Capítulo 83
2215palavras
2022-07-24 07:56
- É complicado explicar isso... – disse Nicolas. – Mas vamos lá... O motorista estava dando em cima de Juliet.
- Gatinha... – ele me olhou.
- Isso não é verdade. E mesmo que fosse, Tom, você sabe que só estamos esperando pela conversa oficial sobre o fim do nosso relacionamento.
- Eu não quero o fim do nosso relacionamento. Muito menos que a gente resolva isso no meio de todo mundo.
- Eu não sou todo mundo. – disse Otto. – E fui chamado por Juliet justo para ajudá-la. Creio que você tenha pisado muito na bola nestes anos, Tom.
- Bem, agradeço sua preocupação com minha esposa, Nicolas. – disse Tom e eu não sei se ele foi irônico ou não. – E já até agradeci antecipadamente... Gostou da “dominatrix” que lhe mandei?
- Dominatrix? Do que você está falando? – Nicolas ficou confuso.
- Uma garota maravilhosa com um chicote. – ele riu.
- Você mandou aquela mulher para minha casa? – Nicolas perguntou alterando a voz.
- Foi só um presente, Nicolas. Pensei em dar uma animada na sua noite com Joana. Me garantiram que a garota satisfazia homens e mulheres. E olha que interessante, paguei antecipado sua grande preocupação com a “minha mulher”.
- Eu sei satisfazer uma mulher... Não preciso de outra mulher para isso. Não deveria ter mandando uma mulher para minha casa sem me avisar, Tom.
- Pelo que sei você gostou do presente... – ele riu. – E paguei caríssimo pelo pacote.
- De onde você tirou a mulher, Tom? Já havia feito o test drive antes?
- Está com ciúme, gatinha? Que fofo... Eu sabia que você ainda sentia algo por mim.
- Acha mesmo que eu teria ciúme de uma garota de programa barata?
- Ela foi cara, gatinha... Muito cara.
- E não precisava ter gastado seu tempo e seu dinheiro, Tom. Eu poderia ter pego uma na esquina... Sem pagar nada.
- Se não pagasse não seria uma prostituta. – ele falou sarcasticamente.
- Seria “a minha prostituta”. E teria evitado uma grande confusão naquela noite. – ele falou tocando no colar em seu pescoço.
Eu fiquei corada e abaixei meu rosto.
- O que você faz com o colar idiota da Juliet no seu pescoço? – Tom perguntou confuso.
Otto me olhou e balançou a cabeça:
- Acho que precisamos sair. Juliet precisa ficar calma.
- E por que ela não ficaria, Otto? – Tom perguntou e me olhou.
- Eu havia perdido o colar... – expliquei.
Eu não queria que Tom soubesse sobre mim e Nicolas. Ele logo se daria conta de que Nick era a lembrança que ficou por cinco anos entre nós dois e eu sabia que ele não deixaria barato. Eu queria simplesmente acabar meu relacionamento e ficar tudo bem entre nós... Ou não, desde que Nicolas não fosse envolvido naquilo. Tom jamais entenderia o que houve nos últimos oito anos... Porque nem eu mesma entendia.
- Você perdeu o colar... E Nicolas encontrou e achou bonito e ficou para ele? – Tom falou debochadamente. – Será que meu sócio está tendo um caso com minha esposa?
Meu coração bateu aceleradamente e bipou no aparelho que estava conectado. Nisso a porta se abriu e apareceu Edu com um enorme buquê de flores. Suspirei, resignada. Eu estava fodida.
- Quem é você? – perguntou Tom olhando para ele.
- Ele é o motorista. – explicou Nicolas rindo debochadamente.
- O motorista da minha mulher trás flores para ela no hospital? Desculpe, Nicolas. Acho que agora achei o homem que eu estava procurando.
- Tom, ele não tem nada a ver com esta história. Somos só amigos.
- Você chegou aqui ontem e é amiga do motorista?
- Juliet... Acho que vou sair um pouco. Tem testosterona demais para pouco quarto. – disse Otto. – Se alguém encostar nela, morre. – ele avisou saindo pela porta.
Edu ficou me olhando, com o buquê descendo aos poucos da sua mão, completamente confuso:
- Bom dia... Senhor Welling... Senhor Panetiere...
- Juliet, você tem algo para me dizer? – Tom perguntou.
- Sim... Eu quero o divórcio do nosso casamento que nunca houve. – falei firmemente.
- Não vou dar.
Eu ri ironicamente:
- Tom, nós nunca casamos oficialmente.
