Capítulo 49
2054palavras
2022-07-15 19:53
Quando ele estacionou no Mac Donald’s, me ajudou a descer e retirar o capacete.
- Duas observações. – eu disse. – Primeira: esta moto é muito grande para o meu tamanho. Segunda: você prefere de me dar de comer a me levar para o motel?
- E eu sou louco de deixar você com fome? Se já me morde quando está saciada, imagina esfomeada. Primeiro come... E eu fico salvo por um tempo.
- Está falando sério? – perguntei com as mãos na cintura.
- Sim, estou. E a moto não é grande para você... Você que é pequena.
- Agora você me irritou, Nicolas.
Ele me levantou até chegar na sua altura e disse:
- Sabe que eu não me preocupo com o seu tamanho, não é mesmo?
- Nem deve... Eu estou do tamanho certo. Você que cresceu além da conta.
Enlacei meus braços no pescoço dele e dei um beijo:
- Me conte da surpresa... Por favor.
Ele me colocou no chão:
- Nem pensar. Não vai me convencer.
Realmente ele tinha razão. Eu precisava primeiro comer. Passei a tarde fazendo as unhas, ele chegou de surpresa e eu acabei me arrumando e saindo sem colocar nada no estômago. Justo eu, que comia o tempo inteiro.
- Não come demais, senão vai passar mal durante a surpresa. – ele disse me olhando.
- Ai, Nick, não me assuste. Agora eu já comi tudo que podia.
Ele riu:
- Mais que vomitar você não vai. E por isto eu já passei.
- Nem quero lembrar... Que vexame!
- Ter me pedido um beijo e não ter se aguentado para receber ou ter vomitado nos meus pés?
- Nem sei... Já passei por tanta coisa com você que tenho até vergonha.
- Que bom que eu não fugi.
- Acho até que você gostou de tudo.
- Eu já disse que gosto de você do jeito que é... Com cada defeito?
- Defeito, eu? – brinquei.
- Vamos? – ele falou levantando. – Ou você nunca mais vai levantar daí.
- Será que você não pode me dar nenhuma pista...
- Sim, posso. Você deve usar calça.
- Já disse que te odeio hoje?
- Não... Nem que me ama.
- Eu te amo. – falei me agarrando ao corpo dele enquanto voltávamos para a moto.
Olhei aquela coisa gigantesca de duas rodas e perguntei:
- O que deu em você comprar uma moto? Nunca falou que desejava ter uma.
- Sempre foi um sonho.
- Quais seus outros sonhos? Pergunto só para eu não ser surpreendida em casa enquanto você os realiza.
- Todos incluem você de alguma forma... Então sempre será surpreendida em casa enquanto eu realizo os meus sonhos... E os seus.
- Como você consegue ser assim? – franzi minha testa.
- Assim como?
- Tão perfeito?
- Ninguém é perfeito. – ele afirmou batendo com o dedo na ponta do meu nariz. – E também ninguém é tão imperfeito, como você se acha. Sabe o que mais? Você é perfeita... Para mim.
Eu o abracei forte, sentindo o seu perfume gostoso que me embriagava mais que tequila depois de pina colada em final de noite no Manhattan.
- Nick... Só vou dar o aval da perfeição quando ver esta surpresa.
Ele balançou a cabeça:
- Aposto que você vai me amar mais ainda.
- Nick, não é possível eu amar você ainda mais.
- Eu já disse que quero ficar com você para sempre?
Sempre que eu ouvia isso me dava medo. Tentei dissipar a nuvem negra que tentava ficar sobre mim e respirei fundo:
- Podemos ir agora?
Ele olhou no relógio:
- Está na hora.
Senti meu coração bater descompassado. Era muito mistério para uma pessoa tão inquieta e curiosa como eu.
A noite estava quente e perfeita para andar de moto. Eu nunca fui muito fã de motos e na verdade nem sabia se conseguiria dirigir um carro um dia. Ainda assim eu me sentia segura. Porque estava com ele.
