Capítulo 62
2536palavras
2022-07-15 20:02
Comemorei o aniversário de um ano morando sozinha com Lorraine e Dani. Eu estava empregada numa empresa de logística e não ganhava bem, mas dava para sobreviver. Só não tinha mais como comprar tantos sapatos quanto eu gostaria. Eu dava conta das despesas e Otto ajudava, mesmo eu sendo contrária. Eu via minha família regularmente, em especial Otto e minha prima. Eu me arrependia de minha mãe não ter visto minha relação com Otto, que se fortalecia a cada dia. Tinha a impressão de que tudo que eu sentia por ela havia passado para ele. Era como se Otto fosse o que restou da minha mãe. Porque eu tinha certeza do quanto ela o amava. E do quanto ele a amava. Ele não se envolveu com ninguém naquele tempo. Eu sempre deixei bem claro que não me importaria se ele encontrasse outra pessoa. Mas ele sempre dizia que não estava preparado ainda. Lorraine estava solteira, mas muito apaixonada por Felipe. Sim, o salva-vidas que ela convidou para o meu casamento com Nicolas. Mas o relacionamento deles era meio conturbado, um vai e volta sem fim. Ainda assim eu a via pela primeira vez gostando de verdade de alguém. Se iria dar certo? Como saber? A vida era uma caixinha de surpresas.
Depois de algumas taças de espumantes, eu, Lorraine e Dani decidimos ir para um bar novo que abriu há pouco tempo em outra cidade. Por incrível que pareça, o Manhattan não era mais para nós. O público mais jovem havia tomado conta do espaço. E não nos sentíamos a vontade lá. E nunca pensei que algum dia eu iria preferir outro lugar ao meu Manhattan.
Fomos no carro de Lorraine. Eu ainda era péssima em dirigir, por isso preferia não ter um carro e andar de táxi. Não achava prazeroso... Pelo contrário, ficava tensa na direção.
O bar era legal. Pequeno, aconchegante e com música ao vivo. O público era mais adulto, beirando nossa idade. Estávamos saindo juntas várias vezes naquele ano. Eu conheci alguns homens neste tempo. No início transei como se não houvesse amanhã, um dia com cada um, tentando sentir um prazer que achei nunca mais sentir antes. E não... Não senti mesmo. Alguns parceiros foram bons, mas nenhum o superava. Eu sabia que não poderia comparar, mas era inevitável. Nunca mais houve tapas na bunda, nem olho no olho, muito menos acordar sendo envolvida num ninho de amor. Mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde teria que encontrar alguém que me fizesse feliz. Não poderia passar a minha vida inteira lamentando a perda de Nicolas. Eu não me envolvia com ninguém sentimentalmente. Era sexo de uma noite e nada mais. Não havia troca de telefone, muito menos frequentarem meu apartamento ou saberem onde eu morava.
Estávamos sentadas, conversando sobre alguns homens bonitos numa mesa próxima. O barman veio até mim com uma bandeja com um drinque e me entregou. Era uma pina colada. Senti um frio na minha barriga, olhando surpresa para ele.
- O rapaz que está sentado no bar mandou, “gatinha”. – ele piscou.
Virei para Tom, que levantou seu copo na minha direção. Eu sorri timidamente.
- Não acredito! – disse Dani. – Ele é um fofo.
- Ele não é fofo... Ele é lindo. – observou Lorraine. – Nunca achei Tom fofo. Ele é de tirar o fôlego. Pega ele logo.
- Tom não é um homem de uma noite e nada mais. – falei o olhando novamente, percebendo seus olhos na minha direção.
- Só se você quiser.
- Faz um ano que eu não o vejo... – lembrei.
- Eu chamo isso de destino. – disse Lorraine.
- Ou perseguição. – disse Dani rindo alto.
Lorraine colocou a mão sobre a minha:
- Vai lá, prima. Se dá esta chance. Não deixe passar. Você merece ser feliz. Chega de se sabotar. Você não precisa disso.