- Eu iria pedir em breve.
- E eu não aceitaria.
- O que diabos houve com você, Juliet? O que o motorista fez com sua cabeça?
- Ninguém fez nada com a minha cabeça. Chega, Tom. Eu cansei de você e suas promessas não cumpridas.
- Gatinha, olhe para mim... – ele chegou perto. – Não é uma simples promessa desta vez.
- Tom, acho melhor você aceitar isso. – disse Nicolas.
Tom olhou para ele e abriu a mão:
- Me dê o colar da minha gatinha. Não me sinto à vontade com ele no seu pescoço.
- Eu não sou sua gatinha. – quase gritei.
- E eu não vou devolver o colar para você.
Os dois começaram a conversar em tom de voz alterado. Eu retirei os fios que estavam no meu corpo e o aparelho fechado em velcro do braço.
- Pode me ajudar a sentar na cadeira? – pedi para Edu, que colocou as flores sobre a cama e me sentou na cadeira de rodas sem que Nicolas e Tom percebessem.
Eu saí pela porta e os dois nem se eram conta. Eu não tinha certeza se eles iam brigar, mas eu realmente não queria ver o que aconteceria. Otto me olhou confuso quando cheguei na recepção:
- Pai... Eu preciso ir embora. Não quero mais ficar aqui. Sinto-me bem... Ou melhor, deveria me sentir, se não fosse o que está acontecendo naquele quarto.
- Vou falar com o médico. – disse Edu. – Ele é meu amigo.
- Eu agradeço muito, Edu.
Enquanto Eduardo saiu para falar com o médico, eu pedi para Otto:
- Me leve para casa, por favor.
- Qual casa, querida?
- Eu já nem sei mais, Otto. – confessei.
- Imagino... Mas não sendo na de Tom, está tudo bem.
Ele guiou a cadeira e saímos do hospital sem dar explicações, deixando os três ali. Embarcamos num táxi e fomos para a casa de Nicolas. Otto conseguiu me pegar no colo para subir a escada e me levar ao quarto.
- Você vai ter que tomar uma decisão, Juliet.
- Que decisão, Otto? Não há decisão alguma para tomar.
- Vai deixar eles se matarem?
- Nicolas não me quer... Você não entende isso?
- Não... Eu não entendo. Nicolas é louco por você. E acho que só você não entende isso.
- Talvez ele até goste de mim... Mas a vingança dele é mais forte que os sentimentos. Ele não vai desistir. O tempo todo que estivemos juntos ele sempre dizia que não perdoava.
- Acha que ele não mudou? Você mudou... Ele também mudou. O tempo passou, vocês cresceram. Não são mais aquele casal que se conheceu há oito anos atrás. Há muito mais coisas envolvidas agora.
- Eu gostava de trabalhar aqui... Só não tenho certeza se gostava realmente do trabalho ou do meu chefe, sócio ou seja lá o que ele era. – eu sorri. – Largar Tom implica deixar tudo isso para trás.
- E você quer deixar tudo isso para trás, Juliet?
- Eu não sei... – falei sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. – Às vezes eu acho que quero voltar para nossa casa, Otto. E viver lá para sempre. Mas daí eu me pergunto se consigo viver longe de Nicolas depois de tê-lo encontrado aqui. Eu sequer sei se gosto deste resort ou se é por ele que tenho vontade de ficar aqui.
- Sua mãe teria as respostas... – ele disse limpando minhas lágrimas.
A porta se abriu e lá estavam os dois novamente: Tom e Nicolas. Respirei fundo e disse:
- Nicolas, Otto, se não se importam, eu gostaria de ficar a sós com Tom. – pedi.
Nicolas veio até mim e perguntou:
- Você está bem? Fugiu do hospital, Juliet.
- Não fugi do hospital. Fugi da situação. – expliquei.
Otto puxou Nicolas:
- Venha, Nicolas. Hora de sairmos.
Vi Nicolas saindo a contragosto. E uma coisa me deixou bem no meio de tudo aquilo: a mulher no quarto dele havia sido obra de Tom. E não foi Nicolas que a trouxe para me ferir ao ver a cena. Embora eu tivesse a certeza de que ele fez sexo com ela, pois vi com meus próprios olhos. Mas eu nem podia cobrar. Ele era um homem solteiro. A comprometida ali era eu, embora nunca parecesse. Vivi ali longe de Tom como se ele nunca tivesse existido na minha vida. Só não traí ele com Eduardo também porque faltou tempo. E o que mais me deixava confusa era que eu não me senti culpada. Pelo contrário, me sentia bem ao olhar para ele me encarando em frente à cama e saber que eu quase havia feito sexo com Nicolas.
