntei.
- Para quando você estiver preparada. E já estou feliz com a possível possibilidade de um sim. Há uns anos atrás isso a deixava completamente desconfortável.
- Eu confesso que já pensei nesta possibilidade. Quando vi Otto com Vitória. O olhar dele para ela era tão contagiante... Então passou pela minha cabeça um bebê nosso.
Ele alisou meu rosto:
- Eu seria louco por um bebê nosso.
- E quem não seria? – eu ri. – Afinal, seria nosso! Do que chamamos um bebê filho do senhor perfeito e da rainha do drama?
- Senhor dramático, se for menino. E Rainha perfeita, se for menina?
- Acho que esperamos nascer para saber a personalidade.
- Se será a tempestade ou só a pessoa com o guarda-chuva? – ele riu.
- Talvez nosso bebê seja mais sensato que nós.
- “Nosso bebê”... Isso faz meu coração bater mais forte.
- Nick, não precisamos trabalhar? Estamos aqui jogando conversa fora.
- Conversa fora? – ele saiu de cima de mim. – Estamos falando do nosso filho.
- Futuro filho, Nick. Se alguém ouve pensará que estou grávida.
- E você quer ficar grávida hoje? – ele propôs, me pegando no colo e levando-me ao banheiro.
- Nick, me ponha no chão. Precisamos ir... – pedi rindo.
- Não precisamos ir agora. Eu acho que vou lhe dar uns minutos para chegar atrasada.
- Não gosto de chegar atrasada.
- Você é difícil, rainha do drama. Ok, à noite você não escapa.
- Então trate de chegar cedo.
- Nem pensar... Será na minha casa. Quero usar a banheira.
- E fazer o bebê? – provoquei, já dentro do Box.
Ele retirou a roupa e entrou, me empurrando contra a cerâmica gelada.
- Hora de jogar fora os anticoncepcionais. – ele propôs.
- Nick, você é muito ansioso. Eu preciso digerir esta ideia melhor.
- E eu casar com você... O mais rápido possível.
Nos beijamos sem pressa enquanto nossos corpos se roçavam molhados um no outro.
- Eu amo você, Nick... Mas quero fazer algumas coisas antes de casar com você.
- O que, por exemplo?
- Eu quero... Escolher algo que eu goste de fazer para seguir uma carreira ou profissão...
- Hum... E que o fato de eu ser seu marido impediria isso?
- Depois que nos casarmos, quero estar já organizada para isso, entende? Ainda mais se tivermos um filho logo. Não quero ser somente a esposa de Nicolas Welling... E ser sua funcionária para sempre está fora de cogitação.
- Eu entendo...
Passei minhas mãos no pescoço dele, ficando na ponta dos meus pés para encará-lo:
- Você me entende porque é perfeito...
- Voltei a ser o senhor perfeito?
- Nunca deixou de ser.
- Eu já disse que não consigo viver sem você, rainha do drama?
- Acho que já... Mas agora vai viver sem mim... Pelo menos durante o banho.
- Porra, tem certeza que vai me deixar assim?
- Decisão difícil... – falei olhando ele duro, esperando por mim. – Uma rapidinha antes do trabalho não ocupa muito tempo, não é mesmo? – voltei para o Box.
Ele riu:
- Uma rapidinha com você? Vamos ver se consigo.
Chegamos juntos na empresa e pela primeira vez Nicolas pegou minha mão antes de entrarmos. Olhei para nossos dedos enlaçados e segui com ele, oficializando que estávamos juntos. E eu tinha um orgulho imenso dele... O meu namorado. Que conquistou tudo aquilo sozinho, com sua inteligência e dedicação. Nicolas era perfeito. E eu queria que ele também tivesse orgulho de mim, como eu tinha dele.
Fui para minha sala e comecei a analisar os comerciais antigos do resort e fazer um comparativo com os novos. Mas quando me dei em conta, estava pesquisando sobre drogas em Paraíso. Sim, eu tentava entender o que Simon tinha para a polícia ao lado dele... Bem como seu real interesse no resort, que provavelmente devia estar ligado às questões ilegais dele.
Curiosamente o fato de haver muitas pessoas ricas na cidade, em função do resort, fazia com que houvesse sim uma grande procura por fornecedores de drogas. Os frequentadores no geral eram pessoas com poder financeiro e que queriam usar qualquer entorpecente. E ali tinham facilmente. Eu tentava entender o que fazia com que uma pessoa usasse aquilo, principalmente tendo grande poder aquisitivo, o que, teoricamente, deveria justificar uma vida boa. Mas eu tinha o exemplo de Tom... Que era uma pessoa rica e que tinha tudo na vida. E era um viciado. Talvez houvesse muitas pessoas que, assim como ele, achavam que não eram viciados... Que só usavam para se divertir. E certamente imaginavam que podiam largar quando quisessem.
E como eu tinha raiva de Simon. Não bastou apenas continuar viciado depois de destruir a vida da minha mãe e consequentemente a minha. Agora ele também queria destruir a vida de outras pessoas. E queria que eu compactuasse com isso.
Levantei e fui em direção à sala de Joana. Abri a porta e me surpreendi ao vê-la sentada na mesa, com as pernas enganchadas em Tom, que de pé a beijava, com as mãos em suas costas nuas.
Eu poderia dizer que fiquei surpresa... Mas não. No fundo eu esperava mesmo aquilo. E eu não falava só na questão de estarem sexualmente juntos... Mas em provavelmente estarem unidos para acabar com Nicolas e eu.
Joana se desvencilhou dele e me olhou ironicamente:
- Agora você vai ser empata foda, bebê?
Ela arrumou a blusa para dentro da saia enquanto Tom limpava o batom da sua boca.
