Capítulo 71
2160palavras
2022-07-18 05:20
Eu achei que Nicolas estava me chamando para um jantar a dois, como foi no café da manhã. Mas não. Era um jantar a três e com um único intuito: me ferir.
Um dos empregados trouxe alguns drinques, entre eles pina colada. Peguei dois copos, um em cada mão.
- Medo de ficar sem? – Joana perguntou, servido-se de uma taça de espumante enquanto me observava.
Sorvi todo o líquido do primeiro copo de uma vez. Fazia muito tempo que eu não tomava pina colada. Trazia-me gosto da adolescência e eu voltava no tempo, no Manhattan Bar, quando a vida era só diversão, dar beijos na boca e não se preocupar com nada além do garoto que eu iria agarrar naquela noite.
- Agora não mais. Só tenho um copo. – observei.
- Pega leve, Juliet. – avisou Nicolas. – Não há ninguém para ajudá-la depois.
Tomei o outro copo de uma vez, olhando para ele. O empregado retornou e pedi tequila. Sim, eu seguiria a fórmula de quebrar a dor do passado: pina colada seguida de tequila. Aquilo fazia eu me desapegar das ausências de Cadu e ficar com outras pessoas. Talvez me encorajasse a deixar aquela casa e procurar um bom lugar para me divertir.
Percebi que Nicolas ficou inquieto quando comecei a beber a tequila. Foda-se. Que voltássemos aos velhos tempos e acabássemos de vez com tudo aquilo.
Joana seguiu me acompanhando bebendo também. Nicolas tomou um copo e não bebeu mais. Tinha que ficar sóbrio para cuidar da namorada provavelmente. Será que eles transariam à noite? Só de pensar em Nicolas sobre mim, seu corpo nu e a forma como ele me tocava eu me arrepiei. O sexo com ele nunca foi esquecido... Porque era o melhor, com certeza.
- O jantar está servido. – disse a empregada.
- Eu vou ao banheiro. – falei sentindo tontura e meu corpo completamente leve.
Tentei andar em linha reta. Eu não estava no meu estado normal, mas também não estava bêbada. Quando eu não suportava enfrentar uma situação, eu bebia. Eu era uma covarde. Quando fui abrir a porta, Joana a segurou, parando na minha frente. A encarei, olhando para cima, com meus olhos um pouco acima dos peitos dela, que tentavam sair para fora da blusa.
- Não se faça de sonsa... Se tem uma coisa que eu não sou é idiota, garota.
- Eu não estou entendendo do que você está falando, “querida”...
- Acha mesmo que vai chegar do nada e levar Nicolas? Está muito enganada. Ele é meu.
Eu ri:
- Vou perguntar se ele tem dona. Pelo que eu soube e ele deixou bem claro, vocês são só amigos. Ele faz questão de repetir isso o tempo todo. E me pareceu que você ficou interessada no meu namorado também... A parte boa é que depois que eu tomar minha decisão, você aceitará qualquer uma das sobras.
- Não se atreva a ficar no meu caminho, Juliet Dawson.
- Nick é meu... Sempre foi. Nós vamos casar dentro de alguns anos. – falei incerta de minhas palavras.
- Você é boba ou se faz? Se ele quisesse você, não teria me convidado para o jantar, não acha? Por que ele quereria a minha presença se poderia ficar sozinho com você todo o final de semana na casa dele?
- Ele trouxe você para fazer ciúmes para mim. – falei quase caindo para trás, tentando segurar meu corpo.
- Poupe-me... – ela começou e parou quando viu Nicolas vindo.
- Tudo bem aí? Vocês não voltaram mais.
- Estou com dor de cabeça, querido. – ela fingiu. – Será que pode me ajudar a ir até a sala de jantar? Não me sinto bem.
- Claro...
Ele me olhou antes de pegar o braço dela. Respirei fundo e entrei no banheiro, lavando meu rosto com água gelada. Olhei no espelho e tinha estragado parte da maquiagem perfeita que eu havia feito. Azar... Eu não iria nem jantar, eu acho.
Saí do banheiro e tentei ir até a escada, mas Nicolas me puxou pelo braço, quase me fazendo cair por cima dele.
- O jantar está servido, Juliet.
- Eu não quero.
- Vai jantar.
- Não quero... Você é um idiota. E eu odeio você.
Ele riu e pegou meu outro braço, segurando-me pelos dois pulsos e me trazendo para perto dele, me encarando:
- Eu já não disse que posso sobreviver com seu ódio?
