Capítulo 43
2096palavras
2022-06-30 01:57
- Oba, muitas novidades. – disse Dani. – Quem começa?
- Val... – eu disse.
- Ok... Eu fiquei com Adriano. – ela disse com um sorriso radiante.
E eu fiquei surpresa e muito feliz por ela. E não foi só por ela ter ficado com o amor da vida dela, mas porque isso talvez a deixasse mais sensível com relação ao que eu diria.
- Isso é maravilhoso! – disse Daniela. – Como foi?
- Logo depois que as aulas acabaram. Coincidentemente estamos fazendo estágio na mesma empresa. E começamos almoçando juntos... Depois saímos e simplesmente aconteceu. – ela explicou.
- E... Foi tudo que você esperava? – perguntei. – Afinal, foram anos esperando e criando expectativas em torno disso.
- Sim... Foi.
- Vocês estão juntos ainda? – tentei entender.
- Mais ou menos... Nada sério. Não quero deixá-lo assustado. Até porque ele não sabe que eu era louca por ele antes mesmo de conhecê-lo de verdade.
- Você o ama? – perguntou Dani. – Digo, depois de conhecê-lo de fato?
- Sim.
- E por que não nos contou antes? – perguntei. – Passamos tanto tempo vivendo isso com você. Poderia ao menos ter ligado para dizer.
- Eu já sabia. – falou Alissa se vangloriando.
Para mim era claro que as duas haviam ficado bem mais íntimas nos últimos tempos. E também que estávamos nos afastando cada vez mais, o que jamais passou pela minha cabeça que aconteceria. Isso que eu nem havia jogado a bomba ainda.
- Bem, fico feliz por você, Val. Merece. – falei.
- Eu também. Não imaginei que isso daria certo um dia. Vocês sabem que estes relacionamentos platônicos não são para mim. – confessou Daniela.
- E você, Juliet? Qual sua novidade? O que queria contar? – perguntou Alissa.
Todas me olharam ansiosas. Senti meu coração bater forte e um frio na barriga. Mas não podia adiar mais aquilo.
- Eu... Fiquei com Nicolas. – sim, disse isso porque eu não consegui dizer que eu estava “namorando” com ele. Ainda me arrisquei a sorrir feliz, tipo: “foi só isso”.
Houve um longo silêncio. Depois de um tempo, Dani disse:
- Que bom... Fico feliz que vocês tenham ficado. Sempre achei que ele estivesse a fim de você.
- Por que será que isso não me surpreende? – falou Val ironicamente.
- Não foi nada planejado. Éramos amigos. Acabou acontecendo. Faz pouco tempo. – expliquei.
- Eu ainda não engoli a última vez que ele ficou com Val. – disse Alissa. – Só eu que achei que foi proposital você querer ficar com Pedro para que ele deixasse Val?
- Ei, Val nunca gostou dele. – eu tentei me defender. – Ela sempre disse isso com todas as letras.
- Mas tínhamos um pacto. Que nunca foi rompido... Até então. – lembrou Alissa.
- Meninas, este pacto foi feito há quatro anos atrás. Éramos adolescentes de quinze anos. Não tínhamos nada na cabeça. Estamos falando de amor... Isso se sobressai a um pacto idiota. – Dani tentou me defender.
- Estamos falando de amor? – perguntou Val. – Estamos, Juliet?
- Por que vocês mentiram que Nicolas ficou com uma garota naquela vez, se ele não ficou? – perguntei seriamente.
- Está nos chamando de mentirosas? – perguntou Alissa.
- Calma, Alissa. Quem sabe você deixa Val e Juliet resolverem isso. Não tem nada a ver com você. – disse Dani seriamente.
- Val é minha amiga. – ela alegou.
- E eu não sou, Alissa? – olhei nos olhos dela. – Ou acham que não percebi que vocês me afastaram sem motivo... Antes mesmo de rolar algo entre mim e Nicolas.
- Não acho correto. – falou Alissa. – O pacto existe... Sempre existiu.
- Quem deve dizer o que sente é Val. – insistiu Dani.
- Eu não sei o que dizer. – falou Val. – Mas eu tenho uma pergunta, que gostaria que você me respondesse sinceramente.
- Eu respondo... Com sinceridade.
