Capítulo 88
2722palavras
2022-07-24 07:59
- Eu soube o que houve com a sua perna. Nicolas me contou. E fiquei preocupada. – ela explicou, entrando sem ser convidada.
- Jura? – perguntei ironicamente.
Ela sentou, me encarando. Que mulher petulante. Inicialmente só não tínhamos simpatia uma pela outra. Mas lembro exatamente das nossas palavras trocadas na porta do banheiro da casa de Nicolas há um tempo atrás, quando ela me disse que ele era dela.
- Como se sente? Doeu muito?
- Está mesmo interessada em saber? – perguntei sarcasticamente.
- Juliet, quer que eu traga algo para vocês?
- Não, obrigada, Lu. Minha visita logo irá embora, não é mesmo, Joana?
- Não sei... É?
- Mas pode preparar algo para o almoço, Lu. Tenho visitas logo em seguida.
- Eu não sou visita?
- Claro que é, Joana. Mas não do tipo que eu convidaria para o almoço. – eu sorri.
- Bem, acho que começamos com o pé esquerdo. E eu quero me redimir. Fiquei chateada por você estar com a perna quebrada e impossibilitada de fazer tantas coisas aqui em Paraíso.
- Fico feliz com sua preocupação. Mas sinceramente, não sinta por mim.
- Juliet, eu sempre fui amiga de Nicolas. Fizemos faculdade juntos e criamos um vínculo afetivo forte. Sim, fizemos sexo algumas vezes. Mas eu sempre soube que ele gostava de outra pessoa. E quando você chegou e tive a confirmação de quem era a pessoa. Fiquei insegura e tive medo de perdê-lo. Mas conversamos seriamente. E Nicolas me explicou que sempre continuaremos a ser amigos, independente do que aconteça.
Olhei para ela confusa. Eu não conseguia imaginar Nicolas dizendo aquilo.
- Eu faço aniversário no próximo mês. – ela disse. – E pensei em mudar a data, em função de você estar com a perna assim. Mas Nicolas já havia combinado comigo de fazer uma surpresa para você.
- Na sua festa?
- Sim... Faz um tempo que ele está planejando isso. E eu tenho certeza de que você vai gostar muito da surpresa... Que foi preparada com muito carinho por ele. Com a minha ajuda, é claro. E por isso não vou poder mudar a data da comemoração.
Eu não disse nada. Achei tudo muito estranho.
- Posso confirmar sua presença no meu aniversário, Juliet?
- Eu não sei...
- Leve seu pai junto, caso se sinta mais segura. Sei que ele está com você agora. Não quero que Nicolas fique feito bobo e você não apareça. E não conte para ele que eu lhe disse sobre a surpresa... Afinal, deixaria de ser tão surpresa.
- E afinal, qual seria a surpresa?
- Isso eu morro e não conto. – ela sorriu. – Sei que não podemos ser amigas e nem eu lhe pediria isso. Mas por Nicolas, podemos pelo menos não ser inimigas. Eu gosto dele e sei que você também. E para ele não seria bom perder nenhuma de nós.
- Eu não vou ficar aqui em Paraíso, Joana. Minha estadia aqui é passageira. Assim que me recuperar, pretendo voltar para minha casa, minha cidade.
- Entendo... Ainda assim, não pode partir sem ver o que Nicolas lhe preparou com tanto carinho. Posso contar com você e seu pai na minha casa?
- Eu... Creio que sim.
- Ok. E confio que você não contará o nosso segredinho ao Nicolas, não é mesmo? Afinal, é para o seu bem.
- Pode confiar.
Alguém bateu na porta. Ela me olhou. Gritei por Lu, que logo veio abrir.
Era Eduardo, que chegou novamente com flores. Eu não entendia qual a dele com as flores... E sorri gentilmente, pensando no quanto ele tentava ser romântico justo comigo... Mal sabendo que flores não me agradavam em nada. Eu não levava flores nem no túmulo da minha mãe. Até achava bonitas flores, desde que plantadas num lindo jardim. Cortadas e enroladas num ramalhete coberto de plástico enfeitado para ir a um vaso e morrer depois de uma semana era um fim trágico para as pobres flores coloridas que ele trouxe. Sim, dois buquês em dois dias. Eu esperava que aquilo não fosse muito caro em Paraíso. Ou, no mínimo, que ele tivesse uma plantação em casa e soubesse decorar.
