Capítulo 97
2262palavras
2022-07-24 08:04
Coloquei uma calcinha limpa que encontrei no armário e uma camiseta dele, pois não encontrei nenhuma roupa minha ali.
- Preciso trazer umas roupas extras para cá. – falei.
- Até dias atrás o seu antigo quarto estava lotado de coisas suas. Se não tivesse se livrado de tudo, ainda estariam lá.
- Eu não precisava de tantas coisas, Nick. Fez-me bem me livrar de todo aquele peso que carreguei por cinco anos.
Sentei na cama, me escorando na cabeceira. Ele terminou de colocar a roupa e jogou sobre a cama um envelope pardo:
- Isso é para você.
Olhei curiosa e peguei, abrindo imediatamente. Eram os resultados laboratoriais dos exames que eu havia pedido para ele. O encarei enquanto ele deitou ao meu lado, fechando os olhos, visivelmente cansado.
- Obrigada, Nick. – dei um beijo no rosto dele. – Por ter feito os exames sem contestar.
- Está tudo bem, rainha do drama. Em troca vou ficar de bermuda... Quero relaxar. E não aceito críticas.
- Eu jamais faria isso. – falei ironicamente, passando as mãos sobre as pernas dele.
- Não comece... Não acenda meu fogo se não consegue apagá-lo depois.
- E quem disse que eu não consigo apagá-lo? Vou mostrar que acabarei imediatamente com ele...
Sorri ao ver a ereção dele novamente. Nicolas levantou e me puxou para baixo dele, deitando minha cabeça sobre o travesseiro e se ajoelhando sobre mim.
- Juliet, eu amo você.
Encarei aqueles olhos tão azuis que pareciam o mar de Paraíso. Sorri e toquei seu rosto:
- Nick, te amo ontem, hoje e sempre.
- Eu preciso te contar uma coisa... Sei que talvez a gente nunca mais se...
Nisso alguém bateu na porta.
- Fale. – ele gritou sem se mover.
- Senhor Welling, o senhor Panetiere está lá embaixo e insiste em falar com o senhor. Me desculpe incomodá-lo, mas ele está...
Nicolas levantou e eu fiquei ali, imóvel, sentindo meu coração disparar com o que ela disse.
- Estou indo...
- Não, Nick. Não vá. – eu pedi.
- Precisamos resolver isso de uma vez por todas.
Ele desceu sem me dar atenção. Eu peguei o telefone e liguei imediatamente para Otto. Fui até a escada e percebi que estava usando somente a camiseta de Nicolas. Isso incitaria ainda mais a ira de Tom. Voltei para o quarto, tentando ser rápida com um gesso molhado, pesado e que dava sinais que estava se desfazendo. Coloquei a roupa que eu estava usando antes e desci, o mais rapidamente que consegui. Os três já estavam ali, discutindo, no meio da sala, todos de pé.
Tom me olhou descendo e disse:
- Gatinha, precisamos conversar.
- Porra, pare de me chamar assim! – gritei indignada do meio da escada.
Como ele conseguia falar de forma tão gentil, como se nada tivesse acontecido anteriormente? Senti tanto nojo dele... Numa hora me ofendia na frente de todos, me chamando de vagabunda, dando detalhes das minhas preferências sexuais, me humilhando de todas as formas possíveis. Agora olhava para mim e me chamava de “gatinha”, como se fosse um pobre inocente no meio de tudo.
- Ela não vai falar com você. – disse Nicolas.
- Nicolas, acho que sim, vamos resolver esta situação de uma vez por todas. – disse Otto. – Vamos para a nossa casa, Tom. E você conversa com Juliet. E eu estarei junto. Podemos fazer isso. Em troca, isso tudo acaba definitivamente. Você a deixa em paz para sempre. E aceita que vocês não são mais um casal.
- Eu concordo com suas imposições, Otto. – ele disse me olhando.
Não achei correta a decisão de Otto, mas também não contestei. Se ele achava importante que eu conversasse com Tom novamente e enfatizasse pela milésima vez que estava tudo acabado entre nós, eu faria.
- Você não podia ter ofendido ela em público. – falou Nicolas.
- E você não tinha o direito de comer minha mulher enquanto eu estava viajando. – ele revidou.
- E você não deveria tê-la deixado sozinha se sabia que isso poderia acontecer, já que desde sempre estava ciente de quem eu era.
- Confie nela...
Eu ri ironicamente:
- Foi fiel a mim nestes dias que esteve fora, Tom?
- Claro... – ele disse.
