Capítulo 81
2183palavras
2022-07-24 07:55
- Você não faria isso, Nick.
- Eu já fiz.
- Eu vou readmiti-lo.
- Se fizer isso eu conto para Tom que ele lhe mandou flores.
- E eu conto que você me agarrou atrás do restaurante.
- Pode contar... – ele riu. – Se quiser, eu ajudo.
- Eu odeio você, Nicolas.
- Eu sei que quando você diz que me odeia, quer dizer que me ama.
- De onde você tirou isso? Se eu digo que odeio você, eu odeio mesmo.
- Você não é capaz de me odiar.
- Sou... Assim como você foi capaz de me odiar por seis anos...
- Eu nunca odiei você... Nem quando eu mais quis...
- Eu não quero discutir a porra do nosso passado mal resolvido. Eu quero meu motorista de volta.
- Vai ter que encontrá-lo fora do resort.
- Quero meu cordão...
Ele me olhou confuso:
- Quer o cordão ou o motorista?
- Os dois. Você roubou o meu cordão. – falei vendo ele usando o cordão que usei por seis anos e fiquei ainda mais furiosa.
- Você não quis... Jogou no chão.
- Joguei sobre você e a prostituta... Não joguei no chão.
- Não deveria ser contra prostitutas... Lembra do seu desejo?
- Por isso você chamou ela?
- Eu não chamei... Não sei nem como ela foi parar na minha casa, no meu quarto.
Eu ri ironicamente:
- Vai ver foi presente de aniversário adiantado... Você deve achar que sou idiota.
- Ei, não éramos comprometidos, esqueceu? – ele falou ironicamente.
- Nem somos agora. Foda-se a prostituta... E a droga do cordão. – falei saindo.
- Ei, aonde você vai?
- Andando para a sua casa... Porque você nem me deixa morar se não for sob o seu teto, para vigiar a minha vida.
- Eu deixei um carro aqui para você. – ele me entregou a chave enquanto andava ao meu lado.
- Você sabe que eu não dirijo.
- Não... Eu sei que você tem uma habilitação para andar de carro para onde quiser.
- Não faço isso há seis anos.
- Está brincando que fui o último louco a andar com você.
- Não... Lorraine também foi. – eu ri, lembrando da cena.
- Vamos, pegue a chave. Eu sei que você consegue, como conseguiu aquela vez.
Parei no meio da rua:
- Eu não consegui. Quebrei um retrovisor... Quase matei vocês...
- E depois me compensou pelos momentos angustiantes... Da melhor forma possível.
Eu corei:
- Não lembro disso.
- Sério? Se eu fechar meus olhos, lembro de cada momento. Quer que eu diga para você como foi que fizemos na escada de incêndio?
- Não. – falei firmemente.
- Então podemos falar sobre o banheiro do Manhattan...
- Nick, pare.
- Ou sobre a sua cama nova...
- O que você quer de mim, Nicolas? – perguntei confusa. – Quer me deixar louca? É isso?
- Lembra do show do TNT? – ele riu. – Você ficou estática... Não conseguiu dizer uma palavra para o vocalista.
- Eu ainda tenho o autógrafo. – confessei.
- E os CDS?
- Joguei fora... Para esquecer tudo.
- E conseguiu? – ele perguntou olhando nos meus olhos e se aproximando de mim, no meio da rua.
- Eu... Quero o motorista... – falei incerta se realmente era isso que eu queria.
- Eu estou te dando um carro...
- Nick, eu odeio dirigir, você sabe...
- O trajeto é curto... Vai lhe fazer bem. – ele levantou meu queixo e me fez encará-lo:
- Eu acredito em você, rainha do drama. Você consegue. Ou se preferir, posso lhe dar uma carona. – ele disse abrindo um largo sorriso, enrugando o canto da boca, ainda com o lábio machucado da minha mordida.
- Sabe no que estou pensando agora, Nick?
- Que me odeia? Ou que quer me matar?
- Que eu queria morder a sua boca... E terminar o que começamos naquele coqueiro no meio do nada...
Ele foi se aproximando e eu indo para trás.
- Juliet... Eu preciso que você sabia que...
- Nicolas...
Lá vinha a minha rival, Joana. Eu suspirei com raiva. Ela quase correu para nos alcançar. Deu um beijo em Nicolas, tentando acertar a boca dele, mas ele conseguiu virar a tempo.
- Nicolas, o que houve com a sua boca? – ela falou com uma cara de espanto.
- Beijei uma mulher faminta...
