Capítulo 40
2625palavras
2022-06-30 01:56
A primeira coisa que senti foi uma dor horrível dentro de mim. Depois vontade de vomitar. Por que eu tinha quase certeza de que alguma coisa tinha acontecido? Ele não me ligou. Sequer se preocupou em insistir para eu ir. Eu só não tinha certeza se ele havia ficado com outra realmente porque queria ou para provocar ciúme em Val.
- Tudo bem? – perguntou Val.
- Sim... Eu só estou um pouco tonta. Deve ser o chope que bebi. Não estou muito acostumada.
- Você bebendo chope? – perguntou Alissa.
- Por que vocês não me avisaram que viriam para cá? Por que não convidaram? – perguntei.
- Achamos que você não quereria vir... Você anda um pouco distante nos últimos dias.
- Não mesmo... Imaginação de vocês.
- Então vamos agora... Levante deste banco. – disse Val tentando me levantar.
- Não... Vou ficar aqui mesmo. Preciso voltar com Lorraine.
- Você que sabe. Nos vemos amanhã. Última semana antes do estágio. Preparada?
- Sim...
Elas me deram um beijo e se foram. Eu fiquei ali, incapaz de me levantar daquele banco. Como Nicolas foi capaz de fazer aquilo comigo? Senti vontade de chorar, mas não faria aquilo num domingo à noite, no Shopping lotado. Meu orgulho não permitia tal coisa.
Talvez eu estivesse levando muito a sério tudo. E quem sabe Nicolas queria ficar comigo, mas sem compromisso. Eu beijei Tom e contei para ele. Será que ele pensava em me contar o que houve? Acho que eu precisava ouvir sua versão antes de odiá-lo para sempre.
Voltei para casa sem Lorraine. Assim que entrei no meu quarto vi que havia duas chamadas não atendidas no meu telefone. Eram dele. Liguei de volta.
- Juliet? – ele perguntou do outro lado.
Eu sentia ódio, mas quando ouvi a voz dele, como se fosse um milagre, me acalmei. Era Nicolas, o senhor Perfeito. Certamente ele me daria uma explicação.
- Oi... Você me ligou. Eu não estava em casa. – falei.
- Onde você estava?
- No Shopping. Lorraine me convidou.
- Por que não me disse que iria? Poderíamos ter nos visto.
- Esqueci.
- Esqueceu?
- Encontramos Pedro.
- Acho que ele também esqueceu de me convidar pelo visto.
- Ele e Lorraine ficaram juntos.
- Pedro e Lorraine? – ouvi a risada dele do outro lado. – Eu gostaria de ter visto isso.
- Pois então...
- E você? Ficou fazendo o quê?
- Comprei um livro e sentei num banco para ler.
- Se tivesse me chamado, eu poderia fazer sua tarde mais interessante.
- E quem disse que não foi?
O silêncio do outro lado durou um tempo:
- Nick, você está aí?
- Sempre.
- Val e Alissa foram ontem à noite? – perguntei tentando entender o que havia acontecido.
- Sim... Vi elas.
- E como estava sua festa?
- Legal. Mas senti sua falta.
- Jura? Por que não veio me ver hoje?
- Eu liguei justo para isso... Queria vê-la e ouvir sua voz.
- Você tem algo para me contar, Nicolas Welling?
- Eu? Deveria?
- Não sei... Me diga você. Eu sempre joguei limpo, lembra? E você pediu sinceridade. E por isso eu contei quando beijei Tom... E até quando terminei com ele.
- Não estou entendendo aonde você quer chegar, Juliet. Está insinuando que não estou sendo sincero por algum motivo?
- O que você acha?
- Esta conversa não está me agradando. E parece que você está me escondendo algo.
- Você está me escondendo algo, Nicolas?
- Não... Não estou.
- Nicolas, eu não quero mais ver você.
- Mas... O que eu fiz?
- Nunca mais me procure... Nem me ligue novamente.
- Juliet, você está louca?
Eu desliguei o telefone. Até devolveria para ele aquilo. Esperava no mínimo sinceridade da parte de Nicolas. E não houve.
