Capítulo 72
2291palavras
2022-07-18 05:20
Retirei minha roupa molhada, coloquei uma camisola rendada sexy e um resto do perfume do frasco que eu ainda usava na adolescência. Estava saindo quando o celular tocou. Era Tom. Não atendi. Eu estava decidida a acabar tudo quando ele voltasse. Eu não queria mais aquele relacionamento que não fazia bem a mim nem a ele. Eu não o amava. E além de ele usar cocaína, mesmo eu implorando que não fizesse, bebendo, levando uma vida sem nenhum tipo de compromisso a não ser se divertir com pessoas que mal conhecíamos, eu tinha quase certeza de que ele me traía nas viagens, embora eu não tivesse provas. Eu não daria o troco... Porque Nicolas não era uma vingança... Nicolas era o amor da minha vida inteira. Não ficar com ele era algo completamente impossível.
Eu coloquei o telefone no silencioso e sai, abrindo a porta do quarto de Nicolas. Ouvi o barulho do chuveiro ligado. A porta do banheiro estava aberta. Desliguei a luz e deitei na cama, me cobrindo e esperando por ele. Esperei, esperei... E ele não vinha nunca. Depois o ouvi falando ao telefone com alguém. Seria Joana? Eu não conseguia ouvir exatamente o que ele dizia. Meus olhos começaram a ficar cansados e minhas pálpebras se fecharam. Quando ele chegasse eu acordaria. Mas não... Acabei caindo num sono profundo.
Abri meus olhos e minha cabeça latejou. Demorei até entender onde eu estava. O quarto tinha pouca iluminação. Mas pude reconhecer Nicolas deitado na poltrona ao meu lado, com a cabeça caída, dormindo.
O que teria acontecido? Eu não lembrava nada depois que deitei na cama dele...
Retirei a coberta e desci tentando não fazer barulho para não acordá-lo. Queria voltar imediatamente para o meu quarto e nunca mais olhar para ele. Porque simplesmente eu havia perdido a memória do que fizemos.
- Bom dia, rainha do drama.
Fiquei imóvel e senti meu coração acelerado e um frio na barriga. Virei a cabeça e olhei para ele:
- Bom dia...
- O que achou da noite, meu bem? – ele perguntou com um meio sorriso irônico.
- Eu... Achei boa. – falei, sem ter certeza do que havia acontecido.
- E como vai contar para Tom o que aconteceu?
- Não importa o que aconteceu entre nós, Nick. Eu vou terminar com Tom de um jeito ou de outro. O nosso relacionamento não pode mais continuar.
Ele levantou e veio até mim, me encarando:
- Dissimulada, hipócrita, convencida, vingativa e adúltera.
- Eu não sou feliz.
- Do que você está falando?
- Estou respondendo a pergunta que você me fez ontem pela manhã.
- E isso justifica trair seu marido?
- Nicolas... Eu ainda amo você. Vou falar mais uma vez, para que entenda. Nunca deixei de amar. E eu não consigo ser feliz sem você. Por isso talvez seja melhor eu sair da sua casa. Realmente não era minha intenção trair Tom. Mas eu... Estava confusa. E um pouco tonta ainda.
- Sempre a bebida para justificar suas ações, não é mesmo?
- Ou para me encorajar a fazer o que não consigo em sã consciência. Sei tudo que você pensa de mim. Deixou bem claro. Por isso mesmo não posso ficar aqui. Não suporto seu desprezo. E não consigo entender seus sentimentos.
Virei e estava saindo quando ele disse:
- Não houve nada. Quando saí do banho você estava dormindo na minha cama... Só isso.
- Era sua intenção me falar a verdade ou preferia que primeiro ou sofresse, como me parece que é sempre seu maior objetivo?
- Eu não dormiria com você.
- Por Tom?
- Por mim. Não sinto nada por você.
Não consegui resistir às lágrimas. Ele estava me dizendo aquilo na minha cara, não se importando se aquilo doía em mim ou não. Depois de declarar meu amor eterno por ele, recebi a resposta de que ele não sentia nada por mim. Eu poderia dizer várias coisas e em mim tinha um misto de dor, tristeza, ódio de mim mesma, ódio dele, culpa... Lembrei das palavras da minha mãe: “Você não precisa mendigar amor, porque quem ama você de verdade jamais lhe fará sofrer”! Pois então, mãe... Parece que a minha vida é mendigar amor. Isso só não ocorre como Tom porque ele não é uma boa pessoa. Ainda assim estar com Tom me faz sofrer. E Nicolas acaba comigo a cada dia...
Eu fui sair e ele disse, pegando minha mão:
- Me desculpe...