- Quando ele ficou com você, nunca passou pela sua cabeça que pudesse ser para fazer ciúme para mim?
- Não. – respondi com toda a sinceridade do mundo.
Eu não tinha dúvidas de que ele gostava de mim. E quando ele ficou com ela pela última vez foi exatamente o contrário: para fazer ciúme para mim.
- Ele ficou com a menina no bar aquela noite que você não foi. – Val disse seriamente.
- Vai acreditar em nós ou nele? – perguntou Alissa me colocando contra a parede.
- Eu não sei... – falei com sinceridade.
- Nos conhecemos há tantos anos. Vocês mentiriam isso, meninas? – perguntou Dani. – Com qual objetivo, não é mesmo?
Será que eu deveria acreditar nelas? E voltar a desconfiar de Nicolas por algo que aconteceu há tempos atrás? Eu já havia sofrido tanto com aquilo. Assim como sofria naquele momento, sendo julgada pelas duas.
- Gente, a felicidade é o que vem em primeiro lugar na vida. – disse Dani. – A vida é tão breve... Não sabemos o dia de amanhã. Então cada um deve se agarrar com força quando encontrar a felicidade. E a nossa amizade não seria para sempre? Este não foi nosso maior pacto até hoje?
- Eu gostei de ficar com ele. – confessei. – Ele me faz bem... E feliz.
- E Cadu? – perguntou Alissa.
- Cadu não me fazia feliz. E vocês sabem disso.
- E inclusive a incentivavam a investir em Cadu, mesmo sabendo que era um relacionamento em que ela gostava sozinha... E não era saudável. – disse Dani.
- Ele não ficou com ninguém naquela noite. – confessou Val.
- Por que vocês me mentiram? – perguntei incrédula.
- Ele não ficou com ninguém, mas teria ficado com Val. Passou a noite inteira olhando para ela, interessado. Ele sempre gostou dela, Juliet. Como você pode pensar que isso passou? – insistiu Alissa.
- Obrigada por me dizer a verdade, Val. É importante para mim. – ignorei Alissa totalmente.
Balancei minha cabeça, olhando para Alissa e tentando minar minha cabeça. Eu não era idiota. Só não entendia porque ela parecia se importar mais do que a própria Val. Eu nunca lhe fiz nada... Pelo contrário, sempre gostei mais dela do que das outras. Alissa era extrovertida, verdadeira, sem papas na língua. Mas agora estava patética, inclusive mentindo em nome de uma fidelidade que nem a própria Val estava de acordo.
- Duvido que quando ele e Val estiverem no mesmo lugar, você não vai ficar pensando que ele ainda gosta dela. Acha que isso vai dar certo? – Alissa insistiu. – Que certeza você tem de que ele realmente gosta de você?
- Eu tenho certeza. – falei seriamente. – E Val, estou tão feliz por você ter ficado com Adriano. Enfim, uma de nós conseguiu realizar o desejo de ficar com o amor platônico de tantos anos. E só você foi capaz. Eu nunca sequer cheguei perto de ficar com meu surfista tatuado. E Alissa também não ficou com Saul. Enfim... Qual a sensação? – eu sorri tentando afastar a tensão que se instalava.
- Boa... – ela se limitou a responder.
Pedimos nossos lanches, comemos e conversamos sobre assuntos aleatórios. Mas o clima estava péssimo. Ainda fizemos alguns planos com relação a festa de formatura. Quando nos despedimos, Alissa e Val foram para um lado e eu e Dani para outro. Assim que nos afastamos, Dani disse:
- Bem, parece que é oficial: deixamos de ser um quarteto para nos transformarmos em duas duplas.
- Eu não sei o que eu sinto... – falei sinceramente. – Sei que posso ter magoado Val. Mas eu amo Nicolas. E sei que ela ama Adriano. E ela ficou com ele... Isso era um sonho para ela há alguns anos atrás.
- Repete o que você disse...
- Eu não sei o que sinto... Sei que posso...
- Estou falando da parte que você ama Nicolas.
Eu ri:
- Sim... E ele me ama. Ele me falou. E eu acredito nele. Por isso não me importei com o que Alissa falou. Não acho que ele goste de Val. Claro que sofri um pouco com isso há um tempo atrás. Mas agora não existe mais dúvidas.
