Capítulo 66
2309palavras
2022-07-18 05:15
- Lamento não ter podido trazer todas as minhas coisas. – falei sentando na poltrona que me era designada no avião.
Tom sentou ao meu lado:
- Você compra tudo lá, gatinha.
- E se ficarmos mais tempo do que esperamos?
- Você compra ainda mais. – ele sorriu.
- Bobo.
Deitei minha cabeça no ombro dele:
- Tom, promete que não vai me deixar sozinha lá logo que chegarmos?
- Prometo.
- Quero conhecer pessoas antes. Sabe que odeio ficar sozinha.
- Vamos ficar inicialmente na casa do meu sócio. Ele fez questão.
- Que homem bondoso. – observei.
- Moraremos na Villa, que eles chamam. É o local onde moram os funcionários. Eu até sugeri ficarmos num quarto no próprio resort ou num mais simples. Mas ele disse que quer que nos sintamos acolhidos e felizes. Eu gosto dele.
- Já conhecia este homem antes de fechar negócio?
- Não... Ninguém o conhece muito bem. Ele odeia aparecer na mídia.
- Acho que ele é esperto. Hoje em dia é tudo tão perigoso. Você também deveria ter mais cuidado.
- Eu quero que você goste de lá. – ele disse.
- Vou ficar o mínimo de tempo possível. – garanti. – E não quero cruzar com Simon Dawson de forma alguma.
- Não se preocupe. Seu pai não se aproximará de você nunca.
- Não quero que você chegue perto de qualquer tipo de droga... Ou me deixe sozinha. E quero nossa casa o mais breve possível.
- Ok, seus desejos serão atendidos rapidamente, eu garanto.
- Se eu imaginasse que ficaríamos na casa de um estranho, não sei se eu teria vindo. – reclamei.
- Porra, você é difícil, Juliet.
Deitei minha cabeça na poltrona e tentei descansar. Seria uma viagem longa.
Tom me acordou quando o avião já havia pousado. Eu literalmente havia apagado.
- Você já assinou a compra deste Resort? – perguntei enquanto entrávamos no táxi.
- Sim. Está tudo certo, não se preocupe. Levei todos os advogados da empresa junto. Eu não faria nada que me trouxesse prejuízo.
- Eu só acho tudo tão estranho. Se este homem não fala com ninguém, não vende para ninguém... Por que escolheu você?
- Ele disse que já morou no nosso estado. Na sua cidade inclusive.
Suspirei:
- Já não gosto dele.
- E você gosta de alguém, gatinha?
Realmente eu gostava de poucas coisas. Eu era uma pessoa receosa, amarga e na maioria das vezes chata.
Paraíso era simplesmente linda. Uma cidade que se apropriava das mais belas praias do país. Era considerado um lugar paradisíaco e frequentado por turistas do mundo inteiro. Tom conhecia tudo sobre cidades, bons negócios para fechar, mas jamais pensei que um dia eu estaria com ele em Paraíso, o lugar onde meu pai dizia morar. Eu já nem tinha certeza se ele ainda morava ali, ou se estava vivo. Muitos anos se passaram desde que o vi e ele me roubou e fugiu.
A cidade era quente e creio que sem ar condicionado só era possível sobreviver na praia ou piscina. O carro entrou pelo portão da tal Villa, que era dentro do Paradise Resort. Sabem um sonho? Era aquele lugar. A grama verdejante e perfeita estava por todos os lugares. A estrada para o carro passar era de pedras brancas, parecendo desenhadas no chão. Coqueiros altos estavam por todos os lados e o local onde os funcionários moravam eram sobrados grandes e bonitos, muito bem planejados.
- Não dá para vermos a praia daqui. – disse Tom.
- Eu não gosto de praia.
Ele me encarou e riu, balançando a cabeça.
- Então está no lugar errado, senhora. – disse o taxista rindo.
Ele estacionou na frente de um sobrado bem maior que os demais. Tinha um carro que eu não sabia sequer o nome estacionado na frente. Desci, retirando meus óculos de sol, analisando tudo criticamente.
- Eu nunca vi alguém com tantas malas. – disse o taxista retirando cada uma do porta-malas e do banco da frente.
- Ela trouxe só o básico. – Tom riu, colocando o braço sobre o meu ombro.
Fomos até o Hall de entrada e ele foi apertar a campainha quando uma empregada vestida com uniforme branco impecável abriu a porta.
- Senhor Panetiere, senhora... Sejam bem vindos. – ela disse educadamente, curvando a cabeça.
- Obrigada. – agradeci.
Ela era magra e jovem. Uma moça bonita.
- Entrem e sintam-se em casa. O senhor Welling não está no momento.