Joguei-me na cama e comecei a chorar. Eu jamais pensei que Nicolas pudesse me fazer chorar. Mas ele fazia. Senti tanta raiva, tanta dor, tanta tristeza. Eu me joguei de cabeça naquela relação. Eu senti cada momento acontecendo, o amor crescendo dentro de mim dia após dia. E do nada tudo se acabava daquele jeito. Por isso eu nunca escolhi alguém possível... Porque eu não queria passar por aquilo. Se até Nicolas, que era perfeito, fazia aquilo, o que sobrava para os outros?
Eu chorei até cansar. E acabei adormecendo do jeito que estava.
Amanheci com febre na segunda-feira. Seguiu por terça e quarta-feira. Na quarta, final de tarde, minha mãe me levou ao médico e eu não tinha nada. Ele disse que provavelmente era uma virose e logo passaria. Amor dava febre? Peraí, eu falei “amor”? Eu amava Nicolas Welling? Não... Não podia estar acontecendo isso comigo. Eu não podia amar alguém que estava comigo o tempo todo, que eu confessava meus segredos e que sabia tudo sobre mim.
Ele não me ligou. E sim, eu esperava que ele fizesse isso. Na quinta-feira amanheci sem febre e me sentindo melhor. Arrumei-me e decidi que era hora de me apaixonar por outro e voltar ao normal (como se fosse tão simples assim!).
Contei para Dani o que havia acontecido. Ela me perguntou:
- Você acredita nelas?
- Claro que sim. Por que elas inventariam isso? Elas são nossas amigas.
- Eu não sei... É tudo muito estranho. Eu nunca duvidei dos sentimentos dele por você.
- No fim, todos são iguais. Mas eu não vou me dar por vencida. A vida continua. – me fiz de forte.
- Eu fico feliz que esteja decidida a dar a volta por cima. Mas ainda assim acho que deveria falar a verdade com Nicolas. Ser bem clara quanto ao que lhe disseram.
- Eu praticamente fui. Além do mais, ele não se preocupou. Sequer me ligou.
Mas procurar alguém novo para amar não era nada fácil. E ninguém mais me interessava. Até tentei resgatar Cadu, perguntando por ele a Nadiny. Mas ela disse que fazia tempos que não o via.
Quinze dias se passaram. Meu estágio havia começado e a escola não mais existia. O Ensino Médio havia acabado e depois do estágio viria a formatura. Passei a me ocupar com o trabalho e não ter mais muito tempo para relembrar o que aconteceu. Ainda assim, quando deitava na cama à noite, eu pensava nele... E em tudo que vivemos.
Pensei até em escrever uma carta. Mas estaria fazendo o mesmo que fiz com Cadu. Então achei melhor não. O que eu diria na carta? Que o odiava? Seria mentira. Eu não conseguia odiá-lo. Eu amava ele. Quanto mais eu tentava afastá-lo, mas ele estava dentro de mim, dizendo que ficaria ali para sempre.
Otto me inscreveu para o vestibular, mesmo eu tendo dito que não queria. Ainda estava em dúvida de qual curso fazer, por isso havia decidido deixar para o próximo semestre. Também não queria tirar o dinheiro de toda uma faculdade do bolso deles. Não era muito justo. Mas ele foi lá e fez para área comercial e administrativa. Então eu não teria outra saída a não ser testar meus conhecimentos do Ensino Médio para admissão na tão temida faculdade.
Eu sentia tanta saudade de Nicolas e das coisas que fazíamos juntos. Eu não sei se sentia mais falta do meu amigo ou do meu quase namorado. Ainda me entristecia tudo que aconteceu, o que ele havia feito, a forma como havia agido. Mas o que eu sentia por ele parecia impossível de apagar. Não era simplesmente dizer: eu não vou mais gostar dele, como havia feito com Cadu. Porque ele não saía da minha cabeça e do meu coração.
Comecei a estudar e a Matemática estava me deixando atordoada. E eu só conhecia uma pessoa que poderia me ajudar. E era ele. Se era pretexto para falar com ele? Juro que não. Realmente eu precisava de ajuda. E tenho quase certeza de que ele não recusaria fazer isso por mim.
