Capítulo 89
1944palavras
2022-07-24 08:00
Eles foram levantando e eu nem tive certeza se realmente estavam satisfeitos.
- Vocês comeram tão pouco. Acharam a comida ruim? – perguntei.
- Estava tudo ótimo, mas precisamos trabalhar, não é mesmo, Eduardo? – disse Eliete.
- Eu estou de folga. – ele reclamou inocentemente.
- Quer que eu arrume um trabalho extra para você hoje, rapaz? – perguntou Nicolas seriamente. – Ou prefere que eu abra seus olhos para a garota que está ao seu lado?
Eliete ficou vermelha na mesma hora. Até eu acho que fiquei, pois Nicolas foi tão direto.
Eles saíram e Nicolas me olhou, enquanto eu ainda estava de pé, me segurando com as muletas:
- Quer mesmo ir ao luau deste jeito?
- Quero. Eu nunca fui a um luau na praia.
Ele se aproximou e me abraçou:
- Quero ser o primeiro a levar você a um luau... E também o último.
Soltei as muletas e envolvi o pescoço dele, trazendo-o para perto de mim:
- Acabou com meu encontro de novo, senhor Perfeito.
- Você só pode ter encontros comigo, rainha do drama.
- E você pode ter encontros com outras? – perguntei.
- Não mesmo... Sou todo seu, rainha do drama. Sempre fui... E você sabe disso.
- Mas perguntou sobre Val...
- Não perguntei sobre Val. Perguntei sobre suas amigas. Não era meu interesse ela especificamente. Ei, você está com ciúme de Val? – ele riu.
- Claro que não.
Ele abaixou a cabeça e encostou os lábios nos meus, sem beijar. Senti sua respiração junto com a minha. Aquilo era um verdadeiro teste de sanidade, tê-lo junto dos meus lábios e não beijá-lo. Era sobre quem conseguia segurar o desejo por mais tempo? Com meus lábios ainda secos, envolvi o lábio inferior dele, ficando assim um tempo, sentindo meu corpo estremecer e o fogo ferver o sangue dentro de mim. Com minha língua acariciei o lábio dele e então ele não aguentou mais, colocando a língua dentro da minha boca, dançando perfeitamente com a minha. Suas mãos desceram pelas minhas costas lentamente e ele disse entredentes:
- Como consegui ficar tanto tempo sem beijar a sua boca?
- Esqueceu que foi escolha sua?
- Vou me arrepender pelo resto da minha vida.
- E eu vou compensar cada beijo perdido.
A porta se abriu e nos soltamos imediatamente. Era Otto, de chinelos, bermuda, camiseta, óculos de sol e usando um boné do resort.
- Oi, crianças. Queria dizer que fui eu que atrapalhei o momento de vocês, mas não foi não. Tom está chegando.
- Tom? – perguntei surpresa. Quem era Tom mesmo?
- Ele está na casa de Nicolas. Então suponho que a próxima parada é aqui.
Nicolas me colocou no sofá. Estávamos ofegantes e minha calcinha estava tão molhada que eu precisava de um banho urgente.
- Pego você às 19 horas. – ele disse dando um beijo no minha testa.
- Vou esperar.
- Vou lá receber seu ex... E tentar explicar que não foi intencional você ficar morando no lado da minha casa.
- Claro, poderia ser ele, não é mesmo? – disse Otto. – Mas por que não ela?
Nicolas riu, balançando a cabeça e saiu.
- Ei, agora você passeia pelo resort enquanto eu fico aqui de molho?
- Filha, é tudo de graça... No melhor lugar do mundo. Acho que eu poderia morar aqui. E passar o resto da minha vida sentado de frente para o mar, tomando água de coco e olhando o tempo passar feito uma paisagem na frente dos meus olhos. Sua mãe amaria este lugar.
- Não encontrou uma mulher legal por aqui?
- Muitas... Mas nenhum faz meu estilo.