Ela riu:
- Você e seu senso de humor.
- Acho que ele falou sério. – eu disse.
- Ah, oi... Nem tinha visto você. – ela me olhou com desdém. – Você é tão baixinha... Não fica no meu campo de visão... Desculpe-me. A propósito, sua pouca altura não incomoda você?
- Sabe o que me incomoda? – ela me olhou curiosa. – Estes chupões que levei no pescoço de um homem faminto por mim e bem alto. Obrigada pelo carro, Nick. Não sei como agradecer, ou melhor, sei sim. – sorri sedutoramente. - Cheguei a tão pouco tempo e você me presenteia com isso. – fui saindo.
Ele me olhou com um meio sorriso:
- Ei, rainha do drama! – parei e o encarei. – Tome cuidado. Não destrua nenhum retrovisor. E não atropele ninguém, por favor.
- Vou tentar... Não tem Lorraine gritando nos meus ouvidos. Talvez eu consiga.
- Eu sei que você vai conseguir.
Fui até o carro e sentei no banco, atrás da direção, sentindo minhas pernas tremerem. Eu não me importei de deixar Joana ali com Nicolas. A nova Juliet que ele resgatou sabia brigar. E cada vez mais eu me convencia dos sentimentos dele por mim.
Sobre o motorista? Nunca pensei que quando Edu entrou na minha vida não seria só para me fazer acordar e voltar a ser eu mesma. Ele também acordou Nicolas. Acho que “Eduardos” surgiam no meu caminho sempre a fim de me ligar a Nicolas, de uma forma ou de outra.
Girei a chave e engatei a marcha. O carro de Tom não tinha marchas, era automático. E parecia mais fácil de dirigir. Se eu já dirigia mal quando treinei meses de aulas de direção, imagina seis anos sem fazer aquilo. Quando acelerei vi pelo retrovisor que Nicolas me observava. Joana olhava para ele gesticulando. Mulher chata do caralho.
Abri os vidros e senti o ar fresco invadir o interior do carro. Fui sempre devagar, acelerando pouco. Não foi tão ruim. Além do mais, o trajeto era bem curto. Liguei o rádio e tentei encontrar uma música boa. Poderia ser qualquer música, mas tocou Sublime, com a música Santeria. Sorri, lembrando que dancei aquela música quando beijei Cadu pela primeira vez. Como era bom ter aqueles tempos legais para recordar... Quando uma música, um cheiro ou uma simples frase fazia voltar no tempo... Um tempo que eu chegava em casa e tinha a comida da minha mãe pronta para mim, com tudo que eu gostava. Mesmo quando brigava por minhas manias, ela me dava o que eu queria. Dona Olga me oferecia comida 84830 vezes ao dia. E sempre achava que eu estava com fome. Ela me xingava por beber Coca-Cola, mas sempre me trazia um copo com gelo e uma rodela de limão. Santeria era para lembrar Cadu, mas trouxe de volta o cheiro da minha mãe, o seu abraço quente e acolhedor. Trouxe o orgulho que ela tinha de mim. A cama de casal que me deu quando sabia que eu perderia a virgindade com Nicolas. Parece que a forma como ela tratou Nick desde a primeira vez que ele esteve na nossa casa foi como se ela soubesse que era ele o homem que eu amaria, mesmo quando eu não sabia, pois éramos apenas amigos em busca de nossos amores que não nos queriam. Os rejeitados que se apaixonaram loucamente. E que viveram um amor que duvido que Cadu e Val tenham vivido. E assim, cheguei até a garagem, mas entrar eu não entraria. Até porque meus olhos estavam ofuscados pelas lágrimas.
- Obrigada por ter me guiado até aqui, mãe! Não só neste trajeto, mas nesta longa viagem de volta até Nicolas.
Tomei banho e eu e Otto esperamos por Nicolas para o jantar, mas ele não apareceu. E eu sabia muito bem com quem ele havia ficado. Então certamente ele foi jantar com ela... Ou jantar “ela”. Senti tanto ódio...
- Está tudo bem? – Otto perguntou.
- Sim... – menti. – Eu... Estou cansada. Vou dormir. Se importa?
- Claro que não. Vá descansar.
- Você está se sentindo bem aqui, Otto?
- Sinceramente, em casa. – ele confessou. – Nicolas me trata muito bem e me sinto a vontade. E estou conhecendo este lugar que é um verdadeiro paraíso. Só estou me segurando para não procurar Simon.