Então, depois de quase um mês sem nos vermos ou nos falarmos, eu resolvi quebrar o silêncio. Mas resolvi que não iria ligar. Se ele não me atendesse eu ficaria péssima. Então enviei um SMS:
Juliet: “Nicolas, estou estudando para o Vestibular. E tendo muita dificuldade na parte da Matemática. Eu gostaria de poder contar com a sua ajuda. Juliet.”
Passei o sábado com o telefone na mão. Fui dormir e já passava da meia-noite e ele não respondeu. Senti-me tão ridícula e arrependida.
No domingo tentei fingir que nada aconteceu, embora minha mãe e Otto ficavam o tempo todo perguntando se estava tudo bem. Minha mãe não tocou no nome de Nicolas nenhuma vez. Tenho certeza de que ela não queria me ver sofrer ainda mais. Nossa relação enquanto família estava ficando cada vez melhor. E eu via minha mãe bem mais feliz nos últimos dias.
Depois do almoço eu não tinha nada para fazer. E nem vontade de fazer nada. Fui deitar. Acabei dormindo, entediada.
Despertei sentindo alguém tocando nos meus cabelos. Espreguicei-me e virei e lá estava ele, me olhando. Esfreguei meus olhos, achando que poderia ser um sonho. Mas ele continuava ali, a me fitar com seu belo par de olhos azuis profundos e perfeitos.
- Oi, Rainha do Drama. Precisa de ajuda com Matemática?
- Sim... – falei levantando. – Não achei que você viria.
- Nem eu. – ele riu, com suas pequenas rugas no canto da boca do jeito que só ele fazia e eu tanto gostava.
Senti uma vontade louca de me jogar nos braços dele. Mas não podia. Por isso me levantei imediatamente e fiquei o mais longe possível.
- Eu não queria me inscrever, mas Otto foi lá e fez. Então eu não tinha como recusar. Estou estudando, mas não consigo entender nada do que vai cair na prova de Matemática. Então lembrei que você era bom nisso. E...
- Calma... – ele começou a rir. – Parece que vai ficar sem ar de tanto falar.
Respirei fundo. Realmente eu estava falando muito rápido. Tentei me acalmar e lembrar: ele ficou com outra. Ele traiu você.
- Se importa se eu tomar um banho rápido antes? – Perguntei.
Eu precisava no mínimo me arrumar. Estava péssima. Minha roupa parecia um pijama.
- Eu vou organizando tudo aqui então. – ele disse sentando na minha cadeira e abrindo sua mochila, tirando alguns livros de dentro.
Fui para o chuveiro e deixei no gelado. Tentei ser rápida. Pus uma roupa apresentável... Um vestido. Tudo meramente planejado.
Não sequei meu cabelo com o secador. Só passei a toalha e penteei. Não queria me demorar. E usei mais jatos do meu perfume habitual.
Quando saí, ele estava sentado escorado na cadeira, olhando para o nada. Sentei ao lado dele, puxando a cadeira para me aproximar.
- Pois bem, podemos começar? – perguntei pouco me importando com o que ele me ensinaria.
- Claro... – ele me olhou profundamente.
Logo ele começou a me explicar tudo que eu precisava. Embora eu soubesse bastante coisa, ele sabia bem mais do que eu e tinha facilidade para ensinar. O problema é que o perfume dele me fazia perder a noção e eu me afogava na maioria das vezes no seu olhar.
Depois de quase uma tarde de aprendizagem e vários lanches que minha mãe trouxe neste meio tempo, ele disse:
- Está na minha hora. Tenho que trabalhar amanhã cedo.
- Como assim trabalhar?
- Estou a um passo de ser efetivado na empresa onde fiz o estágio.
- Que ótima notícia. Fico feliz por você.
- Estou feliz também. E fiz por mim mesmo. Sem ajuda do meu pai.
- Melhor ainda. Sempre acreditei que você conseguiria fazer qualquer coisa que quisesse.
- E seu estágio?
