Capítulo 106
2662palavras
2022-07-25 06:09
Entrei na sala de Tom, sem bater na porta. O vi envolvido com vários papéis sobre a mesa. Um olho roxo cheio de maquiagem para tentar disfarçar e um nariz muito inchado com um curativo branco colocado cuidadosamente, por certo em um hospital.
- Que prazer encontrá-la aqui, ex-esposa. – ele disse mal olhando para mim.
- Alguém fez um estrago em você. – ironizei. – E como eu queria estar lá para ver.
Ele parou tudo e me encarou:
- Imagino. Mas aposto que Joana também fez em estrago em você naquela noite. E por culpa de Nicolas.
- Acha mesmo que colocá-la no meu lugar à frente dos seus negócios iria me ferir?
- Não foi para ferir você. Vou acabar com Nicolas Welling e sua tranquilidade nesta porra de lugar. Só saio daqui quando destruir o mundinho dele.
- Por quê?
- Porque ele me ligou... Ele foi atrás de mim... Para roubar minha mulher.
- Tom... Se não fosse desta forma, teríamos nos separado igual.
- Você me traiu.
- E você nunca me traiu, não é mesmo? Ok, desculpa, Tom. Eu não sei exatamente o que você considera trair, mas eu não fiz sexo com ele enquanto você estava viajando. Falo... Do ato em si. – tentei explicar confusa, sem saber se ele entenderia o que eu estava tentando dizer. – Sou pecadora... Traí meu pobre quase marido que sempre foi fiel e leal a mim... Fez-me promessas que sempre cumpriu, se colocou sempre no meu lugar e fez tudo para me deixar feliz. Sou uma pessoa horrível.
- O que você quer, afinal?
- Por que você se uniu à ela? Por que viajou sabendo quem ele era, nos deixando sozinhos na mesma casa? Há quanto tempo você sabia a verdade sobre Joana?
Vi nos olhos dele que ele não havia usado drogas. Ele estava limpo. Era Tom, o mesmo homem que conheci há alguns anos atrás. Só que agora ele não gostava mais de mim... Pelo contrário, queria acabar comigo. Eu via raiva em cada gesto dele.
- Ela marcou um encontro no dia que nos conhecemos pela primeira vez, na casa de Nicolas.
- E você foi, Tom? Mesmo sem saber o que ela queria?
Sentei na cadeira estofada na frente dele, sem ser convidada.
- Fui... Achei que ela queria que eu a comesse. – ele confessou confuso, com voz baixa.
Eu gargalhei:
- Sério? Mas você nunca me traiu, meu amor. Por que fez isso? Iria só para dizer a ela que era fiel a mim?
- Queria me vingar dele... Comendo a mulher dele.
- Como pôde? Você foi pior que ele, Tom. Tentou me ferir sem ter sequer certeza das suas suposições.
- Eu sei... Não fui honesto com você algumas vezes.
- Você dormiu com ela, Tom?
- Naquele primeiro encontro, não. Ela me contou que era filha do seu pai... E que Nicolas estava usando ela para se vingar de você.
- Ela sabia quem eu era antes mesmo de eu chegar?
- Sim.
- E você soube o tempo todo quem ela era? E ainda assim me deixou naquela casa... Com os dois? Ele era passado... Talvez se você tivesse ficado junto de mim nada teria acontecido.
- Você sempre gostou dele... E sabe disso.
- Ainda assim... Tudo que eu pedi foi para você não viajar e me deixar sozinha.
- Ela me mandou partir... Garantiu que acabaria com tudo que pudesse existir entre vocês. Planejamos você flagrar os dois juntos, na cama.
- Mas eu nunca vi esta cena...
- Ele não deixou. A impediu de estar na cama dele de todas as formas. E ela tinha certeza de que não seria rejeitada, pois sabia do desejo dele de vingança.
- Então o que vocês fizeram?
- Paguei a garota de programa.
Eu ri amargamente:
- Deus, Tom... Como você foi capaz?
- Ele não comeu ela também.
Ele não havia mentido. Nicolas me falou a verdade quando disse que não houve nada entre ele e a mulher na sua cama.
