Capítulo 110
2192palavras
2022-07-25 06:11
- Crescer nem sempre é fácil, meninas. A gente torce para ser adulto e quando somos adultos daríamos qualquer coisa para voltarmos a ser adolescentes. Pelo menos no meu caso é assim. Logo que me separei, saí bastante... Mas as companhias não eram as mesmas... Muito menos os lugares sem a presença de vocês. – disse Dani. – É como se nada mais fosse tão legal quanto era antes, quanto tínhamos nossos 18 aninhos.
- E temos o privilégio de estarmos aqui, todas juntas, depois de tantos anos, aproveitando para falar sobre estes momentos. – fui grata por tê-las ali.
- Graças a Nicolas. – disse Lorraine deitada em sua espreguiçadeira, sem virar para nós.
- Puxa, você é fã de Nicolas. – falou Alissa ironicamente.
- Sou mesmo. Acho ele um fofo. E só para constar, Juliet resistiu em ficar com ele por causa da porra do pacto de vocês. Pacto ridículo... Só minha prima deixou um bom tempo de ficar com alguém legal e que ela gostava por causa disto? Ou mais alguma de vocês abriu mão?
Elas ficaram caladas. Lorraine riu ironicamente:
- Pois então, Juliet. Você sofreu a toa, como eu disse. Ninguém se preocupava com a porra do pacto.
- Eu não achei correto ela ficar com Nicolas naquela época. – disse Alissa.
- Acho que você deixou bem claro isso. – lembrou Dani.
- Foi a própria Juliet que inventou este pacto.
- Gente, nós tínhamos 15 anos. – tentei me defender.
- Mas ninguém quebrou... Independente da idade em que ele foi feito.
- Mas acabei de perguntar se alguém se apaixonou pelo boy da amiga e todas alegaram que não. Por isso ninguém quebrou. – disse Lorraine.
- Eu não gostava de Nicolas. – Val disse. – Quer dizer, não que eu não gostava. Mas nunca fui apaixonada por ele. Nicolas era legal... Sabe que quando eu sofri no meu casamento, cheguei a pensar: “Por que eu não casei com Nicolas?”.
Olhei para ela e não me senti à vontade com o comentário, embora ela tenha sido sincera.
- Não casou com Nicolas porque ele era de Juliet... Sempre foi. – defendeu Lorraine meu relacionamento com Nicolas novamente.
Alissa e Valquíria olharam para ela.
- Estou falando isso porque vocês não passaram por tudo que eu passei com estes dois. Eu acompanhei desde o início, quando eram somente amigos. E vi quando estavam apaixonados e não admitiam a si mesmos. Eu sempre disse que eles iam ficar juntos. Porque eles eram perfeitos um ao lado do outro. Ele foi atrás dela na praia, quando ela brigou com ele, meninas. Ele ia na casa dela, inventando desculpas esfarrapadas para poder ficar perto. Tudo foi muito fofo e enquanto eles se apaixonavam um pelo outro, eu confesso que me apaixonava e torcia pelos dois. Assim como tia Olga e tio Otto. Então a porra do pacto que fosse para puta que pariu.
- Lorraine, por acaso você está tentando me dizer algo nas entrelinhas? – perguntou Valquíria.
- Eu? Claro que não. Só estou falando para quem ouvir, pode ser até alguém passando pela praia... Que se qualquer vagabunda se colocar entre os dois eu quebro todos os dentes dela. – finalizou Lorraine, deitando novamente e colocando os braços atrás da cabeça tranquilamente.
- Ela faz isso mesmo. – falei. – Eu já vi ela brigando. E ela quebra a cara legal de qualquer um.
Se eu estava ameaçando? Ah, eu acho que estava sim. Ficou bem claro que Nicolas era meu e eu dele. E se alguém cruzasse nosso caminho não se veria só comigo, mas também com toda a minha família. Era bom prevenir... Só pra garantir.
Na segunda-feira fui para o escritório com Nicolas. Sairia mais cedo porque as meninas embarcariam no final daquela tarde. Mas já não fazia sentido usar um motorista se todos já sabiam o que acontecia entre nós. Claro que saímos na sexta-feira como chefe e empregada e voltaríamos na segunda bem diferente disso.
Quando entrei no carro ele passou o cinto de segurança sobre mim e trancou. Fitei-o e ri:
- Nós nem andamos a mais de 40 km nestas ruas, Nick.
- Sua segurança é prioridade para mim, rainha do drama. Como eu poderia viver sem você?
Dei um beijo nele:
- Você está muito fofo, senhor perfeito.
- Eu sempre fui fofo com você...
