Capítulo 65
2471palavras
2022-07-18 05:13
Eu não conseguia levantar meu corpo do chão. Tom veio até mim, pegando-me e me levando para a cama:
- Filho da puta, desgraçado... – eu disse tentando bater nele.
- Eu vou explicar, gatinha. Mas não agora... Você não entenderia.
Levantei e apontei o dedo para ele:
- Eu vou embora...
- Hoje você não tem condições de sair daqui. Amanhã, sóbria, você toma alguma decisão.
- Eu odeio você.
Ele me encarou e disse seriamente:
- Você não vai embora.
- Não é essa a resposta... Quando eu digo que odeio você...
- E qual seria?
- Esqueci... Você não é o senhor perfeito. – eu ri. – Ele só existe aqui. – apontei para minha cabeça.
Tom veio até mim e tirou meu sapato e depois meu vestido. Pegou meu corpo amolecido e me colocou no Box, abrindo o chuveiro com água fria.
Senti meu corpo estremecer enquanto minhas mãos tapavam meu corpo. Ele estava de roupa, mas pouco se importou. Depois de um tempo ele me tirou dali, me secou e colocou-me nua na cama.
- Você precisa descansar.
- Para você cheirar cocaína? – ironizei. – Agora entendo as festas... Há quanto tempo isso acontece?
- O mesmo tempo que você dorme comigo pensando nele.
- Limpe sua boca suja para falar dele... – quase gritei.
- Estou fodendo pra ele. É comigo que você está.
Tentei dar um tapa nele, mas minha mão foi contida. Eu mal conseguia com meu corpo, imagine acertar a cara dele. Tom me puxou para a ponta da cama, me colocando de quatro. Fiquei ali, sem reação, sem saber o que fazer. Ele abriu o zíper da calça.
- Vai me estuprar? Claro, você está drogado...
- E você bêbada, como sempre.
Ele deu um tapa forte na minha bunda. Senti um arrepio percorrendo meu corpo.
- Eu gosto disso... Seu idiota.
Ele puxou meus cabelos, fazendo eu encará-lo enquanto se esfregava em mim:
- Era isso que ele fazia? – ele perguntou me dando um chupão no pescoço enquanto eu sentia seu membro endurecido contra minha pele.
- Era... – confessei, num fio de voz, sentindo o desejo tomando conta de mim, mesmo sabendo que não devia.
Ele bateu de novo, com força, não soltando o meu cabelo. E mesmo completamente entorpecida pela bebida, eu revivi cada momento naquele hotel depois do show do TNT, meu presente de aniversário.
- Sua vadia... – ele falou enquanto se enterrava em mim, com força, puxando meus cabelos sem piedade.
Se ele achava que aquilo me ofendia... Não. Nenhum pouco. Pelo contrário, me deixava completamente excitada. Tom batia forte na minha bunda enquanto me fodia de quatro com força, tirando toda sanidade que ainda havia dentro de mim. Eu não via meu quarto... Via um quarto de hotel, com a televisão acima da cama, a banheira na lateral, a chave da moto na mesa de entrada e Nicolas com pena de bater, mesmo tentando fazer meu desejo. Eu sentia o cheiro de Nicolas, sua pele, seu toque... Lençóis brancos perfeitamente arrumados com almofadas vermelhas, algumas com o símbolo da bandeira do país oriental.
- Esta porra que é a minha cabeça... – falei num fio de voz sentindo que ia gozar.
Senti o líquido quente dele na minha bunda. Ele não usou preservativo. Também não gozou dentro. Joguei-me na cama, de bruços, sentindo meu corpo estremecido e meu coração batendo descompassadamente.
- Vou mandar todo mundo embora. – ele disse. – A festa acabou lá embaixo. Mas aqui acaba de começar...
Acordei com uma dor horrível na cabeça. Tom na estava na cama. Tentei levantar, mas minhas pernas doíam. Vi as marcas roxas na minha virilha e em algumas outras partes do meu corpo. Eu não lembrava exatamente de tudo que havia acontecido, mas alguns flashes vinham na minha cabeça. Eu lembrava dele usando cocaína... E me batendo e fodendo a valer, como nunca havia feito antes... Do meu jeito.
Tom abriu a porta e entrou com uma bandeja. Ajudou-me a recostar na cabeceira almofadada e ajeitou-a sobre mim. Provei o café, com pouco leite e açúcar... Horrível.
- Onde está Ana? – perguntei. – Não foi ela que preparou meu café?
- Não... Fui eu.
Por isso estava daquele jeito. Como assim você não sabe fazer meu café, Tom? Fechei os olhos e vi Nicolas com caneca, me entregando com um sorriso: “pouco café, muito leite e açúcar”. Balancei com força, tentando dissipar as imagens que chegavam sem permissão.
- Tome primeiro o analgésico, gatinha. Vai lhe fazer bem.
Tomei o analgésico com água. Além do café havia pão, algumas frutas e uma flor. Eu não gostava de flores. Ele sentou-se na poltrona, me encarando. Estava sem camisa, usando somente jeans.
- Me desculpe pelas marcas. – ele disse. – Foi inevitável, da forma como fizemos sexo.
