Capítulo 107
2528palavras
2022-07-25 06:10
- Posso apostar que sim, Nicolas. – disse Alissa. – Obrigada por nos convidar.
- Foi Juliet que me pediu para trazer vocês. – ele me olhou, finalmente.
- Serão dias incríveis. – disse Lorraine. – Se todos se comportarem como devem.
- Isso serve para você também, Lorraine? – ele ironizou.
- Principalmente para mim. Sou mãe de dois filhos, Nicolas. E uma mulher casada. Por isso me comporto agora.
Ele riu:
- Claro... A propósito, a melhor boate do estado está dentro do Paradise. O que acham de nos encontrarmos lá à noite? E relembrar os velhos tempos? – ele olhou para Val.
Respirei repetidas vezes, como se fosse me faltar o ar a qualquer momento.
- Acho ótimo relembrar os velhos tempos. – falei levantando. – Então vamos fazer tudo exatamente como era. – abri a porta.
- Ei, onde você vai? – perguntou Dani.
- Chamar Tom para a noite... Afinal, relembrar os velhos tempos inclui ele. Então podemos voltar tudo exatamente como era.
Cheguei a dar dois passos quando saí da porta e Nicolas me pegou pelo braço:
- Chame ele e eu mando elas embora agora.
- Quem sabe está mesmo na hora de todo mundo ir embora de uma vez, não é mesmo, Nick? – olhei no fundo dos olhos azuis dele.
- Você está brincando com fogo, rainha do drama.
- Quero que venha apagar.
- Não quero.
Desvencilhei-me dele com raiva. Já não tinha muitas pessoas trabalhando. A maioria já havia ido embora. Mas os poucos presentes nos olhavam. Assim que Nicolas levantou os olhos, todos fingiram que não estavam vendo a discussão.
- Eu odeio você.
Ele riu:
- Vai dizer isso a vida inteira?
- Não... Algumas semanas. Quando eu for embora, será para sempre. E você nunca mais vai me ver.
- E como você vai ficar longe, se adora fazer boquete em mim e engolir tudo? – ele ironizou. – E você gosta muito... E só para constar: detesta que eu a foda usando camisinha. E gosta que eu goze dentro de você... Profundamente. E sabe que ninguém a fode melhor do que eu.
Foi como se o chão saísse dos meus pés. Ele havia escutado tudo que eu disse para Tom?
- Vai convidá-lo ainda, depois de tudo que disse para ele? – Nicolas ironizou.
- Você... Estava ouvindo?
- Acho que todos aqui ouviram claramente, rainha do drama. Minha vida sexual virou um livro aberto para todos os meus funcionários. E desde que você chegou aqui este escritório virou quase um filme pornô diariamente, com todos falando sobre posições favoritas, levar tapas ou não, gozar dentro ou fora, chupar ou não chupar, com ou sem preservativo... Enfim, você transformou isso numa zona... Num motel de beira de estrada, literalmente.
- Me desculpe... – baixei minha cabeça envergonhada. – Não foi minha intenção fazer você passar vergonha por minha causa.
Ele levantou meu queixo e me encarou:
- Bom saber que eu sou melhor de cama que todos os outros... E o quanto você gosta de fazer amor comigo. – ele alisou minha bochecha,que corou.
- Nick...
- Quer ficar com todos na sua casa, mandar alguns para os quartos do resort ou dividir os hóspedes comigo? – ele perguntou, sem me deixar terminar o que eu ia dizer.
- Só por curiosidade, com quais você ficaria se eu pensasse em dividir?
- Val e Alissa. – ele sorriu debochadamente.
- Você é um idiota. Vou mandá-las para lá então. Provavelmente sua mãe vai gostar mais dela do que de mim. Então tudo ficará perfeito. Só não vai usar a minha afilhada de dama de honra no seu casamento com Val.
