Capítulo 102
2419palavras
2022-07-25 06:07
Acordei com meu corpo dolorido na manhã seguinte. Meus olhos doíam e estavam inchados de tanto chorar. Coloquei o relógio para despertar às seis horas para fazer as malas.
Eram nove horas quando Otto entrou no meu quarto e eu ainda não havia organizado tudo nas malas.
- Achei que já estaria pronta. – ele disse.
- Estou tentando ser rápida.
- Quer ajuda?
- Sim...
Ele começou a retirar as peças dos cabides e ia me entregando par eu pôr nas malas. A cara dele estava péssima também. Estávamos ambos em silêncio enquanto arrumávamos tudo.
- Ainda quer trocar seu sobrenome? – ele me perguntou.
- Se você deixar, eu quero sim. Não foi uma coisa de momento...
- Obrigado... – ele disse. – Achei que pudesse ter ficado com raiva e por isso me pediu aquilo.
- Não... Eu ia falar com você já fazia um tempo... Mas fiquei um pouco receosa.
- Não deveria... É uma honra para mim que você tenha meu sobrenome.
- Assim que chegarmos, vamos providenciar isso, pai.
- Eu não consegui tempo para comprar as passagens. – ele disse. – Vamos para o aeroporto e lá esperamos até sair um voo com destino ao nosso estado. Não é difícil de conseguir.
- Tudo bem. Embora eu esteja mais calma hoje, não quero mais ficar aqui.
- Está mais calma? – ele deu um meio sorriso.
- Sim... Eu já sofri o que tinha que sofrer com a rejeição e o abandono do homem que engravidou a minha mãe.
- Acho que já podemos enterrar isso, filha.
- Enterrar? Não, ainda não. Eu só quis dizer que não vou ficar me lamentando por tê-lo encontrado e pela forma como a filha otária dele me tratou. Isso será enterrado só quando ele for para a cadeia...
- Não sei se ele iria para a cadeia pelo que houve há anos atrás. E você deu o dinheiro para ele... Então...
- Eu não disse que ele vai para a cadeia por isso, pai. Mas ele vai por outras coisas que faz... No entanto para mim, vê-lo atrás das grades, será a vingança pelo que ele fez com a minha mãe... Quando a chamou antes de ela morrer...
- E Nicolas?
- Você vai defendê-lo?
- De forma alguma. Ele fez muito errado. Mas independente disso, sei o quanto você o ama... E o quão ele faz bem a você. Então eu acho que não me oporia se você decidisse desculpá-lo.
- Não... Não posso. Infelizmente não tenho maturidade para isso. – confessei.
Olhei para as malas prontas e senti meu peito doer... Era difícil deixar tudo... E isso significava deixar Nicolas mais uma vez. E talvez fosse para sempre. Claro que eu estava completamente triste, magoada e dolorida pelo que ele foi capaz de fazer. Mas não amá-lo ou amá-lo menos era algo impossível.
Lu e Edu nos ajudaram a descer as malas. Quando fui abrir a porta para deixar definitivamente Paraíso, fiquei completamente atordoada ao ver na minha frente Lorraine, Felipe, Dani e a pequena Vitória.
Meu corpo ficou imóvel, quando Lorraine falou, quase gritando:
- Olha quem veio para o jantar, sua putinha.
- Dinda Ju... – Vitória abraçou-se à minha perna.
- Puta que pariu, este lugar não é de Deus... É obra do diabo.
- Do diabo? – perguntou a pequena Vitória, olhando para a mãe.
- Amor, não fale palavrões na frente de Vi... Eu já pedi. – disse Felipe calmamente.
- E então, vai nos deixar na rua ou nos convidar para entrar? – perguntou Dani.
Peguei Vitória no colo. Deus, ela estava enorme. O que Lorraine dava para ela comer enquanto não nos vimos? Retirei meu corpo da porta e enquanto eles entraram, com tantas malas que me parecia que iriam morar em Paraíso para o resto da vida.
- O que... Vocês estão fazendo aqui? – perguntei confusa enquanto Otto cumprimentava todos.
- Ei, você não vai dar um beijo na sua prima preferida?
Cumprimentei todos com beijos e abraços, sem largar Vitória do meu colo.
- Como assim o que estamos fazendo aqui? – questionou Dani.
- Aposto que o senhor perfeito decidiu fazer uma surpresa para ela. – disse Lorraine, piscando.
- E que bela surpresa. – eu disse olhando minhas malas.
- Para que estas malas? Mais alguém está vindo?
- Bem, é uma longa história. – falei. – Lu e Edu, podem levar... “Todas” as malas para os devidos quartos, por favor?
- Sim. – os dois concordaram, pegando as minhas malas e as de Otto novamente e depois voltando para pegar a dos convidados.
- Que surpresa que Nick me aprontou. – falei ironicamente.