- Cocaína acende o desejo? – ironizei.
- Achei que pudesse não lembrar...
- Há quanto tempo?
Ele me olhou, sem responder.
- Eu quero a verdade.
- Bastante. Mas não sou viciado.
Eu ri ironicamente:
- Ninguém é, não é mesmo?
- Gatinha, eu não sou. Só uso vez ou outra, para relaxar.
- Você sabe que eu não tive um pai por causa das drogas? Sabe que minha mãe sofreu toda a juventude dela por um homem que dizia que ia parar e nunca parava?
- Se não gosta de drogas, por que se embebeda?
- É diferente...
- Não é diferente. Drogas diferentes, só isso.
Eu coloquei a bandeja para o lado:
- Eu vou embora, Tom.
Eu queria levantar, mas só coloquei meus pés para baixo. Eles não alcançavam no chão por causa da minha altura.
- Você não pode me deixar...
- Eu posso. Não vou perdoá-lo por isso, Tom. Eu perdoaria até uma traição, mas nunca você usar cocaína, quando toda a minha vida foi baseada no que isso fez comigo e minha mãe.
Ele veio rapidamente até mim, abaixando-se e ficando entre as minhas pernas:
- Por favor, me perdoa, Juliet.
- Eu não posso, Tom... – falei sentindo as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
E vi, pela primeira vez, lágrimas nos olhos dele. Tom envolveu minha cintura com seus braços, deitando a cabeça nas minhas pernas:
- Eu amo você, Juliet. Você é tudo que eu tenho.
Eu poderia dizer que sonhei com ele se declarando daquela forma. Mas pela primeira vez, ouvir “eu te amo” de alguém me assustou. Assim como vê-lo tão entregue a mim e arrependido. Passei a mão sobre os cabelos dele e disse:
- Tom, acho que não estamos fazendo bem um ao outro.
- Eu juro que não darei mais festas na nossa casa.
- Não são as festas...
Mesmo não amando Tom, eu sentia dor ao saber que iria deixá-lo.
- Eu juro, por tudo que é mais sagrado, que nunca mais vou usar...
Olhei os olhos dele molhados das lágrimas. Um homem de 30 anos implorando para eu não deixá-lo. Senti meu coração bater descompassadamente. Sim, meu coração batia descompassado algumas vezes, mesmo estando com os pedaços colados. Mas nunca mais bateu como quando eu tinha 18 a 20 anos, ao lado do meu melhor amigo, que um dia jurou ficar comigo para sempre. Pensei que minha mãe diria para ele: “que não deveria mendigar amor, porque se eu o amasse de verdade, nunca o faria sofrer”. Mas acho que Tom sabia pouco sobre sentimentos ou pessoas verdadeiras. Eu realmente era tudo o que ele tinha, porque ele vivia num mundo completamente superficial e falso. E eu estava quase entrando naquele mundo fútil e sem comprometimento algum com nada. Passei um ano da minha vida “adquirindo” coisas, me preocupando muito mais com o “ter” do que o “ser”. Mas ao mesmo tempo o que eu faria longe dele? Eu ri ironicamente de mim mesma. Eu não tinha para onde ir. Eu não sabia o que fazer longe dele.
- Eu amo você... Perdoa-me... Diz que vai ficar comigo, que não vai me deixar. Prometo tentar mudar.
Peguei o rosto dele entre minhas mãos e olhei nos olhos dele:
- Me jura que nunca mais vai fazer isso?
- Eu juro... Faço tudo que você quiser, gatinha.
Ele levantou e me abraçou com força, como se eu fosse realmente o que ele tinha de mais precioso. E eu achava que ele também foi tudo que me restou. No fim, ele era mais do que eu merecia.
Os próximos quatro anos foram sempre iguais: brigas frequentes, pazes com sexo, eu bebia quando estava chateada, ele me presenteava para suprir minhas necessidades psicológicas e nos perdoávamos.
Eu estava trabalhando diariamente na matriz da empresa dele. Praticamente tomava conta de tudo. Havia me formado com honras, recebendo as melhores notas do curso. Otto ficou orgulhoso de mim, assim como tenho certeza de que minha mãe ficaria. Mas eu não fiz a faculdade com o meu próprio dinheiro. Recebi cada centavo de Tom. E não encontrei um emprego que me sustentasse, me punindo pelo meu erro do passado. Eu vivia uma vida de luxo, bancada por Tomas Panetiere.
Por isso eu tolerava as festas ridículas, as pessoas que eu não gostava, os pedidos de perdão cheios de lágrimas falsas e as promessas de mudanças.
Eu não tinha certeza se ele ainda usava cocaína ou outro tipo de droga. Eu só conseguia ser eu mesma quando estava com a minha família. E ao mesmo tempo eu não queria voltar para aquela vida, muito menos para aquela casa, onde tudo lembrava minha mãe. Sim, eu tinha certeza de que ela tinha orgulho das minhas notas e do meu diploma de menção honrosa. E também sabia que ela jamais aceitaria a pessoa na qual eu me transformei. Por isso eu fugia dela... E fugiria para sempre. Porque eu nunca fui e nunca seria a filha que ela sempre sonhou, nem teria o futuro que ela almejou para mim. Eu simplesmente vivia... Sem esperanças, sem grandes sonhos, sem perspectivas de um futuro onde eu pudesse ser feliz. Simplesmente porque para mim felicidade era algo que não existia desde que ela se foi e Nicolas partiu.
