Capítulo 48
1531palavras
2022-07-15 19:52
Eu nunca imaginei que Nicolas fosse menos que perfeito. Quando eu o chamava de imperfeito era somente para provocá-lo. E conforme o tempo ia passando, nossa cumplicidade e amor só aumentava. Ainda que eu não acreditasse muito em felizes para sempre, tudo se encaminhava para que eu me enganasse com relação a isso.
Eu tinha uma verdadeira fortuna guardada no banco em meu nome para que cursasse uma das melhores universidades do estado. Então iniciei a faculdade no polo da minha cidade, perto de casa. Nicolas acabou indo para mais longe, numa uma faculdade federal. Embora mais difícil de conseguir a vaga, era desta forma que ele queria se formar: sem usar nada do dinheiro da família.
Tudo que fazíamos era com a minha família. Eu não conhecia a família dele. E também não queria pressionar, pois se ele mesmo não os aceitava muito bem, não era correto forçá-lo a me mostrar um mundo do qual ele não queria fazer parte.
Numa tarde de sábado, eu estava fazendo minhas unhas despretensiosamente quando ouvi um barulho ensurdecedor na rua. Fui caminhando com os calcanhares e os algodões entre os dedos até a porta da frente. Minha mãe e Otto já estavam parados lá, conversando com alguém. Coloquei minha cabeça entre os dois e vi Nicolas numa moto gigantesca.
Quase derrubei minha mãe e Otto ao passar entre eles rapidamente:
- Nick... É sua?
- Sim... “Nossa”. – ele disse ainda na calçada.
- Nicolas, nem pensar que Juliet vai subir nesta moto com você. – disse minha mãe preocupada. – É muito perigoso.
Ele acelerou, fazendo com que tampássemos nossos ouvidos. Eu ri:
- Quero dar uma volta.
- Por que você não comprou um carro mesmo? – Otto perguntou.
- Porque eu sempre quis ter esta moto. – ele disse desligando e retirando a chave.
Entrou pelo portão e eu me agarrei no pescoço dele:
- Eu amei... Quero dar uma volta.
Ele olhou para minha mãe, que disse:
- Se eu já não dormia quando ela saía antes, imagina agora. O que eu faço com vocês dois?
- Eu levo a senhora para dar uma volta também, dona Olga. Para garantir que é seguro. – ele brincou.
Otto em segundos estava olhando a moto, admirando cada detalhe:
- É o sonho de qualquer homem. – ele disse analisando de frente e depois de lado.
Nicolas lhe jogou a chave:
- Então vá realizar seu sonho, Otto. Dê uma volta.
- Posso mesmo?
- Claro. Vai junto, dona Olga. Você vai gostar.
Minha mãe, até então criticando e reclamando, olhou para a moto e depois para ele e disse:
- Ok, vou testar. Otto você sabe dirigir isso?
- Claro que sei, querida.
Olhei atônita os dois partirem e comecei a rir:
- Pois então, ela reclamou e andou antes de mim.
Ele me olhou com as mãos imóveis, com o esmalte ainda por secar e os pés cheio de algodões entre os dedos e perguntou:
- Ei, você, o que fez com minha namorada?
- Estou tentando trazê-la de volta... Mas você veio sem avisar, antes de ela chegar. – reclamei.
Ele me pegou no colo sem cerimônias e me levou para o quarto, me depositando em cima da cama.
- Nick, eu preciso terminar isso. Não quero ficar horrível.
- Você nunca fica horrível.
- Meu esmalte está molhado.
- E você, está molhada para mim? – ele sentou sobre mim, levantando meus braços cuidadosamente.
- Sempre...
Ele roçou seu membro sobre mim, me provocando. O olhei, tentando me desvencilhar, mas não conseguia.
- Me beije... Agora. – pedi.
- Implore... – ele disse se aproximando do meu rosto.
- Nicolas, por tudo que é mais sagrado, me beije agora ou eu vou matá-lo.
Ele riu:
- Você não sabe implorar.
- E você não vai mesmo me beijar?
- Claro que vou...
Ele desceu os lábios até mim, sem soltar meus pulsos. Eu queria abraçá-lo e agarrá-lo, mas não conseguia. Sua língua pediu passagem dentro da minha boca e minhas tentativas de me desvencilhar eram negadas. Mordi seu lábio com força, recebendo outra mordida, leve.
- Senti saudade de nós... – ele disse quando suas mãos me soltaram e me envolveram num forte abraço.
- Nick, você acha que sempre sentiremos isso?
- Não acho... Tenho certeza.
- Nos amaremos sempre? E se a gente brigar?
- A gente vai fazer as pazes.
- E se um de nós morrer?
- O outro virá em forma de fantasma assombrar. – ele riu.