- Eu vou odiá-lo ontem... Hoje e sempre. – falei com dificuldade.
- E eu vou cuidar das suas bebedeiras ontem, hoje e sempre... Porque parece que este é o meu destino. – ele falou me puxando vagarosamente até a sala de jantar, furioso.
Ele entrou no ambiente com minhas mãos enlaçadas na dele e me colocou sentada. Haviam alguns tipos de carnes, saladas, risoto de frutos do mar. Olhei para tudo e senti vontade de vomitar. Foi quando vi um prato cheio de batatas fritas chegando. Antes que fosse colocado sobre a mesa, peguei uma, saboreando.
- Batata frita? – Joana questionou a empregada. – Quem está cozinhando nesta casa? É nova a pessoa?
- O senhor Welling pediu batatas fritas. – ela explicou.
Enquanto ela e Nicolas discutiam sobre as batatas fritas, eu comia rapidamente, olhando-os sem dar muita importância. Parece-me que ela tinha mais autonomia e tomada de decisões ali do que eu imaginava. Senti vontade de ligar para Lorraine e contar o que estava acontecendo em “Tão, tão distante”, como ela costumava se referir à Paraíso.
Peguei o prato de batatas e comecei a sair.
- Ei, aonde você vai com as batatas? – Nicolas perguntou.
- Eu vou subir. E daqui só quero as batatas. – afirmei.
Eu saí e ele tentou levantar, mas Joana disse que estava com câimbra na perna. Fui até a cozinha e me dirigi à geladeira.
- O que procura, senhora Panetiere? – perguntou uma das mulheres que estavam ali.
- Não me chame de Panetiere, porra! – quase gritei. – Eu sou Juliet... Só Juliet.
- Desculpe-me... Não quis ofendê-la.
- Me chamar de senhora Panetiere me ofende... Muito. Eu quero Coca-cola.
- Light ou diet?
- Nenhuma... Normal.
- Não tem.
- Como assim não tem Coca-cola nesta casa? Nick continua com suas manias de tudo ser natural?
- Sim... – disse uma delas sorrindo.
- Acho que ele mandou fritar as batatas para a senhora. – disse a outra um pouco tímida.
- E quem comeria batatas fritas sem Coca-cola? Isso é um crime aos comedores de fast food anônimos.
Elas começaram a rir alto.
- Posso pedir para trazerem do resort para a senhora.
- Não precisa... Vou pegar uma destas que dizem ser sem açúcar, mas que é mais doce do que a normal. Detesto qualquer coisa que é zero calorias.
- Não sei como a senhora é magra.
- Estresse dia e noite... E como poucas vezes ao dia. E costumo frequentar lugares com comidas que não gosto... Tipo este jantar. Se não fosse as batatas fritas, eu não comeria nada.
Uma delas me entregou a lata e junto uma garrafa de água.
- Obrigada. – agradeci.
- Nunca vi a alguém chamar o senhor Welling de Nick e ele aceitar. – uma disse.
- Pelo menos sempre que Joana fala, ele não permite. – a outra cochichou para mim.
- Imagine se ela ouvisse eu chamando ele de Senhor Perfeito... Era assim que eu o chamava. E ele gostava, acreditam?
Elas riram.
- Não vejo ele aceitando ser chamado assim.
- Como não? Nick é o homem mais fofo que eu conheci.
- Não imagino isso. – uma delas falou. – O senhor Welling é sempre tão sério.
- O senhor Welling não é o Nick que eu conheci há oito anos atrás. – lamentei. – Mas eu vou indo... Se não deitar na minha cama agora, eu vou cair de tão tonta que estou. Tudo gira...
- Quer ajuda?
- Não... – falei saindo. – Boa noite, meninas.
- Boa noite, senhora Welling. – virei e olhei para elas, confusa. Será que entendi bem.
Elas riram novamente:
- Foi só uma brincadeira.
- Ou como provavelmente a chamaremos no futuro. – disse a outra.
- Eu odeio Nick. – falei saindo, incerta de minhas palavras.
Quando cheguei na sala, Nicolas e Joana estavam em pé e me parecia que estavam discutindo. Passei por eles sem dizer nada, tentando segurar o prato com batatas, a lata e a garrafa. Subi o primeiro degrau e fiquei completamente zonza.
- Precisa de ajuda? – perguntou Nicolas.
- Não... – me fiz de forte tentando novamente.
