Capítulo 73
2711palavras
2022-07-18 05:21
Comer comida gordurosa e refrigerante fazia mal para o meu corpo, mas muito bem para minha alma. Trazia gosto da adolescência, de papo com as amigas, de uma época onde a única obrigação era ser feliz. E por que hoje não era mais minha obrigação ser feliz? Eu tinha só 26 anos. Nunca era tarde para procurar a felicidade. E eu botei na minha cabeça que minha felicidade era Nicolas. Mas talvez não fosse. Minha felicidade não precisa estar em alguém... Ela poderia estar em mim mesma.
Eduardo era divertido. Enquanto comíamos conversamos sobre assuntos agradáveis, como a vida dele, parte da minha (que só contei sobre as coisas que eu fazia na adolescência). Depois que pedi outro hambúrguer e comi inteiro, ele perguntou, rindo:
- Há quanto temo você não comia?
- Muitos anos, Edu. – falei tristemente. – Acredita que ontem quase comi batatas fritas? Mas acabaram caindo no chão. E não tinha refrigerante normal na cada de Nick... Só diet.
- Nick? – ele perguntou, arqueando as sobrancelhas.
- Quer dizer, Nicolas...
- Senhor Welling?
- Que seja.
- Você o chama de Nick? – ele ficou curioso.
- Uma longa história. Nos conhecíamos... Antes de nos encontrarmos aqui.
- Entendo...
- Se você está aqui há tanto tempo... Poderia me explicar como Nicolas conseguiu isso tudo?
- Ele montou todo o projeto do Resort. Tinha um pouco de dinheiro, mas nem perto do que precisava para pôr em prática tudo que almejava. Conseguiu financiamentos e algumas pequenas redes hoteleiras que apostaram no projeto dele. Quatro anos depois o resort estava levantado. E foi um sucesso. Ele acabou comprando a parte de quase todos os investidores. Porque certamente o lucro dele foi gigantesco. Ainda assim ele nunca quis aparecer como o verdadeiro dono perante a mídia. Sempre recusou entrevistas ou qualquer coisa que envolva seu nome ou seu rosto. Só quem mora aqui sabe que ele é o dono de tudo.
- Acho que sei o motivo...
Tudo isso para se vingar de mim? Porra, Nicolas era muito pior do que eu pensei. Tantos anos vivendo para acabar comigo, uma mulher completamente destruída e acabada desde que ele se foi? O que ele ainda quebrar que já não quebrou em mim?
- Parece que não queria ser encontrado.
- Certamente.
- Você ajudará a gerenciar tudo, estou certo?
- Mais ou menos. É que Tom comprou parte do resort. Uma parte bem pequena, na verdade. A ideia era ficar a par de tudo e partir. Mas agora, finalmente, decidi pôr fim ao meu relacionamento com ele. Então não tenho certeza de como vai ficar tudo. Vou seguir com meu trabalho até Tom retornar de viagem. Depois provavelmente vou partir de volta para o lugar de onde eu venho.
- Sinto muito... Pelo seu casamento.
- Não sinta. Estou feliz em ter tomado esta decisão. E você? Casado, noivo?
- Nenhuma das opções. – ele riu. – Paraíso é uma cidade pequena. Então se envolver com alguém daqui é difícil. Todos preferem pessoas de fora... Porque isso significava “grana”.
- Mas... Quem recusaria um homem como você?
Fiquei envergonhada depois que falei. Saiu, sem eu querer. Ele retirou os óculos e botou na cabeça, me encarando:
- Está dando em cima de mim, Juliet?
- Eu? Claro que não... Pelo menos não neste momento. – sorri ironicamente.
- Você é uma mulher linda... Não entendo como pôde ficar tanto tempo num casamento sem amor.
- A vida é complicada, Edu. E às vezes simplesmente ficamos onde estamos... Só porque já estávamos ali há tanto tempo... E não temos exatamente para onde ir. Porque o “onde ir” não existe mais.
Ele colocou a mão sobre a minha. Nossos olhos se encontraram. E meu chapéu voou da cabeça, com o vento que começava a ficar mais forte.