- Já sofreu o suficiente, amiga. – Dani pegou minha outra mão. – É hora de virar o jogo e mostrar para a vida que você consegue dar a volta por cima. Eu vejo Tom como uma chance... O que se foi não volta... Você sabe disso, não é mesmo?
Suspirei profundamente e tomei o drinque, que estava saboroso. Pina colada me trazia tantas lembranças... Boas e ruins. Um passado tão intenso e feliz e ao mesmo tempo amargo e triste... Por minha culpa. Será que se não fosse meu pai ter aparecido eu ainda estaria com Nicolas? Ou teríamos terminado por algum outro motivo? Nos amávamos tão intensamente... Éramos tão felizes, nos completávamos a ponto de sermos quase um só. E de uma hora para outra tudo acabou. Sem ter nem tempo para assimilar a partida... Só ficou a dor... E lembranças eternas de um amor que sequer disse adeus.
Coloquei a mão nos meus pingentes, que nunca mais tirei do pescoço. Ficar com Tom não era uma traição. Nunca foi... Não houve traição. Nicolas jamais quis me ouvir... Nunca me deixou explicar.
Levantei e peguei meu drinque, indo até ele, ouvindo as palmas de Dani e Lorraine, felizes pela minha atitude. Sentei no banco ao lado dele, recebendo um sorriso gentil:
- Saudade de você, gatinha. Eu acho que o destino cruzou nossos caminhos novamente. E eu não vou deixar você escapar, meu bem. Não desta vez.
A noite acabou no apartamento dele. Tom morava na cobertura de um prédio caríssimo na cidade vizinha à minha. Assim que ele abriu a porta, mostrando o andar inteiro só dele, fiquei pasma. A sala era gigantesca, com sofás enormes e parecendo extremamente confortáveis. Aposto que custavam mais que um mês do meu salário. O pé direito era alto. O piso era brilhante e branco, absolutamente limpo. Parecia uma casa tirada de revista de decoração.
- Seja bem vinda, gatinha.
Entrei timidamente. E eu não costumava ser assim. Mas com tudo que aconteceu comigo, eu não era a mesma. Lorraine dizia que eu tinha perdido minha vivacidade. Dani queria que o brilho voltasse, pois dizia que ele se apagou nos meus olhos. Eu sobrevivia... Não mais vivia. Não era feliz. Mas a vida continuava e eu seguia, um dia de cada vez. Se eu queria ser feliz? Claro que sim. Eu creio que todo mundo procurava a felicidade. Mas parecia que para mim ela era algo inalcançável. Eu estava satisfeita com minha vida. Era independente, tinha um apartamento, uma vida confortável... Mas eu não podia afirmar que eu era feliz.
Ele pegou minha mão e me puxou para o sofá, onde deixei meu corpo cair tranquilo e preguiçoso.
- Sua casa é perfeita. – eu disse olhando para tudo.
- Eu sei... – ele sentou junto de mim. – Pode ser sua também, caso queira.
Eu gargalhei:
- Tom, você é hilário.
- Eu estou falando sério. – ele me encarou.
- Tom... Você não entende que...
Ele me beijou. Senti sua língua invadir minha boca, ansiosa, intensa, insana. Foi como voltar no tempo... Como se nunca tivéssemos nos separado. Eu sempre gostei do beijo dele, da forma como ele me tratava, da sua “pegada”. Em pouco tempo ele me deitou, colocando o corpo sobre o meu. O beijo intensificou e senti seu membro enrijecido sob a calça. Ele beijou meu pescoço carinhosamente e sua barba me causou arrepios. O cheiro dele era bom... Másculo. Quando pensei que tiraríamos nossas roupas, ele levantou e me pegou no colo. Passei meus braços sobre o pescoço dele, deixando que me conduzisse pelo local, subindo uma escadaria em mármore bege e chegando até um quarto que era maior que o meu apartamento inteiro. Ele me colocou cuidadosamente sobre a cama e retirou meu vestido, me deixando de lingerie. Ficou parado, olhando meu corpo desejosamente. Abri sua calça, descendo-a com a cueca, ficando frente a frente com seu enorme membro. Ele não deixava a desejar para o corpo escultural. Tudo em Tom era esculpido perfeitamente. E seu pênis era maior que os que eu já havia visto. E a curiosidade em tê-lo dentro de mim deixou-me molhada. Ele sorriu lascivamente ao ver meus olhos sobre ele:
- É todo seu... Gatinha.
