Capítulo 77
2464palavras
2022-07-18 05:24
Tomei um longo banho, sem pressa. O fato de Otto estar ali me deixava muito segura. Agora eu não tinha pressa para pensar no que eu faria. Sabia que ele ficaria o tempo que eu precisasse dele. E tinha certa paz e tranquilidade que eu só sentia ao lado dele. Otto era o que me restou de “casa”.
Escolhi um vestido longo, leve e fluido. Era floreado e duas pequenas cordas finas amarravam nos ombros. Minha preferência era sempre sapatos de salto, mas vai que Edu tivesse pensado em algo na beira da praia... Então optei por uma sandália sem salto, com algumas pedras e cordões crus que enlaçavam a perna.
Olhei-me no espelho... A quem eu queria enganar? Meu coração não tinha espaço para ninguém além do senhor Perfeito. Suspirei... Eu não via mais solução para nós dois. Desde o flagra com a prostituta (que nem tenho certeza se realmente era), ele simplesmente mudou completamente comigo. Parecia ter se preocupado com meus sentimentos depois do que aconteceu. Talvez minhas lágrimas doloridas de alguma forma chegaram ao coração dele. O problema é que me senti completamente humilhada depois de vê-lo fazendo sexo com aquela mulher... Após ter me rejeitado veemente. E isso posteriormente a eu declarar todos os meus sentimentos por ele. Eu estava tão machucada. Pela morte da minha mãe, pela partida dele, por Tom e por ele novamente. E estava um pouco cansada dos dois. Talvez eu precisasse de alguém novo, que não soubesse nada sobre mim, que estivesse disposto a me desvendar.
Quando desci para despedir-me de Otto, ele e Nicolas estavam na sala de televisão, olhando jogo de futebol na TV e bebendo cerveja.
- Você está linda, filha. – disse Otto.
- Obrigada, mas vindo de você, é um pouco suspeito. – eu ri e dei um beijo na cabeça careca dele. – Estou indo.
- Aonde vocês irão? – perguntou Nicolas, sem me olhar, focado na TV.
- Você bebe cerveja agora? – eu ri ironicamente. – Além de andar com prostitutas e me odiar. Quanta mudança.
- Estou fazendo companhia a Otto. Não ando com prostitutas, mas tive um momento de fraqueza ao ser agarrado por ela. E eu não odeio você.
- Cínico. – falei saindo.
- Ei, perguntei aonde você vai? – ele insistiu, agora me olhando nos olhos.
- Eu não devo satisfações a você. Não é o meu marido, muito menos o meu pai.
- Cínico? Achei que eu fosse perfeito.
- Nunca foi.
Ele riu:
- Já disse o quanto eu adoro provocar ela, Otto?
- Já disse o quanto odeio ele, Otto?
- Ah, como é bom ouvir isso de você, rainha do drama.
- Eu vou matar você, Nicolas. – sai esbravejando.
Eu odiava vê-lo me tratando feito criança. O correto seria não responder às provocações dele, mas eu não conseguia. Minha vontade era encher a cara dele de tapas... E depois beijá-lo com força, morder o lábio dele até sangrar, como eu já havia feito antes. Droga, como eu queria aquele homem! Mesmo não “querendo querê-lo”.
Quando saí, exatamente oito horas, Edu me esperava. Ele estava num jipe aberto.
- Carro legal. – falei enquanto ele me ajudava a subir.
- Não queria que eu viesse buscá-la com o carro do senhor Welling, não é mesmo?
- Claro que não. Prefiro este. – brinquei. – É a sua cara.
Eduardo usava bermuda cinza escuro e uma camisa branca justa ao corpo. E ele estava absurdamente lindo e cheiroso, mesmo com seus chinelos... E com a vestimenta que eu mais odiava em homens: bermuda.
As pernas dele eram bem torneadas e tinha muitos pêlos. Eu achei diferente. Nicolas tinha poucos pelos e Tom não tinha absolutamente nada de pêlos, pois mandava depilar tudo.
Eu fiquei cinco anos transando com o mesmo homem, depois de um ano de sexo com vários homens diferentes. E definitivamente, não me imaginava transando só com Tom pelo resto da minha vida. O sexo com ele não era ruim, mas em nada parecia com o que eu e Nicolas fazíamos. Tom era bem “monumentado” e queria me comer várias vezes em um curto espaço de tempo. Mas pouco se preocupava com o que eu sentia e se tinha gozado ou não. Enfim, nunca passou pela minha cabeça que um homem como ele pudesse não apagar o meu fogo. E passei cinco anos sem fazer sexo oral nele, só recebendo. Porque eu sentia que não devia fazer aquilo. Por vezes eu tentava, mas uma voz dentro da minha cabeça dizia: isso é só para Nicolas. Então me desencorajava. Ele nunca pediu. Então sempre que fazia, sabia que não teria retribuição da minha parte. A forma como Nicolas usava sua língua em mim também era melhor que a dele... Corei ao olhar Edu dirigindo e falando ao meu lado e eu pensando na língua de Nicolas. Que tipo de mulher eu era?
- Iremos para fora do Resort? – perguntei.