- Esta é a sua preocupação? Perder a dama de honra? Qualquer outra pessoa normal se preocuparia em perder o noivo.
- Ele já está perdido... Há muito tempo. – falei saindo e sentindo meu coração doer.
- Espero vocês na boate.
- Pode esperá-las... Eu não irei. – falei sem virar para ele.
Senti vontade de chorar, mas não o fiz. Agora eu entendi o motivo pelo qual ele trouxe Alissa e Val sem contestar. Talvez ele nunca tivesse esquecido ela. Respirei fundo e entrei de novo na minha sala:
- Vamos lá, meninas. – eu disse tentando mostrar meu melhor sorriso e fingir que estava tudo bem. – Hoje vamos nos organizar em como vocês ficarão hospedadas e amanhã é dia de conhecerem o resort.
- E a boate hoje? – perguntou Lorraine. – Eu quero ir.
- Porra, você está grávida. – lembrei.
- Sabe há quanto tempo eu não vou numa boate?
- Não... – falei.
- Desde que Vi nasceu.
- Você definitivamente precisa sair esta noite. E beber, amiga. – disse Alissa passando o braço nos ombros dela.
Descemos e tentamos entrar no carro que Edu dirigiria para nos levar para casa.
- Não vai caber todo mundo. – disse Lorraine. – Eu estou grávida, sento na frente. Não posso me espremer por causa do bebê. – ela tomou o lugar rapidamente.
Edu ainda esperava em pé, enquanto decidíamos o que fazer.
- Acho que eu posso ir sentada no colo de Edu, sem problemas. – disse Dani.
- Ei, você já sentou no colo do seu motorista, Juliet? – perguntou Lorraine abaixando a cabeça para nos olhar enquanto estávamos do lado de fora ainda.
- Eu ofereci, ela não quis. – Edu entrou na brincadeira.
Eu entrei no carro, atrás e disse:
- Eu sou a dona do carro, então fico aqui, sem ninguém no meu colo.
- Você não se importava em ir amontoada quando éramos jovens. – bradou Alissa.
- Eu sento do meio, do lado de Juliet porque sou a melhor amiga dela. – Dani tomou seu lugar.
- Ei, eu sou a melhor amiga. – Lorraine virou a cabeça, contestando.
- Você não conta, porque é parente.
- Prima e melhor amiga.
- Prima basta. Eu fico com o título de melhor amiga. Ouvi as lamentações dela anos da minha vida. – disse Dani.
- E eu a minha vida inteira.
- Ok, Val vai no meu colo, já que ela é a mais leve de todas. – Alissa sentou.
O carro de Nicolas parou ao nosso lado. Ele tirou os óculos escuros e perguntou:
- Não tem lugar para todas?
- Não... – Falou Edu.
- Vem comigo, Val. Eu te dou carona.
Val nos olhou e entrou no carro dele, fechando a porta.
- Puta que pariu. – disse Lorraine. – Eu vou matar sua amiga afogada... E deixar o corpo para alimentar os tubarões.
- Não faça com ela... Faça com Nicolas, por favor. – falei, sentindo que poderia desabar a qualquer momento.
E eu nem podia fingir, porque elas me conheciam.
- Val não vai fazer nada com ele. – disse Alissa. – Ela é uma amiga de verdade... E jamais romperia o pacto.
- Que porra de pacto nada! – gritou Lorraine. – Não me faça me arrepender de ter pedido para Nick trazer vocês, Alissa.
Eu não falei nada. Elas continuaram discutindo e eu simplesmente abri o vidro e deixei o vento entrar no carro e balançar meus cabelos. Era assim que eu me sentia: completamente bagunçada. Era como viver um círculo vicioso. Talvez fosse hora de romper o círculo e viver meu futuro, deixando de vez meu passado para trás. Ah, mãe, me dá uma luz do que eu devo fazer! Você saberia me guiar, com toda a sua sabedoria. Às vezes é tão difícil suportar tudo como uma adulta, quando dentro de mim eu pareço ainda ter dezoito anos e precisar do seu colo como quando eu era bebê.
