Capítulo 36
1860palavras
2022-06-30 01:52
Assim que chegamos na porta de entrada, ele me largou. E foi como se eu ficasse completamente sozinha com ele longe do meu corpo. Pegamos nossas comandas e adentramos no Lounge 191.
A primeira coisa que fiz foi procurar por todos os lugares para ter certeza se nenhuma das minhas amigas estava ali. Eu não estava fazendo nada escondida, mas ao mesmo tempo não queria ninguém conhecido naquela noite. Não queria ter que dividir a atenção de Nicolas.
Achei que estávamos brigados depois da última ligação. Mas então ele chegou hoje como se nada tivesse acontecido. Ou aquele abraço de recepção o fez me perdoar. Espera aí... Perdoar por que mesmo? Eu não precisava de perdão. Tinha que colocar na minha cabeça que eu e Nicolas não estávamos juntos. E eu tinha o direito de beijar quem eu quisesse. E teoricamente ele também. E o que eu faria se ele beijasse alguém naquela noite? Daria mil tapas na cara da desgraçada.
Lorraine já chegou se jogando na pista. Eu fiz o mesmo. Nicolas não curtia muito dançar, mas ficava sempre por perto, fazendo o possível. Ele reclamava que eu era péssima em cantar. E ele era horrível para dançar. Eu tinha que dizer isso a ele, com a mesma sinceridade que ele falou para mim sobre minha voz.
Dançamos um tempo e quando o procurei ele havia sumido. O vi no bar.
- Juliet, eu vi alguns conhecidos. Vou até lá. Também não quero cortar o barato de vocês dois.
- Não, Lorraine. Não me deixe sozinha com ele, por favor. – implorei.
- E desde quando você tem medo de homens?
- Eu tenho dele. – confessei.
Ela riu:
- Tem medo do homem mais fofo que eu já conheci na minha vida? Só pode estar brincando. Ele não te daria nem um beijo sem seu consentimento.
- Ele já fez coisas bem safadas sem meu consentimento.
Ela riu:
- Começo a lembrar de algumas cenas. Juliet, agarra ele de uma vez.
- Eu? Não tenho coragem. Não com ele.
Quando vi ele estava na minha frente, me entregando um copo. Provei e era Coca-cola. Eu fiz uma careta e ri:
- Sério que você me trouxe refrigerante?
- Tentei Pina colada, mas não tem aqui.
Estava bem gelada e eu nunca na vida recusaria uma Coca-cola.
- E então, me parece que Val não vem. – ele disse sorrindo sarcasticamente.
- Não mesmo.
- E eu aposto que você convidou.
- E Cadu vem? – olhei seriamente para ele.
- Não sei... Se ele vier, o que você vai fazer?
- Nada. – confessei.
- Convidei ele da mesma forma que você convidou Val.
Fiquei na dúvida se aquela conversa era séria ou brincadeira. Será que ele realmente queria que eu a tivesse convidado? Acho que fiquei tão concentrada naquilo que ele se abaixou e falou no meu ouvido:
- Relaxa... Eu não convidaria Cadu por nada neste mundo.
Voltamos a dançar, só nós dois agora. Lorraine realmente fugiu de nós. Nossos olhos se encontravam o tempo todo e cada vez que isso acontecia eu sentia um frio na minha barriga. Deus, quanto tempo eu suportaria?
Então começou a tocar uma música que eu simplesmente amava: Pintura íntima, do Kid Abelha. Comecei a pular feito louca e ele só me observando. Na segunda parte, quando começou a repetir a música, eu virei para ele e comecei a cantar gesticulando na sua direção, o chamando com minhas mãos:
“Vem amor que a hora é essa
Vê se entende a minha pressa
Não me diz que eu to errado
Eu to seco, eu to molhado (...)”
Mais claro que isso, só desenhando. O que ele fez? Veio até mim e pegou meu copo, desaparecendo no meio da multidão. Fiquei ali, parada, sem entender nada, sentindo o fogo subir às minhas bochechas. Entendi tudo errado? Eu queria morrer...
Enquanto eu ainda tentava entender o que aconteceu, literalmente parada no meio da pista de dança, ele retornou e me levantou na sua altura. Nossos olhos ficaram frente a frente e nossas bocas a centímetros de distância. Umedeci meus lábios sentindo meu corpo amolecer. Então ele me beijou. Depois de quase onze meses de espera.
Seus braços me apertavam, me impedindo de escorregar e sua língua entrou na minha boca, pedindo passagem num lugar que esperou por ela muito tempo. Quanto tempo eu esperei para sentir o gosto dele, seus lábios quentes e macios e o leve toque da sua barba no meu rosto. Meus braços envolveram seu pescoço e me entreguei completamente àquele momento. Era como se fôssemos nos devorar, tamanha ansiedade naquele toque de lábios vorazes e sedentos. Parecia que ele iria engolir a minha língua... Meu corpo estava trêmulo e eu queria “fazer amor de madrugada, amor com jeito de virada”.
Ouvimos palmas ao nosso lado e ele me colocou de volta no chão. Era Lorraine:
- Gente, achei que isso não ia acontecer nunca. Quanto tempo levou para este beijo sair?
- Onze meses. – ele disse.
- Cara, por que você esperou tanto? – ela perguntou curiosa.
- Eu queria que ela tivesse certeza. – Nicolas me olhou.
- Eu tinha certeza há muito tempo atrás. – confessei.
- Bem, eu não quero atrapalhar. Só quero deixar registrado que vocês ficam muito fofos juntos. E em segundo: eu sou a madrinha do casamento.
Poderia ter ficado nisto. Mas claro que ela jogou fumaça de cigarro em nós. Começamos a rir.
- Lorraine é uma louca. – eu disse.