- Lindas flores. – falei sem ter certeza se minha expressão realmente ficou de acordo com minhas palavras. – Mas não precisa se incomodar...
- Não é incômodo. Amo flores.
- Que legal! . – sorri querendo cortar meus pulsos.
Ele e Joana se olharam.
- Ela já está de saída. – avisei, sorrindo gentil e ironicamente. Hora de ir, amiga da onça.
- Pode levar ele na minha festa também, se quiser. – ela disse se levantando e se dirigindo para a porta.
- Obrigada pelo convite e por sua extrema preocupação comigo, Joana.
- Lembre-se, é por Nicolas.
Ela saiu, com seu perfume falsificado e seus peitos siliconados e eu revirei meus olhos.
- A festa de aniversário dela? – Edu me perguntou.
- Sim... Você já sabia?
- Na verdade a festa de aniversário dela é o evento do ano em Paraíso. Sempre foi...
- Eu não sabia.
- Sempre nos melhores lugares... Só com as pessoas mais importantes.
- Bem, então somos privilegiados.
- Claro que eu não vou. – ele riu. – Mal conheço ela e nem gosto.
- Mas foi convidado, veja que sorte a sua... A festa só com as pessoas mais importantes.
Começamos a rir.
- E então? Muita dor?
- Incrivelmente não. Só ontem doeu um pouco. Mas ainda assim, sei que um osso meu quebrou. E isso me deixa preocupada. E se não colar? E se eu ficar com esta coisa na minha perna para sempre?
- Isso não vai acontecer, Juliet. – ele riu.
Ele me entregou uma pasta:
- Os documentos do bar da minha mãe.
- Vou ver tudo para você, não se preocupe. E não é pelo trato não. Vou ver também o que posso fazer para você ser readmitido no resort.
- Readmitido?
- Sim.
- Mas eu não fui demitido. Por que quer me readmitir? – ele riu.
- Não? Então Nicolas me mentiu?
- Não sei o que ele lhe falou, mas eu tirei uns dias de folga. A mando dele.
- Nicolas é um mentiroso... E eu vou matar ele. – falei.
- Você não está com cara de que quer matar ele. E ele parecia mais o seu marido no hospital do que o próprio Tom.
- Bem, nenhum dos dois é meu marido... Nem Tom. Só morávamos juntos. Já terminou tudo, finalmente.
Meu telefone tocou. Era Eliete:
- Eliete? Aconteceu algo?
- Eu que pergunto, Juliet. Por que não me ligou avisando que quebrou a perna?
- Eu estive louca nestas últimas horas, Eliete.
- Abre a porta aí, vem pulando num pé só que eu quero ver.
- Eu não estou na casa de Nick.
- Eu sei... Ele já me disse.
- Sua boba. Quer mesmo que eu abra?
- Vamos lá, sei que consegue.
Eu ri e desliguei:
- Vou atender uma amiga... – levantei e peguei as muletas.
- Deixa que eu abro. – ele falou levantando.
- Não mesmo... A boba quer que eu abra, acredita?
Comecei a rir e ele sentou confuso. Abri a porta e ela estava ali, de saia social, camisa, scarpin e seus óculos, perfeitamente maquiada.
Ela me entregou uma caixa com bombons, entrando:
- Trouxe bombons porque já sei que você odeia flores.
Ela ficou imóvel quando olhou Eduardo.
- Oi... – disse acenando timidamente.
- Oi. – ele cumprimentou.
- Bem, eu gosto de flores. – falei sorrindo timidamente, enquanto ela me ajudava a sentar e ele pegava minha perna, colocando em cima da mesa.
- Claro... Eu estava brincando. – ela emendou.
Eduardo colocou a mão na cabeça:
- Eu passei dias lhe mandando flores e não sabia que você não gostava. Desculpe-me.
- Não... Ela gosta... – falou Eliete preocupada.
- Gosto, mas não sou a louca das flores. Acho uma pena porque elas morrem tão cedo e isso acaba com o meu pobre coração. – não sabia isso o deixaria melhor ou pior. Mas minha intenção foi deixá-lo tranquilo.