- E então?
- Então vimos que a situação era pior do que imaginávamos. E quando percebi que ele rejeitava todas as mulheres, senti que poderia realmente perdê-la. E que talvez ele tivesse desistido da vingança. Então retornei imediatamente... E já era tarde. Nosso plano não deu certo e ele já havia roubado você.
- Então você dormiu com ela e planejou aquela humilhação na festa?
- Aquilo já havia sido planejado por ela antes mesmo de você chegar. Seu pai vende cocaína, gatinha. Ele é um homem perigoso. Não sei como Nicolas conseguiu ficar envolvido tanto tempo nesta teia que ela armou para ele.
- E agora ela está aqui... Ajudando você. – eu ri ironicamente.
- Eu comi ela... Depois que voltei.
- E quem se importa? – levantei.
- Ela é melhor de cama do que você.
Olhei nos olhos dele:
- Nicolas também é melhor de cama do que você, Tom. – cheguei na porta e a abri. – E sabe o que mais? Eu adoro fazer boquete nele... E eu engulo tudo. E porra, é muito bom... Literalmente. E só pra constar: detesto fazer sexo com ele de camisinha. Exijo que ele goze dentro de mim. Ninguém me come melhor do que ele. – pisquei e saí, levando comigo todo o ódio que senti por ele naquele momento.
Vi todos me olhando quando fechei a porta da sala dele.
- Vão cuidar da porra da vida de vocês. – gritei, cansada de tudo.
Todos abaixaram a cabeça e voltaram ao que estavam fazendo. Minha vida sexual era o assunto diário naquele andar do escritório do Paradise Resort. Já sabiam que eu gostava de ser comida de quatro e levar palmadas. O resto era o que menos importava. Ninguém ousaria me dizer nada, por medo de Nicolas. Então eu pouco me importava.
Fiquei escondida no almoxarifado do andar de baixo até Eliete me ligar e dizer que a sala nova estava pronta me esperando. Quando voltei tive a impressão que todos me analisavam. Respirei e segui em frente. Um dia todos eles seriam passado na minha vida. Sequer lembraria do rosto deles.
Sentei na cadeira e fiquei olhando a vista da praia particular do resort. Nem Eliete sabia exatamente o q ue eu faria ali, além de vigiar de perto Joana e Nicolas.
Meia hora antes de encerrar o horário de trabalho, Eliete bateu na porta e disse:
- Visita, Juliet.
- Visita? – perguntei confusa.
Desde quando o meu local de trabalho era para receber visitas? Então vi Lorraine, Dani, Alissa e Valquíria entrando. Dei um grito e corri até elas. Nos abraçamos pulando feito crianças. Falávamos todas ao mesmo tempo, sem dar tempo de nos ouvirmos. Ríamos por não nos entendermos e continuávamos tentando contar o que estava havendo, sem nada dar certo.
Fechei a porta quando vi todos olhando curiosos para dentro da minha sala:
- Devem estar pensando: como ela é louca, só poderia ter amigas do mesmo nível.
Começamos a rir.
- Sentem-se, por favor. Eu estou tão, mas tão feliz... De ter vocês aqui.
Alissa e Valquíria sentaram-se nas cadeiras estofadas e Dani e Lorraine no sofá. Peguei minha cadeira e trouxe para perto delas:
- Eu não imaginei que viriam tão cedo... Nem tinha certeza de que viriam, na verdade.
- Nicolas cumpre suas promessas. – disse Lorraine.
- Não acredito que vocês ainda estão juntos... Depois de tanto tempo. – disse Val.
- Não estamos juntos. – confessei.
- Porque ela não quer. – avisou Dani.
- Não estão juntos, mas ontem estavam se beijando na piscina enquanto ele falava em várias maneiras que a foderia... Então não pense que ele pode estar livre para você, Val. – avisou Lorraine.
- Eu nem pensei nisso... – ela se defendeu.
- Nem pense, meu bem. Nicolas é de Juliet e Juliet é de Nicolas... Sempre foi e sempre será. – Lorraine enfatizou, caso ela não tivesse entendido ainda.