Ele sabia que trazendo Lorraine e Dani eu não partiria. Elas eram meu ponto fraco. Eu jamais tiraria delas a oportunidade de aproveitarem aquele lugar.
- Aposto que você gostou muito. – disse Otto sentando no sofá e já conversando com Felipe sobre o resort.
- Isso aqui é o verdadeiro paraíso. – falou Lorraine olhando para tudo. – E Nick é o dono da porra toda. Estou pasma. Ele pagou um voo particular para nós. Mandou nos buscar em casa... Um carro com motorista. Eu disse que não tinha tempo de arrumar tudo e...
- Aposto que ele disse que se faltasse qualquer coisa para trazer ele não se importava em pagar para comprar aqui. – Dani completou.
- Exatamente, Dani. Aposto que ele limpa a bunda com dólares. – debochou Lorraine.
- Porra, você é terrível. – falei. – Ops, desculpe, Vi.
- Eu quebrei o braço, dinda Ju.
- E acredita que eu quebrei a perna? – eu ri, contando para ela.
- Como você quebrou a perna? – perguntou Dani.
- A moto de Nick caiu sobre mim.
- E Tom? Você já está morando com Nicolas? – quis saber Lorraine.
- Meninas... É uma longa... Muito longa história. – eu disse suspirando.
- Juliet, mais alguma coisa que queira ou posso ir? – perguntou Edu.
Levantei e fui até ele, com Vitória no colo.
- Tudo certo. Acho que minha partida está cancelada. E não sei por quanto tempo.
Ele riu:
- É impossível não admirar o senhor Welling, Juliet. Ele é muito esperto. E a conhece tão bem...
- Eu já disse que odeio ele?
- Não... E nem precisa. Seus olhos dizem o contrário do que seus lábios falam.
Balancei a cabeça veementemente, tentando me livrar de Nicolas na minha mente:
- Pode fazer o que quiser hoje, Edu. E veja com Nicolas como vai ficar daqui por diante, pois não volto para a empresa.
- Ok, vou ver com o senhor Welling. Talvez eu continue disponível para todos vocês, não é mesmo?
Fiz uma careta e fechei a porta, quase empurrando ele, que falava ironicamente.
- Quem é ele, dinda?
- Um amigo.
- Amigo? – perguntou Dani. – Pode me apresentar?
- Acho que ele já está comprometido...
- Droga, cheguei tarde. De onde saiu este Deus?
- Meu motorista.
- E você não aproveitou? Diga-me que dormiu com ele. – disse Lorraine.
- Querida, isso não pega bem para você... É casada. – bradou Felipe calmamente.
- Porra, Felipe... O motorista dela é tudo de bom. Mas você é ainda melhor, meu amor. – ela atirou um beijo para ele.
- O que fazemos hoje? Dia na praia? – perguntou Dani empolgada.
- Dia na praia, pai? – perguntei para ele.
- Dia na praia. – ele confirmou.
Claro que eu não sabia onde ficava porra nenhuma naquele lugar. Só sabia sobre o lugar onde eu trabalhava e a vista que eu tinha do mar da minha janela. Fui à praia uma única vez com Eduardo.
Eu ainda queria matar Nicolas... Mas ao mesmo tempo eu me sentia tão bem de ver as pessoas que eu tanto amava ali, junto de mim. Ele soube jogar... E eu tinha que dar o troco.
Otto levou todos para conhecer parte do resort, pois era impossível conhecer tudo num dia. E passamos na praia até o entardecer. Comemos num restaurante pequeno próximo das piscinas, que Vitória fez questão de aproveitar. Neste meio tempo consegui contar quase tudo que aconteceu para elas, incluindo a vingança, Joana e claro, minha aventura enquanto prostituta.
- Ah, Nicolas continua sendo o senhor perfeito. – disse Lorraine.
- Que parte de “ele mentiu para mim” você não entendeu?
- Desculpa ele... Afinal, trouxe nós para impedir você de partir. – falou Dani pegando um suco natural das mãos do barman que passava oferecendo. – Não existe gente feia em Paraíso? – ela perguntou retirando os óculos e analisando o homem que trabalhava.
Eu ri:
- Achei que você já tivesse casada.
- Casada e divorciada. Duas alegrias: o dia que fui morar com ele e também o que fiz minhas malas e fui embora.
Começamos a rir.
- E não, não vou perdoar Nick. – falei. – Embora esteja tranquila e relaxada.
- Vai se vingar também? – Dani ironizou. – Não que eu queira tratar vocês dois... Mas deixem disso. Vocês já não tem mais 18 anos. A vida é tão curta. Amanhã ou depois um de vocês se vai e daí? Vão chorar a perda do outro para o resto da vida?
- Ele se relacionou com a filha postiça de meu verdadeiro pai para me magoar.