Tom sentou-se na cama:
- Eu não quero ouvir, gatinha.
- Tom, porra, não me chame mais de gatinha. Eu não gosto... Eu nunca gostei. Talvez tenha achado legal quando eu tinha dezoito anos e um homem mais velho se referia a mim desta forma.
- Posso tentar... – ele disse.
- Entenda que acabou. Eu não quero mais ficar com você.
- Juliet, ficamos juntos por cinco anos.
- E isso não significa que teremos que ficar juntos para o resto das nossas vidas, só porque nos suportamos por cinco longos anos.
- Nos suportamos? Foi tão horrível assim para você?
- Tom, você passou mais tempo fora do país do que comigo neste tempo... E quando estávamos juntos, sempre fez questão de encher nossa casa de pessoas estranhas e desconhecidas para mim. Você usou drogas, mesmo sabendo que tive uma vida quase destruída por conta disso. Meu pai deixou minha mãe quando eu nasci por conta do vício.
- Não é um vício. Eu só uso de vez em quando...
Eu sorri ironicamente:
- Todos dizem isso... E as bebedeiras, Tom?
- Você também se embebedava, Juliet.
- Eu sei... Não me eximo da culpa. Também não fui uma boa pessoa. Quando você apareceu na minha vida, eu me sentia sozinha. E por isso arrisquei viver com você. Mas continuei sozinha, entende?
- Me desculpe...
- Você também precisa me desculpar. Eu não fui sincera o tempo todo com você. Eu sempre gostei de outra pessoa.
- Eu sabia... Embora não tivesse certeza absoluta. Às vezes você estava comigo, mas parecia estar em outro lugar.
- Tom, eu vou ser sempre grata por você ter me obrigado a continuar a faculdade. E ter pago cada centavo para mim. Sabe que eu não teria conseguido se não fosse você. Porque eu joguei todo o dinheiro que eu tinha fora. E também agradeço por ter também me obrigado a trabalhar na sua empresa. – eu ri e peguei a mão dele. – Você me fez conhecer um mundo que eu sequer sabia que existia. No entanto, eu não me adaptei a ele.
- Quando eu digo que de tudo que aconteceu entre nós a única verdade é o que eu sinto por você... Acredita? Existe amor da minha parte. Desde sempre... Quando eu a observava do meu camarote, bebendo pina colada com sorrisos e olhares encantadores...
- E você me ajudou quando eu precisei... Eu não quero que tudo termine com cada um de nós indo para um lado, com raiva um do outro. Porque como você mesmo disse, foram cinco anos e não cinco dias, nem cinco meses.
- Me desculpe por não estar lá quando você queria que eu estivesse... – ele lamentou.
- Tom, nos gostamos... Mas não fazemos bem um ao outro.
- Por que você só tomou esta decisão agora, Juliet? Justo aqui, longe da nossa casa e da nossa cidade?
- Porque eu me encontrei aqui, Tom.
- Nicolas tem algo a ver com isso?
- Não. – menti.
Terminar com Tom já não era fácil. Agora ele parecia estar aceitando. Mas tudo poderia mudar quando ele bebesse ou se enchesse de drogas. Eu não queria que Nicolas sofresse por minha culpa. Tom era problema meu e não dele. Sem contar não termos certeza se o fato de estar ali era coincidência ou se Nicolas havia planejado tudo aquilo. Então sim, eu e Nicolas conheceríamos um Tom implacável. Hoje ele aceitava perder. Amanhã poderia não aceitar.
- Pelo menos me diga que não vai abandonar o seu emprego na minha empresa.
- Claro que vou, Tom.
- Não... Você não pode fazer isso.
- Estamos terminando nosso relacionamento, Tom. Não podemos ter este vínculo profissional, entende?
- Não, não entendo. Quero você à frente dos negócios.
- Não posso fazer isso.
Ele levantou e me encarou:
- Eu aceito que você não quer mais continuar morando comigo... E para mim sim, sempre foi um casamento, embora nunca tivemos um papel que dissesse isso. E eu jamais deixaria você sair disso sem nada.
- Eu não quero nada, Tom. Nunca quis.
- Acha mesmo que eu faria você me aguentar por cinco anos e sair em nada? – ele riu e pegou minha mão, ternamente.