- Ah, sempre foi não... Eu vi ele ficando com Val e não foi uma nem duas vezes. – disse Alissa.
- Você não tem amor à sua carinha linda, Alissa? – perguntou Lorraine seriamente.
- Eles vão casar daqui a três anos e um mês. Nicolas até já escolheu a dama de honra. E eles morarão em um resort... Tem noção, meninas, nossa amiga vai morar num resort. Podemos vir para cá de graça todas as nossas férias. – disse Dani.
Estreitei meus olhos, confusa. Até Dani estava ameaçando as outras duas? Caralho, eram nossas amigas.
- E você, Val? Casada ainda?
- Não... Divorciada duas vezes. E acho que por hora, quero ficar longe de homens. – ela disse.
- Quer mulheres, sua safadinha! – Lorraine falou ironicamente.
- Não... Mas preciso de um tempo pra mim.
- E Adriano? Por que não deu certo? – perguntei curiosa.
- Uma longa história, amiga... Mas só para não deixá-la curiosa: ele chegou a me agredir.
- O quê?
- Ciúme... Sendo que eu fui a minha vida inteira completamente louca por ele. Ele foi o quarto homem que beijei e perdi a virgindade com ele. Ainda assim ele tinha um medo ridículo de que eu o traísse. Chegou num ponto que não queria nem que eu visitasse meus pais.
- Meu Deus...
- Adivinha o motivo da separação com o segundo? – perguntou Alissa.
- Não posso imaginar... – falei.
- O mesmo motivo. Então, meninas, ser santa não resolve de nada. Você pode ser agredida sem motivo e viver um inferno mesmo casando virgem. Então, de hoje em diante, meu conselho é: faça sexo com todo mundo, use camisinha e não case virgem. – ela sorriu.
Puxa, Val sempre foi um menina focada e apaixonada por Adriano desde sempre. Nicolas foi o segundo garoto que ela beijou. E pelo visto depois dele só houve mais um. Sem contar que o primeiro nem deveria contar, porque foi por pressão nossa. Ainda assim viveu uma história horrível de ciúme com o homem o qual ela amou a vida inteira. O que sobrava para mim então? Ainda bem que Nicolas não era assim... Nunca me cobrou nada. Nem sequer me perguntou sobre os outros homens que eu tive. Assim como não perguntei a ele, mesmo sabendo que houveram outras mulheres além de mim. Eu só não gostava de saber que ele fez sexo com Joana. Isso realmente me incomodava. E aposto que ele sentia o mesmo com relação a Tom.
- E você, Alissa?
- Continuo casada com Denis. Eu gosto dele pra caralho.
- Então se dão bem?
- Sim.
- Vocês duas se veem sempre? – perguntei.
- Sim... Estivemos lado a lado sempre. – as duas se deram as mãos.
- Eu meio que desapareci da vida de vocês depois da morte da minha mãe... Foram tempos difíceis.
- E nós compreendemos. Mas poderíamos ter estado mais tempo ao seu lado. Mas você largou tudo... E sumiu.
- Eu fiquei um pouco desnorteada.
- Então casou com Tom... E agora está com Nicolas? – perguntou Alissa.
- É uma longa história também. Ainda bem que temos tempo... Porque levará algumas horas para vocês entenderem o que realmente aconteceu. E só para constar, eu não estou com Nicolas. – olhei para Lorraine, a fim de que ela entendesse.
- Questão de tempo. – ela não se deu por vencida. – Ei, meninas, eu estou grávida. – ela sorriu. – Vou parir outro bebê em menos de sete meses.
- Nem parece... Você não tem barriga. – disse Val.
- Aposto que em uma semana vai aparecer. Vocês não tem ideia do que é a comida neste lugar. E tudo de graça, porque Nick é o dono da porra toda. – ela disse. – Eu como o tempo inteiro.
- E está fumando, mesmo grávida? – perguntei.
- Claro que não... Não pode fumar aqui, esqueceu?
- Mas fora, você fuma?