Ele saiu correndo atrás do meu chapéu, que se encaminhava para o mar. Eu corri atrás dele. Só paramos quando uma onda o cobriu. Entrei na água e o resgatei, levantando orgulhosa de meu feito, gargalhando.
Ele não entrou no mar. Ficou me observando, próximo. Assim que cheguei perto, disse:
- Tire agora este sapato, Edu.
- Eu não posso, Juliet.
- Pode sim. Você é meu motorista agora, esqueceu? E não quero você de sapatos.
Ele retirou os sapatos e as meias, colocando numa espreguiçadeira próxima. Haviam poucas pessoas na beira da praia.
- Quer que eu tire minha roupa também? – ele perguntou ironicamente.
- Calma, Edu... Não vamos tão rápido. Primeiro o sapato... Depois vamos para o restante das peças... – provoquei.
- Juliet... Eu não sou um santo... Muito menos um bom garoto. Não me provoque.
- E quem é você? – dei de ombros, retirando meu short e jogando nele, correndo para o mar.
Fazia tantos anos que eu não tomava banho de mar. A água ali era quente e cristalina. Nadei um pouco e me senti tão tranquila e bem, que parecia que não era real. Não sei se era a companhia, ou o lugar. Parece que depois de seis anos era a primeira vez que eu me sentia realmente bem comigo mesma.
Eduardo ficou me observando, de pé ao lado da espreguiçadeira. Claro que me senti atraída por ele. E ele além de lindo era divertido e gentil. Mas eu sabia que não poderia rolar nada entre nós. Tentava me enganar, sabendo que meu coração só pertencia a uma única pessoa. Toquei no meu cordão e nos pingentes. Não sabia qual seria meu futuro junto a Nicolas. Mas também não criaria perspectivas. Eu dispensaria Tom... Ele não me fazia bem. O resto era o resto. Talvez viver a vida fosse a melhor opção no momento.
De repente, as nuvens começaram a ficar escuras e alguns trovões ecoaram ao longe. Fiquei com um pouco de medo e saí da água. Edu me esperava com uma tolha, que colocou sobre mim.
- Não sei se chegaremos no carro antes da chuva. – ele disse.
- Que horas são?
- Quase cinco.
- Passamos o dia inteiro juntos? – perguntei. Parecia que haviam sido somente algumas horas.
- Sim. – ele sorriu.
- Você é o melhor guia turístico do mundo. Deu-me hambúrguer e fez eu voltar a amar o mar. – dei um beijo no rosto dele, que ficou corado.
- Não fique corado. Vamos embora, motorista que prevê o tempo.
Saímos correndo. Quando atravessamos a piscina, na ponte, começou a chuva. Os pingos eram grossos e ela estava gelada. Começamos a rir e seguimos. Quando passamos do prédio dos apartamentos, o caminho de pedras quase não se dava para enxergar, de tão forte que estava a chuva. Então eu saí da estrada e fui até a grama verdejante, pulando feito criança, sentindo a água escorrendo pelo meu corpo.
Banho de chuva me lembrava a infância. E eu estava feliz. Eu não tinha compromisso com nada naquele dia... Só me divertir e ser feliz: este era o meu objetivo no domingo.
Chamei Edu com meu dedo indicador e ele acabou vindo para perto de mim. Encarou-me e disse, todo molhado:
- Juliet, você é louca.
Aquela frase me deu uma saudade de quem eu fui um dia.
Então, por quase uma hora eu tomei banho de chuva com Edu, meu motorista até então desconhecido. Chamamos a atenção de alguns poucos funcionários que passavam pelo local. Mas eu não me importei. Eu tinha autonomia naquele lugar para fazer o que eu quisesse, inclusive proteger Edu de qualquer coisa.
Voltamos para o carro encharcados, depois que eu cansei de correr e pular na grama, bem como deitar e rolar.
- Podemos voltar agora. – eu disse, sentando ao lado dele e não no banco de trás. – Estou morrendo de fome.
A chuva havia diminuído. Em pouco tempo chegamos de volta a Villa. Ele estacionou próximo da porta de entrada da casa de Nicolas. Antes de descer, perguntei:
- Você mora na Villa?
- Sim... Mas longe daqui.