E rodamos... Não foi pouco. Eu nem tinha certeza de qual cidade estávamos quando ele estacionou a moto na rua. Era um pequeno bar. Eu não sabia se iríamos ali ou em outro lugar. Havia umas cinco pessoas na fila da porta de entrada.
- Nick, eu estou ficando assustada. – falei.
Ele riu e pegou minha mão, entrando na fila. Eu estava confusa e curiosa. O que ele estava preparando?
Mas quando finalmente entramos e ele entregou os ingressos na recepção, entendi o que era:
- Um show do TNT?
- Sim, rainha do drama.
- Eu não acredito... – comecei a pular sem parar. – Você me trouxe para ver um show da minha banda favorita da vida toda?
Embora tivesse muitas pessoas no local, algumas me olharam com cara de: “O que esta louca está fazendo aqui?”. Eu parecia uma tiete adolescente.
Andei rapidamente para a pista, me posicionando em frente ao pequeno palco, que já estava preparado com os instrumentos. Ele me abraçou por trás e falou no meu ouvido:
- Gostou da surpresa?
- Ok, o título de perfeito é real agora, Nick.
- Enfim, é oficial. – ele riu.
- Como você sabia que eles estariam aqui?
- Faz um tempo que estou pesquisando...
- Eu não sei o que mais gostei: do colar ou de estar aqui.
- Só quero que você fique bem, rainha do drama. E feliz.
- Eu sou feliz, Nick. Principalmente quando estou com você.
Em pouco tempo as luzes se apagaram e o show começou. Eu não deixei ele ficar grudado em mim, porque eu queria curtir muito: pular, gritar e ser tiete de verdade. Eu sabia que Nicolas era um pouco reservado. E eu não era nada discreta. Ainda assim estávamos firmes e fortes num namoro de meses. Eu duvido que alguém fosse mais fã de TNT do que eu. A banda já havia parado de tocar há anos atrás. Mas acabou se juntando novamente para uma turnê de alguns poucos shows pelo estado. E eu tinha o privilégio de estar ali, assistindo a lenda do rock tocando talvez ao vivo pela última vez. Cantei todas as músicas junto e óbvio que chamei a atenção deles. Eu acredito que uma música foi tocada especialmente para mim (eu sempre achava que algo era especial para mim). Aquilo era simplesmente surreal. Quando o show acabou, eles foram saindo pela lateral e Nicolas pegou minha mão, abrindo caminho rapidamente entre a multidão. Quando vi, eu estava frente a frente com os amores da minha vida inteira. Na minha cabeça, eu achava que quando os visse ao vivo pela primeira vez falaria tudo que eu pensava sobre eles e a música que faziam. Que teríamos um papo pra lá de alegre e interessante e que eles me amariam para a vida inteira. Mas eu literalmente “travei” olhando pra eles.
Nicolas entregou um Cd para eles e pediu:
- Podem autografar para a minha namorada? Ela é fã de vocês.
- Claro. – disse o vocalista me olhando sorrindo e pegando a caneta da mão de Nicolas.
Reage, Juliet! Não seja idiota. É só o cara que canta as músicas que você ouve a sua vida inteira!
- Nome? – ele me perguntou, pousando os olhos sobre mim.
Ele está me olhando... Eu não acredito. Voz, saia de dentro de mim, por favor:
- Juliet... – falei quase inaudível.
Ele escreveu e me entregou o Cd nas mãos:
- Obrigado pelo carinho, Juliet.
- Eu sou louca por vocês... – falei quase na certeza de que saiam corações de dentro dos meus olhos.
- E nós por você. – ele sorriu.
Eles saíram e eu fiquei ali, imóvel, estática e sem acreditar no que tinha acabado de acontecer.
- Você está bem? Por que não falou com eles, Juliet?
- Nick... Eu travei.
Ele gargalhou:
- Você? Eu jurava que você reagiria de outra forma.
- Eu também. – falei ainda sentindo meu corpo amolecido.
Ele me abraçou:
- Gostou da surpresa?
Olhei para o Cd nas minhas mãos e disse:
- Eu vou guardar isso para sempre.
- O que fazemos agora? – ele perguntou.
Olhei para ele e disse:
- Não sei, Nick. Me diga você.
