Capítulo 76
1565palavras
2022-07-18 05:23
Olhei no relógio e só havia passado três horas. Eu não fui atrás de Nicolas. Comi algo rápido na minha sala ao meio dia e quando saí já era quase quatro horas.
Edu me esperava no carro.
- Aceito o jantar. – falei. – Que horas você me busca?
- Pode ser às vinte horas? Fica bom para você?
- Fica perfeito. Só me prometa que não me levará a um restaurante com frutos do mar... Muito menos comida chique. Eu não gosto. Não tente me impressionar. Eu gosto de coisas simples.
- Não se preocupe. Já sei onde será.
- Ok.
- Gostou do café?
- Adorei. Obrigada, novo amigo. – sorri. – E... Caso Nick... Quer dizer, o senhor Welling lhe diga qualquer coisa, me avise. Que eu acabo com ele.
Ele riu:
- Por que ele falaria algo?
- Só me avise, por favor.
- Posso ter problemas com ele?
- Talvez um pouquinho... – eu apertei meus olhos e fui me abaixando um pouco no banco, envergonhada.
- O que você tem com o senhor Welling?
- Bem... Nós nos conhecemos antes de vir para cá.
- Não me diga que é ele que você tenta esquecer.
- Mais ou menos.
- Mais ou menos? Porra, ele vai acabar comigo... E nunca mais vou conseguir emprego em Paraíso... – ele ficou preocupado.
- Tom também é dono desta porra.
- Mas você não disse que vai terminar com ele?
- Eu resolverei tudo. Além do mais, Nicolas não teria coragem de fazer nada contra você.
- Vai testá-lo? O senhor Welling é implacável, capaz de qualquer coisa.
- Acho que não estamos falando da mesma pessoa. Nick é a pessoa mais perfeita e...
Parei ao ouvir aquelas palavras saindo da minha boca. Os olhos de Edu me encaravam pelo retrovisor:
- Caramba, Juliet. Você gosta dele.
- Eu? Não...
- Porra, vou perder meu emprego.
- Não vai mesmo. – garanti.
Assim que ele me deixou na casa de Nicolas eu disse:
- Te espero às vinte horas. Que roupa devo usar?
- Algo leve e confortável.
- Ok. Até daqui a pouco, Edu. – falei sedutoramente.
Ele balançou a cabeça:
- Juliet, você vai me trazer tantos problemas... – ele suspirou. – Já disse que amo problemas?
Eu ri:
- Eu também.
Abri a porta e senti meu coração bater forte e se encher de amor. Lágrimas brotaram grossas dos meus olhos... Ele era o que eu tinha de mais próximo do que se dizia “amor de família”. Ele levantou imediatamente e eu corri, abraçando-o com força e sentindo seus braços me envolverem por inteiro:
- Não precisa mais chorar, Juliet. Eu estou aqui.
- Pai... Por que demorou tanto?
Ele riu:
- Acha que demorei? Saí de casa exatamente meia hora depois que você ligou... Nem sei como consegui chegar tão rápido.
- Eu já disse que você tem o cheiro da minha mãe?
Ele alisou meus cabelos:
- Ela me deixou para tomar conta de você... Então sim, eu devo ter cheiro de amor. Porque aposto que ninguém no mundo a ama mais do que eu e ela.
- Tudo que eu precisava era de um abraço seu, pai.
A porta se abriu e Nicolas entrou. Ele e Otto se encararam. Então Otto me largou e os dois se aproximaram e se abraçaram:
- Nicolas... Eu... Estou surpreso de você estar aqui. – falou Otto confuso.
- E eu de você estar na minha casa, Otto. – ele me olhou, como que pedindo uma explicação. – No entanto, tê-lo aqui é um enorme prazer.
- Juliet me chamou ontem pela madrugada, chorando ao telefone. Eu vim imediatamente. Sabia que ela precisava muito de mim. Só não entendo... O que vocês dois fazem sob o mesmo teto depois de seis longos anos... Aqui neste lugar. Onde está Tom? Por que você me chamou para cuidar de você, se ele está aqui? – Otto ficou confuso, olhando para Nicolas e depois para mim.
- “Ele”... – apontei para Nicolas. – Foi o responsável pela minha crise de choro. – expliquei, limpando minhas lágrimas, que neste momento eram de emoção por ver Otto.
Otto foi até mim e me abraçou novamente, perguntando:
- Nicolas, fazendo você chorar? Eu sinceramente não acredito.
- Não acredite mesmo, foi tudo um mal entendido, Otto.
- Um mal entendido? – eu perguntei quase gritando com ele.
- O mal entendido é sobre ontem à noite. Não sobre o que ocorreu antes disso. Eu não conhecia aquela mulher.
- Não me deve satisfações. – dei de ombros.
- Que mulher? – perguntou Otto confuso.
Larguei Otto e fui até Nicolas:
- Devolve meu cordão.
