Capítulo 104
2151palavras
2022-07-25 06:08
- Ei, Nicolas, por que você decidiu que não se pode fumar nesta porra? – gritou Lorraine enquanto saía da piscina com a filha no colo.
Eu ri. Ela não conseguia se conter. Lorraine sendo Lorraine: sincera e sem papas na língua.
- Não fui eu que decidi... É lei.
- Mude a lei... Você o dono da porra toda.
- Querida... Não grite deste jeito. – pediu Felipe. – Ainda mais palavrões. Estão todos olhando para cá.
- Não tem problema, Felipe. – disse Nicolas. – Graças a vocês eu entrei na piscina do Paradise pela primeira vez. – ele enxugou os cabelos e balançou-os, ficando arrepiados.
Aquele homem era obra do diabo, porque de Deus não era. Nicolas era pura perdição. Não existia maior perfeição em Paraíso... E nem nos arredores. Ele era tão alto... O corpo era magro, os braços tinham leves músculos e as pernas eram perfeitas e bem torneadas. E não, ele não depilava, embora não fossem cobertas de pêlos. A cor dos olhos dele se confundia com a piscina ao meu lado e o mar à nossa frente. Sim... Eu molhei minha calcinha olhando para a obra de arte que era Nicolas Welling.
- Cuida para a baba não cair. – cochichou Dani no meu ouvido, fazendo-me sair do transe enquanto ele continuava a conversar com Felipe e Lorraine.
- Onde você foi? – perguntei.
- Procurando uns boys por aí.
- Encontrou?
- Garota, duvido alguém sair solteiro daqui.
Eu ri:
- Também duvido.
- Ei, onde vamos depois? – perguntou Lorraine?
- Que tal um jantar no melhor restaurante do resort? – Nicolas ofereceu.
- Claro que aceitamos. – ela disse enquanto secava Vitória e a erguia para o seu colo.
- Quando vamos ver Tom? – perguntou a menina.
Revirei meus olhos... Só o que faltava. A menina lembrava de Tom? Ele nem era tão apegado a ela.
Ainda assim a garota fez todos ficarem calados... Até a mãe, que não fechava a boca nunca.
- Tom não está aqui perto. – falei, sem ter certeza se era o certo a dizer.
- Tom e Ju. – ela disse, sorrindo lindamente, certa de que estava agradando.
- Só Ju... – eu tentei consertar.
- Ju e Nick. – ele falou sorrindo. – Ei, quer ser dama de honra no nosso casamento?
- O que é dama de honra? – ela perguntou.
- Vem no meu colo que eu vou te contar tudo que você vai fazer... E isso é bem importante.
- Nicolas, pare de mentir para a garota. – falei.
- Não sou mentiroso... – ele disse enquanto saia com ela no colo, falando sem parar, empolgado.
Vi todos os olhares sobre mim. Corei:
- Eu não vou casar com ele. – afirmei. – E não o perdoei.
- Então por que o beijou? – perguntou Lorraine.
- Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
- Aposto que você estava com a calcinha molhada enquanto olhava para ele minutos atrás. – piscou Dani.
- Dani, olha meu pai aí... – falei sem graça.
- Nicolas pisou na bola. – confirmou Otto. – Não foi legal a forma como ele mentiu. E principalmente o jeito que pensou em se vingar, usando o que mais doeria em Juliet.
- Acha então que ele não merece ser perdoado, Otto? – perguntou Lorraine seriamente.
- Não... Eu acho que esta decisão só deve ser tomada por Juliet. Eu entendo que vocês queiram os dois juntos... Confesso que eu também quero. Mas não é correto pressioná-la. Só ela sabe a dor que passou... Quando perdeu a mãe... E quando ouviu tudo que a bastarda da filha dele disse no microfone.
- Eu amo Nicolas... – confessei. – E isso não é segredo para ninguém. Nem mesmo para ele. Mas eu não quero entrar nisso sem ter certeza de que não guardo rancor. Não quero culpá-lo por qualquer dor que eu possa sentir. No momento eu o olho e tudo que quero é estar nos braços dele. – acompanhei-o com meus olhos ele com a menina nos braços e senti vontade de correr até lá e enchê-lo de beijos. – Mas preciso fazer isso com meu coração limpo.
- Você tem razão, prima. Desculpe-me. – disse Lorraine.
- Não precisa se desculpar, Lorraine. Está tudo bem.