Toquei no seu membro, massageando. Mas não me sentia a vontade para chupá-lo. Ele puxou meu corpo para o meio da cama, se ajoelhando sobre mim, passando sua língua desde o meu pescoço até minha barriga, demoradamente. Depois desceu minha calcinha, novamente parando para me admirar.
- Eu imaginei tanto este momento... – ele confessou. – Fantasiei ele de diversas formas.
- Sou sua, Tom... Faça de mim o que quiser.
Ele desabotoou o sutiã, abocanhando um seio de cada vez, faminto. Minhas mãos desceram até seu membro enquanto seus dedos alcançavam minha extensão úmida. Ele se enterrou dentro de mim, com os braços na cama, enquanto me fitava, cheio de tesão. Tom era forte e meu corpo se movia violentamente enquanto ele entrava sem piedade. Meus seios batiam com a força dele no meu corpo. E eu estava gostando... Muito. Foi o melhor sexo daquele último ano. Apertei os ombros dele com meus dedos, gemendo:
- Eu vou gozar, Tom...
- Goza para mim, gatinha...
- Pode botar o preservativo? – pedi.
- Claro.
Ele não saiu de dentro de mim. Sua mão alcançou uma gaveta próxima da cama e ele abriu a embalagem com os dentes, para então sair da cavidade úmida e quente de onde estava, colocando habilidosamente a preservativo. Nem deu tempo de o sentir fora de mim. Em pouco tempo senti que ia gozar. E meu corpo estremeceu, percebendo que ele também gozou logo depois.
Fechei meus olhos e tentei controlar minha respiração ofegante. Meu coração batia intensamente. Sexo de qualidade, mas não tenho certeza se seria sem compromisso.
- Venha... – ele me pegou pela mão. – Quero você na banheira.
O homem não era só bom de sexo... Iríamos para o segundo round sem nem dar tempo de descansar do primeiro.
Ele ligou a banheira de hidromassagem do cômodo gigantesco. Enquanto enchia, ele me virou de costas, passando a língua pela minha pele.
- Vou te comer aqui, gatinha... Antes de fodê-la na banheira. Depois vamos para o chuveiro.
Senti um pouco de medo. Como eu iria andar depois de quatro fodas consecutivas com um homem avantajado como ele? Antes que eu pensasse muito, ele me curvou sobre a banheira e senti seus dedos me massageando, já me acendendo. Ele se enterrou novamente com força. Caralho, como aquilo era possível? Mal ele havia gozado. Suas mãos me apertavam com força e eu gostava daquilo.
- Me bate, Tom. – pedi.
Ele parou um pouco os movimentos, apreensivo:
- Como assim?
- Bate na minha bunda. – pedi afoita e cheia de tesão.
- Eu... Não curto muito isso, gatinha. Não quero deixar marcas em você. Seu corpo de bebê é muito lindo para eu deixar qualquer vestígio nele. Quero passar minha língua por sua pele limpa, branquinha e bem cuidada.
- Eu gosto, Tom. Não se preocupe... Pode fazer sem deixar marcas. E se quiser deixar marcas, eu gosto também.
- Não posso... Não quero.
Ele continuou me penetrando intensamente e eu fiquei um pouco frustrada. Eu nunca havia pedido aquilo para ninguém além de Nicolas. E tom me deixou a vontade para tentar... Mas ele nem cogitou.