Subi degrau por degrau, levando o triplo do tempo que eu levava para cada um.
- Não está vendo que ela está fingindo? – ouvi Joana falando alto.
- Joana, quero que vá embora agora.
- Nicolas... Desculpe-me. Eu não quero parecer chata, muito menos...
- Joana, por hoje chega. – ele insistiu.
- Eu quero dormir aqui.
- Não. Hoje não. – ele foi enfático.
- Depois não adianta me ligar... – ela faltou alto, saindo e batendo a porta.
Neste momento eu já estava no topo da escada. E tinha ouvido cada palavra que eles trocaram. Abri a porta, que foi fechada. Nicolas estava ao meu lado:
- Este não é o seu quarto. É o meu. – ele disse.
- Que diferença faz? – cambaleei, derrubando tudo no chão.
- Se você vomitar em mim vou castigá-la. – ele avisou seriamente.
- Vai bater na minha bunda com força, Nick? – perguntei tentando ser sedutora.
Droga, quem conseguia ser sedutora depois de ter bebido tudo que eu bebi?
Ele olhou para o chão e perguntou:
- Quem consegue subir bêbada uma escada com um prato de batatas e coca-cola?
- Eu não gosto desta porra diet. – reclamei.
Ele me pegou no colo gentilmente, olhando nos meus olhos, fazendo meu corpo estremecer. Segurei na nuca dele, alisando vagarosamente. Deitei minha cabeça no seu ombro enquanto ele me carregava até meu quarto.
- Eu amo você, ontem, hoje e sempre. – eu disse.
Ele demorou um tempo para responder:
- Você está bêbada.
- Ainda assim eu amo você. – confirmei.
Achei que ele fosse me colocar na cama, mas não. Levou-me para o banheiro e abriu o chuveiro, me botando com roupa e tudo debaixo dele.
Senti a água fria no meu corpo quente e tremi de frio. Ele percebeu e regulou a temperatura para mais morna. Fiquei ali, olhando para ele, sentindo a água cair sobre mim, me deixando menos tensa. Puxei-o para baixo da água comigo, molhando toda sua roupa. E então nos beijamos e eu senti meu coração batendo tão forte que parecia que eu ia morrer. Eu já não tinha esperanças de ter Nicolas novamente. Mas ali, naquele momento, sentindo a língua dele pedindo passagem dentro da minha boca e seu corpo envolvendo o meu com força, percebi que nada poderia mudar o que eu sentia por ele... Nunca. Nicolas era o ar que eu respirava e eu só conseguiria ser feliz ao lado dele. Tentei por cinco anos viver uma vida normal com Tom. Mas a sombra de Nick estava o tempo todo entre nós, me proibindo de me envolver. E o próprio Tom sabia que meu coração não pertencia a ele, de tão clara que eu era em manifestar meus sentimentos por outra pessoa.
Nosso beijo sempre foi louco e cheio de vontade e paixão. Mas neste momento era um beijo guardado por seis longos anos. Os lábios dele envolviam os meus, sugando-os vorazmente. Mordi com força seu lábio, fazendo-o gemer alto. Retirei sua camisa, botão por botão, sem deixar de beijar sua boca por um minuto sequer. Depois, quase sem ar, me afastei dele e admirei seu peito nu, cheia de desejo. Ele tocou no meu cordão, sem dizer nada, seus olhos fixos ali, no meu corpo.
- Eu ainda amo você, Nicolas. – falei olhando nos olhos dele. – E nunca, em toda a minha vida, vou deixar de amar.
Ele me afastou e saiu do Box.
Saí atrás dele:
- Ei, o que eu disse de errado?
- Não podemos.
- Eu sei... – falei deitando na cama, toda molhada, fechando meus olhos.
- Você está bêbada, Juliet? – ele perguntou antes de sair.
Virei a cabeça para ele, tranquilamente:
- Não a ponto de não saber o que estou fazendo ou dizendo.
- Você não vale nada.
- E você gosta de mim justo por isso. – falei jogando um beijo para ele.
Ele saiu e bateu a porta com força. Fiquei ali, me sentindo feliz depois de tanto tempo. Ele gostava de mim. Eu tinha certeza de que ainda havia sentimentos por trás daquele senhor imperfeito. Não sei se era amor. Mas ele deixou Joana por mim, como um dia deixou Val. Ele se importava comigo. E era hora de lutar para não perdê-lo nunca mais.