Antes de passar pela porta, virei para ele, secando minhas lágrimas e retirei minha mão:
- Nunca se desculpe por dizer a verdade. Está tudo bem. – tentei dar um sorriso e saí.
Fui para o meu quarto e tomei um banho. Coloquei um biquíni e um short por cima. Passei muito protetor solar, peguei um óculos de sol, um chapéu e saí. Nicolas sequer viu para que lado fui. Eu precisava fazer alguma coisa ou aquele lugar acabaria comigo. E eu quase já não tinha mais forças.
Sentei no carro que estava disponível para mim em tempo integral. Logo o motorista veio. Era diferente do anterior. Mais jovem... E absolutamente lindo. Não devia ter mais de 30 anos. Pele clara, corpo perfeito, músculos aparecendo sob a camisa branca e olhar gentil.
- Bom dia. Você é a senhora Panetiere? – ele perguntou sorrindo, não retirando os óculos escuros.
- Se me chamar de senhora Panetiere novamente, demito você.
Ele retirou os óculos, virou para a frente e ligou o carro:
- Para onde... Senhora... Senhorita?
- Juliet, por favor. Não sou casada com Tom e odeio o sobrenome do meu pai que carrego.
Ele sorriu:
- Mil perdões.
- Quero conhecer o resort. – falei. – E que você, além de motorista, seja meu guia. É possível?
- Bem, por não só ser empregado no Paradise, mas também nascido em Paraíso, creio que posso sim lhe fazer esta gentileza, bela Juliet. – ele sorriu enquanto manobrava o carro para sair do entorno da casa de Nicolas Welling.
- Fico feliz com a gentileza. Qual seu nome?
- Eduardo.
Eu gargalhei. Sim, lá estava eu com outro Eduardo... Não poderia ser diferente.
- Achou meu nome engraçado? – ele perguntou me olhando pelo espelho.
- Conheci um Eduardo no passado... Ele tirava meu sono. – expliquei.
- Já tirei o sono das garotas no passado. – ele riu.
- Não tira mais? – perguntei ironicamente.
- Não muito... Minha vida agora é o trabalho.
- Quando desperdício de tempo. É muito jovem para só trabalhar. Diversão faz parte da vida. – quem dera eu seguisse meu próprio conselho.
- Chega um tempo que perdemos as companhias. Cada um vai para um lado... Perdi a parceria.
- E eu faz um bom tempo que não sei o que é diversão. Acredita se eu disser que passava todos os finais de semana nas baladas?
- Mas pelo que sei, o senhor Panetiere é bem famoso por dar boas festas.
- Ele é bom em dar as festas... Eu que não as suporto. Já foi numa festa de negócios, tipo reunião? Regada a mulheres perfeitas e fúteis, bebidas caras e homens que se acham superiores a tudo e a todos? Isso não é diversão. Diversão é estar num lugar à meia luz, com pessoas da sua idade, com os mesmos objetivos que você... Com a música alta tomando conta do seu corpo, que não é preciso muito para se balançar, porque ela faz parte de você.
- E quais são estes mesmos objetivos? – ele perguntou rindo.
- Beijar na boca e ser feliz.
Começamos a rir. Senti uma leveza dentro de mim. Não lembrava a última vez que estivesse com uma pessoa e ri sinceramente. Pela primeira vez, depois de tantos anos, eu era Juliet. Eu me permiti ser eu mesma com um estranho, que não me julgava, que não me conhecia, que pouco se importava com tudo que eu fiz ou passei na vida.
Ele parou o carro num estacionamento gigantesco, lotado de carros.
- Aqui é o estacionamento do resort. É para hóspedes. E tem também alguns carros que o próprio Paradise aluga.
- Tudo aqui é enorme... E lindo. – falei olhando para o caminho de palmeiras, onde a estrada era de pequenas pedras marrons milimetricamente coladas no chão.
Descemos do carro.
- Paradise Resort é considerado um dos lugares mais bonitos e bem frequentados do país.
- Começo a entender o motivo.
- A senhora ainda não havia vindo aqui?
- Senhora não... Por favor. Tenho cara de senhora?
- Não, senhora.
Começamos a rir novamente.
- Me chame de Juliet, por favor.
- E se quiser, pode me chamar de Edu. Todos me chamam assim.
- Para onde vamos agora, Edu? – perguntou excitada, olhando para tudo ao meu redor.
- O que prefere ver primeiro? Lembrando que eu não sou um guia turístico, embora conheça tudo.
- Adoraria conhecer tudo com você, Edu. Pode escolher por onde começar.
E quem não adoraria? Aquele homem era lindo. E se não bastasse, gentil e divertido. Seguimos pela estrada de pedrinhas, que eu analisava cuidadosamente. Gramado verdejante por todos os lados fazia a vista ser ainda mais perfeita. O sol estava forte e um vento quente fazia meus cabelos não ficarem no lugar. Eu tinha que segurar meu chapéu para que ele não voasse.