- E se conhecermos outra pessoa e amarmos mais?
- Isso é impossível.
- E se nos separarmos?
- Sempre nos encontraremos de novo.
- Nicolas, eu amo você ontem, hoje e sempre.
- Então já tem a resposta para todas as suas dúvidas... O que sentimos é para sempre. Pare de sofrer com o que não aconteceu... Não se preocupe com o amanhã. Ele vai ser perfeito... Eu garanto.
Ouvimos o ronco do motor da moto retornando.
- Eles foram só até a esquina? – ele perguntou saindo de cima de mim.
- Pelo visto sim.
- Quero que se arrume para sair. E coloque uma calça. Eu tenho uma surpresa para você.
Levantei rapidamente, ansiosa:
- Uma surpresa? Eu já disse que amo surpresas? O que é?
- Surpresa é surpresa.
- O que tem a ver com usar uma calça? Você vai me levar no colo? Vai dar tapas na minha bunda? Nick, você ainda não bateu na minha bunda...
Ele me pegou pelos ombros e riu, balançando a cabeça:
- Rainha do drama, acalme-se. Eu já não lhe disse que temos tempo para tudo?
- Onde vamos?
- Hoje vou lhe dar o seu presente de aniversário.
- Mas meu aniversário é só na semana que vem. – lembrei. – Se enganou na data?
- Claro que não... O problema é que o presente só está disponível hoje.
Olhei-o desconfiada:
- Vamos agora?
- Poderia ser depois... Mas antes quero dar uma volta com você na nossa moto nova.
- Ok... Vou para o banho.
- Quer ajuda para se esfregar?
- Não... Ela não precisa. – disse minha mãe entrando no quarto e entregando a chave da moto para ele, que ficou corado.
- Não finja vergonha, Nicolas. Agora venha e deixe Juliet tomar banho sossegada que vocês não nasceram grudados.
Minha mãe pegou ele pelo braço e praticamente o expulsou do meu quarto. Verifiquei que minhas unhas estavam secas e fui para o banho.
Era difícil escolher uma roupa sem saber exatamente onde iríamos. Coloquei uma calça jeans escura e uma camisa branca, dobrando as mangas abaixo do cotovelo. Jeans e camisa branca não tinha erro, independente do lugar. Mas e os pés? Botas, claro. Botas de cano curto, que combinavam com tudo, eram confortáveis e perfeitas para qualquer ocasião. Uma maquiagem leve, alguns acessórios e quando saí do quarto já estava anoitecendo.
- Querida, quase Nicolas desiste de esperar por você. – disse minha mãe olhando no relógio.
- Não é fácil ficar bonita, gente. Exige tempo... E ainda esqueci minha bolsa.
Voltei correndo e peguei minha bolsa. Quando voltei Nicolas já estava de pé, segurando a chave ansiosamente.
- Você vai amar o presente. – disse Otto.
Hum, então não era nada sexual, como inicialmente eu pensei. Ou ele não falaria para meus pais... Ou falaria. Espera aí... Eu pensei “meus pais”? Otto não era meu pai. Ou era? Olhei para ele, baixo, começando a aparecer uma barriga saliente, uma barba cerrada, meio careca, ruivo, o que dava para facilmente se passar por meu pai. O que minha mãe viu nele? Olga era linda: alta, magra, cabelos claros até os ombros. Pele perfeita. Eu era até baixinha como ele. Será que havia sido enganada e era filha dele e não de Simon Dawson, o homem que eu nem conheci? Claro que não... Não adiantava eu me iludir. Mas pela primeira vez na vida eu quis ser filha de Otto e não de meu pai. Agradeci mentalmente por ele estar ali, ao meu lado e ao lado de minha mãe.
- Bem, se Otto diz, eu vou acreditar. Porque ele me conhece bem.
Ele e minha mãe me olharam surpresos com minha resposta. E ele deu um sorriso generoso. Eu abracei minha mãe e depois o abracei. E foi a primeira vez que fiz isso depois que entrei na adolescência. Embora minha relação com ele na infância fosse boa, conforme fui crescendo passei a excluí-lo da minha vida.
Nicolas pegou minha mão e me levou até sua moto. Colocou cuidadosamente o capacete em mim, verificando todas as questões de segurança e depois me ajudou a subir. Eu estava ansiosa. Ele ligou a moto e fiquei excitada. Queria logo correr pelas ruas, sem pressa e sem compromisso... Só nós dois.
- Para onde quer ir antes?
- Eu quero ir num motel ou comer algo... Estou com fome.
Ele virou para trás e me olhou:
- Está falando sério?
- Sim. – afirmei sem um pingo de vergonha na minha cara.
Eu estava morta de fome. Mas fazia dias que não transávamos. Então qualquer uma das opções me deixaria satisfeita.