Capítulo 112
2257palavras
2022-07-25 06:12
Sentei no meio e Nicolas e Otto ficaram um de cada lado.
- Como vocês chegaram até mim? – perguntei.
- Eduardo. – disse Nicolas.
Encontrei os olhos de Eduardo no retrovisor e disse:
- Eu confiava em você, Edu.
- E pode continuar confiando, Juliet. Por isso mesmo eu contei a eles. Sabia que você estava aprontando alguma coisa.
- Por que você foi encontrá-lo, minha filha? – perguntou Otto.
- Curiosidade... Só isso. Mas quando ouvi as coisas horríveis que ele disse, me arrependi.
- O que ele quer afinal? – Nicolas questionou.
Eu balancei minha cabeça, tentando entender:
- Talvez você e Joana juntos... Talvez o resort... Talvez que eu vá embora... E o principal: ele disse que eu ter nascido foi um erro.
E eu não chorei... Porque Simon Dawson não merecia nenhuma lágrima derramada.
- Você nunca foi um erro. – Otto disse. – Você foi a melhor coisa que aconteceu na vida da sua mãe... E na minha. Você foi a filha que eu escolhi...
Deitei minha cabeça no ombro dele e senti a mão de Nicolas enlaçando a minha:
- Obrigada por estarem lá...
- Sempre estaremos com você... Onde precisar. – disse Nicolas. – Porque amamos você.
Quando chegamos em casa, já no final do dia, Otto entrou em casa e Nicolas perguntou, antes de eu fazer o mesmo:
- Quer dormir comigo hoje?
- Não... – falei. – Preciso de um tempo sozinha.
Ele me abraçou e recomendou:
- Não fique pensando nas coisas que ele lhe disse... Por favor.
- Vou tentar. – prometi. – E obrigada por estar lá... Mesmo sem eu pedir.
- Eu sempre vou estar... – ele afirmou. – Porque você é o que eu tenho de mais importante. – afagou meus cabelos.
- E eu? Qual importância eu tenho na sua vida, Nicolas?
Nos soltamos, vendo a mãe dele próxima de nós, cobrando respostas para a importância que ela tinha na vida do filho.
- Estava escutando escondida nossa conversa, mãe? – ele perguntou.
- Claro que não... Peguei a última parte, mas a mais importante, quando você afirma que ela é o que você tem de mais importante na vida. Fiquei curiosa quanto ao que eu significo.
- Não se trata de uma competição, Maria Emília. – eu disse.
- Será que não? – ela me questionou sarcasticamente.
- Espero que não. – disse Nicolas. – Ou você poderia não ficar satisfeita quando chegasse ao fim.
Ele o encarou, surpresa com a resposta.
- Vou tomar um banho. – falei. – E depois espero você... Para dormir comigo na minha cama... Só quero abraçá-lo e sentir que você estará ali a noite inteira... Sem me deixar. – falei.
Ele me deu um beijo rápido:
- Estarei lá... E não se preocupe, pois nunca mais vou deixá-la.
Sim, parecíamos adolescentes disputando a atenção Nicolas: namorada e mãe. Definitivamente, ela havia decidido que não gostava de mim, mesmo sem me conhecer. E com isso destruía as chances de eu gostar dela também. Ela precisava culpar alguém por seu passado, por ter sido tirada de um relacionamento abusivo e doente ao qual ela havia se acostumado e acreditava gostar. Ela deveria ser grata pelo filho tê-la salvado da vida que levava. Mas não, ela precisava arranjar alguém responsável por tê-la tirado de seu mundinho. Por Nicolas ser filho e o fato de mães sempre perdoarem, ela optou por colocar em mim a culpa. E eu até entendia um pouco o que se passava com ela, pois eu mesma vivi uma vida que eu não queria por mais de cinco anos e não conseguia me desvencilhar, sempre acreditando que um dia poderia mudar. E se não fosse Nicolas ter aparecido novamente, talvez eu ainda estivesse com Tom... Simplesmente porque havia aceitado que aquele era meu destino.
Quando cheguei em casa, Lorraine veio rapidamente saber o que aconteceu. Quando terminei de contar à ela, ficou pasma:
- Como este homem pode ser assim? Confesso que houve vezes que achei que tia Olga era muito protetora com você. Ela sequer queria que tocássemos no nome de Simon... E toda a família o odiava. Acho que hoje eu entendo perfeitamente o que acontecia. Éramos muito jovens para entender, não é mesmo?
- Imagina como me senti, Lorraine? Minha mãe morreu sem saber que eu jamais partiria com Simon. Tenho medo de que os últimos pensamentos dela tenham sido que eu partiria com ele para Paraíso e a abandonasse.
