Capítulo 75
2440palavras
2022-07-18 05:23
O dia passou lentamente e eu demorei para ir para casa. Depois de sair do escritório fui a uma reunião de negócios que era para ser breve e a estendi pelo maior tempo que consegui. Eu tinha medo de voltar para minha própria casa... Tê-la sob o mesmo teto e não tocá-la acabava comigo. No fim, minha vingança me fazia sofrer tanto quanto ou mais do que ela.
Voltei para casa direto da sala de convenções do resort, caminhando. Mais de uma hora em passos lentos, vendo a noite linda que emoldurava o Paradise Resort.
Quando entrei em casa já era tarde. E para minha sorte ela não estava ali. Certamente já estava adormecida e eu esperava que tivesse ficado curiosa sobre onde eu estaria. Eu sabia que ela não gostava de Joana. E quando soubesse a verdade certamente a odiaria ainda mais... Assim como a mim. Mas infelizmente Juliet precisava ver as coisas que estavam debaixo do seu nariz de uma forma real, mesmo que a fizesse sofrer. Ela só acreditava no que queria. E eu tinha quase certeza que ela não havia mudado quanto a isso. E esta verdade era a parte final da minha vingança: “veja com seus próprios olhos as consequências das suas decisões”. Depois disso eu a deixaria livre... Se eu conseguisse.
Assim que entrei no quarto e apertei o interruptor de luz, vi uma mulher quase nua na minha cama.
Olhei para ela confuso e preocupado:
- Quem é você? O que faz aqui?
Era loira, com cabelos longos e usava um conjunto de lingerie vermelho com cinta liga da mesma cor, assim como sapatos de salto altíssimos. Era muito, mas muito gostosa.
- Eu sou um presente para você. – ela disse, levantando da cama, mostrando seu corpo escultural e balançando um chicote.
- Quem deixou você entrar?
Eu tinha que tirá-la dali... Mas conforme ela foi vindo na minha direção, eu fiquei praticamente imóvel. Ela me puxou até a cama e me jogou com força, retirando minha roupa rapidamente e sentando sobre mim...
Eu acordei ouvindo gemidos altos. Sentei na cama, tentando entender o que estava acontecendo. Parecia um sonho... Levantei e fui até o banheiro e lavei meu rosto. Não tive dúvidas de era real... E que vinham do quarto de Nicolas.
Senti meu coração bater fortemente e um frio na minha espinha. Não acreditava que ele poderia estar fazendo aquilo comigo. Eu havia aberto meu coração para ele... Nicolas sabia o quanto eu ainda o amava.
Levantei e abri minha porta tentando não fazer barulho. Sim, fui louca a ponto de colocar meu ouvido na porta para escutar melhor o que vinha lá de dentro: gemidos de prazer, batidas na parede. Por que ele não escolheu um motel para comer Joana?
Deixei as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, quentes e grossas. Eu já não aguentava mais tudo aquilo. Coloquei o dedo sobre os pingentes que eu ainda trazia junto de mim... E com qual sentido eu ainda queria aquilo? Eu não precisava guardar porque o recordaria pra sempre... Porque eu queria esquecer que um dia Nicolas esteve na minha vida.
Abri a porta e me deparei com a luz fraca do abajur iluminado a mulher que cavalgava sobre ele. E não, não era Joana. Os dois me olharam e ela deu um sorriso irônico:
- Quer participar, linda? Aposto que ele dá conta de nós duas.
Limpei as lágrimas, arranquei o cordão do meu pescoço e joguei sobre eles. Caiu ao lado da cama.
- Nicolas, a partir de hoje eu retiro você completamente da minha vida... Para sempre.
Ele levantou rapidamente, derrubando a mulher sobre a cama:
- Juliet, não é o que você está pensando...
- Ela é sua esposa? – ouvi a garota perguntando para ele. – Eu não sabia... Desculpe. – ela me olhou.
Voltei para o meu quarto aos prantos e tranquei a porta com a chave. Peguei meu telefone e disquei desesperada para a única pessoa que eu queria naquele momento.
- Juliet? Por que está me ligando a esta hora? O que houve?
- Pai... Eu preciso de você. – falei quase sem voz, de tanto que eu chorava.
- Meu Deus... O que aconteceu?
- Me ajuda... Vem para cá.
- Eu estou indo, meu bem... Estou indo. Agora!
- Eu quero você... Eu não aguento mais...
- Eu vou matar Tom. Vou imediatamente me trocar e estou indo para o aeroporto. Espere-me, filha. Tudo vai se resolver.
Eu desliguei o telefone e me deitei na cama, deixando o choro acalmar minha tristeza e dor. Aquela cena quase me fez vomitar de tanto nojo.
- Juliet, abre a porta... – Nicolas começou a bater do lado de fora.
- Vai embora, Nicolas... – gritei.
- Por favor... Abre. Eu preciso falar com você.
Não respondi. Eu não queria ouvir nada. Para mim estava tudo acabado. Eu tiraria todo e qualquer sentimento que ainda havia com relação a ele de dentro de mim... Para sempre.