Ele riu e pegou minha mão. Pagou as comandas e voltamos para a moto.
Então era hora de eu conhecer um Motel. Ansiedade definia o meu sentimento. Certamente aquele dia eu guardaria pra sempre na minha memória, por tudo que vivi.
Ele abriu a porta e fiquei parada, observando atentamente. O quarto era amplo e todo branco. A suíte tinha decoração japonesa e tudo nela era em tons vermelho e branco. Logo na entrada tinha um aparador com um espumante e duas taças. Uma porta dava para um banheiro gigantesco, com Box, pia dupla marmorizada em tom cinza chumbo e um espelho que ocupava toda uma parede. A banheira de hidromassagem era enorme e ficava no meio do quarto. A cama era quase da minha altura. E tinha almofadas decoradas com bandeiras do Japão. Uma televisão enorme ficava pendurada na parte de cima, aos pés da cama. E o espelho ocupava todo o teto. O piso era tão branco que dava pena de pisar e o brilho poderia refletir a calcinha.
- Achei que preferisse este ao de beira de estrada. – ele disse fechando a porta e jogando a chave no aparador, observando atento minhas reações.
- Por hora este está bom... Mas ainda quero o de beira de estrada. – afirmei.
- Isto é sério? – ele perguntou rindo sem ter certeza.
- Sim. – falei seriamente.
Ele retirou o CD, que ainda estava na minha mão e colocou no aparador:
- Não se preocupe... Ninguém vai roubá-lo daqui.
Andei até o meio do quarto e disse, suspirando:
- Acho que eu poderia ficar aqui por uns dias, presa com você.
Ele gargalhou e veio até mim, me abraçando empurrando-me com seu corpo até eu cair na cama macia:
- Quem sabe um dia, não é mesmo? Eu não enjoaria de dormir com você todas as noites.
- Está me pedindo em casamento, Nicolas Welling?
- Achei que você já tinha aceitado. – ele disse me olhando nos olhos, com o peso do seu corpo sobre o meu.
- Não... Eu vou fazer vinte anos, Nick. O casamento é só com trinta, não lembra?
Ele sorriu. Eu mordi o lábio inferior dele, de leve. Eu não resistia ao sorriso dele. E era raro quando ele não estava sorrindo.
- Eu queria muito você só para mim... Num lugar onde estivéssemos só nós dois... Podendo fazer qualquer coisa.
- Ainda há coisas que não fizemos? – perguntei curiosa.
- Eu não bateria na sua bunda com sua mãe podendo ouvir seus gritos.
Eu gargalhei:
- Seria engraçado... – fiquei séria e perguntei. – Gritos? Vai doer?
- Depende... – ele disse tirando a minha blusa, sem se desvencilhar de mim.
Olhei para ele e não sabia o que sentia: se mais amor ou mais tesão. Era um misto de sentimentos que ele proporcionava que me deixava confusa às vezes. Eu queria conversar, queria que ele dissesse que nunca me abandonaria e ficaria comigo para sempre. Mas por que perguntar, se seus olhos diziam que ele estaria sempre ali?
De tudo nele, além do sorriso, eu gostava também do olhar. Eu nunca vi um olhar tão sincero e firme ao mesmo tempo. Eu sempre me acabei dentro dos olhos dele. Lembrei de quando eu tinha medo de me afogar na imensidão azul profunda... Afoguei-me... E não me arrependia.
Enquanto eu pensava, me vi sem roupa, completamente nua sobre os travesseiros que por incrível que pareça, cheiravam a novo. Talvez a ideia do Motel de beira de estrada, com uma cama e uma pia num canto não fosse tão devasso e sensual. Quem sabe meus filmes pornôs com histórias insanas e de luxúria não fossem tão prazerosos quanto uma cama limpa e preparada para o sexo e um homem perfeito e cheiroso só para mim. E a prostituta de vadia não tinha nada. Ela era virgem até pouco tempo atrás e só havia feito amor com o mesmo homem. E ela não tinha vontade de fazer com mais ninguém a vida toda. Porque seu homem era tudo que ela precisava.