- Tudo certo. Mas ainda não tenho certeza do que quero fazer. Espero um dia ter. – eu ri.
- Eu sabia que isso aconteceria, Senhora Indecisa.
Isso me remeteu ao senhor perfeito e eu não consegui segurar o riso. Ele guardou suas coisas e eu o levei até a porta do quarto:
- Obrigada, Nick. Por ter vindo me ajudar.
Ele me deu um beijo no rosto, que durou tempo demais. Nos abraçamos e eu sequer sei quem tomou a iniciativa. Quando vi, estava com meus braços enrolados no pescoço dele e meus pés erguidos para alcançá-lo enquanto ele me envolvia num abraço.
- Eu... Senti sua falta. – ele falou sem me soltar, no meu ouvido.
Fechei meus olhos e admiti:
- E eu a sua.
- Por que não me ligou? Por que pediu sinceridade e não foi sincera comigo?
Eu o afastei e disse:
- Não quero falar sobre isso.
- Acha certo? Acha justo?
- Você acha justo o que fez comigo?
- Caralho, do que você está falando?
- De você ter ficado com outra garota na festa de despedida da sua turma.
- Do que você está falando? Isso nunca aconteceu. Eu não faria isso... Eu “não fiz isso”...
- Nick... Pode dizer a verdade. Eu já sei.
- Quem lhe contou isso? Diga-me agora mesmo, em nome do você mais ama...
- Foi Val.
- Val? – ele quase gritou. – E você acreditou nela sem ao menos me perguntar se era verdade?
Ele pegou meus ombros, me fazendo olhar nos olhos dele:
- Eu jamais faria isso. Eu sou completamente apaixonado por você. Eu não teria coragem de fazê-la sofrer. Eu não tenho interesse por nenhuma outra garota a não ser você. Eu sequer me interessei por sua amiga. Acho que eu só me aproximei dela para ficar perto de você.
- Nicolas... Não me diga que ela me mentiu... Eu não consigo entender o motivo que a levaria a fazer isso.
Fiquei completamente atordoada. Conseguia lembrar da cena e não entedia o motivo pelo qual ela teria mentido para mim. No entanto eu acreditava nele naquele momento.
- Rainha do drama... Você está aí? – ele perguntou sério.
- Sempre, Nick.
Ele largou a mochila e veio até mim, pegando meu rosto e me beijando com sofreguidão. E eu senti meu coração bater intensamente e tudo girar com o toque dele. Nosso beijo era violento, agressivo, cheio de desejo, de saudade. Nossas bocas queriam se engolir, nossas línguas não paravam de se procurar. Ele foi andando até me deitar sobre a cama, se jogando por cima de mim. Não conseguíamos nos soltar, muito menos parar o beijo. Meus braços o apertavam com força contra meu corpo. Não sei quanto tempo durou aquilo... Mas o suficiente para eu matar parte da minha saudade. Eu comecei a rir quando vi a boca dele inchada e mordida.
Ele colocou a mão no lábio e disse:
- Queria arrancar um pedaço de mim, meu amor?
- Sim... E ainda vou fazer isso. – eu disse dando um beijo leve nos lábios dele. – Desculpe.
Ele ainda estava sobre mim e nossos rostos muito próximos:
- Por que você deixou que a gente perdesse tanto tempo?
- Vou compensá-lo por cada minuto perdido. Eu prometo. Desculpe-me. Por ter acreditado nela... E ter mordido você.
Ele riu:
- Ainda tenho uns tapas para dar... Esta será minha vingança.
Ele desceu a mão até minhas nádegas e apertou-as com força. Eu o empurrei com força de cima de mim. Ele me olhou confuso.
Eu fui até a porta e passei a chave, voltando para exatamente o mesmo lugar. O puxei de volta para cima de mim e expliquei:
- Preciso garantir que minha mãe não vai nos interromper.
- Acho que já houve muitas interrupções nas nossas vidas. E eu não quero mais isso. Porque eu não consigo ficar sem você, Juliet.
- E eu não vivo sem você, senhor Perfeito. Dói quando você não está comigo.