- E você deu todo dinheiro que sua família economizou para seu verdadeiro pai enquanto ele lhe implorou que não fizesse. Brigou com ele porque ele contou para sua mãe... Disse que ele não sabia o que era família e ainda tripudiou em cima da relação dele com o pai. – disse Lorraine. – Puta que pariu, você é uma pessoa horrível, Ju. Eu também me vingaria de você.
- Está falando sério? – perguntei encarando ela.
- Estou. Eu não poupo você e sabe muito bem disso.
- Não acredito que depois de tudo que Nicolas me fez vocês vão ficar do lado dele. – lamentei tristemente.
- Ele pegou você numa esquina e te levou para um motel de beira de estrada. – Lorraine falou. – O que você quer mais do que um homem que esperou seis anos para realizar o desejo idiota de uma menina de 18 anos? Felipe está se fodendo para meus desejos. – ela olhou para ele.
- Vocês... Não estão bem?
- Claro que estamos. Estou com cara de quem não está sendo bem fodida? – ela gargalhou. – Mas desde que Vi apareceu, disputo com ela cada olhar e sorriso dele.
- Está com ciúmes da sua filha? – perguntou Dani confusa.
- Não é ciúme... É que antes ele era todo meu. Agora ele é todo dela. – ela sorriu. – E enquanto eu fico sim triste porque ele me vê em segundo plano, olhar para os dois juntos e perceber o amor que eles têm um pelo outro faz meu coração bater como a bateria do TNT.
Começamos a rir.
- E adivinhem? – Lorraine continuou.
- O quê? – perguntei não escondendo o riso que viria logo em seguida.
- Vou ter que dividir ele ainda mais.
- Como assim? – perguntou Dani.
- Estou grávida de novo.
- Não acredito! – abracei ela. – Parabéns.
- Espero que seja um menino. Daí Felipe vai ver o que é bom. Só vou ter olhos para o meu garoto. – ela garantiu.
- Pelo visto está tentando fazer vários filhos para o casamento de Juliet daqui a quatro anos. – disse Dani. – Capricha. Quero a criançada quebrando tudo.
- Claro, menina. Fico fazendo sexo obrigada com Felipe o tempo todo pra ter no mínimo quatro crias correndo no altar e tentando roubar o buquê da Ju. E eu correndo feito louca, porque Felipe não é capaz de dizer não para ninguém.
- O casamento está cancelado. – falei.
- Sério, rainha do drama?
Senti meu coração bater descompassadamente e virei, ouvindo Nicolas atrás de mim. Que porra... Ele ainda fazia eu sentir frio na barriga? Eu odiava ele... Não é mesmo?
Observei-o sem camisa, só de bermuda e chinelo e retirei meus óculos escuros, contemplando a visão perfeita daquele corpo.
- Este olhar não é de quem quer cancelar o casamento. Estou me sentindo nu. – ele falou.
- “Tira esta bermuda que eu quero você sério”. – não resisti.
Todos começaram a rir e eu também. Foi inevitável. E ele estava gostoso pra caralho.
Ele cumprimentou-as e Lorraine se agarrou ao pescoço dele:
- Seis anos, primo. Senti tanto sua falta. – ela confessou.
- E eu o sua, prima. Principalmente das suas loucuras.
- Nick, o que houve com a sua mão? – perguntei preocupada quando vi-o enfaixado.
- Nada sério. – ele disse não dando importância e continuando a falar tranquilamente com elas.
Eu continuei cismada com o que tinha acontecido. Havia me despedido dele na noite anterior e estava tudo bem. Ele ficou conversando um tempo com Otto e Felipe.
- Puta que pariu, você nem disfarça. – disse Lorraine. – Consegue parar de olhar para ele um minuto sequer?
- Eu... Não estou olhando para ele. – menti, virando meu rosto.
Dani riu:
- Ju, você simplesmente fala conosco com os olhos nele. Cara, desculpa ele.
- Tudo que a filha da puta da sua irmã postiça quer é isso: você longe dele. Mostra o contrário, caralho... Que você é adulta e vai ficar com ele. E ela que pegue o chato do Tom.
- Você nunca me disse que achava Tom chato...
- Achei que nem precisava. Metido... Idiota... Convencido. Diga-me pelo menos que ele era bom de cama e por isso você suportou todos estes anos.
- Claro... Que sim. – menti.
- Melhor que o senhor perfeito? – ela quis saber.
- Não. – falei imediatamente. – Ninguém faz melhor que ele.
Quando falei isso ele me olhou, sem saber sobre o que falávamos. Nos encaramos por um tempo e ele sorriu. Ah, como eu queria não amá-lo do jeito que eu amava. Seria tudo tão mais fácil.
- O cara fode bem, é dono da porra de um resort, te ama desde a adolescência, trouxe sua prima mais linda e toda sua família para cá e você vai ir embora e deixar um homem deste? Olha que alguém pega... E daí quero ver você vir reclamar depois.
- Ele trouxe vocês com a intenção de me fazer ficar.
- Então fica, mulher. – disse Dani.