- Ei, você não pode se culpar para sempre. Falando nisso, tenho um presente de aniversário pra você.
- Mas... Falta alguns dias ainda.
- Não importa. – ela saiu e voltou com um pacote retangular dourado, me entregando.
- Por que você e Nick insistem em me dar os presentes antecipadamente?
- Ele eu não sei... Mas eu não consigo controlar minha ansiedade. – ela disse rindo.
- É estranho não ver você fumando. – observei.
- Para você ver o que um bebê faz com a vida da gente. Agora abra logo antes que eu mesma faça isso.
Retirei o embrulho:
- Eu adoro surpresas. E presentes.
- E quem não sabe disso? – Lorraine riu.
Era um caderno grande e com muitas folhas. Tinha uma capa em couro preto e em dourado escrito meu nome: “Juliet Franco Welling”. Uma caneta com ponta fina e porosa dourada completava o conjunto.
Eu acho que só o “Juliet Franco Welling” já seria o presente. Como Lorraine conseguia me desvendar tão bem?
- Você deve estar se perguntando: por que esta puta doida da minha prima me deu um caderno? Quem escreve em caderno hoje em dia, se eu tenho quantos notebooks e computadores eu quiser?
- Ainda tenho o hábito da agenda. – confessei. – Seria isso?
- Nicolas me contou mostrou sua escrita sobre a experiência no Paradise.
- Eu não acredito que ele fez isso.
- Achei incrível. Você escreve muito bem. Consegui sentir tanta emoção naquelas poucas palavras... E não foi porque eu estive com você em cada momento. Aposto que quem leu entendeu exatamente tudo o que você quis dizer ali.
- Quer que eu escreva poesias ou algo assim?
- Não... Eu quero que você escreva tudo que quiser... E coloque para fora cada história escondida aí dentro. Principalmente as culpas. Quando você escrever a última página... Queime o caderno. E deixe as cinzas levarem todas as mágoas e culpas que você carrega. Porque elas só existem dentro de você... Ninguém nunca a viu como culpada por nada.
Deixei uma lágrima escorrer.
- Obrigada, Lorraine. Gostei da sugestão. E prometo que vou tentar.
- Não vai tentar... Vai fazer. – ela disse.
- Eu não sei como vou ficar sem você, Felipe e Vitória quando partirem.
- Bem... Tem outra surpresa.
- Hum... Terei que esperar até o aniversário?
- Não...
- Então conte logo. – falei ansiosa.
- Nicolas nos convidou para ficar.
- Como assim?
- Nos ofereceu uma casa na Villa e emprego para mim e Felipe.
- Por Deus, me diga que vocês aceitaram.
- Ainda não demos a resposta oficial para ele, mas creio que aceitaremos.
A abracei com força, recebendo o carinho dela na mesma intensidade.
- Eu não acredito que vocês vão ficar...
- Foi uma proposta bem melhor do que receberíamos em qualquer lugar. Agora me diga: como não ser completamente apaixonada por Nicolas Welling, prima?
Eu ri:
- Ei, não pode se apaixonar tanto assim...
- Enfim, você o perdoou pelo que ele não fez.
- Mas pensou em fazer. – observei.
- Quantas coisas você já pensou em fazer e não fez?
Fiquei calada. Sim, os pensamentos nos levavam a qualquer lugar. Eu mesma já havia pensado em matar Simon. Mas não o fiz... Porque era ilegal e eu me tornaria uma assassina. E ninguém me prenderia porque eu “pensei” em fazer isso. Quando Nicolas se aproximou de Joana ele não sabia quem ela era. Só foi saber depois. E sim, tentou arquitetar um plano contra mim. Mas assim que cheguei, ele desistiu do plano.
Não tenho certeza se eu senti algo a não ser tristeza pelo que Nicolas tentou fazer comigo. Nunca foi ódio. Tanto que na mesma noite a única coisa que me passou pela cabeça quando pensei em nunca mais vê-lo novamente foi receber um beijo e guardar como lembrança. Porque eu nem tenho certeza se conseguiria viver sem os beijos dele.
- Eu fico tentando lembrar quando foi que eu me apaixonei por ele... E não consigo achar a resposta. – confessei.
Ela riu:
- Quando você se apaixonou pouco importa. Precisa é manter este amor vivo... Porque ele é lindo.
Tomei um banho e depois fui ao quarto de Otto. Ele já estava deitado. Usei a parte da cama que estava livre e deitei ao lado dele, abraçando-o:
- Me desculpe por não ter falado que eu iria vê-lo.
- Acha que cada vez que eu olhar na cara dele vou tentar matá-lo?
