Capítulo 87
2060palavras
2022-07-24 07:59
Tive vontade de mandar um dossiê pelo correio sobre Simon Dawson, o pai que ela escolheu há seis anos atrás, quando me deixou bem claro que eu não significava nada. Depois pensei que não precisava um dossiê... Quando ela poderia ver com seus próprios olhos o que ela fez e quem era a pessoa na qual ela acreditou de olhos fechados, deixando de fora eu, sua mãe e seu padrasto.
Vi Simon poucas vezes, mas frequentei sua casa. Não tive nenhum tipo de ligação com ele. Até ele saber que eu era o dono do Paradise e tentar me propor negócios achando que eu era apaixonado por Joana. Esta foi a única vez que conversei com ele. Enquanto ouvia sua proposta ridícula e via a tatuagem no braço dele, só pensava no quanto Juliet havia sido ingênua ao achar que o J era de Juliet, quando sempre foi de Joana. Nunca dei ouvidos à proposta dele e depois que fui alertado sobre quem ele realmente era, me afastei completamente da casa dele. Mas não consegui me desvencilhar de Joana. Inicialmente pensei que era fácil chamá-la quando precisasse, somente para usá-la contra Juliet. Mas Joana era extremamente interesseira e casar comigo virou seu projeto de vida. Claro que eu sabia que ela não gostava de mim e só queria meu dinheiro. Então eu a levava em banho-maria, pois também a usava. Ela não sabia nada sobre Juliet. Mas também não era idiota. Mas eu creio que ela não tivesse ligado Juliet a Simon... Porque não tinha como ela fazer aquilo. No entanto ela começou a me sufocar, ligar diariamente, às vezes mais de uma vez, para mostrar que estava ali. Isso desde que Juliet chegou. E a rainha do drama não gostou dela desde que botou os olhos nela pela primeira vez. E eu até acho que foi por ciúme. Sim, eu dormi com Joana algumas (várias) vezes. Mas nunca tive nada sério com ela. Eu saía com outras pessoas e ela também. Ela vinha com frequência na minha casa e tentava tomar conta de tudo, até das empregadas, mandando fazer tudo que ela gostava, como se a casa fosse dela. No fundo, eu achava que ela tinha certeza de que eu casaria com ela. Até Juliet chegar... E deixá-la insegura de tudo. Mal ela sabia que eu só tinha espaço para Juliet, no meu coração e na minha casa.
Então eu decidi que tinha que contar para Juliet sobre Joana. Mesmo sabendo que aquilo poderia custar qualquer chance de ficarmos juntos, pois ela ficaria furiosa. Mas eu tinha medo de falar tudo de uma vez e ela partir sem me deixar explicar os reais motivos que me levaram àquilo. Então iria aos poucos, vendo a reação dela. Mas não podia mais aguentar aquela mentira e aquele plano ridículo que eu havia bolado para feri-la ainda mais.
E não planejei conhecer Joana e só fui saber que ela era filha de Simon depois que já estava envolvido com ela. No entanto, em vez de afastá-la, eu acabei vendo na infeliz coincidência do destino uma forma de magoar a pessoa que eu mais amava na minha vida.
E agora que tudo estava ficando bem entre nós, eu tinha esta verdade horrível para contar, na certeza de que isso colocaria nosso relacionamento em um sério risco de terminar para sempre.
Liguei para Joana.
- Nicolas, querido? Que surpresa. Quanto tempo você não tomava a iniciativa de me ligar?
- Oi, Joana. Como você está? – perguntei sem um real interesse.
- Bem.
- Eu estou ligando porque... Acho que a gente deve evitar de se ver por um tempo.
Ela ficou em silêncio por um tempo. Até que disse:
- Como assim não nos vermos? Não entendi, Nicolas.
- Eu... Estou com uns problemas para resolver. E preciso de tempo. E ficar sozinho.
- Que problemas? Você sabe que sempre saímos juntos... Eu não atrapalho você. Pelo contrário, posso ajudar, como já fiz outras vezes.
- Realmente preciso deste tempo... Longe de você.
- Nicolas, me diga que a mulher de Tom não tem nada a ver com isso.