- Não... Os melhores bares noturnos e restaurantes estão aqui no Paradise. Irônico, não é? Eu trabalho o dia inteiro aqui e quando quero me divertir, eu tenho que voltar para cá.
Eu ri. Em pouco tempo ele estacionou em um bar próximo da praia, mas não na beira. Era amplo, com uma banda de pop rock tocando e algumas pequenas fogueiras acesas em tochas no chão, ao redor de todo o lugar. Tinha mesas na parte de dentro, que era toda em estilo rústico, com madeira marrom envelhecida e outras num enorme deck na área externa. Luzes redondas e claras brilhavam como luzes de Natal, peduradas no alto.
- Que lugar diferente...
- Gostou?
- Muito. É legal.
- Prefere área externa ou interna?
- Externa... Sempre. – sorri deixando o vento desarrumar o meu cabelo.
- Acha que tem comida chique ou frutos do mar aqui? – ele perguntou rindo.
- Eu posso apostar que tem batatas fritas.
- Já comeu batatas rústicas?
- Não.
- Então vai provar hoje.
- Se é batata, já sei que vou gostar. Quero sentar próximo da banda. – avisei tomando a frente e entrando.
Assim que sentamos, ele perguntou:
- Juliet, posso ter problemas com seu marido?
- Não, claro que não. Primeiro porque somos só amigos, Edu. E segundo porque Tom não é meu marido.
- Não me referi a Tom...
- Não entendi.
- Rola boatos pelo resort que você e o senhor Welling tiveram uma discussão quente sobre o passado.
Olhei para ele perplexa:
- Sério? Que gente fofoqueira. Não lembro desta situação. – menti.
- E que tudo foi causado por um café.
- Claro que não... Tudo mentira. E... Você sabe que Nicolas não é meu marido. – falei confusa.
- Disseram até que vocês foram casados e estavam divorciados e ele mandou buscá-la de volta.
- Porra, este gente não só mente, inventa também. Que imaginação fértil depois de uma... Pequena discussão.
- O que vamos pedir? – ele perguntou. – Já que estou aqui mesmo, vou curtir o momento. Depois me viro com os grandes problemas que você pode me causar.
- Eu não tenho nada com Nicolas. – afirmei olhando nos olhos dele.
Ele desviou o olhar e disse:
- Então que porra ele tá fazendo aqui?
Olhei para trás e vi Nicolas e Otto chegando. Eles me olharam. Otto me acenou com um sorriso tímido e Nicolas veio diretamente para nossa mesa:
- Que surpresa encontrá-la aqui, senhora Welling.
Olhei para cima, furiosa, quase soletrando:
- Eu não sou senhora Welling.
- Como vai, “Edu”? – ele perguntou sarcasticamente.
- Vou bem. Só não lhe chamo de senhor Welling porque não sou seu empregado hoje. – ele respondeu tranquilamente. – Estou aqui como cliente do resort.
- Lembrando que só tem o benefício de estar aqui sem ser hóspede por trabalhar para mim.
Otto bateu no ombro de Nicolas:
- Vamos lá, Nicolas. Comemos algo, depois você me mostra um pouco do resort. Quem sabe deixamos os dois jantarem tranquilamente.
- Por que não jantamos todos juntos? – Nicolas sugeriu.
Todos olhamos para ele, enquanto sem pedir licença, pegou uma cadeira e depois outra da mesa que estava ao lado, sentando conosco.
- Sente-se, Otto. Você vai gostar da comida daqui... Assim como Juliet. Boa escolha, Edu. – ele bateu nas costas do motorista.
Fiquei olhando-o incrédula, sem palavras. Vi o olhar confuso de Edu.
- Já pediram? – ele perguntou enquanto pegava o cardápio.
- Não. – disse Edu. – Você não nos deu tempo para escolher... Acabamos de chegar.
- Desculpe... – Otto cochichou no meu ouvido.
Suspirei e me dei por vencida:
- Edu, este é meu pai, Otto.
- Prazer, sou Eduardo. Mas pode me chamar de Edu. – ele estendeu a mão para Otto, que o cumprimentou.
- Pode chamar de Eduardo também se preferir, Otto. Porque este é nome dele, afinal. – falou Nicolas sem tirar os olhos de cardápio.
Mas claro que ele nem precisava escolher nada. Um minuto depois e dois atendentes estavam na nossa mesa:
- Senhor Welling, é um prazer tê-lo aqui.
- O prazer é meu. – ele disse.
- O que vão querer? Podemos preparar qualquer coisa, mesmo que não esteja no cardápio. – ele deixou claro.
Edu pediu as batatas rústicas e uma cerveja artesanal. Nem vi o que Otto pediu, concentrada no cardápio. Realmente era tudo que eu gostava: hambúrgueres artesanais, pastéis de todos os sabores possíveis e impossíveis, batatas fritas, assadas, rústicas... Difícil escolher.
- Aposto que vai preferir o tradicional: batatas fritas. – disse Nicolas, que estava estrategicamente sentado entre mim e Edu.
- Vou provar as batatas rústicas que Edu me indicou. – falei.
- O que mais? – o atendente perguntou.