Quando chegamos em casa, num trajeto rápido, como sempre, elas desceram e Nicolas estava escorado no carro, conversando com Val. Lorraine entrou e as outras a seguiram. Quando fui andar, Edu pegou meu braço e levantou meu queixo, me fazendo olhar nos olhos dele:
- Não percebe que ele está fazendo ciúme para você?
Deixei uma lágrima escorrer. Ele limpou.
- Dói... – confessei. – Estou preste a explodir. De raiva, de pressão, de tudo... Parece que não é para dar certo, entende?
- Vem cá... – ele me puxou de encontro ao seu corpo e abraçou-me.
Deitei minha cabeça no peito dele e deixei-o alisar meus cabelos.
- Vai dar tudo certo, Ju.
- Vamos sair hoje à noite, na boate principal do Paradise. O que acha de vir conosco e trazer Eliete? – perguntou Nicolas, fazendo com que nos soltássemos.
Ele estava ali, próximo de nós. Procurei Val, que estava entrando em casa.
- Talvez eu vá... – ele disse. – Mas não sei sobre Eliete. Posso ver com ela.
- Não está na sua hora, Edu? – ele olhou no relógio.
- Vá... – falei para ele. – Não tenho mais porra nenhuma de direitos aqui e não quero que se prejudique por minha causa.
Edu me deu um beijo no rosto e disse:
- Lembre-se que sempre pode contar comigo... A qualquer hora. Sabe meu telefone. E dentro de trinta minutos não sou mais empregado do Paradise. – ele olhou no relógio. – Então posso disponibilizar todo o meu tempo para você.
- Ela está com a casa cheia de visitas, rapaz. – avisou Nicolas.
Edu fez de conta que não o escutou:
- Qualquer hora, está bem?
- Obrigada. – assenti com minha cabeça. – Você é muito especial para mim.
- E você para mim. – ele alisou meus cabelos uma última vez antes de entrar no carro e sair.
- Agora vai voltar a ter rolo com o motorista?
Suspirei e não respondi. Entrei em casa e ele foi atrás, insistindo em saber o que eu e Edu havíamos conversado antes.
Aproveitei que ele estava ali e todos reunidos na sala. As malas de Val e Alissa ainda estavam perto da escada. Não vi Lorraine e Felipe.
- Alissa, Val... Minha casa não é grande. E eu não gostaria que ficassem no resort, porque é tão impessoal. Quero que se sintam acolhidas aqui... Então se não se importam, poderiam se hospedar na casa de Nicolas. É maior... E aposto que serão bem recebidas e gostarão muito. Mas ainda assim faremos tudo juntas... Menos dormir. Podem até fazer as refeições aqui... Eu ficaria muito feliz.
Nisso vi Felipe e Lorraine descendo com as malas.
- Afinal, vou ou fico? – Lorraine perguntou sem descer.
- Para onde você vai?
- Nicolas havia ligado à tarde para Felipe pedindo que fôssemos para a casa dele. Agora você decide que vão as duas. Quem manda aqui, afinal?
Olhei para Nicolas e disse:
- Elas podem ir... Sem problemas.
- Eu já convidei meus “primos”. – ele piscou. – Tudo certo, rainha do drama. Você hospeda suas amigas e eu a nossa família.
Senti um frio na barriga. Sim, estava confirmado: ele queria me deixar louca, me internar e ficar com toda minha herança: boletos de dívidas e mais dívidas, um pai adorável e uma prima com uma família incrível. Era isso que eu tinha para deixar pra ele.
- Vou indo... – ele subiu ajudando Felipe e Lorraine com as malas. – Nos encontramos todos na boate às onze horas?
- Pode ser. – disse Lorraine. – Consegue uma babá para ficar com Vi?