- Claro que não. – menti.
Ela riu ironicamente:
- Por que eu tenho certeza de que você está mentindo para mim?
- Joana, você não tem motivos para me cobrar desta forma. Não temos um relacionamento e você sabe muito bem disto.
- Eu não aceito ser usada e depois jogada fora, Nicolas.
- Não aconteceu isso e você sabe muito bem. Eu posso apostar que fui muito mais usado por você do que você por mim.
- Acha mesmo que ela vai chegar do nada em Paraíso e eu vou ficar de braços cruzados, assistindo ela tomar conta de tudo que é meu?
- Eu não sou seu... Nunca fui. – falei furioso.
- Não era isso que dizia quando fazíamos amor.
- Alguma vez eu disse que era seu? Sinceramente, não lembro disso ter acontecido.
- Não precisava dizer... Eu sentia.
Fazer amor? Eu nunca fiz amor com ela. Só se fazia amor com quem se amava e nunca houve sentimento por parte de nenhum dos dois.
- Nunca enganei você. – falei. – E você sabe disto. Eu sempre deixei claro que nunca me apaixonaria por você. Que éramos amigos, apenas isso.
- Não quero dar um tempo, Nicolas. Nem na nossa amizade e nem no nosso relacionamento, que curiosamente ficou mais sério depois da chegada de Juliet. Não aceito ser usada.
- Não quero problemas, Joana.
- Não me parece. Criou os próprios problemas quando trouxe a mulher do seu amigo para cá.
- Ela não é mulher dele... E Tom não é meu amigo. Nunca foi.
- Acha mesmo que ela vai deixar o fortão bonitão por sua causa? Só ela for louca.
Fiquei confuso com a frase dela. Tentou me ferir? Eu ri:
- Quer dizer que não sou forte e além de tudo feio?
- Ele é muito mais forte que você. E aposto que faz horrores na cama.
- Sinceramente, não sei. Faça o teste. Acho que a escolha de Juliet já esta feita. E eu estou incluído nela.
- Agora lide com o que criou, “Nick”. Não vai ser fácil se livrar de mim, acredite. Não sou um objeto que você usa e joga fora. Vou acabar com esta porra de namoro do passado de vocês.
- Joana, não envolva Juliet nisto, por favor.
Ela riu ironicamente:
- Querido, você envolveu ela nisso... Desde o início.
- Você não me conhece, Joana. Nunca me conheceu. Não sabe o que eu sou capaz de fazer por ela.
- Não sei? – ela riu. – É capaz de criar um Resort no outro lado do mundo para trazê-la. É capaz de usar uma pessoa inocente para fazer ciúmes a ela. Então eu sei sim o que você é capaz de fazer por ela. E você, Nicolas, sabe o que eu sou capaz de fazer “com ela”? Vou lhe mostrar...
Ela desligou o telefone e eu fiquei temeroso. Eu era forte o suficiente em Paraíso para impedir qualquer pessoa de se aproximar de mim ou de Juliet. No entanto isso não resolveria nada. Ela não ficaria trancada no resort para sempre. E mais cedo ou mais tarde se Joana quisesse, a encontraria. Só não se o que ela poderia fazer para tentar ferir Juliet. Mas eu sabia que Joana era filha de um dos homens mais detestáveis e desonestos que já conheci na minha vida. Então era bom ficar de olhos abertos. Livrar-me de Joana seria mais difícil do que imaginei. E olha que não pensei que seria fácil. Pelo menos ela foi sincera e jogou limpo. Não ficou se fazendo de boazinha, como costumava fazer. Ameaçou logo de início. E eu estava preparado para o furacão. Só não sei se ela estava preparada para o meu furacão chamado Juliet.
Na manhã seguinte, recebi uma ligação. Era Eduardo.
- Eu quero saber se poderia ir até ai ver você. Fiquei preocupado com o que aconteceu. E também com a forma como você fugiu do hospital.
- Claro, Edu. Pode vir. Além disso, temos que conversar.
- Temos? – ele perguntou curioso.
- Sim. E pode trazer os documentos da sua mãe. Já vou aproveitar para ver tudo enquanto tenho tempo e estou em Paraíso.
