Capítulo 57
2050palavras
2022-07-15 19:58
Acordar com o corpo de Nicolas Welling nu sobre o meu era simplesmente a melhor forma de começar o dia. Ele sempre me abraçava e colocava a perna sobre mim, como se tivesse medo que eu pudesse fugir dele. E eu me sentia completamente segura sob o corpo dele. Se eu pudesse, eternizava aquele momento enquanto olhava ele dormir tranquilamente. Dei um beijo leve nos lábios dele, que abriu os olhos lentamente:
- Agora você me observa dormindo? – ele perguntou se espreguiçando.
- Hora de levantar. Você precisa ir. Ou vai se atrasar.
- Jura? Eu não posso ficar aqui para sempre? – ele me apertou com força.
- Pode... Mas daí vai perder o dia de trabalho. E eu a aula.
- Vou preparar seu café enquanto você toma banho. – ele disse levantando.
- Não, Nick. Eu vou tomar um banho rápido e ir. Se parar para comer vou me atrasar. Esperei o máximo de tempo que pude para acordá-lo.
- Eu lhe dou uma carona então.
- Aceito.
Corri até o chuveiro e assim que ele entrou avisei:
- Não quero me atrasar.
- Eu nem fiz nada... – ele riu levantando os braços.
Olhei o corpo nu dele e senti um desejo acendendo dentro de mim novamente. Aquilo não podia ser normal. Eu já comentei que queria ele sempre dentro de mim? Acho que eu tinha sérios problemas com relação a sexo... Ou a Nicolas Welling.
- Este olhar me faz perder a noção... – ele disse me empurrando contra a parede gelada.
- Seu corpo me faz perder a noção... – eu disse fechando meus olhos. – Mas realmente não dá tempo. – o empurrei levemente, colocando a temperatura do chuveiro no gelado, deixando a água me refrescar e afastar o pensamento sexual de mim.
Sai do banho e peguei minha toalha me secando com força. Meu corpo pegava fogo, mas eu tinha alguns minutos para colocar uma roupa ou chegaria tarde na aula e ele no trabalho.
- Quer vir hoje à noite? – perguntei.
- E desrespeitar as regras de sua mãe? Sou louca, por acaso?
- Desrespeitou esta noite, Nick.
- Mas ela não me viu.
Eu ri:
- Acha mesmo? E se encontrá-la agora, enquanto saímos?
- Vou morrer de vergonha. E ela vai me dar uma lição de moral. Então eu vou contar que você me chamou.
- Eu não chamei você.
- Ah, não chamou?
- Não. – joguei um beijo para ele e fui colocar minha roupa.
Eu tinha que conversar com minha mãe sobre ir passar uns dias em Paraíso. Mas não queria estragar o meu dia e o dela contando pela manhã. Então achei que de noite era melhor. Depois da bomba nós iríamos dormir e ela estaria mais calma no dia seguinte. E precisava contar para Nicolas também. Faria da mesma forma. A diferença é que contaria a ele pela noite e depois lhe daria meu corpo em troca, cheio de amor. Isso o deixaria menos bravo. Ao menos eu esperava. O senhor perfeito não era nada fácil de lidar também.
Quando estávamos indo abrir a porta para sair, minha mãe apareceu, já pronta para o trabalho.
- Que dia é hoje mesmo? – ela se fez de boba.
Paramos e a encaramos. Nicolas falou:
- Podemos descontar o de hoje no final de semana, dona Olga?
- Nicolas, havíamos feito um combinado. Não é mesmo, Juliet?
- Desculpa, mãe. – fingi arrependimento.
Sim, fingi, porque eu não estava arrependida. A noite havia sido ótima e eu faria tudo de novo.
- Regras... Sabem que isso existe, crianças?
- Mas foi uma única quebra, dona Olga.
- Depois da primeira, vem a segunda. Acho que vou ter que dar castigo para Juliet.
- Mãe... Eu já tenho vinte anos.
- O que não parece.
- Mas...
- Conversamos depois. – ela disse realmente brava.
- Sim... Eu quero mesmo falar com você, mãe. Então à noite podemos resolver isso... De filha para mãe.