Tom era um homem manipulador e eu uma pessoa horrível, que fingia gostar dele e aceitava aquele relacionamento por medo de ir adiante. Nós dois nos merecíamos... Eram cínicos e hipócritas.
Meu celular bipou e vi a mensagem de Otto, perguntando se eu estava bem. Ele mandava aquela mensagem diariamente. Eu estava sobre a mesa da sala de jantar, com várias planilhas de custo, trabalhando em home Office naquele dia. Sorri e respondi que sim. Aquela era hora do dia que eu mais gostava.
Lorraine estava casada com Felipe e eles tinham um bebê. A pequena Vitória era simplesmente linda. Eu e Tom éramos os padrinhos. Depois de tantos anos, lembrei do pedido dela de ser madrinha do meu suposto casamento com Nicolas. Eu ri e balancei minha cabeça. Éramos felizes e não sabíamos. Vivemos momentos perfeitos nós três juntos.
Lembrei que naquela semana completaria oito anos que vi Nicolas Welling pela primeira vez, no Manhattan Bar. E seis anos que eu não o via.
Suspirei e abri meu notebook, numa rede social. Tremi meus dedos quando digitei o nome dele. Era a primeira vez que eu o procurava. “Esta conta é privada e você não tem autorização para acesso”. Tentei outra e eu estava bloqueada em todas. Ele me tirou completamente da sua vida e não queria que eu soubesse nada dele. Se em seis anos eu não o esqueci, será que algum dia da minha vida conseguiria tirar Nicolas Welling da minha mente e do meu coração?
Vi Tom entrando pela porta principal e fechei rapidamente a tela, sentindo um frio na barriga.
Ele veio até mim e me deu um beijo nos lábios:
- Você não descansa nunca? – ele sorriu.
- Não. Gosto de estar ocupada. Faz-me bem.
Ele puxou a cadeira e sentou ao meu lado:
- Então você vai gostar da notícia que eu lhe trago.
Levantei meus olhos na direção dele, curiosa:
- Que notícia?
- Eu comprei parte do Paradise Resort.
- Que bom. – falei voltando minha cabeça para os papéis.
- Gatinha, nos mudaremos para lá por um tempo.
O encarei, perplexa:
- Tom, isso é em Paraíso. Eu... Não quero ir para lá. E você sabe muito bem disso.
- Juliet, o Resort é praticamente novo e já é um dos principais de Paraíso. Foi um dos meus melhores negócios dos últimos tempos. O maior acionista raramente aceita vender qualquer parte do Paradise. Mas ele abriu esta oportunidade para mim. Consegui o que ninguém conseguiu até hoje: falar com ele pessoalmente e ser aceito como um acionista. A única exigência dele é que eu tenha alguém de confiança trabalhando junto dele na administração. E eu achei isso perfeito. Tem noção do que é estar ao lado de um dos homens mais ricos e promissores do país? Ele...
- Me poupe das suas palavras, Tom. Eu não tenho interesse.
- Paraíso é um lugar enorme. Duvido que você cruze com seu pai. É um resort, gatinha. Acha mesmo que seu pai estará lá? E tem tudo que você precisa lá dentro. Não precisa sair para nada.
- E minha família?
- Ei, não estou convidando você para morar numa prisão. Você é livre para ir e vir quantas vezes quiser. Pode levar Lorraine e Felipe... Otto, sua tia... Até mesmo sua avó. – ele riu.
- Minha avó não iria. – revirei meus olhos.
- Gatinha... Eu preciso da sua ajuda. Por favor... Sabe que preciso viajar o tempo inteiro... E só confio em você cuidando de tudo para mim.
- Tom... Eu não quero encontrar Simon Dawson.
- Eu serei um dos donos do Resort. Você será dona, gatinha... Claro que pode até mesmo impedir a entrada dele, caso queira. Mas eu duvido que ele tenha acesso a um local de luxo, se ele é como você disse.
- Ricos também usam drogas. – olhei para ele.
- Quer mesmo retomar este assunto depois de tanto tempo?
- Não... – suspirei, resignada. – Me dê um tempo para pensar... E um motivo para ir.
- Auxiliar na gerência do Paradise Resort deixará seu currículo invejado por qualquer pessoa na sua área. Poderá conseguir emprego onde desejar quando não quiser mais trabalhar na nossa empresa. Sei que você tem vontade de se desvencilhar dos nossos negócios um dia. – ele colocou a mão sobre a minha. – E andar com suas próprias pernas. Embora eu ache que isso não tem nada a ver. Você é ótima no que faz e gostaria que ficasse me ajudando para sempre, exatamente como faz. Você é imprescindível na administração dos meus negócios. E desde que você assumiu este compromisso, lhe fez muito bem.
- Vou pensar.