- Você acha? – ele perguntou rindo.
- E agora? – perguntei. – O que acontece?
- “Tá ficando tarde, no meu edredom.” – ele disse no meu ouvido.
- Quer “me comer” no primeiro encontro? – perguntei fingindo estar ofendida.
- Primeiro encontro? – ele riu. – Acho que já passa do vigésimo. Nunca vi garota tão difícil.
- Nunca vi garoto tão demorado.
Ele me deu um beijo demorado nos lábios e depois sucessivos selinhos até novamente tocar sua língua na minha. Sempre achei beijo na boca uma coisa muito íntima. Mas beijar Nicolas era quase como transar com ele, pois me parecia que era ainda mais íntimo que com qualquer outra pessoa. Era como se a língua dele dentro da minha boca desvendasse os meus maiores segredos. Ele tentou se afastar e eu não deixei. O segurei e coloquei minha língua dentro da boca dele. Eu poderia ficar para sempre naquele beijo. Nicolas, nunca mais quero ficar longe de você.
Quando nos soltamos ele disse:
- Se eu soubesse que era tão bom beijar você, tinha feito há bem mais tempo.
- Deveria ter feito na primeira vez que nos vimos.
- Não... Você teria me esquecido no mesmo dia. Eu seria um Tom na sua vida.
- E você quer ser mais que isso, Nicolas?
- Quero. – ele disse me puxando para perto dele e me abraçando.
Escorei minha cabeça no seu peito, sentindo seu cheiro masculino invadir minhas narinas. Ficamos em silêncio, sentindo nossos corpos descansados e nossos corações batendo num mesmo ritmo. Acho que não era preciso palavras para aquele momento.
- Se você disser amanhã que não lembra de nada do que aconteceu, eu mato você. – ele disse. – Por isso eu lhe dei somente refrigerante.
- Hum, então isso estava planejado, senhor Perfeito?
- Eu achei que não resistiria lá na rua. Quase não nos falamos nesta semana e ainda brigamos da última vez. Teria que dar minha última cartada para tirar Tom do caminho.
- E o que o faz pensar que tirou? – brinquei.
- Eu não sou o Senhor Perfeito? Acho que estou no páreo agora.
- Vou pensar... – falei enquanto ele me pegou pela mão, me levando dali e colocando-me sentada num banco alto, onde eu ficava quase da altura dele, que estava de pé.
Ele me encarou e disse:
- Vou beijar você até a lua virar sol.
Eu ri:
- Ainda me deve uns tapas na bunda.
Ele arqueou as sobrancelhas:
- Juliet, você não vale nada.
- Não tenho culpa se você dá tapas como ninguém.
- Faço muitas coisas melhor que ninguém...
- Estou esperando você me mostrar.
Ele me encarou:
- Temos tempo.
- Temos?
- Sim, temos. – ele confirmou me beijando.
- Você não me quer, Nick? – perguntei confusa.
- É o que eu mais quero. Mas não vai ser assim... Vai ser do meu jeito.
Eu ri:
- Jura?
Ele mordeu o lóbulo da minha orelha e disse baixinho:
- Sim... Juro que tudo vai ser perfeito a partir de agora.
Sempre foi tudo perfeito ao lado dele. Uma pena que demorei um pouco a perceber. Mas eu queria ficar com ele... E que a noite demorasse muito a passar.
Mas a noite passou mais rápida que as outras, só porque eu estava ao lado dele. Passamos horas na mesma posição, nos beijando e nos tocando. Por várias vezes o senti duro e isso me deixava completamente excitada e com vontade de fazer joguinhos e deixá-lo ainda mais louco. Quando na minha vida eu poderia pensar que estaria com Nicolas no Lounge 191?
E o que eu diria para Valquíria? E Alissa? E Nadiny? E minha mãe? Eu estava fodida.
A despedida nunca foi tão difícil depois de uma balada. Estivemos juntos o tempo todo, mas deixá-lo parecia ser a pior coisa da minha vida. Lorraine rodava sua pequena bolsa despretensiosamente na calçada e ele me abraçava por trás enquanto esperávamos o táxi chegar.
- Lorraine está lhe dando umas dicas de como esperar o cliente lhe pegar no dia que for para o motel de beira de estrada.
Eu ri:
- Você não esqueceu isto?
- Acho que nunca vou esquecer. Nunca vi um fetiche tão louco. E que tenha me dado tanta vontade de realizar.
- Tenho minhas loucuras e algumas perversões.
- E eu estou me preparando para dar umas boas palmadas na prostituta... De leve, prometo.
- Ui, me assustou. – provoquei.
- Não acha estranho? – ele perguntou. – Nós dois...
- Não sei... Você não gostou?
- Não me decepcionei. – ele colocou a cabeça no meu ombro. – Mas ainda acho q ue preciso fazer mais uns testes para confirmar se você beija bem.
- Já disse que te odeio hoje?
- Por incrível que pareça, não!
- Porque eu não consigo mais odiar você.
- Ufa! Mas confesso que sempre achei que por trás deste ódio poderia existir algo mais.
- Nick, como vamos fazer com minha mãe? E minhas amigas?
- Vamos resolver tudo, Rainha do Drama. Não sofra por antecedência.
Sinceramente, eu não conseguia imaginar ele ao meu lado contando para Val que ficamos juntos, ou iríamos namorar ou qualquer coisa do gênero. Minha amiga e o pacto seria o maior problema de todos. Minha mãe já praticamente gostava mais de Nick do que de mim. O achava perfeito, assim como eu o achava desde que o conheci.
E pela primeira vez na noite eu fiquei me sentindo culpada. Fui a primeira a quebrar o pacto. E talvez a única. Eu era uma péssima melhor amiga.