- Juliet... Eu quero explicar o que houve.
Eu ri amargamente. Eu também tentei explicar um dia que era um mal entendido e ele não me deixou. E eu só estava no carro de Tom, indo ao hospital porque minha mãe estava mal. Eu o vi com outra mulher... E nem tinha motivos para cobrar. Nós não tínhamos nada um com o outro. Pelo contrário, tínhamos outros parceiros. Por que ainda achávamos que estávamos juntos? Que porra de laço nos unia de forma tão intensa e forte? Eu estava cansada de tudo... Dos meus sentimentos, da forma como ele vinha me tratando e de toda a humilhação a qual eu estava me submetendo.
Tapei meus ouvidos com as mãos e fechei meus olhos. Eu não queria ouvir o que ele tinha para me dizer... Nunca mais.
Não sei quanto tempo fiquei ali, recusando-me a ouvir qualquer coisa que Nicolas tivesse para dizer. Depois que minhas lágrimas secaram, retirei as mãos e percebi o silêncio na casa. Fechei meus olhos, na esperança de conseguir dormir.
Acordei com dor de cabeça na manhã seguinte e quando fui me olhar no espelho percebi meus olhos inchados. Fiquei com raiva de mim mesma. Chegava de ficar me humilhando por amor, por atenção. Chegava de declarar meu amor e ouvir em troca: “eu não sinto nada por você”. Isso me lembrava tudo que vivi com Carlos Eduardo. E Nicolas sempre me criticou pela forma como eu me comportava com relação a ele. Era hora de resgatar meu amor próprio e viver minha vida... Longe de Tom e de Nicolas. Uma vez eu achava que Tom não me fazia bem. Hoje eu tinha certeza de que Nicolas me machucava mais do que ele. Eu tentaria acabar com aquele amor que tomava conta de cada pedaço do meu corpo e do meu coração. Porque eu merecia ser feliz, assim como todo mundo. Foram anos chorando por lembranças de alguém que não sentia nada por mim, que sequer se importava comigo ou sabia que eu existia.
Coloquei uma calça leve e uma blusa decotada. O sol já estava alto no céu e o calor escaldante. No lugar de scarpin, usei sandálias de tiras finas com salto alto. Não parei para verificar se havia café preparado na sala de jantar. Saí da casa, me dirigindo para o carro. Assim que sentei no banco de trás e vi Eduardo, retirei meus óculos escuros, o encarando:
- Bom dia, Edu.
- Bom dia, Juliet. A partir de agora serei o seu motorista.
Eu sorri feliz:
- Pelo menos uma coisa boa...
- Posso fazer uma pergunta? – ele perguntou enquanto manobrava.
- Claro.
- Por que eu?
- Eu preciso de alguém, Edu. Um amigo. Estou completamente sozinha neste lugar. Moro com Tom, mas pretendo acabar de vez nosso relacionamento. Tive uma pessoa no passado... E confesso que ele ainda está dentro de mim. E quero esquecê-lo... Para voltar a ser eu mesma e ser feliz. Eu só quero um amigo. E você foi a pessoa que encontrei. Além de Eliete, a minha secretária. Com ela também foi amor a primeira vista. – confessei.
Ouvi o rádio tocando baixinho. Parecia que era TNT.
- Pode levantar um pouco o volume? – pedi.
Ele levantou o pouco e ouvi a minha música, a minha banda e aquilo me fez um bem danado.
- Gosta? – ele perguntou, me olhando pelo retrovisor.
- Se eu gosto? Eu simplesmente amo. Sabia que eles são do meu estado? De perto da minha cidade. Na verdade, eram... A banda não existe mais.
- Eu adoro eles. – ele riu. – E jurava que ninguém no mundo além de mim escutava isso.
- Edu, você é a minha alma gêmea. – gargalhei e logo comecei a cantar a música em voz alta. Ele me acompanhou.
Quando acabou, perguntei:
- Acha que sou desafinada?
- Não.
- Fala a verdade, ou vou ficar brava com você.
- Muito... – ele riu.
Gargalhei:
- Poxa, eu amo cantar e acho que não tenho talento.
- Somos cantores de chuveiro. Não tem problema.
- Tem um lugar onde eu posso pegar um café antes de ir para a empresa?
- Sim... Vou passar num lugar perto do resort.
Ele dobrou e em pouco tempo paramos um pequeno espaço escrito: Breakfast.
Meu celular vibrou. Era mensagem de Eliete dizendo que tínhamos uma reunião com Nicolas e outros sócios naquela manhã. E que começaria em dez minutos.
- Puta que pariu. – falei revirando meus olhos.
Ele me olhou, com ar zombeteiro:
- Uma das poucas sócias de um dos resorts mais importantes do país fala “puta que pariu” enquanto espera o café da manhã no carro?
- Reunião que ou eu não lembrava ou só me avisaram agora. Eu preciso correr para a empresa. Não vai dar tempo do café.
- Mas você já comeu algo?
