Capítulo 37
2307palavras
2022-06-30 01:54
Eu e Nicolas não nos falamos no domingo. Fiquei um pouco sem jeito de ligar e não sei o que o impediu de fazer isso. Esperei até mais de meia noite e o telefone não tocou.
Eu ainda me sentia culpada por ter quebrado o pacto com minhas amigas e ficado com Nicolas. E embora tivesse gostado muito de estar com ele, havia tantas dúvidas quanto a como seria daqui para frente. Eu adorava falar com ele, a forma como me tratava, como nos completávamos... E se a gente começasse a se envolver, o que já estava acontecendo, não seria mais igual. Nicolas me conhecia como ninguém. Acho até que melhor que minhas amigas. E se qualquer coisa desse errado, eu não teria a quem recorrer... Porque era ele que estava lá, com seu ombro amigo quando eu mais precisava, me curando das minhas bebedeiras e me dizendo que tudo ia ficar bem. Eu já tive vários namorados... Inclusive alguns levei para casa e conheceram minha família. Nenhum durou mais que três meses. Conforme o tempo ia passando, eu ia enjoando da mesmice e finalizava de um jeito que eu sequer suportava olhar na cara deles. Privavam-me do tempo para mim mesma, queriam me controlar conforme o namoro ia ficando mais sério, ficavam mais tempo na minha casa e vivendo a minha vida do que a deles. E isso sempre me fazia pensar como seria se nos casássemos. Eu não conseguia ver uma vida a dois feliz e possível, embora sempre que eu me interessava por alguém esse era meu lema: “vamos namorar, noivar, casar, ter filhos e viver felizes para sempre”. No entanto, cada vez mais em me convencia de que não existia “felizes para sempre”. O amor não possibilitava isso. Ele era repentino e poderia durar um bom tempo, mas não era eterno. Eu lutava tanto para conquistar quem eu queria... Mas quando acontecia eu simplesmente perdia o interesse. No entanto foi diferente com Nicolas. Eu não precisei lutar por ele. Eu nem sei como e quando eu comecei a gostar dele. Simplesmente aconteceu. E sim, eu conseguia me ver num futuro com ele. E isso me deixava muito confusa e amedrontada.
Tentei dormir e não ficar pensando demais, ou enlouqueceria. Eu achava que eu não era muito normal... E que eu era diferente de todo mundo eu tinha certeza. Só queria entender o que acontecia dentro de mim... E os medos que me perseguiam. Principalmente de me envolver... E amar de verdade.
Na segunda-feira, quando encontrei minhas amigas na aula, senti um frio na barriga. Cumprimentei-as, como se nada tivesse acontecido. Mas quando sentei, disse para mim mesma que eu precisava contar a verdade para Valquíria. Eu só não sabia como. Era como se eu tivesse traído ela.
Enquanto a professora explicava a matéria, que era Matemática e importante, pois eu mandava mal nas exatas, minha cabeça estava em todos os lugares, menos ali. Quanto mais eu olhava para Val, mas eu me encolhia. E eu não costumava ser assim. Mas não era só sobre o pacto... Era sobre os sentimentos que estavam envolvidos naquilo. Os meus, no caso. Eu nunca duvidei de que ela não gostasse dele. Talvez só tenha sentido ciúme algumas vezes, afinal, ele sempre estava ali, junto dela. E de uma hora para outra ele simplesmente a deixou. Talvez foi disso que ela sentiu falta: alguém que gostasse dela.
- Você saiu no sábado? – perguntou Alissa.
- Fui ao Lounge 191... Com Lorraine... E vocês?
- Val dormiu na minha casa. Mas decidimos não sair.
- Esqueceu de me convidar? – perguntei sentindo-me excluída.
- Na verdade não... Mas parece que você não tem mais muito interesse em estar conosco.
- Eu? Sinto que vocês passaram a me excluir.
- Você que está se excluindo. – disse Val.
- Não acho que ela esteja se excluindo. – me defendeu Dani. – Meninas, em breve não estaremos mais juntas diariamente. Encontraremos novos amigos e amigas... E nunca vamos nos esquecer, mas outra vida nos espera.
- Pelo visto você já nos colocou para escanteio antes mesmo de isso acontecer. – ironizou Alissa.
De uma hora para outra parece que estávamos nos dividindo em dois grupos. E nunca na vida pensei que isso aconteceria. Éramos um quarteto perfeito. E agora ele começava a se transformar em duas duplas. E isso dificultava ainda mais contar a verdade a Val.
- Você encontrou Cadu no sábado? – perguntou Val, tentando amenizar a tensão.
- Não.
- E Nicolas?
- Sim...
Fiquei preparada para ela perguntar mais, mas não aconteceu.