- Ou de mãe para filha. – ela atenuou.
- Ok... – dei um beijo nela e a abracei com força. – Eu amo você... E não é por causa de ter me perdoado por eu ter dormido com Nicolas esta noite.
Ela me apertou contra si, pegando meu queixo e me fazendo encará-la:
- Quem disse que eu perdoei vocês dois? Não se escaparão do castigo.
- Nicolas também? – olhei para ele preocupada.
- Nicolas também. – ela confirmou.
- Estou preparado, dona Olga. Pode pensar numa coisa bem terrível... Eu mereço.
- Agora preciso ir. – falei pegando minha mochila. – Nick vai me levar. De noite estou em casa e temos aquela conversa. Se Otto puder participar... Eu gostaria.
- Quer me deixar pensando nisso o dia inteiro, Juliet? Estou com medo.
- Não tenha, mãe. Está tudo certo.
- Mudou de ideia com relação ao dinheiro para seu pai?
- Acho que não... – não tive coragem de dizer a verdade.
- Então ainda não estamos de bem.
- Eu sei... – revirei meus olhos. – Mas por isso mesmo precisamos conversar.
- Um avanço você querer pelo menos conversar.
- Estou indo. Amo você. – peguei minhas coisas e dei um beijo e um abraço apertado nela. – Você é a pessoa mais perfeita do mundo... Até mais que Nicolas. – brinquei.
Ela gargalhou:
- Você não tem jeito, menina. Vai ser castigada igual.
Nicolas veio atrás de mim:
- Vai contar para ela?
- Vou. E preciso contar uma coisa para você também. Mas não agora.
- Quer me matar, Juliet? O que é?
- Pode me encontrar na cafeteria?
- Eu tenho aula hoje à noite.
- No intervalo, entre o trabalho e a sua aula.
- Ok. Por que lá?
- Gosto de tomar café quando fico nervosa.
- Caralho!
Ele subiu na moto e me ajudou. Com a carona dele em pouco tempo eu cheguei na aula e atrasei apenas alguns minutos.
O dia me consumiu com a conversa que teria com Nicolas e minha mãe. Havia sido uma noite maravilhosa e eu sabia que ele ficaria furioso comigo, assim como ela. Ainda assim minha decisão estava tomada. E eles precisavam me entender. Eu não iria embora. Eu só iria visitar minha família.
Eu esperei por Nicolas no horário combinado na cafeteria. Pedi um café gelado enquanto ele não chegava. Cinco minutos depois e ele estava comigo. Deu-me um beijo no rosto e sentou.
- Vai pedir algo? – perguntei.
- Não. Estou bem. Café não resolve minha ansiedade.
- Você está sério.
- Você me deixou assim. Vamos, fale logo. Não posso me demorar.
Respirei fundo e tive um pouco de medo. Quando Nicolas ficava bravo, ele ficava “muito bravo”. E me dizia coisas sem pensar e acabava me magoando. E a história de meu pai o deixava bem furioso.
- Eu... Entreguei o dinheiro ontem ao meu pai.
Ele me olhou e não disse nada. Mas vi seus olhos escurecerem de raiva.
- Nick? Você está aí?
- Não... Não estou. – ele disse sem deixar de me encarar.
- A resposta é “sempre”.
- Juliet, eu não posso concordar com esta loucura. Você está jogando sua vida fora, seu futuro. Não pode fazer isso.
- Nick, é a vida do meu irmão.
- Você já verificou se a história dele é verdadeira?
- Não. Por que você não fez isso, já que acha que ele está mentindo?
- Eu não fiz isso porque ele não é o meu pai... É o seu. É o seu pai, seu dinheiro, sua família. Você deixou bem claro que eu não faço parte disto.
- Então não preciso da sua opinião, ou aprovação.
- Por que está me contando isso, então?
- Porque... Achei que deveria.
- Não, você está me contando porque sabe que está errada. E vai querer que eu esteja com você, apoiando quando você estiver errada e sua mãe e Otto ficarem furiosos.
- Minha mãe pode também não concordar, mas não pode mudar minha decisão.