Senti um gelo dentro de mim e um frio percorrendo minha espinha. Fiquei imóvel enquanto Tom tentava me puxar para dentro da casa. Ouvi ao longe a mulher mandando alguém colocar minhas malas no quarto.
“Ele disse que já morou no nosso estado. Na sua cidade inclusive”.
“Eu só acho tudo tão estranho. Se este homem não fala com ninguém, não vende para ninguém... Por que escolheu você?”
“Não... Ninguém o conhece muito bem. Ele odeia aparecer na mídia”.
“Moraremos na Villa, que eles chamam. É o local onde moram os funcionários. Eu até sugeri ficarmos num quarto no próprio resort ou num mais simples. Mas ele disse que quer que nos sintamos acolhidos e felizes. Eu gosto dele.”
Meu primeiro impulso foi fugir. Eu não queria conhecer o senhor Welling. Dei meia volta e saí pela porta quando o vi, vindo na minha direção, caminhando tranquilamente com seus quase 1 metro e noventa, vestido com calça jeans clara, camisa branca e usando óculos de sol. Ele parecia parte da paisagem. Meu coração voltou a bater intensamente, como batia há oito anos atrás. O mesmo frio na barriga quando ele me tocava... Apertei minhas mãos, sentindo as unhas cravarem na carne, para ter certeza de que aquilo não era um sonho.
Ele apertou a mão de Tom:
- Seja bem vindo, Panetiere.
- Obrigada, Welling.
- Pode me chamar de Nicolas.
- E eu prefiro que me chame de Tom. A propósito, esta é minha esposa, Juliet Dawson.
Ele retirou os óculos e quando senti seus olhos azuis dentro dos meus eu sabia que estava fodida para o resto da minha vida. Eu não estava só afogada naquele azul profundo... Eu estava sendo ressuscitada exatamente àquela hora. Porque eu estive por seis anos morta longe dele.
- Nick? – falei num fio de voz.
Ele apertou os olhos, sorrindo ironicamente. Foquei-me nas pequenas rugas que sua boca fazia. Meu coração me trairia a qualquer momento e eu poderia infartar e morrer como minha mãe, do nada, sem avisar, sem motivo...
- Gatinha, esse é Nicolas Welling... O dono do resort.
Ele me ofereceu a mão, que eu não apertei. Não conseguia tirar os olhos do dele.
- Seja bem vinda, querida. – ele falou.
- Você... Aqui?
- Você o conhece? – perguntou Tom.
- Creio que ela esteja me confundindo com alguém. – disse Nicolas. – Porque eu não a reconheço de lugar algum. – ele olhou nos meus olhos.
- Certamente está confundindo... – disse Tom me puxando para perto dele. – Tudo bem, Juliet? Você está gelada.
- Talvez ela esteja com frio... Nestes 40 graus. – Nicolas riu. – Vamos entrar... Lá dentro é mais quente. – ele ironizou.
- Ela odeia viajar de avião. – tom explicou.
Confundindo você com alguém, Nick? Só pode estar brincando. Eu reconheceria você em qualquer lugar, a qualquer tempo... Você é meu... Meu senhor perfeito. É impossível você ter esquecido tudo que vivemos. Não faz tanto tempo... São só seis anos, que eu revivi a cada dia, sem parar de pensar em você um minuto. Ainda dói dentro de mim a sua partida. E agora eu o encontro aqui, no outro lado do mundo, rico... Talvez mais que Tom. E fingindo que nunca me viu em toda a sua vida.
Quando dei por mim estava sentada no sofá confortável da casa, sem conseguir prestar atenção em nada do que eles diziam. Respirei fundo e tentei me concentrar no presente. Tom estava sentado ao meu lado, com a mão sobre a minha perna. Nicolas no sofá à frente, com uma perna sobre a outra, segurando o próprio pé com a mão. Retirei a mão de Tom, como se eu estivesse fazendo algo muito errado estando ao lado dele. Olhei na direção de Nicolas e senti seus olhos sobre mim, tentando me desconcentrar, me afogar, fazer eu me perder para sempre naquela imensidão azul.
- Minha esposa é da mesma cidade que você. – disse Tom. – Talvez ela a tenha visto alguma vez.
- E você não é de lá? – ele perguntou para Tom.
- Sou da cidade vizinha.
- Será que já nos vimos e eu não lembro, Juliet? – ele perguntou diretamente para mim.
- Talvez eu tenha me enganado. – falei firmemente.
- Que lugares você frequentava? Costumava sair à noite?
Eu ri ironicamente:
- Não muito.
- Não muito? Ela era a rainha da noite. – disse Tom. – Ela ia ao Manhattan. Eu também. Foi lá que nos conhecemos.
- Interessante. Eu também fui lá alguma vezes. Talvez tenhamos todos nos cruzados em algum momento das nossas vidas.
- Não tenho certeza... – falei.