- Precisamos viver intensamente nossos últimos dias juntas. – disse Dani. – Em menos de um mês não estaremos mais aqui. Que tal um passeio ao Shopping no final da aula? Um happy hour daqueles que só nós sabemos fazer.
- Fechado. – disse Val.
- Até parece uma despedida. Mas estou dentro. – assentiu Alissa.
- Sempre pronta. – eu disse.
Antes de sairmos para o intervalo, Nadiny se aproximou de nós e disse:
- Val, querida. Eu tenho uma amiga que se interessou por Nicolas. Você se importa se eu apresentá-los?
Senti meu corpo ficar estático. Lá vinha ela, se meter na vida alheia, no que não tinha nada a ver com ela. Que ódio!
- Claro que não. – disse Val.
Tentei abrir minha boca, mas não consegui. Por que eu não conseguia contar a verdade? Eu tinha tanto medo do julgamento delas... Mas eu nunca fui assim.
Ao mesmo tempo, imaginar Nadiny apresentando alguém para Nick chegava a me dar vontade de vomitar. Quando eu poderia assumir ao mundo que eu e Nicolas estávamos juntos? Meu Deus... Nós estávamos juntos? Eu nem sabia se sim ou não. Tivemos uma noite perfeita, nos beijamos... Mas sequer nos falamos no dia seguinte. E eu ainda tinha minhas dúvidas se queria me envolver com ele. E se ele tivesse os mesmos sentimentos e angústias que eu?
Nadiny saiu e eu levantei. Alissa e Val foram juntas, de braços dados e eu tentei ir atrás, mas Dani me segurou:
- O que aconteceu?
- Por que você está me perguntando isso?
- Juliet, você está pálida. Parece que viu um fantasma.
Suspirei e disse baixinho:
- Eu e Nicolas nos beijamos no sábado.
Os lábios dela se abriram num belo sorriso e ela me abraçou:
- Eu sabia que isso iria acontecer.
- Dani, eu não consigo contar para Val...
- Espere. É recente ainda. Você vai conseguir.
- Não é recente... Só o beijo aconteceu no sábado. Mas eu já estava envolvida com ele há bem mais tempo.
- E eu não sei? Você só não conseguia admitir que estava apaixonada por ele. Mas eu sempre vi isso nos seus olhos e nos dele.
- Acha que ele gosta de mim?
- Se eu acho? Eu tenho certeza. Por que esta insegurança agora?
- Eu... Não sei.
Ela riu:
- Graças a você eu decidi fazer Psicologia.
Arqueei minhas sobrancelhas, curiosa:
- Graças a mim?
- Sim, você é um objeto de estudo, minha amiga querida. – ela riu.
- Eu... Vou amar ser sua cobaia. Talvez você me ajude em algumas coisas aí...
Ela olhou nos meus olhos e disse firmemente, segurando meus ombros:
- Não se auto sabote. Viva isso. Se dê uma chance.
- E... Se ele me deixar? Eu não quero sofrer...
- Não há como saber antes o que vai acontecer se você não entrar nisso de fato. Não pode terminar antes de começar, entende? Você nunca deixou a coisa rolar, sempre acabou tudo com medo do que aconteceria depois. Não pode viver sua vida com medo de ser deixada ou abandonada. Seus relacionamentos não tem nada a ver com seu pai.
- Eu nunca comparei.
- Juliet, desde que eu a conheço você vive escolhendo seus pares... Sempre os mais difíceis ou até mesmo impossíveis. Gosta de fazer tudo para ter o que quer... E quando consegue simplesmente desiste... Por medo. Quando você vai se dar uma chance, minha amiga?
Eu suspirei. Não tenho certeza se ela estava certa.
- Eu preciso contar para Val.
- Não mude de assunto. Esta droga de pacto não é o mais importante. Isso é uma brincadeira de adolescentes. Tínhamos quinze anos quando fizemos isso.
- Você quebraria o pacto? Ficaria com Nicolas se eu terminasse com ele?
- Se eu gostasse dele e ele de mim, ficaria sem pensar duas vezes.
Bateu o sinal para o retorno do intervalo e nós duas sequer saímos da sala. Era sempre bom conversar com Dani. Ela sempre era minha dose de realidade e sinceridade.
Quando a aula começou, eu perguntei para Dani, baixinho:
- E se ele gostar dela ainda?
Ela riu:
- Ele não gosta dela. Eu tenho certeza de que ele gosta de você.
Quando a aula acabou fomos para o Shopping, somente nós quatro, como há muito tempo não fazíamos. Eu estava tranquila, pois tinha certeza de que não encontraria Nicolas lá. Ela havia dito que estava cheio de coisas para fazer, iniciando o estágio e seus dias e noites estariam ocupados. Mas quem eu encontro assim que subimos as escadas rolantes, na praça de alimentação, no mesmo lugar de sempre? Ele e Pedro.