- Estou muito feliz por você e por ele. Sempre achei que era você que ele queria. Embora ele tenha ficado com Val e levado você da festa na frente de todo mundo.
- Enfim, coisas da vida. Nem sei explicar como foi... Apenas que aconteceu.
- Não entendo o fato de Alissa ficar mais preocupada do que Val. Mas sempre pense no que eu disse: no fim, não ficaríamos grudadas para sempre. Mais cedo ou mais tarde, cada uma seguiria seu caminho. E ele seria para sempre. Nós não.
- Ainda assim vou sentir falta de tudo... E de todas.
- O máximo que teria seria uma visita de fim de semana. Ou ligações periódicas. Ou acha que vou morar com você? – ela me abraçou.
- Não mesmo. – eu ri.
- Sim, eu amo você, mas se quiser morar com alguém, more com ele e não comigo. Eu quero um homem como companhia... De preferência gostosão e cheio de tesão.
- Você não presta, Dani.
- E você presta, Juliet?
Duas semanas antes da formatura, Alissa me mandou uma mensagem dizendo que elas tinham desistido de fazer a festa em conjunto. Liguei para Dani, que me disse que não sabia de nada sobre o cancelamento da festa, mas que já havia decidido que não participaria da festa coletiva, pois preferia fazer com sua família.
Fiquei chateada, pois literalmente elas me excluíram. E não foram capazes de dizer a verdade. Eu teria ficado menos triste se fossem sinceras. No fim, não deixaria aquilo abalar minha vida. Era só uma formatura de Ensino Médio. Eu já estava bem mais preocupada com as coisas da faculdade que iniciaria do que com aquilo que estava acabando.
Meu relacionamento com Nicolas estava indo maravilhosamente bem. E eu não esperava que fosse diferente.
Minha mãe e Otto acabaram organizando uma festa para depois da formatura no salão da casa de Lorraine. Nossa casa era grande, mas não tinha espaço para comportar toda a família da minha mãe, que era imensa. Eu não queria que eles se empenhassem tanto naquilo, mas se dona Olga não mostrasse a todos a filha formanda, teria um ataque de nervos.
Alguns dias antes do evento, eu estava deitada no meu quarto, com meus fones, escutando música, quando minha mãe entrou e me entregou um pequeno saco branco de papel, com o timbre da farmácia.
Retirei os fones e sentei na cama, abrindo. Era uma caixa de anticoncepcional. Olhei para ela confusa.
Olga sentou-se na cama e disse:
- Espero que ainda não tenha acontecido. Mas quando acontecer, é melhor que esteja prevenida.
- Mãe... Você está me dando anticoncepcional?
- Não quero que fique grávida nesta idade. Aconteceu comigo e você bem sabe o quanto eu amo você mais que tudo. No entanto não quero isso para você. Porque você é inteligente e tem todo um futuro brilhante pela frente. Afinal, você tirou o décimo lugar na colocação geral da faculdade.
- Não vou engravidar, não se preocupe. E não, ainda não transei com ele.
- Fui ao ginecologista e pedi. Ela me disse que tem menos hormônios e não lhe fará tão mal. Ainda assim, use preservativo, pelo amor de Deus.
- Preciso mesmo ter esta conversa com você? – revirei meus olhos.
- Claro que sim, sou sua mãe. Nicolas é um gato... Aproveite bem. Não sei como você aguentou tanto tempo.
Eu comecei a rir:
- Mãe, você não existe.
- Só quero que você seja feliz... E tenha cuidado para não engravidar.
- Eu não quero ter filhos. – confessei.
- Ainda é jovem. Vai querer sim...
- Não... Nunca vou querer. E se o pai do meu filho me abandonar... E nunca procurar o bebê?
- Ei... Isso não é de praxe. Ter filhos é maravilhoso. Desde que seja na hora certa. Precisa aproveitar sua vida antes. Fazer tudo que tem vontade. Você e Nicolas terão filhos lindos.
- Mãe!
Ela levantou:
- Se livre deste passado que você tem tanto rancor. Seu pai não merece sequer que você pense nele.
Ela estava saindo na porta quando eu disse:
- Mãe? – ela me olhou. – Eu amo você... Muito. E vou amar para sempre. Você é o que eu tenho de mais importante na vida. Obrigada por nunca ter desistido de mim.