- Otto, não faça isso, por favor. Tudo que eu quero é não ver este homem nunca mais.
- Ele nos deve... E você sabe disso. Você cresceu... E pode dar o troco. Ou mesmo mostrar que não é a mesma idiota de seis anos atrás.
- Não, Otto.
- Não tem curiosidade em saber o que ele fez com o seu dinheiro? Era uma boa quantia... O seu futuro.
- O meu futuro... – eu suspirei. – Otto, graças a ele eu perdi o meu futuro. Eu perdi Nick, eu perdi minha mãe, eu me liguei a Tom... E enfim, tudo aconteceu da forma errada, entende? Mas eu tive escolha... E ainda assim escolhi errado.
- Juliet, chega desta culpa. Você não precisa mais carregá-la. Passou, você cresceu... E é uma vitoriosa na vida. Eu, sinceramente, queria muito encontrá-lo.
- Por que, Otto?
- Queria socar a cara dele.
Eu ri e o abracei:
- Não conheço este pai violento.
- Só um soco... Depois eu dormiria tranquilo. – ele riu.
- Poderia quebrar uns dois dentes... Não seria tão ruim.
- Vá dormir... Com mesmo Nicolas chama você? Rainha dramática?
Eu revirei meus olhos:
- Rainha do drama.
Dei um beijo nele:
- Vou tentar dormir...
Subi e deitei. Fiquei atenta para ver que horas Nicolas chegaria. Mas não consegui acabei adormecendo.
Na manhã seguinte, quando o celular despertou, fiquei incerta sobre tomar café da manhã ou não. Na dúvida, preferi não. Havia uma mensagem não lida no meu celular:
“Gatinha...”
Assim que vi o “gatinha” fiquei incerta de abrir ou não. Respirei fundo e me encorajei:
“Gatinha, bom dia. Eu tenho uma surpresa para você. Espero que goste.”
Deus, quando Tom iria desistir de mim! Eu havia sido tão clara. Ele poderia me trazer toda Paris na mala, eu ainda assim não voltaria a morar com ele. A mensagem havia sido enviada pela madrugada.
Tomei um banho e me vesti para mais um dia de trabalho. Não queria ver Nicolas na minha frente. Quando desci, a empregada estava subindo com uma bandeja com café da manhã.
- Para quem é? – perguntei preocupada com o que ela diria.
- Para seu pai, Juliet. – ela sorriu.
Respirei aliviada:
- Nicolas já saiu?
- Sim, já saiu.
- Ele... Dormiu em casa, então?
- Creio que sim, Juliet. Pelo menos a cama dele estava desarrumada.
Eu estava beirando o ridículo. Estava saindo na porta quando ela disse:
- Juliet, o controle remoto da garagem está sobre o aparador.
- Mas eu deixei o carro na porta da garagem... Não era para ter ficado dentro.
- Talvez o senhor Welling tenha tido que tirar para colocar o dele.
- Ok...
Peguei o controle preocupada. Dirigir da empresa até a casa era fácil. Tirar o carro da garagem? Isso era bem difícil para mim. Nicolas desta forma deixava as coisas quase impossíveis.
Apertei o controle e portão se abriu vagarosamente. O meu carro estava ali, estacionado de ré. Puta que pariu...
Acionei o alarme da chave do automóvel e sentei, ajustando o espelho da frente. Quando vi a moto amarela estacionada atrás senti meu coração bater descompassado. Não acredito que ela estava ali. Eu cheguei a rir sozinha. Desci do carro e fui até ela. Era como reencontrar uma velha amiga.
Quando cheguei perto passei minha mão carinhosamente sobre o banco de couro. Quantas lembranças boas! Eu e Nicolas fomos felizes rodando nela. Estava do mesmo jeito... Ainda nova. Nem parecia que ele havia usado ela depois da última vez que andamos.
Mexi e parecia segura. Eu ia subir nela e mandar uma foto para ele. E xingar por ele não ter me dito que ela estava ali. Montei e peguei meu celular na bolsa. Ela mexeu e tentei segurar, mas era muito pesada. Ela foi caindo para o lado e eu não consegui evitar... Nem tirar meu corpo. O estouro no chão foi forte... E senti uma dor horrível, percebendo que fiquei presa entre a moto e o chão. Tentei mexer minha perna, mas estava trancada e a dor era tão intensa que desisti de tentar sair. Comecei a gritar... Não consegui evitar as lágrimas. Acho que eu havia quebrado algum osso de tanto que doía... E meu celular estava longe do meu alcance.