- Sozinho?
- Com um amigo. E você, vai morar muito tempo na casa do senhor Welling?
- Espero que não.
Ele riu e balançou a cabeça.
- Foi um dia agradável... Muito bom. – falei. – Obrigada, Edu.
- Eu que agradeço, Juliet. Quase nem foi um dia de trabalho. Quem não gostaria de passar o dia ao lado de uma mulher linda e divertida como você?
Sorri e desci rapidamente, abrindo a porta da casa. Fiquei parada no hall. Eu estava toda molhada... A água escorria pelo meu corpo. E eu nem me dei conta de que sorria, mesmo estando sozinha.
- Onde você estava? – Nicolas perguntou, a alguns passos de mim, com seu olhar sério e inquisidor.
- Eu... Não lhe devo satisfações. – falei, incerta de molhar tudo e subir ou não.
- Eu fiquei preocupado com você. Saiu sem dar satisfações... Olhe para você? O que houve?
- O que houve? Um dia agradável e em ótima companhia. – passei por ele e em seguida voltei, lhe dando um abraço. - Eu estou feliz... E fazia tanto tempo que eu não sentia isso. E você não tem nada a ver com isso, Nicolas... – eu o soltei. – Nem com a minha felicidade, muito menos com como eu consegui encontrá-la longe de você. Acho que é possível viver uma vida feliz e plena... Sem precisar de você para isso.
Dizendo isso eu subi as escadas rapidamente, cantarolando o meu dia perfeito. Fui para o quarto, tomei um banho quente e pedi um lanche ali. Aleguei que não me sentia muito bem para descer. Peguei meu telefone e havia mais de dez ligações de Tom. Se eu não ligasse de volta, era capaz de ele voltar. E eu não queria que ele voltasse. Nunca quis tanto a ausência dele. Por mim ele poderia morrer que não faria falta nenhuma.
Disquei o número dele:
- Gatinha... Achei que não ligaria. E que não me perdoaria nunca mais. – ele disse.
- E não vou perdoá-lo nunca mais, Tom. – falei firmemente.
- Por que faz tanta questão de me fazer sofrer às vezes? Por que sabe o quanto eu amo você?
- Tom, quando você voltar, acho que precisamos ter uma conversa séria e definitiva.
- Não precisamos disso...
- Para mim, chega. Eu cheguei no meu limite. Não fazemos bem um ao outro.
- Passamos cinco anos juntos. Você não pode agora dizer que nunca deu certo e nunca nos fizemos bem. É injusto.
- Não quero ter esta conversa por telefone.
- Vou demorar... Porque não quero ter esta conversa.
- Não importa o tempo que você demore... Estarei esperando por você... E pela nossa conversa.
- Por que ainda não usou o cartão?
- Eu joguei fora. Não vou usar. Não preciso de nada seu.
- Gatinha... Tudo que eu quero é fazer você feliz.
- E nunca conseguiu, Tom. Eu não quero este tipo de felicidade que você está disposto a me dar.
- Por que você não vai conhecer o Resort? E relaxar um pouco?
- Estou aqui a trabalho.
- Volto assim que conseguir... Ou tiver coragem. Eu amo você. E vou amar sempre.
- Tchau, Tom. Estarei esperando ansiosamente por você.
Houve uma época que eu senti pena dele. Agora nem isso eu conseguia mais sentir. Tudo que eu queria era ele fora da minha vida e me sentir livre novamente.
Quando fui deitar na cama, percebi que ela estava toda molhada. Olhei para o teto e vi gotículas escorrendo lá de cima. Havia também em outras partes do quarto. E eu não havia me dado conta.
Saí para chamar alguém e encontrei Nicolas saindo de uma porta, no final do corredor.
- Tem um vazamento no meu quarto, senhor Welling.
- Um vazamento, senhora Panetiere? – ele ironizou.
- Em cima da minha cama. – expliquei, não dando atenção ao sarcasmo dele.
Ele foi até lá e olhou atentamente:
- Preciso chamar alguém para olhar isso e consertar. Mas só consigo amanhã. Hoje não há o que fazer.