- Vento de chuva. – ele disse.
- Sério? Não parece que vai chover. O dia está perfeito.
- Paraíso não tem vento. Quando ele começa assim, vai ficando mais forte. E chove. Se tivermos sorte, não pegaremos temporal. Até que horas pretende ficar?
- Enquanto você estiver disponível. O maior tempo possível. Quero ficar longe daquela casa.
Ele me encarou, mas não disse nada.
- Edu, não precisa se vestir tão formal na minha presença. Especialmente neste calor. Sua roupa deve ser quente.
- Quer que eu tire a roupa, Juliet? – ele perguntou mostrando os dentes alinhados num lindo sorriso tímido. – Quer dizer, desculpe a forma como falei. Não quis insinuar nada.
- Não? Eu quis. – falei seguindo mais rápido, passando na frente dele.
Em pouco tempo ele me alcançou, com as mangas da camisa dobradas. Bem que um sexo sem compromisso na praia me faria ficar bem. Não lembro a última vez que transei com um desconhecido, morri de prazer e mandei embora no dia seguinte. Saudades daquele tempo.
Quando acabou a estrada, chegamos aos quartos do resort. O local tinha três andares e o prédio tinha forma de uma semi-círculo, voltado para a praia. Todos os apartamentos tinham sacadas, com a vista mais deslumbrante de Paraíso. Eu conseguia ouvir o barulho do mar ao longe e a brisa quente de maresia invadia minhas narinas.
Uma piscina gigantesca, em extensão do tamanho do prédio, com água azul cristalina e algumas pequenas ilhas flutuantes com vários bares molhados ficava entre o prédio do resort e a o mar.
- Praia particular. – ele explicou enquanto meus olhos não paravam, de uma lado para o outro.
- Eu nunca vi nada tão lindo na minha vida inteira.
- Por que não veio antes? Faz tempo que está aqui.
- Não tive tempo... Nem vontade. Arrependi-me. Ou não... Afinal, você não era meu motorista. – sorri para ele.
- Não sou ainda. O seu motorista está de folga.
- E de quem você é motorista? – perguntei.
- Cubro as folgas. E busco hóspedes no aeroporto, fazendo o translado.
- Não mais. A partir de agora, você é o meu motorista.
- Mas... Isso não pode dar problema para a senhora?
Olhei para ele seriamente:
- Por que acha isso?
- Pelo... Seu marido?
Dei de ombros:
- Eu vou me separar... Aliás, eu quero esquecer que Tom existe. Por favor, não toque no nome dele. Talvez seja meus últimos dias neste paraíso. E quero levar boas lembras. E só você pode fazê-las, Edu. Pode me mostrar as partes mais legais deste lugar num único dia?
- Claro, posso tentar... Será um prazer.
- Antes... Podemos comer? – perguntei quando senti minha barriga roncar.
- O que você prefere? Temos cinco restaurantes típicos, como especialidades de todos os lugares do mundo. Todos com chefs internacionais.
- Edu, me diga que tem hambúrguer com batatas fritas. – juntei minhas mãos, fazendo beicinho.
- Temos sim... Não num restaurante, mas há um lugar.
Ele seguiu por entre uma ponte de madeira imitando deck por onde se atravessava toda a piscina. Quase na beira da praia, antes de chegar à areia, avistei um bar em forma de choupana, com teto de palha. As mesas e cadeiras ficavam num deck alto do chão, todas bem protegidas com guarda sóis enormes. O cheiro que vinha de lá, quando me aproximei, era perfeito: fritura, carne...
- Meu Deus... Eu não acredito que vou comer um hambúrguer. – falei sentando maravilhada.
- O melhor hambúrguer da sua vida você vai comer aqui. Eu garanto.
Ele sentou ao meu lado e logo o atendente veio até nós, nos dando o cardápio.
- O especial da casa. – ele disse retirando gentilmente o cardápio das minhas mãos. – E caprichado.
- Certamente, Edu. – falou o homem saindo.
- Você o conhece?
- Trabalhei aqui um tempo atrás.
- Então sabe que o hambúrguer é bom.
- Sim. – ele confirmou, sorrindo.
- Bem, Juliet, eu vou sair para que você coma à vontade. Ficarei esperando por perto.
- Nem pensar. Você almoça comigo.
- Eu não posso fazer isso. Lamento.
- Não lamente. Você vai fazer.
Puxei a mão dele e o fiz sentar novamente.
- Agora peça batatas fritas e Coca-Cola para acompanhar este hambúrguer perfeito.
Ele riu e foi fazer o que eu pedi.