- Acho que você precisa se dar uma chance, pai. Já passou tanto tempo...
- Talvez um dia chegue a hora. Talvez nunca chegue. Não sei como vai ser. Mas por enquanto eu não quero me envolver com ninguém. Olga ainda está dentro de mim. E quando cheguei aqui e vi você, percebi que ela está mais viva do que nunca. Olhar para você é como ver ela.
- Será que um dia este sentimento passará? Esta saudade que dói tanto e chega a sufocar...
- Acho que não. Foram seis anos de saudades que não passaram. Ver você e Nicolas foi como voltar no tempo. Isso me fez bem... E me trouxe boas lembranças. Ela gostava muito de vocês juntos. E sempre achou que Nicolas lhe fazia bem. E hoje vejo que ela sempre teve razão.
- Pai, eu acho que não quero ir embora por enquanto.
- Eu sei... Onde você estiver, eu estarei. E depois do casamento também...
Eu ri:
- Falta quatro anos.
- Pois bem... Estarei lá, levando você ao altar.
- Como um perfeito pai.
- Você foi a filha que eu escolhi para mim.
- E você o pai que eu escolhi. Desculpe demorar tanto tempo para perceber o quanto eu o amava e você era importante para mim.
- No fim, eu sempre soube que você tinha me escolhido. – ele piscou o olho.
- Aposto que este seu convencimento todo é influência de Nick.
Alguém bateu na porta. Respirei fundo. Já sabia quem era. Otto abriu:
- Boa tarde, Tom.
- Parece que você já estava me esperando, Otto.
- Imagina... Impressão sua. Não digo seja bem vindo porque não tenho certeza se você é.
- Você já foi mais simpático, Otto.
- E você menos cafajeste com a minha filha. – disse Otto saindo.
- O que deu nele? – perguntou Tom.
- Acho que está se perguntando como ficamos tanto tempo juntos.
Tom balançou a cabeça confuso e sentou ao meu lado, me dando um beijo no rosto:
- Como eu já disse, não foram cinco dias, foram cinco anos. Então Otto tem que entender que houve sentimento, sim.
Revirei meus olhos, suspirando:
- O que você veio fazer aqui, Tom?
- Ver como está minha ex esposa. E o que ela faz ao lado da casa de meu sócio e eu do outro lado da Villa. Pensei comigo mesmo: isso pode ter sido planejado com antecedência, enquanto eu estava viajando a negócios inocentemente?
- Pode ser mais claro? O que exatamente você está tentando dizer?
- Eu? Nada não. Só tentando entender mesmo. E imaginando o que eu seria capaz de fazer se fui corno por cinco anos.
- Como pode pensar isso de mim?
- Sei lá, gatinha.
- Não me chame de gatinha.
- Não posso não chamá-la assim. Você é a minha gatinha. E sempre será.
- Tom, não dificulte as coisas.
- Acha mesmo que vou deixar você ficar com ele assim, sem lutar?
Eu não queria que Tom soubesse que havia algo entre mim e Nicolas. Imaginar era uma coisa, mas ter certeza era outra. Isso traria problemas a nós dois. Seria melhor darmos um tempo para ele assimilar tudo.
- Eu não vou ficar com Nicolas, Tom. Nós não temos nada, eu garanto. Ficamos... Amigos, eu acho.
- Em tão pouco tempo? Bem, então o meu problema é o motorista?
- Tom, ponha na sua cabeça: não estamos mais juntos. E por enquanto eu não quero me envolver com ninguém.
- Quem lhe deu as flores? – ele apontou para o buquê.
- Eliete, minha secretária. – menti para não criar problemas.
Eu não tinha mais nada com ele e ainda assim tinha que mentir. Eu sentia um pouco de medo dele. Não de me agredir ou algo do tipo, mas do que ele poderia fazer para tentar destruir a minha vida.
- Juliet, me desculpe. Tento me conter, mas é difícil para mim. Porque eu ainda gosto de você. Sei que não estamos mais juntos, mas isso dói em mim. Eu sei onde eu errei, exatamente. E fico me perguntando porque eu não tive uma segunda chance.