- Claro que você tivesse visto minha gatinha, a reconheceria em qualquer lugar. – ele disse me dando um beijo no rosto.
- Há quanto tempo vocês estão casados? – ele perguntou me olhando.
- Cinco anos. – respondeu Tom.
- Não somos casados. – eu esclareci. – Só moramos juntos.
Tom riu:
- Ela adora dizer isso. Espera um pedido oficial ainda... Que eu farei em breve.
- Acho que deve fazer logo, Tom. Quem sabe antes de ela fazer trinta anos. – ele gargalhou.
- Então ainda tenho tempo. – observou Tom.
Nicolas levantou:
- Bem, estou adorando conhecê-los um pouco melhor. Mas tenho que voltar ao trabalho. Sou um viciado em trabalho.
- Sei como é. – disse Tom.
- Não vou levá-lo comigo agora, Tom. Quero que conheça a casa e se sinta a vontade. Se quiser conhecer o Resort é só pedir para alguém levá-lo. Mas também posso levá-los para conhecer amanhã ou depois, caso prefiram.
- Acho que hoje precisamos descansar. – disse Tom. – Juliet não lida bem com viagens longas.
- Nos encontramos no jantar. Eu receberei uma amiga, que se juntará a nós. Irão gostar dela.
Uma amiga? Observei o dedo dele e não tinha aliança. Respirei fundo... Sabia que ele quereria o meu rim. Uma vingança lenta e cruel... Porque o senhor perfeito não perdoava. E ele ainda achava que eu o traí com Tom.
- Obrigada pela hospitalidade. – disse Tom.
- Sim... Foi muito generoso da sua parte nos colocar dentro da sua própria casa. – eu disse me levantando. – Será que não poderíamos ocupar um quarto no resort? – olhei para Tom.
- Gatinha...
- Qual o problema em ficar na minha casa, Juliet?
Ouvir o nome dos lábios dele fez com que eu quase ficasse sem ar. Respirei fundo, tentei me acalmar e disse:
- Não quero incomodar. Pode receber quem quiser na sua casa... E não atrapalharemos. São poucos dias, pelo que sei. Então não me importo em ficar num quarto do Resort. Eu morei num hotel uma vez... E num apartamento de um quarto. Tendo um lugar para dormir à noite e um banheiro para mim está bom.
- Mas eu tenho aqui na minha casa um lugar para você dormir à noite e um banheiro. – ele sorriu. – Vamos, não seja teimosa. Vai gostar da estadia... Não seja “dramática”.
Tom me abraçou:
- Venha, gatinha. Deve ser cansaço da viagem. Nicolas está sendo um ótimo anfitrião. Poderia nem se importar conosco, mas lhe ofereceu sua própria casa. Seja grata, meu bem. E aceite a generosidade.
- Meu marido gosta de mordomias... – eu sorri. – Obrigada, senhor P... – fechei minha boca e vi ele sorrindo com os olhos. – Ficaremos.
- Ótimo. – ele disse saindo.
A empregada veio até nós, nos levando para andar de cima. O lugar era amplo e bem decorado, totalmente clean. O quarto que ficaríamos era no final do corredor. Tinha uma parede quando acabava o corredor, de onde se via grande parte do resort. Ela abriu a porta e entramos no quarto enorme, com uma cama king size e um armário sob medida. A janela era ampla e o sol entrava convidativo por ela. O banheiro era de bom tamanho. Tinha um Box grande, um chuveiro moderno. O armário era de bom tamanho e um espelho grande tomava conta da parede.
- É bom. – disse Tom se jogando na cama.
- Já vimos melhores. Tipo, o nosso quarto. – observei deitando ao lado dele.
Começamos a rir. Ele alisou meu rosto:
- Gatinha, eu não quero deixá-la sozinha. Sei que tenho que ficar aqui, mas não posso deixar meus negócios lá. Sabe como sou. Aqui você estará cercada de pessoas.
- Eu não me preocuparia em ficar sozinha num quarto de hotel, Tom. Já morei sozinha, esqueceu?
- E eu tirei você daquela solidão. – ele falou subindo para cima de mim.
- Sexo de dia? – perguntei. – Na casa de Nicolas Welling?
- Claro que não. – ele se curvou e me deu um beijo. – Ele é legal.
- Não gostei dele. – menti.
- Talvez eu tenha o visto no Manhattan alguma vez... Mas não sou bom em guardar fisionomias.
- Eu acho que já o vi... Algumas vezes. – falei para não mentir completamente.
- Quem se importa? Ele se deu bem na vida.
- E você também. Não pode reclamar.
- Eu sei...
Eu não sei se conseguiria fazer sexo com Tom naquele quarto, muito menos naquela casa. Era como se Nicolas estivesse ali dentro, me olhando, me julgando, colocando o dedo na minha cara... Me odiando.