Ele riu alto:
- Nossa, assim me deu até vontade de plantá-las novamente e pedir perdão por quem as cortou.
Coloquei minhas mãos no rosto, envergonhada.
- Mas então, conte como você quebrou a perna. – pediu Eliete.
- Nick me obrigou a dirigir. Falou-me que tinha demitido Eduardo. E me deu um carro da empresa. Eu consegui levar até a casa dele. E deixei na porta da garagem, pois estava insegura de tirá-lo no outro dia. Então... Eu vi a moto que eu e Nick usávamos quando éramos jovens. E eu subi nela para mandar uma foto pra ele. Então ela caiu sobre mim e eu não consegui levantar. Doeu muito e eu achei que ia morrer...
- Mas não morreu. – disse Nicolas entrando na porta. – Ela é a rainha do drama, vocês ainda não sabem?
- Senhor Welling. – Eduardo cumprimentou.
Eliete cumprimentou acenando a cabeça.
- Você aqui de novo? – perguntei. – Agora estou na minha casa.
Ele me deu um beijo no rosto e sentou ao meu lado, sem cerimônia, colocando o braço sobre meu ombro:
- Quem lhe trouxe flores? – ele perguntou rindo.
- Eu não sabia que ela não gostava. – disse Edu.
- Nunca gostou. Por isso sempre lhe dei chocolates.
Fiquei corada. Eliete, que estava sentada no mesmo sofá que eu, trocou de lugar, sentando ao lado de Edu.
- Como se sente hoje? – Nicolas me perguntou, tão próximo de mim que me dava até um frio na barriga.
- Bem. Estou bem, Nick.
- Não fui trabalhar hoje... Para ficar com você.
- Como assim? – perguntei.
- Pode precisar de algo.
- Otto está aqui.
- Ainda assim... Quero ficar, caso precise de algo. Sinto-me culpado... Afinal, eu fiz você dirigir.
- Você não tem culpa. Eu que não deveria ter subido na moto.
Ele deu um beijo demorado no meu rosto:
- Eu até penso que foi o destino... Talvez você não estaria aqui comigo se não fosse a moto.
Eduardo e Eliete se entreolharam e ela disse:
- Acho que já vou.
- Nem pensar, você acabou de chegar. Vai almoçar comigo... Junto com Edu, que já havia combinado.
- Fico para o almoço também. – disse Nicolas sorrindo.
Olhei para ele e ia me atrever perguntar quem convidou, mas o olhar dele foi tão intenso que me fez mergulhar no azul profundo. E mergulhar naqueles olhos me deixava sempre vulnerável. Então ridicularizar ele se transformou em alisar a mão que estava sobre meu ombro:
- Ok. – assenti.
Conversamos sobre assuntos sem importância, até que Nick disse:
- Acho que vocês formam um casal legal.
Os dois se olharam. Claro que ele achava. Qualquer mulher que estivesse ali formaria uma casal legal com Edu, desde que não fosse eu.
Lembrei que Eliete havia dito que achava Edu lindo... Então não devia estar tão chateada com o comentário. Vai que Nick estivesse até dando um empurrãozinho.
- Já passamos por isso, lembra? – ele disse, me olhando.
- Lorraine. – eu ri, balançando minha cabeça.
- Estou pegando leve com vocês. A prima dela era terrível conosco.
- Eu imagino... – disse Eliete.
- Se uma Juliet é horrível, imagina duas. Porque Lorraine era uma Juliet. Elas me deixavam louco.
- E você gostava. – brinquei.
- Tenho saudades de Lorraine. – ele admitiu.
- E eu? Lorraine é tudo para mim. Depois de Otto, ela é a pessoa mais importante na minha vida.
- E suas amigas? Você não as vê mais?
Olhei para ele e senti um pouco de ciúme. Será que ele queria chegar em Valquíria? Saber o que aconteceu com ela?
- Nos vimos pouco neste tempo que passou. Nos falamos mais por celular. Tom acabou me afastando um pouco de todos...
- E elas continuaram se vendo, mesmo sem você?
- Mais ou menos. Dani também saiu um pouco fora.
- Você se dava melhor com ela, não é mesmo?
- Sim... Chegamos a sair juntas um tempo, eu, ela e Lorraine.