- Realmente não vai dar tempo. Consegue me levar em cinco minutos? – juntei minhas mãos e fiz beicinho.
- Acho que em três. – ele ligou o carro e rapidamente girou a direção, voltando.
Mas ele não chegou em três minutos, nem ultrapassando a velocidade permitida. Cheguei 7 minutos depois na porta de entrada do prédio e 11 minutos atrasada na sala de reuniões.
Haviam várias pessoas sentadas em volta da mesa circular de vidro, com um mar absolutamente lindo sendo visto ao fundo pelo vidro da janela. Nicolas, em sua cadeira gigantesca e estofada, liderava o grupo. Todos me observaram, mas ele não parou de falar enquanto sentei ao lado de Eliete. Ela estava tomando nota de tudo e só me passou o bloco, que li rapidamente.
Enquanto algumas pessoas falavam, eu tentava me apropriar de tudo. Nicolas levantou para mostrar algo no projetor e pude ver o cordão com os dois pingentes no pescoço dele. Senti um frio no meu estômago e coração palpitar forte. Fiquei quase sem ar. Respirei repetidas vezes, expelindo pela boca. Aquilo certamente fazia parte de mais algum plano maligno dele. Tentei me concentrar, mas não conseguia. Baixei minha cabeça e deixei o tempo correr.
- Intervalo de dez minutos. – disse Eliete no meu ouvido, despertando-me do meu mundinho.
Alguns levantaram, outros pegaram cafés expressos que lhes eram oferecido.
- Você me disse desta reunião? – perguntei olhando atentamente para ela.
- Claro, Juliet.
- Acho que eu não estava muito bem ontem.
- E hoje sua cara está péssima. Você chorou?
- Dá para ver sob a maquiagem meus olhos inchados?
- Um pouco. – ela sorriu timidamente.
Um copo descartável térmico foi colocado na minha frente. Olhei para cima e vi Nicolas.
- Caso não tenha tomado café. – ele disse.
Antes de eu responder, uma das secretárias da recepção do primeiro andar me trouxe um copo grande de café e disse:
- Mandaram entregar para você, senhorita Juliet.
- Obrigada.
Olhei para os dois cafés, um do lado do outro. O que chegou trazido por ela, tinha um bilhete, tipo post it dobrado e grudado. Abri, na frente dele, curiosa e ao mesmo tempo querendo que ele lesse, mesmo incerta do que tinha escrito ali: “Ainda não tenho certeza de seus gostos, mas logo vou saber. Quer jantar comigo num lugar legal hoje? Seu novo amigo. Edu”. Eu sorri, encantada com o gesto dele.
- Parece que alguém ganhou um admirador. – falou Eliete.
- Quem é Edu?
- Meu lindo e perfeito motorista. – falei tomando o café que Edu enviou. Era Cappuccino.
- Eu mesmo preparei este. – ele explicou. – Do jeito que você gosta.
- Obrigada, Nicolas. Não deveria ter se incomodado. Aliás, não precisa mais se preocupar comigo... Finalmente estou bem. – olhei nos olhos dele. – Porque não preciso de mais nada que possa recordar-te. Meu único objetivo é esquecer-te. – sorri e pisquei, levantando e indo ver a vista mais de perto, deixando o café dele sobre a mesa.
Meu coração ainda ameaçava me matar a qualquer momento e eu tentava não olhar para Nicolas. Quando vi ele estava parado ao meu lado:
- Já conheceu todo o resort?
- Sim.
- Como? Com quem você foi? Ah, lembrei, o motorista. – ele ironizou.
- Edu. – respondi.
- Edu... – ele repetiu.
- Uhum. – assenti.
- Está de caso com seu motorista, Juliet?
- Ainda não, Nicolas. Primeiro vou terminar de vez meu relacionamento com Tom. Depois vou ficar com o meu motorista. Esqueceu que eu não presto? Você sempre dizia isso... – eu sorri.
- Vou demiti-lo.
- Se fizer isso, eu vou embora.
- Está me ameaçando? Acha que eu me importaria com a sua partida?
- Então o demita. E saberá se sentirá minha falta ou não.
- Como você consegue ser tão convencida?
- O café dele é melhor que o seu.
- Não foi ele que fez. Comprou pronto.
- Ele não anda com prostitutas baratas.
- Você não sabe... Nem o conhece. E sei muito bem o que você faz com seus amigos.
- O que eu faço, Nicolas? – o encarei sarcasticamente. – Dou-lhes amor e uma boa foda?
Ele olhou ao redor, se certificando de que ninguém nos observava. Todos já estavam sentados à mesa, nos olhando mudos e apavorados.
Voltei ao meu lugar certa de que tinham me ouvido, querendo me enterrar num buraco muito fundo. Nicolas sentou nervoso e confuso. Demorou um tempo até ele conseguir dizer:
- Reunião encerrada. Continuamos amanhã.
- Mas... Como assim? – perguntei.
- Senhor Welling, não podemos voltar amanhã. O senhor...
Nicolas levantou e saiu sem dizer nada, deixando todos em polvorosa.
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