- Então acho que é hora de eu ganhar um quarto no prédio de turistas do resort? – falei feliz, sorrindo de orelha a orelha.
- Não mesmo... Há vários quartos desocupados neste andar. Inclusive ao lado do meu tem um ainda melhor que este que você está.
- Não quero ficar mais na sua casa. Muito menos do lado do seu quarto.
- Tem medo de mim, Juliet?
- Não mais... Afinal, você não sente nada por mim. – ironizei. – Me mostre logo onde é o quarto. Estou contando as horas para ir embora desta droga de casa.
Ele me olhou sarcasticamente:
- Bem-vinda de volta, rainha do drama.
Ele seguiu e eu o acompanhei pelo corredor. Assim que ele abriu a porta, vi o quarto bem maior do que ele havia colocado eu e Tom. Por que ele tinha feito aquilo? O olhei confusa e curiosa:
- Tinha alguma reserva para este quarto antes de eu e Tom chegarmos?
- Não... Só achei que você não merecia.
- Por que mereceria agora?
- Talvez esteja ficando uma garota melhor.
- Eu não sou uma garota... Sou uma mulher. – olhei para ele furiosa.
Tentei entrar no quarto e ele pegou meu braço, me puxando para perto dele, me fazendo encará-lo:
- Quem somos nós?
- Me diga você, Nick. Quem somos nós? O que sobrou de nós? Acho que infelizmente, nada. Eu olho para você e vejo o meu Nick... Mas a forma como você me trata me diz o contrário. O meu Nick jamais me faria sofrer.
- Mas você o fez sofrer... Intensamente, por muitos anos. – ele pegou meus pulsos, sem força.
- Você nunca me deixou explicar. Eu não tinha nada com Tom. Tinha acabado de receber o telefonema de Otto avisando sobre minha mãe. Ele era o que eu tinha mais próximo para me levar...
- Não precisamos falar disso novamente. Eu não acredito em você.
- Então me deixe em paz... Por favor. – pedi, retirando com força meus pulsos das mãos dele. – Eu jamais viveria novamente um relacionamento horrível, que só me faz sofrer. É isso que você é para mim agora: um passado, que já não sei se quero resgatar.
Ele pegou meu corpo com facilidade, levando-me até a altura dele. Eu poderia ter tentado escapar, mas não o fiz quando vi nossas bocas a alguns centímetros uma da outra e senti a respiração dele acelerada como a minha. Nicolas me encostou na parede e, sem me soltar, me beijou. Seus lábios estavam quentes... E sempre foram tão macios. Sua barba por fazer me dava cócegas e ao mesmo tempo me excitava. O abracei, intensificando nosso beijo. Sua língua quente e convidativa explorava minha boca com vontade. Só ele beijava daquela forma: como se fôssemos morrer se nossas bocas não estivessem juntas. Éramos nós dois novamente, como eu creio que nunca tenha deixado de ser. Puxei seu lábio com força entre meus dentes, mordendo enquanto ele deu um gemido. Ele me colocou no chão e suas mãos encontraram minhas nádegas, que ele levou de encontro ao seu membro duro. Passei minhas mãos nele, sob a calça e em seguida abri o zíper, baixando-a junto da cueca. Senti meu membro enrijecido. Que saudade eu tinha daquilo... Sua boca desceu para o meu pescoço e sua língua passeava ansiosamente por cada parte da pele sensível. Apertei seu pênis e depois comecei a bombeá-lo na minha direção, encostando na minha intimidade, coberta por um short de tecido leve. Suas mãos entraram sob a calcinha e seus dedos alisaram toda minha extensão, umedecendo ainda mais cada parte de mim. Senti seus dedos entrando na minha fenda quente e molhada e soltei um gemido, intensificando meus movimentos no pênis dele. Quando fui retirar meu short, ele se afastou, corado, ofegante, dando vários passos para longe de mim.
- O que... Houve? – perguntei sentindo meu coração quase saltando para fora do me peito, com minha voz fraca e meu corpo latejando de desejo de ter ele dentro de mim.
- Eu já disse que não quero, Juliet.
O olhei e gritei, furiosa:
- Suma daqui, agora. E nunca mais terá a chance de me tocar novamente.