- Então houve festas antes de Tom?
- Sim, muitas. – confessei. – Assim como sexo sem compromisso...
Eduardo tossiu, para mostrar que eles estavam ali.
- Bem, vamos almoçar então. – disse Nicolas me pegando no colo sem cerimônia.
- Nick, não precisa. Eu já consigo andar bem com as muletas.
- Eu vou levar você, rainha do drama.
Aconcheguei-me a ele e senti seu coração batendo forte. Nos olhamos e eu senti um frio no meu estômago. Minha vontade era dizer para ele subir e almoçarmos um ao outro. Ele me bastava. E eu sempre tinha fome dele. E nos últimos tempos a minha fome estava cada vez mais voraz... Porque era muito tempo sem ser comida da forma como eu gostava. E só ele sabia como fazer... Ninguém mais. Porque ele era o homem da minha vida.
O almoço foi servido e eu não consegui entender como Lu fez uma comida tão boa em tão pouco tempo.
- Tinha ingredientes para cozinhar? – perguntei para ela confusa. – Eu nem me certifiquei disso antes.
- O senhor Welling já havia trazido ontem.
Olhei para ele, revirando meus olhos. Por que ele tinha que ser tão imperfeitamente perfeito?
- Que pena que você está com a perna quebrada, Juliet. Tem um luau na praia de Paraíso hoje. É muito legal. Você ia gostar. – disse Eduardo.
- Verdade... Tem o luau hoje. Quase tinha esquecido. – falou Eliete.
- Todo mundo vai neste luau? – perguntei. - Como funciona isso? Onde é? Eu posso ir com a perna quebrada? Vocês poderiam ir os dois juntos...
Todos me olharam. Nicolas falou enquanto comia tranquilamente:
- Ela é assim mesmo, não fiquem preocupados. Não vai todo mundo no luau, tem que ter um convite na verdade, de algum morador. – Nicolas me explicou. – Um morador de Paraíso. Não é aberto ao público, só aos convidados. Acontece anualmente e sim, é muito legal. Fica numa praia próxima ao resort, onde geralmente só os moradores frequentam. Se você pode ir com a perna quebrada? Eu não me importo de carregar você. Se Eduardo e Eliete podem ir juntos? Claro que podem, ambos são moradores de Paraíso. E se cada um nos desse um convite, que sei que é o que eles têm direito, sim, nós poderíamos ir, mesmo com a sua perna engessada.
Olhei para eles, com os olhos arregalados:
- Me digam que vocês vão nos dar um convite.
- Claro que sim. – disse Eliete. – Não é mesmo, Eduardo? – ele cutucou o braço dele sobre a mesa.
- Sim... Eu realmente daria meu convite para Juliet.
- Perfeito... E eu escolho o senhor Welling para dar o meu. – Eliete sorriu.
- Não precisa me chamar de senhor Welling, Eliete. Pode me chamar de Nicolas.
- Nick não pode ser? – ela riu.
- Nick não. – ele disse seriamente e ela ficou sem jeito.
- Só eu posso chamá-lo de Nick. – abri um sorriso. – Mas eu já o chamei de senhor perfeito... Quando ele era.
- Agora não sou mais? – ele perguntou me encarando.
- Não.
- Bem, então nos encontramos no luau hoje à noite, senhor e senhora Welling... Digo, senhor Welling e Juliet. – disse Eliete sarcástica.
- Eu sei que todo mundo chama ela assim. – Nicolas deu de ombros. – Não sou burro.
- E não se importa com isso? – perguntou Eduardo. – Nem com todos os boatos que correm por aí?
- Não. – disse Nicolas. – Mais cedo ou mais tarde ela realmente vai ser a senhora Welling.
- Como pode falar com tanta certeza? – perguntei brava.
- Decidimos o casamento... Há oito anos, lembra? Um pacto.
- E você esqueceu que eu sou a mulher que quebra pactos?
- Este você não quebraria. Eu tenho certeza.
- Como você consegue ser tão convencido? E prepotente?
- Hum, estou ganhando “adjetivos”. Só você tinha.
- Bem, a comida estava ótima. Mas acho que está na hora de irmos, não é mesmo, Edu? – falou Eliete.
- É? – ele perguntou confuso.