- Eu fico com Vi. – falei.
- Como assim? – Felipe questionou.
- Não quero sair. Não estou com vontade. Podem se divertir e eu fico com minha afilhada linda.
Vitória correu até mim e subiu no meu colo, passando as perninhas ao redor do meu corpo e me abraçando forte. Meu coração amoleceu com o gesto da pequena.
- Nem pensar... Eu arranjo uma babá. – Nicolas disse.
- Nada de babá. Eu fico com Vi. – disse Otto. – Será um prazer. Aliás, eu amo o resort, mas balada não é para mim não. Estou muito velho pra isso.
- Não está velho nada, pai.
Ele veio até mim e me abraçou forte, junto de Vitória:
- Você precisa se divertir. Por muito tempo suportou festas horríveis e que não tinham nada a ver com você. Suas amigas estão aqui... Vá aproveitar.
- É claro que ela vai, tio. – disse Lorraine. – Venha Nicolas... Temos muito que conversar. E me diga, prefere que eu bata na sua cara antes ou depois de entrar na sua casa... Você pode escolher.
- Antes. – ouvi ele dizendo. – Minha mãe está em casa e não deixaria você bater em mim lá dentro.
- Ok, vou bater antes então.
- Ela bate mesmo. – avisou Felipe. – E dói.
- Eu não duvido. A prima dela não gosta de bater, gosta de apanhar... Na bunda. E que puxe os cabelos dela... Família estranha pra caralho. – Nicolas argumentou.
Todos me olharam e eu corei:
- Bem, eu preciso tomar um banho. Estou horrível. – subi com Vitória no colo, sem olhar para trás.
Nos arrumamos todas no mesmo quarto, como há mais de dez anos atrás fazíamos. Era como se tivéssemos voltado no tempo.
- E Nadiny? – perguntei. – O que aconteceu com ela?
- Está bem. Vai casar em breve. – disse Val, que sempre teve uma boa ligação com Nadiny.
- Não me diga que é com Cadu. – falei enquanto passava rímel nos meus cílios.
- Está louca? – ela riu. – Claro que não.
- Afinal, que fim deu Cadu? – perguntou Lorraine. – Achei até que ele pudesse ter morrido. Nunca mais vi ele. Nem Rodrigo.
- Ele casou há alguns dias. – disse Alissa enquanto passava um batom rosa.
- Cadu casou? Como vocês descobriram? – perguntei rindo.
- Eu vi uma lista no cartório. – disse Val. – Estava com uma cliente e enquanto aguardava fui ler a lista e vi o nome dele.
- Que loucura. E ao mesmo tempo, legal. Enfim, ele encontrou alguém. – falei.
- E eu que achei que ele viraria padre. Eu posso apostar que ele ainda é virgem. – disse Lorraine.
- Ele não era santo. – falei. – E tinha uma boa “pegada”.
- Cara, não consigo imaginar isso. – ela contestou.
Assim que terminamos, nos olhamos no espelho.
- Nem parece que tem um bebê dentro de mim. – disse Lorraine.
- Não mesmo. – Dani confirmou.
- Estamos lindas. – eu disse. – Vamos arrasar, como nos velhos tempos.
- Pina colada, bebê? – Alissa me abraçou.
- E depois Tequila? – lembrei.
- Bons tempos... Que ficarão na lembrança. Eu sou comprometida, então vou só dançar até me acabar... Se eu aguentar. Tenho uns bons quilos a mais e não uso salto alto há anos. – falou Alissa.
- O meu problema não é o salto. Mas não danço há anos. As festas que eu ia com Tom só tocava músicas ridículas. E eu bebia tanto que mal me aguentava em pé.
- Algumas coisas nunca mudaram então. – Val riu.
- Eu vou pegar todo mundo... Afinal, estamos em Paraíso. E quero tirar muitas selfies com as amigas mais lindas do mundo todo. – gritou Dani.