- Olhe nos meus olhos, Tom. Diga-me que você foi fiel nestes dias... E que nunca, em nenhuma viagem, esteve com outra mulher.
- Está com ciúme, Juliet?
- Tom, não se trata de ciúme. Só quero que me diga a verdade. E que reflita sobre quem traiu quem aqui...
- Nunca traí você. – ele disse. – E posso provar.
- E eu posso provar o contrário. – disse Nicolas. – Todo mundo sabe sobre suas mulheres em cada cidade que você vai...
- Boatos. – ele disse. – Assim como os que espalham sobre vocês dois. – ironizou.
Eu ri:
- Tudo bem, Tom. Se prefere nunca me dizer a verdade e me culpar por tudo, eu aceito. Não quero mais discutir isso. Para mim está encerrado.
- Vamos conversar na outra casa. – disse Otto abrindo a porta.
Fomos para a minha casa. Eu não sentei, pois não me sentia à vontade com a presença dele. Deixei a porta aberta, com medo de que Tom tentasse agredir a mim ou a Otto.
- Tom, isso acabou. – disse Otto. – Você tem que aceitar que Juliet não quer mais estar com você.
- Otto, ela está fazendo isso por causa de Nicolas.
- E que diferença faz por qual motivo ela está fazendo isso, Tom? Ela não quer e pronto, acabou.
- Eu não posso acreditar que isto esteja acontecendo.
- Deveria pensar antes de ter me feito promessas e nunca ter cumprido, Tom. – eu disse. – Não foi Nicolas o culpado, foi você.
- Não importa o que eu fizesse, se você o encontrasse novamente, eu a perderia da mesma forma.
- Tom, se você ao menos tivesse tentado mudar, talvez eu pudesse ter me apaixonado por você.
- Eu te dei amor... E tudo que você quis.
- Não... Você me deu todo seu dinheiro, Tom. E me cobrou na primeira oportunidade que teve. Não foi amor... Era conveniente me ter ao seu lado. A mulher que o aceitava com todas as suas mentiras, que fechava os olhos para suas traições. Que aceitava sua casa cheia de pessoas estranhas em festas regadas a bebidas e drogas... Como consegui aguentar por cinco anos? Eu me pergunto isso... Eu me anulei por você, Tom. Eu vivi a sua vida, fiz tudo o que você quis e nunca pensei em mim mesma. Porra, eu convidava você até para irmos a motéis em momentos que sentia que poderia melhorar nossa relação. Mas você nunca quis... Porque sempre estava ocupado demais quando era para fazer algo que eu queria. Dias antes de suas festas você estava ocupado preparando-as... E depois se curando da ressaca das drogas e bebidas. Meu pai era um viciado e por este motivo eu não o conheci. E você sempre soube disso. Minha vida inteira eu tive medo de ter filhos pensando que poderia acontecer o mesmo que houve com minha mãe: o pai da criança abandonar o próprio filho. Eu nunca escondi de você o quanto isso afetou a minha vida... E o curso dela, quando ele voltou e eu entreguei todo meu dinheiro a ele. Até hoje eu me culpo, achando que ele usou o dinheiro para algo ilegal e não para a cirurgia do garoto. E você simplesmente ignora tudo isso... E usa cocaína dentro da nossa própria casa... Eu nunca tive esperanças de que você mudaria, Tom. Ao mesmo tempo, não tinha forças para fugir daquele casamento fajuto que vivíamos.
- E você acha que Nicolas é o homem perfeito?
- Não, eu nunca disse isso. – Porra, eu achava sim.
- Se você acha que eu sou uma pessoa tão horrível assim, vá na festa de Joana neste final de semana. E conheça quem é o verdadeiro Nicolas Welling, gatinha. – ele riu. – Vá junto, Otto. Vamos ver se ele continuará a ser o seu protegido.
- Do que você está falando, Tom?
- Vá e veja com seus próprios olhos, Juliet. Depois me diga se ele não foi muito mais cruel do que eu.
Senti meu coração bater descompassadamente com as palavras dele.
- Se quiser um ombro amigo depois da festa, é só me chamar. Estarei disponível. – ele disse saindo e fechando a porta.
Otto me olhou:
- Do que ele está falando?
- Otto, eu não sei... Mas desde o início eu achei que Joana me chamou para ir na casa dela por algum motivo específico. Nunca acreditei na história da surpresa de Nicolas. Acho até que ela foi amadora nesta desculpa para me convencer a ir. Mas eu não sou amadora como ela. Quando eu desconfio de algo, geralmente estou certa.
- O que você acha que Nicolas pode estar escondendo de você?