- Por que você é assim? Por que não ouve as pessoas que a amam?
- Meu pai também me ama.
- Será? – ele perguntou ironicamente.
- Nicolas, eu esperei a vida inteira por ele.
- E enquanto ele não estava aqui, quem conviveu com você a vida inteira e fez tudo para que fosse feliz?
- Eu... Já entreguei o dinheiro. E estou certa de que fiz a coisa certa. É uma vida em risco.
- Uma vida que você sequer tem certeza se realmente existe.
- Ele não faria isso.
- Como você sabe? Conhece-o?
- Vou conhecer. Eu decidi passar uns dias em Paraíso.
Ele me encarou e balançou a cabeça. Depois pegou a chave.
- Nicolas, você ouviu o que eu disse?
- Pode ir... Não garanto que estarei aqui esperando quando você voltar.
- São só alguns dias. Eu... Estaria verificando que tudo é verdade. Quero conhecer minha família...
- Juliet, sua família e todos que a amam estão aqui. Eu não conheço seu pai... E não quero conhecer. Mas sei tudo que ele fez com a sua mãe e com você. E também que ele foi um viciado por muitos anos. Não consigo engolir ele aparecer do nada e ainda pedindo dinheiro. Ele está mentindo, todos estão lhe alertando, mas você não quer entender. Se fosse uma quantia pequena, eu simplesmente não interviria. Caso você perdesse, tudo bem. Mas estamos falando de uma vida profissional... A “sua” vida profissional. Estamos falando de duas pessoas que passaram anos guardando uma quantia razoável para o seu futuro. Pessoas que se preocupam e se preocuparam com você a vida interia, que é sua mãe e Otto. Então vem seu pai do nada, vinte anos depois e você entrega absolutamente tudo na mão dele. E ainda decide viajar ao lado do homem que sequer conhece. Eu não estou do seu lado. – ele levantou.
- Nick, você não pode fazer isso. A decisão é minha. Eu sei que você não perdoa, mas eu perdoo. E é o meu pai e não o seu.
- Sempre achei que fôssemos mais que simplesmente namorados. Na minha ideia éramos amigos também e nos apoiaríamos e confiaríamos um no outro sempre.
- Como você pode dizer isso? Só porque não concordo com você acha que tudo que eu faço é errado?
Senti as lágrimas escorrendo no meu rosto. Fiquei envergonhada de estar chorando ali, num local público. Ele limpou as minhas lágrimas e disse:
- Adeus, baixinha. Faça o que achar melhor.
- Nick, diz que me apoia. – implorei.
- Não apoio. E não sei se estarei esperando por você quando voltar.
- Nick...
- Faça o que acha que está certo, Juliet. Você nunca ouve ninguém e ainda assim faz questão de contar para todos os seus planos. Quer um conselho? Nem conte isso para sua mãe.
- Eu amo você, Nicolas... Ontem, hoje e sempre.
- Talvez amou ontem, Juliet. Já não tenho certeza dos seus sentimentos hoje. Às vezes acho que você só ama a si mesma.
- Eu odeio você.
Ele riu sarcasticamente:
- Tudo bem. Eu posso conviver com este sentimento. Espero que você entenda que o que sinto neste momento por você também pode beirar o ódio. E não é só pelo que você falou agora. É por você ter me tirado do termo “família” da sua vida. É por você ter colocado a relação que tenho com meu pai dentro da sua somente para me magoar. É por você simplesmente achar que eu não tenho valor algum depois que Simon Dawson entrou na sua vida.
- Nicolas... Estamos terminando?
- Não sei... Estamos? – ele perguntou.
Eu não disse nada e ele saiu. Senti meu coração despedaçado. Paguei a conta ainda chorando e começava a ficar incontrolável a minha tristeza. Eu não achava que estava fazendo nada errado com relação ao meu pai. E as palavras de Nicolas foram simplesmente horríveis e me feriram mais do que se ele tivesse me batido. Ainda assim eu não conseguiria deixá-lo ir assim, sem eu explicar que, apesar de tudo, eu o amava. Mas se eu tivesse que escolher entre ele ou meu pai... Eu escolheria meu pai.