Começamos a rir, em meio à tensão que havia sido nossa tarde.
- Eu não sei se sempre vai tentar matá-lo... A única coisa que eu sei é que você é muito forte. – brinquei.
- Nem sei de onde tiro forças para bater nele. Fico fora de mim.
- Nicolas apanhou da primeira vez... E na segunda machucou a mão. Você segue espancando Simon Dawson por onde o encontra. – ri. – E seu corpo segue intacto.
- E é isso que me impressiona. Ele sequer tenta se defender. Porque sinceramente, eu duvido que ele não saiba brigar. Meio que todos nós nascemos com pelo menos o instinto de defesa.
- Acha que ele trama algo, pai?
- Não sei... Mas também não quero saber nada mais sobre este homem. Só quero distância.
- Pai, precisamos botá-lo na cadeia. E você sabe disso.
- Por ele ter pego o seu dinheiro há oito anos atrás? Ou por ele ter talvez causado o infarto da sua mãe na mesma época? Não temos provas...
- Ele vende drogas. Isso basta.
- E pelo visto toda a cidade está do lado dele.
- Toda a cidade não... Somente a polícia.
- E não deveria ser justo eles que teriam que estar contra?
- Eu não sei como, pai. Mas vou provar a toda a cidade que ele é um mau caráter. E colocá-lo atrás das grades.
- Eu acho que toda a cidade já sabe quem ele é e quem é Nicolas. E creio que já tenham escolhido os seus lados.
- Sabe que a forma como ele tratou foi tão horrível... E me doeu. Mas não por ele ser quem ele era... Ofendeu-me como se qualquer outra pessoa tivesse dito aquilo, entende? Porque acho, definitivamente, que não o considero parte de mim.
- Não o considera porque ele não é parte de você. Mas o que ele queria, afinal? Como conseguiu seu número?
- O número certamente Tom quem deu. O que ele queria? O resort.
Otto riu:
- Primeiro o dinheiro da sua faculdade. Depois o resort. O que passa na cabeça dele? Tentou chantageá-la?
- De certa forma, sim. Mas eu não sou mais aquela menina de oito anos atrás.
- E eu tenho orgulho do que você se transformou.
- Prometo lhe dar ainda mais orgulho, pai.
- Não preciso de mais. Eu já tenho o suficiente de você.
- Vou para o meu quarto... Nicolas logo estará chegando.
- E quando mesmo vocês vão oficializar isso?
- Não estou com pressa. – confessei. – Está bom assim, por enquanto.
- E a mãe dele?
- Continua a mesma bruxa.
Começamos a rir novamente.
- Um sogro e uma sogra perfeitamente ruins. – ele comentou.
- Você é o sogro dele, pai. – corrigi.
- Me desculpe, querida... Por sequer pensar que Simon possa ter qualquer tipo de ligação com Nicolas por sua causa. Eu sou seu pai.
Fui até meu quarto e deitei. Estava esgotada com o que havia acontecido. Passar uma tarde na delegacia definitivamente não estava nos meus planos. Fechei meus olhos e acabei adormecendo.
Acordei com a perna e o braço de Nicolas sobre mim. Mexi-me e ele despertou.
- Me desculpa... Acabei dormindo e nem esperei você. – falei passando a mão sobre os lábios dele.
- Eu sabia que você estava cansada... Pois nunca recusa sexo, a não ser que esteja realmente esgotada. Mas me chamou igual... Só para provocar a minha mãe.
Eu ri:
- Ok, eu confesso minha culpa. Tentei fazer ciúme para ela.
- Não precisa. – ele deu um beijo leve nos meus lábios. – Porque eu sou seu... Somente seu. E de ninguém mais.
- Se ela ouve você dizendo isso vai querer acabar comigo definitivamente.
- Tarde demais... Ela já sabe.
Encarei-o:
- Como assim?
Ele se ajoelhou sobre mim, arrumando meus cabelos desalinhados cuidadosamente:
- Minha mãe escolheu viver a vida dela da forma como achou melhor... Por muitos anos. E eu escolho a forma de viver a minha.
- E como você escolhe viver sua vida, Nick?
- Com a rainha do drama... Sempre.
- Senhor perfeito em ação novamente? – brinquei.
- Sempre... Só você consegue tê-lo, entende? Porque ele só existe para a rainha do drama... Para ninguém mais... Eu faço qualquer coisa para deixá-la feliz e ver um sorriso no seu rosto.
- Quer me ver feliz, Nick? Acabe com Simon Dawson.
- Será seu presente de aniversário, meu amor.
- Jura? – perguntei esperançosa.
- Eu juro.