- Bom, agora você vai precisar casar com ele de um jeito ou de outro, porque Vitória vai me atormentar até o dia de ser dama de honra, pode acreditar. – ela disse saindo atrás dos dois.
Suspirei:
- Como você aguenta ela, Felipe?
- Sou completamente viciado nesta mulher. – ele confessou.
Começamos a rir.
- Quem simula um afogamento para conquistar o salva-vidas? – ele argumentou. – Merece sim tudo que eu tenho de melhor.
- Ela é Juliet sempre foram muito ligadas... Desde pequenas. – explicou Otto.
- Eu sei... Foi muito bom para ela ter vindo vê-la. – ele me disse. – Ela sofria de saudade.
- Estou muito feliz de ter todos vocês aqui comigo. – confessei.
Dani me abraçou:
- Então em breve teremos Alissa e Val. E a felicidade estará completa.
- Com certeza.
Voltamos para casa e depois iríamos jantar juntos. Tomei um longo banho e me arrumei. Olhei-me várias vezes no espelho para ver se estava bem. Jantar entre família e amigos... E meu Nick. Quanto tempo não fazíamos aquilo. E eu estava disposta a não ficar no Nicolas naquela noite... E nem nas seguintes... Se eu conseguisse.
Ficar perto dele e me conter sem tocá-lo era tão difícil. Eu simplesmente não resistia. Mas não aceitar as carícias dele era uma forma de vingança e tortura para ele. O problema é que a tortura era para mim também.
Desci e estava um corre corre atrás de Vitória, que não queria colocar um vestido rodado que parecia de princesa. Lorraine corria atrás dela enquanto Felipe tentava convencê-la a vestir. Otto já começava a se envolver na confusão e Dani não havia descido, atrasando todo mundo.
Saí pela porta, para pegar um ar fresco. Nunca pensei em ter filhos e vendo aquela situação eu tinha até medo. Acho que nunca mais faria sexo sem camisinha... E pensei até se era possível usar duas para garantir. Acho que ser mãe não era fácil. E se meus filhos decidissem ser rebeldes sem causa como eu fui?
Andei um pouco, indo na direção da casa de Nicolas, mesmo sem querer ir. Por que diabos eu queria vê-lo? Quando percebi, já estava na porta dele. Ouvi voz de mulher e senti meu coração bater apressadamente e um frio na minha barriga. Seria Joana? Ou outra mulher?
Porra, aquele homem me enlouquecia. Bati na porta e quando ele abriu perguntei:
- Tem uma xícara de açúcar para emprestar? - sorri timidamente.
- Quer açúcar mesmo ou o dono da xícara de açúcar? – ele perguntou ironicamente.
- Eu só estava passando por aqui... Coincidentemente.
- Aham... – ele saiu da porta, dando passagem para eu entrar.
Assim que coloquei meus pés para dentro dei de cara com a mulher sentada no sofá, tranquilamente. Senti meu coração bater intensamente... Eu tinha quase certeza de que era...
- Esta é minha mãe. – ele disse.
Fui até ela incerta do que fazer ou dizer. Na dúvida, me apresentei:
- Muito prazer, sou Juliet.
Ela me analisou dos pés a cabeça e olhou para Nicolas, perguntando com um meio sorriso:
- Esta é a responsável por toda sua dor e tristeza de anos?
Senti aquilo como uma facada no meu coração. Ela não sorriu para mim... Pelo contrário, ficou séria e deixou bem claro que não queria ser simpática.
Ele passou o braço sobre meu ombro e falou seriamente:
- A mulher que eu amo. E com quem vou me casar.
Olhei para ele sentindo um frio na barriga. Como Nicolas conseguia dizer aquilo para todo mundo como se fosse realmente acontecer? Ele não tinha este direito... Ou tinha?
- Nick, eu...
- Olhe, Juliet, se quer que eu seja sincera: não gosto de você. Nunca gostei... E quando tiver filhos, perceberá o motivo. E espero que seus filhos não sejam os mesmo de Nicolas.
- Mas... Eu nem a conheço... – falei confusa. – Por que tanta raiva?
- Pois então, quando tiver filhos perceberá que nenhuma mãe gosta de pessoas que maltratam seus filhos ou os fazem sofrer.
- Mãe, chega. – ele falou exaltado.