- Como não teve uma segunda chance? Eu lhe dei muitas chances, Tom.
- Realmente conversou alguma vez seriamente comigo? Quando algo não lhe agradava você bebia e comprava, só isso. Eu sabia que você estava furiosa quando via sacolas por todo o quarto. Não era mais fácil botar para fora e me dizer?
- Quantas vezes eu lhe disse: não quero que dê uma festa, Tom. Não quero que beba, Tom. Tive uma vida praticamente destruída pelas drogas, Tom.
- Gatinha, eu escolhi você para ficar comigo para sempre.
- Nem sabemos se existe para sempre, Tom. Não é assim... Você também precisa ser escolhido. Eu não quero magoar você, entende? Sim, você fez coisas ruins e que me magoaram. E eu também magoei você. Não fui a companheira perfeita. Mas a gente precisa se dar uma chance de sermos felizes... Nem que seja com outras pessoas. Eu não era feliz. Você era?
- Sim.
- Então por que as drogas e a as bebidas?
- Não tinha a ver com felicidade ou sentimentos.
- Sério?
- Você nunca disse que me amava...
- Porque eu nunca senti isso. Nunca menti sobre meus sentimentos e você sabe disso.
- Eu trouxe um presente. – ele disse tirando o bolso uma pequena caixinha aveludada.
Assim que ele me entregou eu senti meu coração palpitar. O que fazer com Tom? Devolvi a caixa sem abrir:
- Tom, eu não quero presentes. Entendo sua preocupação comigo, mas não preciso de nada.
- Você sempre amou presentes.
- Não torne isso mais difícil... Por favor.
Ele abriu a caixa e dentro tinha um anel lindo, com uma enorme pedra de diamante.
- Este é um pedido oficial, gatinha. Aceita casar comigo?
Pensei que fosse brincadeira. Mas não era. Ele continuava sério. Achei que estar com Tom era um problema. Mas acho que meus problemas com ele estavam apenas começando. Fechei a caixa e olhei nos olhos dele:
- Você usou cocaína hoje?
- Por que você acha isso, gatinha?
- Tom, usou ou não? Se gosta tanto de mim como alega, fale a verdade. Eu mereço saber.
- Só um pouco, gatinha. – ele disse levantando. – Para me dar coragem de entregar isso.
Senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Eu não sei o que mais me doía: a não aceitação dele pelo término ou saber que ele estava entrando no fundo do poço e eu poderia ser a responsável.
Ele sentou novamente e limpou minhas lágrimas:
- Não chore, gatinha. Suas lágrimas doem dentro de mim.
- Tom... Eu preciso viver a minha vida.
- Pode viver, meu amor. Junto de mim.
- Não quero viver a minha vida com você, entende?
- Não. Eu quero casar com você. Eu quero ter filhos com você.
E eu só quero viver o mais longe possível de você, Tom. Foi isso que passou pela minha cabeça. Mas eu não poderia dizer isso para ele. Quando eu teria paz?
- A hora da visita acabou. – disse Otto. – Foi um dia cheio e ela precisa descansar.
Tom olhou para Otto e levantou:
- Ok. Sei quando estou sendo inconveniente.
Ele me deu um beijo no rosto, que chegou a me dar ânsia. Antes de abrir a porta, ele disse:
- Só gostaria de lembrar que você está aqui por minha causa, Juliet. Deixar-me, implica sair do resort.
- Ou não. – disse Otto. – Acho este assunto totalmente irrelevante, Tom. Esta casa pertence a Nicolas Welling pelo que sei. E ele deu total liberdade para nós aqui. Então peço que você saia daqui imediatamente. Ou pode ter problemas com o dono do resort.
- Eu também sou dono.
- Pelo que sei, de uma parte muito, mas muito pequena. Então, fora.
Ele nos olhou com raiva e saiu.