- Dois hambúrgueres da casa.
- E bebida?
- Uma pina colada caprichada e uma lata de Coca-Cola normal para ela. – disse Nicolas antes que eu respondesse.
- Se tiver bolo de coco, pode ser a sobremesa. – Otto riu.
- Vou anotar tudo isso no meu pensamento. – reagiu Edu.
Não acredito que Nicolas e Otto estavam de complô contra mim. Pisei forte no pé de Nicolas debaixo da mesa.
- Ai... – ele disse. – Pare de me tocar debaixo da mesa, Juliet. Isso não pega bem para uma mulher casada como você.
Levantei minhas mãos imediatamente para cima da mesa, ficando corada:
- Não estou tocando em você, seu mentiroso. Eu pisei no seu pé.
- E por que você faria isso, “gatinha”? – ele ironizou.
- Ah, eu vou bater em você, seu idiota. – falei levantando.
Antes que eu conseguisse enchê-lo de tapas ele simplesmente me colocou sobre o ombro dele e saiu dali tranquilamente enquanto eu batia com minhas mãos fechadas nas costas dele, tentando me desvencilhar.
- Me solte, Nicolas Welling, agora.
- Ou o que você vai fazer?
- Me solte! – exigi.
- Se não ficar quieta eu vou bater na sua bunda.
- Idiota, você não pode fazer isso. Eu sou uma mulher comprometida.
Ele riu alto enquanto me levava por trás do restaurante, numa estradinha estreita e pouco iluminada.
- Mulheres comprometidas não devem sair para jantar com seus motoristas.
- Muito menos com os sócios dos maridos. – eu reagi. – Eu odeio você.
- Eu já disse que amo quando você diz que me odeia?
- Eu odeio de verdade. – falei já não reagindo tanto, descansando meu corpo enquanto ele me retirava de seus ombros e me segurava em seus braços, junto do seu corpo, e instantaneamente eu passava meus braços em volta do pescoço dele, encontrando seus olhos.
- Achei ter ouvido que me amava, ontem, hoje e sempre. – ele disse.
- Mudei de ideia quanto a isso.
- Em tão pouco tempo?
- Sim... – falei já quase sem voz, sentindo o cheiro dele entrando pelas minhas narinas.
Tentei pegar o cordão e ele foi mais rápido, colocando para dentro da camiseta e quase me derrubando quando se desequilibrou.
- Você não está se comportando. – ele disse enquanto me colocava de volta em seu ombro. – Merece um castigo. – então ele começou a bater na minha bunda, com força.
Olhei para os lados e não havia absolutamente ninguém ali. Deixei que ele continuasse, sabendo exatamente o que aquilo significava para mim e que fim teria.
- Você merece sofrer... Ter dor... – ele disse enquanto me descia, colocando-me na sua frente.
- Sei o quanto mereço... Por isso passei por todas as provações possíveis. – falei amargamente.
Ele acariciou meu rosto:
- Senti saudades de nós...
- Mentiroso. Volte para sua amiga colorida irritante, ou a prostituta da noite passada porque...
Ele abaixou lentamente o rosto enquanto as palavras foram morrendo lentamente nos meus lábios. Nos olhamos um tempo, sem dizermos nada. Meu coração batia tão forte que eu apostava que ele ouvia. Então ele me beijou, como há anos atrás. Um beijo de amor, de saudade, como costumávamos fazer quando ficávamos dias se nos ver. Sua língua entrou exigente na minha boca enquanto suas mãos passeavam por todo meu corpo. Passei meus braços pelo pescoço dele, puxando para mais perto de mim, sentindo meu corpo em chamas. Ele me levantou na sua altura, deixando meus pés fora do chão. Ah, como eu amava aquilo. Sua língua na minha, seu gosto. Eu jamais esqueceria aquele homem, não importava quanto tempo eu vivesse... Ele estaria impregnado na minha pele, no meu pensamento, no lugar mais profundo do meu ser. Ele me largou de volta no chão e deu alguns passos para frente, até me encostar em um tronco, que eu senti nas minhas costas, mas não tinha certeza se era uma árvore ou um coqueiro, porque eu estava envolvida demais naquele beijo perfeito.
Nos soltamos quando faltou fôlego. Ele olhou nos meus olhos e levantou meu vestido, passeando as mãos quentes e lisas sobre as minhas pernas, lentamente, fazendo eu me arrepiar de desejo. Vendo que eu não ofereci resistência, ele apertou minha bunda dolorida dos tapas com uma mão e a outra passou para a parte interna das coxas, alcançando minha calcinha molhada.
- Achei que você não me queria... – ele disse enquanto distribuía beijos vagarosos no meu pescoço. – Mas não é isso que seu corpo diz... Sempre molhada para mim...
- Ontem, hoje e sempre... – falei puxando o rosto dele com minhas mãos e mordendo o lábio dele com força, até ele soltar um gemido de dor.
- Como posso amar quando você diz que me odeia e quando me morde deste jeito que só você sabe fazer, como se quisesse me devorar?
- Eu quero devorar você, Nick... – confessei.
- Então me devore, rainha do drama... Esperei seis anos para ser devorado por você novamente.