- Vem pegar de mim. – ele disse rindo, sem se mexer.
Tentei pegar e ele se desvencilhava de mim.
- Isso era a briga de vocês? – Otto perguntou. – Vim aqui para ver vocês dois agirem como se ainda tivessem dezoito anos?
- Pai, ele pegou meu cordão.
- Pai? – perguntou Nicolas. – O que eu perdi nestes seis anos?
- Perdeu a melhor mulher que poderia ter na sua vida. – respondeu Otto, fazendo nós dois o olharmos.
Fiquei corada e estendi minha mão, tentando dissipar o momento:
- Devolve meu cordão.
- Não, você jogou fora.
- Não joguei fora, joguei em você.
- Então não queria mais. Agora é meu.
- Quem sabe vocês dividem, como era antes? Cada um fica com uma parte. – sugeriu Otto.
- Nem pensar. – falei olhando nos olhos de Nicolas. – É tudo meu. Ele me entregou... Para acabar comigo. – lembrei com tristeza do momento que peguei o cordão.
Nicolas colocou o cordão para dentro da camisa e disse, tranquilamente:
- Otto, bebe algo? Já providenciaram um quarto para você?
- Nicolas, devolve agora.
- Eu não vou devolver. Você vai ter que pegar de mim. – ele me disse seriamente.
- Eu não tenho como fazer isso e você sabe muito bem.
- Tente me pegar desprevenido, à noite... – ele falou sarcástico.
- Prefiro morrer.
- Estou ficando preocupado com a sanidade de vocês. – disse Otto coçando a cabeça quase completamente sem cabelos.
- Otto, o que Juliet fez com você nestes anos? Onde estão seus cabelos.
- Para você ver o que passo, Nicolas. Ela acabou comigo. – falou Otto me abraçando. – E aposto que você estaria assim se tivesse ficado com ela.
Um silêncio tomou conta da sala. Ele ficou um pouco envergonhado e disse:
- Eu só tenho uma pergunta: onde está Tom?
- Viajando. – falamos os dois ao mesmo tempo.
Otto balançou a cabeça:
- E vocês dois sozinhos aqui, depois de seis anos?
Não dissemos nada. Depois de um longo silêncio e um Otto realmente confuso, eu disse:
- Otto, creio que não ficaremos na casa do senhor Welling. Aposto que ele vai de uma vez por toda dar uma casa só para mim. Agora que resolvemos de vez nossa situação.
- Resolvemos? – perguntou Nicolas.
- Resolvemos. Eu disse que ainda o amava, você disse que não me ama, comeu a vagabunda e tudo certo. Agora eu vou com Otto para outra casa, espero Tom chegar, termino com ele e volto para casa. Final da história.
- Termina com Tom? – Otto perguntou. – Juliet, você estava chorando por causa de Nicolas ou Tom? Eu imaginei que Tom tivesse feito algo para você... Não Nicolas.
- Ele não “fez”... Ele “faz” coisas horríveis para ela. – disse Nicolas.
- Como assim?
- Não ouve ele, Otto. Nicolas não sabe nada.
- Calma. – Otto disse levantando as mãos. – Vocês dois estão me deixando louco.
- Por que você acha que ela é a rainha do drama, Otto? – Nicolas perguntou.
Respirei fundo e olhei no relógio:
- Otto, eu ia jantar com um amigo. Mas agora vou desmarcar. Tomarei um bom banho e depois lhe contarei tudo, prometo.
- Sim, vai contar a sua versão. Depois eu conto a minha, Otto. – avisou Nicolas. – Como assim jantar com um amigo? Você ia sair mesmo com o seu motorista?
- Sim. – falei indo para a escadaria. Vi uma das empregadas parada, assistindo a tudo discretamente e pedi: - Por favor, arrume o melhor quarto de hóspedes para o meu pai. Ele vai ficar por aqui um tempo.
- Tudo bem, senhora Welling. – ela disse, subindo a escadaria.
- Do que você a chamou? – perguntou Nicolas aturdido.
- Senhora Welling? – ela perguntou confusa.
- Eu não sou esposa dele. – expliquei.
- Mil perdões. – ela pediu preocupada. – É que sou nova e as outras chamam a senhora... Senhorita... Não sei como chamar. Mas sim, elas a chamam de Senhora Welling.
- Sem problemas, garota. – disse Otto. – Só arrume o quarto. Eu nem consigo imaginar porque os empregados chamam Juliet de senhora Welling. – ele sentou no sofá, se jogando para trás. – Podemos fazer o que neste lugar à noite, Nicolas? Não vai me deixar sozinho, não é mesmo?
- Pai, eu vou ficar com você.
- Nem pensar. Vai jantar com o rapaz que você combinou. Aposto que Nicolas não vai se preocupar em dar uma atenção para este velho amigo.
Nicolas olhou para mim e depois para Otto:
- Não mesmo, Otto. Estou feliz que esteja aqui.