Nossos olhos se encontraram e senti meu coração saltar dentro de mim. Por que ele não disse que estaria ali? Por que não me convidou?
- Olha só quem adivinhou que você vinha, Val? – disse Alissa escolhendo uma mesa bem perto deles.
- Por que não sentamos para o outro lado? – questionou Dani.
- Melhor aqui. Aposto que Nicolas vai gostar de ficar vendo Val... E ela, embora diga que não, gosta de ser “endeusada” por ele.
Novamente meu estômago embrulhou e senti um misto de raiva e dor dentro de mim. Nicolas também podia causar dor em mim... O senhor perfeito podia me ferir, mesmo sem querer.
- Me parece que ele perdeu o interesse por mim... Sequer olhou na minha cara. – reclamou Val.
- O que vamos comer? – Dani mudou de assunto.
- Juliet, ele falou algo sobre mim? Está bravo por algum motivo? – Val perguntou.
- Não. – eu disse secamente. – Preciso ir ao banheiro.
Levantei e sequer olhei na direção dele. Sentia-me quente e com o coração acelerado. Assim que cheguei ao banheiro, respirei fundo e lavei meu rosto com água gelada várias vezes, tentando me acalmar e tirar aquela sensação ruim. Encarei-me no espelho e disse para mim mesma: vai lá, você consegue passar por isso.
Retoquei meu batom e saí. E quem eu encontro escorado na parede? Ele... Meu Nicolas.
- O que você está fazendo aqui? – perguntei sentindo um frio na minha barriga ao vê-lo ali.
- O mesmo que você... Nada. – ele retrucou.
- Quem disse que eu não estou fazendo nada?
- Eu...
Tentei andar e ele me puxou pelo braço e me colocou contra a parede.
- Nicolas... – falei enquanto ele se aproximava de mim.
- Fale... – ele disse a alguns centímetros da minha boca.
- Acho que a gente não pode fazer isso.
- E o que estamos fazendo?
Ele roçou os lábios nos meus e fechei meus olhos, sentindo sede da sua boca. Quando ele foi se afastar, envolvi meus braços no pescoço dele, trazendo-o de volta até mim.
- Achei que você não queria... – ele disse enquanto mordia o lóbulo da minha orelha.
- Eu odeio você, Nicolas...
Falei isso enquanto puxava ele para um beijo intenso e cheio de amor. Sua língua envolveu a minha e em pouco tempo estávamos grudados como se fôssemos um só. O gosto dele era absolutamente perfeito e tudo que eu precisava. O beijo dele me deixava tão vulnerável quanto a pina colada das noites de sábado no Manhattan. Sempre me dava a sensação que ele queria me devorar. E eu era a garota que queria ser devorada... De todas as formas possíveis.
Suas mãos desceram pelas minhas costas alcançaram minhas nádegas. Senti meu coração palpitar ainda mais forte e um calor me consumir. Minhas mãos foram para suas costas e eu o puxei para ainda mais perto, sentindo seu membro duro junto de mim. Eu senti vontade de tirar a roupa dele e beijar cada centímetro do seu corpo.
- Podemos usar a saída de emergência... – ele disse quase sem fôlego, com a voz fraca.
- Não posso... Estou com as meninas... Preciso voltar.
- Eu já disse que estava com saudades?
- Não... E nem me ligou.
- Por que você sempre me cobra isso?
- Esquece... – falei ainda sem soltá-lo.
- Eu não quero mais voltar para lá... – ele disse, descansando a cabeça no meu ombro.
- Nem eu...
- Não volte então.
- Não posso. Tenho que voltar.
Ele me deu um beijo rápido e depois limpou a minha boca com força, para tirar o que sobrou do batom.
- Vou deixá-la ir, rainha do drama... Mesmo contra minha vontade.
Eu sorri:
- Estou indo, mas minha vontade é ficar. – confessei. – Aliás, você não tinha que estar fazendo seu estágio ou algo do tipo?
- Tinha... Mas Pedro me ligou e insistiu muito que precisava de um tempo de tudo isso... Então acabei vindo com ele.
- Vou fingir que acredito.
- Acredite... É a pura verdade. Eu nunca mentiria para você.
- Espero...
Saí da parede, onde ele me segurava com seu próprio corpo. Antes que eu saísse ele pegou minha mão e meus olhos se perderam naquele azul profundo. Eu disse para mim mesma: Juliet, tente não se afogar nestes olhos... Muito menos neste homem. Ele pode ser sua perdição.
Eu sai devagar, sentindo nossas mãos se separarem lentamente, com a dor de como fizessem parte de um mesmo corpo.
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