- Não, bobinha. Não sou uma mãe má... Só uma mãe louca. Falei aquilo só para incomodar Nicolas. Lembro que eu adorava atormentar vocês com meu cigarro. Porque caralho, vocês demoraram muito pra ficar juntos. Então eu ficava nervosa e fumava tudo que via pela frente.
A porta se abriu sem que ninguém batesse antes e Joana apareceu, sorrindo. Quando percebeu que a minha sala estava cheia, o sorriso morreu nos lábios dela.
- Meninas, esta é Joana Dawson. Filha bastarda do meu pai.
Elas olharam para Joana e disseram todas juntas, ironicamente:
- Oi, Joana.
- E o pai dela está a... – olhei no relógio. – Uma hora sem vender cocaína.
Ela me fuzilou com o olhar:
- Espere Nicolas saber desta festinha aqui, em horário de trabalho.
- Chame ele, querida. – disse Lorraine. – A festa não começa de verdade enquanto o senhor perfeito não chegar. Você ainda não sabe que ele jamais dirá não para Juliet?
- Puxa, a bastarda é feia pra cacete. – disse Dani. – Onde você botou seus peitos? Quero passar longe deste cirurgião.
- Que cheiro horrível de perfume falsificado. Sério, Juliet, isso me deixa passando mal. Desculpe, querida. – Lorraine olhou para Joana. – É que estou grávida... E não suporto nada falsificado. Me dá enjoo. Se não se importa em deixar o ambiente, eu agradeço... E meu bebê também.
- Aposto que ela botou silicone com o dinheiro que seu pai roubou de você, Juliet. – disse Alissa.
- Se Simon não tiver como devolver o dinheiro, acho que você vai ter que deixar os peitos com Juliet, querida. – disse Val. – Aliás, sou advogada. Comece a rezar para não perder também sua bunda, seu nariz e seus cabelos falsos. Porque eu vou tirar cada centavo de Simon Dawson...
- Quer fazer uma disputa entre amigas... Justa, o que acha? – perguntei à Joana, que me olhava em silêncio.
- Ops, você tem amiga? – Dani questionou.
- Todas da mesma laia de Juliet...Vagabundas e piranhas. Não preciso de amigas, dou conta de todas sozinha. – esbravejou Joana, tentando parecer calma.
- Cobra criada... – Lorraine disse. – Eu estou com desejo... – ela levantou. – De quebrar a sua cara, querida.
Ela saiu rapidamente, amedrontada e fechou a porta.
Começamos a gargalhar. E eu chorei de tanto rir, não me contendo. Minha barriga chegava a doer e me deu falta de ar. Não lembro a última vez que me diverti tanto. Acho que foi há anos, quando eu ainda estava com elas.
Nicolas entrou e ficou surpreso de ver todas ali:
- Bem vindas, meninas. Não sabia que chegariam tão rápido.
Ele deu um beijo em Alissa, que o abraçou:
- Quanto tempo, Nicolas. Você está mudado.
- Espero que para melhor. – ele disse sorrindo. – Val... Você está... Linda.
Enrijeci-me na cadeira. Será que havia sido uma boa ideia trazer Val para Paraíso? Porra, eu não gostei do comentário dele.
- Obrigada, Nicolas. – ela deu um abraço nele e recebeu um beijo no rosto. – Você também está bem. O tempo não foi cruel com você.
Ele riu:
- Viu o que você perdeu?
Senti meu coração bater mais forte e já nem sei se estava respondendo por mim.
- Nem fala... – ela sorriu. – Poderia estar aqui, sendo dona de tudo e podre de rica.
- Não seria nada. – disse Lorraine. – Ele fez tudo isso para Juliet. Porque queria trazer ela para cá e se vingar por causa de um mal entendido da porra do passado deles. Então se você e Nicolas tivessem ficado juntos, não haveria resort. E imaginem este lugar não existir no mundo... Seria um crime.
Elas começaram a rir.
- Bem, foi um prazer vê-las aqui, depois de tanto tempo. Espero que a estada de vocês seja tão boa quanto o que todos nós vivemos no passado, no Manhattan.
Deus, aquilo se referia ao que ele viveu com ela?