- Não sei... Mas eu vou descobrir.
- E se ele a impedir de ir?
- Não vai conseguir. E o que quer que seja, Tom também sabe. E se eles não me falaram e querem que eu veja com meus próprios olhos é porque é muito pior do que eu imagino.
- Nicolas não faria nada ruim com você, Juliet.
- Vamos ver no sábado, Otto.
- Vai conversar com ele sobre isso?
- Não... Mas o fato de ele ter tentado me impedir de ir à festa me deixou ainda mais curiosa.
- Espero que não seja nada grave...
- Eu também. Não quero me decepcionar com Nick novamente... Acho que eu não conseguiria me recuperar.
Otto me abraçou:
- Não vai ser nada...
Liguei para Nicolas e aleguei estar cansada e não retornei para a casa dele. Aquela dúvida que Tom me deixou fez com que eu tivesse uma péssima noite. Fiquei inquieta e amedrontada com o que poderia estar por vir. Ao mesmo tempo que eu tinha curiosidade sobre o que Nicolas estaria me escondendo, eu temia o fim da minha felicidade. Até o exame ele havia feito sem contestar. Ele era o senhor perfeito... O que ele poderia fazer para me deixar tão triste?
Tentei controlar minha ansiedade, pois talvez não fosse nada tão grave ou mesmo um simples plano de Tom e Joana contra nosso amor, na tentativa de nos separar.
Na manhã seguinte, Nicolas me levou ao hospital e tiraram meu gesso três dias antes da data marcada. O osso colou e finalmente eu estava livre das muletas e daquela coisa horrível na minha perna.
O rosto de Nicolas ficou com um hematoma e o nariz e boca seguiam inchados, mas ele disse que se sentia bem.
Quando achei que estávamos voltando para o resort, ele passou direto com o carro.
- Onde vamos? – perguntei.
- Surpresa.
- Por isso o dia de folga?
- Claro... Queria aproveitar você de um jeito ou de outro. Depois de levar uns socos por sua causa, você me deve uma.
- Até duas... – alisei os lábios dele.
- Nick, você disse que tinha algo para me dizer ontem, quando fomos interrompidos por Tom. O que era?
- Eu... Conto-lhe depois.
- Não pode ser agora?
- Não... Depois, eu juro.
- Ok.
- Juliet, você não irá na festa de Joana, não é mesmo?
- Não. – menti. – Mesmo com a insistência dela.
- Joana não trataria você bem lá.
- Eu imagino. Vocês tem se visto ou se falado?
- Não. Já faz um tempo.
- Onde você a conheceu, Nick?
- Na faculdade. Estudamos juntos... Fora de Paraíso. Ela parecia uma garota legal. Mas depois descobri que não era tanto.
- E por que continuou levando adiante tanto tempo se ela não era “tão legal”?
- Por que você levou o casamento com Tom adiante se não era “tão legal”? – ele me fitou rapidamente enquanto dirigia.
- Entendo o que você está tentando dizer... Bela comparação.
- Eu prometo que vou lhe contar tudo... Mas não agora, meu amor.
Ele dirigiu até um Hotel Luxuoso que ficava em outra praia.
- Isso é Paraíso ainda? – perguntei enquanto ele se dirigia para o estacionamento coberto.
- Não. Uma cidade próxima.
- O hotel é de um amigo seu? – ironizei.
- Mais ou menos. – ele riu descendo e indo me ajudar.
- Ei, estou bem, esqueceu?
- Força do hábito. – ele riu. – Ajudar você a descer e subir do carro.
Entramos por uma pequena porta e havia um elevador, nada mais. Ele apertou o quinto andar. Logo descemos num corredor cheio de portas, muito bem decorado.
Ele passou um cartão na porta e ela abriu-se automaticamente:
- Você já tinha o cartão? – perguntei confusa.
- Eu havia preparado isso para a data que você tirasse o gesso... Como foi antes, antecipei o momento. – ele me pegou no colo, me surpreendendo.
- Nick, eu posso andar.
- Não aqui... Enquanto puder carregá-la, eu vou carregar. Porque eu amo você nos meus braços.
Passei meus braços sobre o pescoço dele, aceitando a gentileza carinhosa.
O local era amplo e tinha visão da praia com ondas enormes e um calçadão à beira mar.
- O que vai acontecer aqui mesmo? – perguntei ironicamente.
- Eu paguei por privacidade, rainha do drama. Então, você pode gritar o quanto quiser. E eu vou mostrar o que vai acontecer aqui hoje. – ele disse me depositando na cama macia que estava próxima.