Senti meu sangue ferver de ódio e retirei a mão dele do meu ombro, me voltando para a porta de saída. Antes que eu colocasse a mão na maçaneta, ele abriu e saiu comigo para rua.
- Perdoe minha mãe.
- Que porra eu fiz pra ela, Nick?
- Eu alertei que ela era diferente da sua família.
- Não precisava ser assim... Ela nem me conhece. Ou será que você fez uma péssima propaganda de mim enquanto tentava me destruir, usando meu próprio pai e a filha bastarda dele? – perguntei ironicamente, sentindo raiva.
- Ela acha que você me fez sofrer... E por isso a tratou assim. Mas quando ela conhecê-la melhor, gostará de você. Eu tenho certeza. E você dela.
- Eu não preciso ter nenhum tipo de relação com ela. – falei. – Até porque não temos nada, Nick.
- Não me importo com sua relação com minha mãe, Juliet. Eu só quero você...
Ele se aproximou e eu dei um passo para trás, certa do que fazia.
- Ela é depressiva, toma vários medicamentos. E tem bipolaridade. Então é um pouco complicado. Ela não vai ficar muito tempo aqui. E ela também tem um histórico de vida bem complicado. Mas é a minha mãe.
- Duas coisas... Primeiro: ela me julgou sem saber a verdade.
- E qual é a verdade, Juliet? – ele perguntou.
- Que se você sofreu, foi por culpa sua também. Você me deixou, Nick... E não o contrário. Eu fui atrás de você naquele dia... E você já havia ido embora. Tentei contê-lo de todas as formas. E quando voltou e me viu com Tom, não me deixou sequer explicar.
- Achei que já tínhamos conversado sobre isso... E nos perdoado por toda esta parte. Pelo visto o perdão veio só da minha parte e não da sua.
- Sim... Já conversamos, mas...
- Mas? – ele riu ironicamente. – Mas você vai jogar na minha cara o tempo todo precisou de mim e eu não estava lá... Assim como naquele dia eu também precisei de você... E você também não estava lá. E mesmo que sua mãe não tivesse morrido, você ainda assim não estaria comigo para me ajudar... Porque estaria em Paraíso, com o mau caráter do seu pai.
- Quer ouvir a segunda coisa? – perguntei.
- Quero... Vamos, termine de vez o que começou. Estou curioso.
- A segunda é que não me importo com o que ela pensa de mim... Porque não temos mais nada e acho que nunca mais teremos. – falei furiosa.
Ele sorriu amargamente e balançou a cabeça:
- Tudo bem. Acho que não temos mais nada para conversar. Bom jantar... Estou fora.
- Nicolas... Minha família não tem nada a ver com o que aconteceu entre nós agora...
- Claro, sua família não tem nada a ver... Mas a minha mãe tem.
- Eu não quis dizer isso...
- Cara, você vai ser egoísta até quando?
- Eu não sou egoísta.
- Certas coisas que você diz doem muito, Juliet.
- E certas coisas que você me fez também doeram... E muito.
- Eu nem cheguei a fazer... Será que você não pode me perdoar por ter tentado uma coisa e não ter concretizado de fato? Tentei contar... Fui impedido. Eu fiz tudo por você... Desde que a conheci.
- Nicolas, precisamos de um tempo... Ainda temos muitas mágoas dentro de nós.
- Não... “Você” tem mágoas, Juliet. Eu não tenho.
- Acabou de me dizer o que pensa.
- Cara... Você não entende. – ele gesticulava nervoso. - Tudo bem. Eu não vou mais insistir nisso. Estou fora. Faz o que você achar melhor.
Ele virou as costas. Antes que ele entrasse, perguntei:
- Não vai mesmo jantar conosco?
- Não... Perdi o apetite. Sinta-se livre de mim a partir de hoje.
- Nick...
Ele fechou a porta. E eu fiquei ali, sentindo meu coração se despedaçar mais uma vez por ele. Senti as lágrimas escorrerem e as sequei com força. Minha casa estava cheia e eu precisava levar todos para jantar... E fingir que estava tudo bem.
Mas não estava... E não sei quando estaria. Ainda tínhamos nossos corações quebrados pelo passado. E não sei quando aquela dor passaria. Ainda assim, ouvi-lo dizer que eu estava livre era o mesmo que me dar um tiro. Porque eu o amava mais que tudo na minha vida, independente do que acontecesse entre nós.