Para minha surpresa, ele tinha preservativo ali também, no banheiro. E creio que se fôssemos transar na cozinha, ele também teria lá.
E não foi só blefe. Depois ele me comeu na banheira e sucessivamente no chuveiro. E eu não fiquei sem andar depois. Quando deitei na cama, meu corpo estava extasiado e satisfeito. Foi bom. E não, eu não iria comparar com Nicolas. Mas foi melhor que todos que eu dormi naquele ano.
Eu não pensei que ele fosse me abraçar quando me virei para dormir. Mas foi o que aconteceu. Recebi um beijo carinhoso e estalado na bochecha:
- Boa noite, minha gatinha. Vou torcer para em breve ter você diariamente na minha cama. Quero que você seja a minha visão ao cair da noite e quando nascer o dia.
- Foi bom fazer sexo com você. – me ouvi dizendo e fiquei pensando se não fui grosseira depois das coisas fofas que ele falou.
Ele riu:
- Posso dizer que senti a mesma conexão. E não é comum eu gostar tanto de fazer sexo com alguém a ponto de querer repetir no dia seguinte.
- Eu também... – confessei.
- Mas eu quero repetir com você.
- Eu também, Tom.
Ele me virou para si e me abraçou:
- Não vou deixá-la escapar, Juliet. Você é minha agora... E nada nem ninguém vai tirá-la de mim.
Eu não falei nada. Minha cabeça naquele momento pensou em Nicolas Welling. Embora eu soubesse que não deveria, a imagem dele se impregnou na minha mente. Será que algum dia eu conseguiria esquecê-lo e não sentir que qualquer coisa que fizesse era como se estivesse traindo a ele a mim mesma?
Onde ele estaria naquele momento? Tanto tempo havia passado. Imaginei se ele já tinha encontrado alguém... Se estaria morando com a mãe. Se havia resolvido a questão do pai. Se pensou em mim pelo menos uma vez naquele ano que passou.
E pela primeira vez eu descobri que se pudesse fazer um pedido, um único pedido, eu quereria voltar no tempo. E não ter aceitado o café com Simon Dawson. Eu voltava no passado o tempo todo, nas coisas que eu vivi com ele. Eu comemorei o aniversário dele no meu pensamento. E eu não liguei para parabenizá-lo, porque eu não tinha como... Mas eu mandei felicidades mentalmente, desejando que ele estivesse feliz. Eu lembrei o dia que fechou aniversário que nos conhecemos. E também que começamos a namorar. Eu o via ao meu lado, no carro, com medo de mim na direção. Um sorriso tomou conta do meu rosto enquanto lembrava da cena. Ele me pegando no colo, largando tudo por mim, me dando palmadas e aceitando meu abraço enquanto eu fingia que estava bêbada. Lembrava de ter acordado nua no quarto dele e do café que ele preparava exatamente do jeito que eu gostava. O primeiro celular e nosso toque mais intimo, quando ele escondeu a caixa de mim. Foi a primeira vez que me senti balançada por ele. As verdades ditas na minha cara... Eu nunca mais ouviria que eu era a “rainha do drama”, nunca mais veria seus olhos sinceros dizendo despretensiosamente: “senti saudades de nós dois”. E nosso silêncio que significava que não queríamos falar, mas que estaríamos ali, “para sempre”. Jamais minha boca falaria “eu te amo ontem, hoje e sempre”. E nunca alguém me ofenderia me chamando de hipócrita, dissimulada, vingativa e convencida de uma forma tão inofensiva. Era hora de me desvencilhar de tudo aquilo. De arrancar tudo de dentro de mim. Era hora de dar a volta por cima. De perdoá-lo... E de me perdoar. Eu já tinha 21 anos. Nicolas era só uma lembrança. Eu nunca mais iria encontrá-lo de novo. Foi então que eu aceitei a aventura de começar um relacionamento com Tomas Panetiere, um dos empresários mais ricos e bem sucedidos da região metropolitana do estado. Eu estava com 21 anos e ele com 30.