- Você pode foder com quem quiser, piranha. Mas eu vim aqui para lhe fazer uma pergunta... Só isso.
Ela me olhou curiosa, arqueando uma sobrancelha:
- Eu posso não querer responder...
- Eu não duvido que você não queira... Ainda assim eu vou perguntar.
- Quer saber sobre Nick novamente?
- Não... Eu quero saber se Simon contou que viu minha mãe antes de ela morrer... Se você e sua mãe sabem que ele discutiu com ela, dizendo-lhe que não soube me criar, que eu era mimada e coisas deste tipo... Isso depois de ter ficado vinte anos sem nunca ter me procurado, sem saber nada sobre mim...
- Pobre menininha... É para sentir pena de você?
- E depois ele disse que eu viria com ele Paraíso...
- Eu não tenho nada a ver com isso.
- E depois desta discussão, minha mãe infartou... Não resistiu e morreu.
- Você quer culpar meu pai pela morte da sua mãe? – ela quase gritou. – Eu não acredito nisso. Quer o quê? Acha que ele será preso por sua hipótese ridícula?
- Sabia ou não? – insisti.
- Pouco me importa o que você tem para falar ou pensa sobre o meu pai, Juliet. Eu nunca vou julgá-lo. Sabe por quê? Porque ele foi o homem que me deu tudo: amor, atenção, dinheiro, tempo...
- E seu pai verdadeiro?
- Simon é meu pai verdadeiro.
- Quem é o homem que engravidou sua mãe? Você concorda com o fato de seus irmãos estarem morando longe de vocês... Ou não na mesma casa?
- Você não tem nada a ver com a minha família, garota.
Dizendo isso ela saiu furiosa, batendo a porta.
Não adiantava tentar conversar com ela seriamente. Joana não tinha capacidade para ver a verdade. Defenderia Simon em qualquer hipótese e eu até entendia esta parte... Porque sim, ele a criou como uma filha. E talvez ela não foi tão idiota quanto eu, que só reconheci Otto depois de vinte anos. Pelo visto ela sempre considerou Simon seu verdadeiro pai.
Voltei para minha sala e fiquei observando pelo vidro a praia, com seu lindo sol refletindo nas águas azuis e límpidas. Ouvi a porta se abrindo. Era Tom.
- O que você quer aqui? – perguntei sem me mover, voltando a olhar a paisagem que tanto me tranquilizava.
- Você... Acha mesmo que ele pode ter sido o responsável pela morte de Olga?
- Não acho... Tenho certeza. Minha mãe sempre foi saudável, Tom.
- Eu até entendo que ele pode tê-la feito se alterar... Mas provavelmente ela já tinha uma propensão a infartar... E talvez nem soubesse.
- Tom... – olhei fixamente para ele. – Simon só me viu quando eu era bebê. Qual o pai que aparece vinte anos depois de ir embora e procura a ex pra falar mal sobre a filha com a qual conversou algumas horas? E dentre todas as coisas horríveis que ele achava de mim, estava incluído o fato de eu estar dando o dinheiro para ele.
- Juliet, tome cuidado com ele. Simon é uma pessoa perigosa... Mais do que você imagina.
- Eu sei bem quem ele é... E tudo que ele é capaz de fazer.
- Não brinque com fogo... Não quero que se queime.
- Eu posso lhe alertar da mesma coisa. Acha mesmo que Joana gosta de você?
- Eu nunca achei que ela gostasse. É só sexo.
- Sexo e união para destruir Nick. – eu ri. – Como conseguem fazer isso?
- Eu sei com quem estou lidando... Joana é uma golpista e só quer dinheiro. Ela passa a vida atrás disso. Por isso não superou a perda de Nicolas. Ele era a galinha dos ovos de ouro.
- Que bom que você sabe... Então me diga: o que quer com ela? No que ela pode ajudar tanto a acabar com Nick?
- Ela é boa de cama... Não tem a ver com Nicolas.
Eu balancei minha cabeça e ri ironicamente:
- De novo este papo que me dá enjoo...
- Eu não posso gostar de outra mulher... Porque ainda gosto de você.
O encarei:
- Se gosta de mim, me deixe em paz, Tom. Porque eu também gosto de você... Mas não o amo. Foram anos vivendo juntos. Fizemos memórias. Não foram só momentos ruins e você sabe disso. Eu quero a sua felicidade. Queira a minha também, por favor.
- Não posso... Vai além da minha capacidade de aceitação. Nunca pensei que o perdão fosse algo tão difícil... Especialmente quando amamos.
Eu entendia aquele sentimento dele... Infelizmente.
- Pare com a cocaína enquanto ainda há tempo, Tom. Você é um homem lindo, rico... Tem tudo que quer. Você não precisa disto.
- Volte para mim e eu prometo me internar, se assim você quiser.
- Não se trata de querer ficar com você. Trata-se de querer o seu bem, porque você é importante para mim.
Ele foi em direção à porta:
- Se cuida, gatinha. Não quero que sofra. Sua família que não é sua família é bem pior do que você imagina.
- Obrigada por se preocupar comigo, Tom... De verdade.
Ele fechou a porta e eu fiquei ali, pensando no quanto eu queria o bem dele. Foram muitos anos dividindo não só uma cama... Mas uma vida. Sim, eu me anulei e vivi a vida dele. Mas porque eu estava destruída pela morte da minha mãe e a culpa eterna que carregava dentro de mim. Tom pagou minha faculdade. Ele me apresentou um mundo que jamais passou pela minha cabeça conhecer. Ele me presenteava regularmente. E eu nunca duvidei que, à maneira dele, queria me ver feliz. E eu torcia para que ele também encontrasse a felicidade. E eu tinha certeza de que não seria ao lado de Joana.