- Como assim? Pretende partir?
- Sim... Não vou ficar aqui para sempre.
- Bem, eu vou aí então. Pode ser agora pela manhã?
- Claro, Edu. Vou preparar um almoço para nós.
- Você?
Eu ri:
- Eu não... Sou péssima na cozinha. Mas meu pai cozinha bem.
- E as empregadas do senhor Welling?
- Bem, eu não estou mais na casa dele. Finalmente tenho um espaço para mim.
- Ele deixou você sair?
- Sim...
- E Tom?
- Em outra casa.
- Os três separados?
- Sim.
- Ok.
- Estou na casa ao lado de Nick.
Houve um breve silêncio do outro lado da linha:
- Ao lado? – ele riu. – O senhor Welling é esperto... E manipulador. Difícil competir com ele.
- E você está competindo, Edu? Achei que tínhamos falado sobre isso.
- Sim, falamos. Mas eu não disse que poderia controlar meus sentimentos.
- Bem, eu acho que você realmente precisa vir. Vou estar esperando.
Levantei e fui com ajuda das muletas até a porta.
- Otto?
Ele demorou um pouco para subir.
- Como se sente?
- Bem... Mas como eu faço para tomar um banho?
- Nicolas mandou uma das empregadas da casa para auxiliar. Caso ela não dê conta de tudo sozinha, é só avisar ele.
- Eu preciso de uma mulher para me ajudar no banho.
- Vou pedir para ela subir. Decidiu o que faremos?
- Sim... Acho que ficamos até eu tirar o gesso. Depois voltamos. Não posso ficar aqui para sempre, Otto. Não temos o que fazer aqui. Eu sou apenas a empregada de Tom, já que nosso relacionamento não existe mais. E por que diabos eu ficaria aqui se posso trabalhar em qualquer outro lugar?
- Por Nicolas?
Eu sorri amargamente:
- Nicolas não sabe o que quer, Otto.
- Eu tenho a impressão que ele sabe, Juliet.
- E acha mesmo que eu ficarei aqui sentada enquanto ele decide se me quer ou não?
- Foram seis anos, Juliet. Não se recupera em cinco dias, como se nada tivesse acontecido.
- Ele me deixou...
- E você deu motivos. Enquanto vocês não perdoarem um ao outro e a si mesmos, nunca serão felizes e jamais poderão levar isso adiante.
- É complicado, Otto. Quando ele está comigo, eu não quero nunca mais sair de perto dele. Mas quando ele se afasta, sinto que tem tantas coisas que nos impede de levar isso adiante...
- Tome seu banho, querida. Depois conversamos melhor sobre o que faremos.
A mulher me ajudou no banho. Eu não a conhecia e por isso ela me chamava de senhora Welling. E eu não a corrigi, simplesmente porque não adiantava. As empregadas de Nicolas decidiram me apelidar assim e nada mudaria. Poderia ser Joana a levar o apelido... Mas fui eu. Então até me sentia bem.
Troquei de roupa e desci. A casa era bem menor que a de Nicolas, mas confortável e com móveis novos e de boa qualidade. A sala de estar era composta por dois sofás grandes e uma estante com televisão. Eu era uma pessoa que não assistia televisão em hipótese alguma. Nunca me interessou. Um aparador de vidro pequeno ficava ao lado da porta, com um espelho grande em cima.
Eu não amava andar com as muletas, mas era melhor que usar aquela cadeira de rodas. Alguém bateu na porta. Eu estava sentada no sofá, com a perna descansando sobre a mesa de centro. Chamei por Otto, mas veio a empregada:
- Otto não está, mas ele já volta. Eu abro a porta para a senhora.
- Qual seu nome?
- Lu.
- Lu, pode me chamar de Juliet. Acho que vamos ficar um tempo juntas então não precisamos de tantas formalidades, não acha?
- Sim, senhora. Como preferir.
Enquanto ela abria a porta ainda conversávamos. Eu imaginei que fosse Edu. Mas fiquei surpresa ao ver Joana na minha porta.
- Olá, Juliet. Não me convida para entrar?
Olhei para ela em dúvida. Por que deixá-la entrar?