- Está tentando me fazer desistir de ir ao trabalho, Nick? – perguntei descendo minhas mãos pelo peito dele, parando sobre seu membro.
- Não... Realmente precisamos ir hoje, meu amor.
Ele retirou minha mão e ligou o carro, seriamente.
- Chefe tomando lugar do namorado? – perguntei.
- Mais ou menos.
- Por isso achei que não daria certo trabalharmos juntos. – o toquei novamente, provocante.
- Se você se comportasse, daria certo. – ele retirou a minha mão novamente.
- Falou o homem que me comeu na cadeira da minha sala.
- Você não deixa passar uma, não é mesmo?
Ajeitei-me no banco e perguntei:
- O que faremos hoje?
- Temos uma reunião bem importante. Sobre marketing novamente.
- O que eu vou fazer na empresa, Nick? Parece que você me deu um emprego, mas não um trabalho. Não tenho absolutamente nada para fazer. Quando eu trabalhava pra Tom, realmente me ocupava. Preciso de algo sério. Ou vou procurar outra coisa.
- Como assim procurar outra coisa?
- Não quero ficar sem trabalhar. Passei muito tempo da minha vida parada, procurando o que fazer até começar a ajudar Tom. Trabalhar me faz bem.
- Vou arrumar algo bem importante para você fazer, eu prometo.
Eu sabia que ele tentaria arrumar algo que eu me envolvesse e gostasse. Mas eu não tinha certeza se conseguiria me encontrar profissionalmente ali. Mas ainda tinha tempo para pensar.
Na sala de reuniões, encontrei Joana e Tom. Confesso que era mais fácil conviver com ele diariamente do que com ela. Simplesmente eu não suportava aquela mulher. O olhar debochado dela para mim não cessava nunca. Tom, por sua vez, parecia concentrado nos negócios, como nunca esteve antes. Eu só não entendia de que forma ela conseguia ajudá-lo, porque ela não parecia entender sobre nada daquilo.
Comecei a prestar atenção quando Nicolas falou sobre o que o resort deixava nas pessoas. Ele queria focar o novo comercial nisso. Sugeriu que contatassem hóspedes reais que quisessem falar sobre suas experiências ao estarem no Paradise. Achei aquilo tão incrível. E entendia perfeitamente o motivo de ele ter crescido tanto na vida. Nicolas se preocupava não só com o lugar que ele construiu, mas com o que todos pensavam dele. Ele queria oferecer a melhor experiência da vida das pessoas naquele paraíso. Então ninguém melhor que hóspedes normais, relatando suas experiências para convencer outras pessoas a conhecerem aquele paraíso.
Enquanto ele falava, peguei a agenda e minha caneta e me debrucei sobre a mesa, começando a escrever sobre a minha experiência no Paradise Resort.
“Há muitos anos atrás eu sonhei conhecer Paraíso. Achava que este lugar tinha me tirado uma parte importante do meu passado e da minha vida. E vir para esta cidade era resgatar um sentimento necessário para sobreviver. O destino quis que o sonho de conhecer Paraíso se tornasse o desejo de nunca pisar meus pés novamente neste lugar, com medo de encontrar o meu passado e o presente tão dolorido, que tirou não só o que eu tinha de mais importante na minha vida, mas também as chances de um futuro feliz. Mas então eu tive que vir para Paraíso, exatamente para o Paradise Resort. E não era tanta coincidência, como eu imaginei no início. Quando cheguei neste lugar, me encantei com tudo. Então encontrei meu passado, meu presente e meu futuro, todos misturados. E não havia mais como fugir. Foi preciso enfrentar tudo junto. Eu cheguei no Paradise com o meu coração colado em tantos pedacinhos, que jamais pensei ser possível consertá-lo. No entanto aqui eu me encontrei novamente. E meu coração se recuperou definitivamente. E eu poderia dizer que foi só a paisagem... Mas não foi. Foram as pessoas. Conheci pessoas incríveis. E voltei a cruzar meu destino com o do proprietário do Paradise, que também é dono do meu coração. Ele diz que criou tudo isso pensando me mim, com o único objetivo de um dia me trazer para cá. Mal sabe ele que passei minha vida toda tentando encontrá-lo desde o momento que nos separamos. E que eu o acharia, em qualquer lugar, porque nosso destino sempre foi ficar juntos. Sonhei conhecer este lugar. Depois fugi dele furtivamente. E quando finalmente cheguei aqui, me livrei de todos os meus fantasmas. Paradise Resort surgiu para ser minha destruição. No fim, ele foi a minha salvação.”
- Juliet? – Eliete tocou meu braço.
- O que foi?
Vi todos os olhares sobre mim e fiquei confusa. Eu não havia escutado nada do que foi falado. Estava absolutamente concentrada no que estava escrevendo.
- Eu perguntei se você acha que o comercial usando hóspedes reais faz sentido? – disse Nicolas.
- Acho que ela não estava prestando atenção, senhor Welling. – ironizou Joana.
- Eu realmente não estava... Desculpe-me, Nick... Digo, senhor Welling. Quer dizer, Nicolas. Eu simplesmente escrevi minha experiência no Paradise Resort. – mostrei a folha escrita rapidamente.
- Gostaria de dividir conosco, Juliet? – ele perguntou, me encarando.
Por que não? Tudo o que relatei era verdade. Li rapidamente minha escrita e ao final recebi palmas de todos. Exceto de Joana e Tom, que me olhava furioso.
- É disso que eu falo... – Nicolas disse empolgado. – Experiências reais, de vida...
- E declarações de amor ao dono do resort. – um observou rindo.
Nicolas riu também e os demais acabaram achando engraçado. Ele me olhou e disse:
- Sim... O Paradise sempre foi um sonho meu, desde que botei meus pés neste lugar. Mas ele foi construído com um objetivo: trazer Juliet um dia. E hoje ela está aqui.
Eu queria muito abraçá-lo naquele momento, mas me contive. Estávamos no meio de uma reunião importante. Mas eu me convencia cada vez mais que trabalhar com Nicolas era uma tarefa difícil e quase impossível. Porque eu o amava muito e não conseguiria separar trabalho e sentimentos. Não queria transar com ele no escritório... A não ser no horário que eu fosse visitá-lo. Eu queria poder sentir saudades dele e contar como foi meu dia e o que eu fiz de diferente quando chegasse em casa. Queria deitar na cama e ouvi-lo contar sobre os seus planos futuros e os possíveis problemas que ele havia tido naquela semana.
A reunião foi encerrada e já estava quase na hora de minhas amigas partirem. E havia combinado levá-las ao aeroporto.
- Preciso ir. – avisei Nicolas.
- Pode me deixar a folha que você escreveu?
- Por quê? – perguntei desconfiada. – Eu compartilhei com todos na reunião, mas não quero isso como comercial do resort, Nicolas.
- Eu não pretendia fazer isso. Só quero ler melhor... Sozinho.
Entreguei a agenda para ele.
- Foi muito bem escrito... Tem sentimentos.
- Obrigada. Coloquei realmente tudo que eu sentia naquelas linhas.
- É difícil escrever sobre sentimentos. Mas você sempre gostou de fazer isso, não é mesmo? Lembro de ter levado uma carta certa vez...
Começamos a rir.
- Eu sempre gostei de escrever cartas. E me declarava em todas. – tapei meu rosto de vergonha.
- Eu nunca recebi uma carta de amor sua.
- Acaba de receber, senhor perfeito. E ainda tive que ler em voz alta para todo mundo.
- Nunca pensou em fazer uma coletânea das suas cartas de amor? – ele riu. – Iria ajudar um monte as adolescentes perdidas por aí...
- Quem sabe, não é mesmo?
- Amo você. – ele me deu um beijo na frente de todos.
Àquelas alturas ninguém mais ligava. Todo mundo já sabia sobre nós dois... Inclusive dos detalhes sórdidos e da nossa vida sexual, amplamente aberta em discussões acaloradas, inclusive em reuniões de negócios.
- Estou indo... Não quero que as meninas percam o voo por minha causa.
- Elas podem voltar sempre que quiserem.
- Por sorte Lorraine fica mais uns dias.
- Você gosta muito dela, não é mesmo?
- Acho que eu sinto por ela o que sentiria se tivesse uma irmã. Sempre fomos muito ligadas.
- E Otto? Ele gosta muito daqui.
- Acho que Otto se adapta a qualquer lugar. Meu pai é uma pessoa incrível.
- Eu gosto de vê-la chamando ele de pai. E imagino que ele fique muito emocionado.
- Eu lamento não ter falado antes... Na frente da minha mãe. Ela teria amado ouvir isso e ver a relação forte que eu criei com ele.
- Sem lamentações... Tudo acontece como tem que ser.
- Agora eu vou mesmo. – sai sem olhar para trás, pois deixá-lo nunca era fácil.
Despedi-me de Alissa e Val incerta se as veria novamente. Embora tivesse sido bom reencontrá-las, nossas vidas seguiram rumos diferentes. Certamente havíamos criado memórias juntas e nossos momentos jamais seriam esquecidos. Mas os vínculos não eram mais os mesmos de antigamente.