Capítulo 34
1901palavras
2022-06-30 01:51
E então eu abri mão de ir ao Manhattan naquela noite para ficar com minha família. E foi uma decisão unicamente minha. Se eu me arrependi? Não.
Mas também não fui capaz de pedir desculpas a Otto por tudo que eu fiz. Ou sequer agradecer por ele sempre estar ali conosco. Eu era péssima em pedir desculpas. Mais ainda em admitir meus erros. Mas o que importa era o que eu sentia naquele momento: gratidão e amor, por minha família... Do jeito que ela era.
Na segunda-feira, quando cheguei na escola, antes de entrar na sala encontrei Alissa e Val no corredor.
- Por que você não foi? – perguntou Alissa. – Ficou de castigo? O que houve?
Dani chegou atrás de mim e me abraçou por trás, me dando um beijo. Coloquei a mão sobre o braço dela.
- Não, eu não estava de castigo. – falei. – Decidi passar um sábado em família.
- Não pode fazer isso em qualquer outro momento? Por que o sábado à noite?
- E se eu disser que nunca houve momento como aquele, você acreditaria?
Ela sorriu:
- O que está havendo com você? Este momento não inclui Otto, não é mesmo?
- Inclui. – coloquei as mãos na frente do meu rosto, envergonhada.
- Decidiu aceitá-lo, depois de mais de dez anos? – perguntou Valquíria.
- Acho que não é questão de aceitá-lo... É ver as coisas sob outro ponto de vista.
- Ei, você, o que fez com a minha amiga? – perguntou Alissa.
Eu ri e elas bateram palma.
- Que Otto seja bem-vindo oficialmente. – falou Dani.
- Mas me contem... Nick foi?
Elas me olharam seriamente.
- Quer dizer... Cadu. Enganei-me. – falei tentando consertar o que eu havia dito.
- Nick foi... – disse Valquíria.
- E Cadu também. – completou Alissa.
Sim, é claro que como eu não havia estado lá, os dois haviam ido.
- E você e Nick... Ficaram juntos? – perguntei tentando não transparecer qualquer tipo de sentimento, mesmo estando com meu coração apertado esperando a resposta.
- Não. – disse Val sem demonstrar nada.
- E... Cadu? – questionei para não deixar a entender que eu só me preocupava com Nicolas.
Elas me olharam e responderam as duas juntas:
- Não.
- Que ótimo. – falei entrando na sala de aula.
Sentei e Dani tomou o lugar ao meu lado.
- Juliet, você está apaixonada por Nicolas. – ela afirmou enquanto retirava seu material, sem olhar para mim.
- Não... – menti descaradamente.
Ela riu e me olhou:
- Nicolas é tão esperto...
- Por que você está dizendo isso?
- Ele está jogando o seu jogo.
- Como assim?
- Deixando você louca, cheia de dúvidas... É assim que você gosta, não é mesmo? De ser desprezada algumas vezes... De sofrer com a incerteza.
- Lorraine me falou isso...
- Estão falando de Nick? – perguntou Nadiny sentando sobre a mesa de Dani.
- Não, estamos falando de “Nicolas”. – falei frisando o nome dele.
Quem ela pensava que era para chamar ele de Nick?
- Que seja... Já falei com Val que vou apresentar uma amiga minha para ele. Então Nick vai parar de ficar incomodando ela.
- Ele a incomodou no sábado? – perguntei temerosa.
- Não... Mas sempre fica por perto. É como se ele fosse o “Giovane” dela.
Senti uma dor no meu estômago. Aquilo doeu como uma bofetada.
- Mas nosso Cadu não ficou com ninguém, acredita? Até parece que ele espera por você.
- Cadu perguntou por mim?
- Sim... Ele sempre pergunta.
- Nicolas ficou com alguém? – perguntei só para ter certeza.
- Claro que não. Sempre esperando por Val.
- Sim. – afirmei pegando meu material, sentindo a dor ainda intensa dentro de mim.
Não havíamos nos falado no domingo. Eu não quis ligar e ser chata, querendo saber tudo que havia acontecido porque eu não fui. Nós não tínhamos nada um com o outro. Ele poderia ficar com quem bem entendesse. O problema era eu conseguir aceitar sem ter a sensação que morreria se isso acontecesse.
- Você não dá importância ao que ela diz, não é mesmo? – falou Dani.
- Não sei...
- Juliet, é visível que ela tentar perturbar você o tempo todo. Eu só não entendo o motivo. Mas uma coisa é certa: ela sabe que você está a fim de Nicolas.
- Dani... Eu não sei o que vou fazer. Estou completamente confusa... Como nunca estive. Parece que estou me reencontrando enquanto pessoa, mas me perdi no amor como nunca estive antes.
- Mas você já tem certeza de que não gosta de Cadu, não é mesmo?
- Sim... Mas você entenderia se eu dissesse que eu gostava de gostar dele?
- Não. – ela me olhou seriamente.
- Não oferecia riscos. Não me machucava. Eu gostava daquela situação.
- Você só pode estar brincando. Sempre foi entre altos e baixos, esperando por ele, aceitando qualquer coisa que ele estivesse disposto a lhe dar, sem ter um pingo de amor próprio.
- Ainda assim eu sofria menos que agora. Acho que estou gostando de um homem que gosta de uma das minhas melhores amigas.
- Acha mesmo que Nicolas gosta de Val?
- Que ele dá em cima de mim, sim, ele dá. E eu nem vou entrar em detalhes sobre as coisas que ele fez comigo. Mas ainda assim... Como eu posso ter certeza se ele nunca me disse nada sobre o que realmente está acontecendo entre a gente? Então, para mim, ele pode sim gostar dela.
- Juliet, sua vida é uma novela mexicana.
- Acho até que eu sou mesmo a rainha do drama. – lamentei.
- Sim... E ele continua sendo perfeito. Não tente colocar problemas onde não há.
Sim, havia problemas: Val. Ela sempre seria um problema. O nosso pacto estaria sempre entre eu e Nicolas.
A professora do último período não foi naquela tarde, por isso fomos liberadas mais cedo. Estava calor e eu convidei as meninas para tomarmos um sorvete. Alissa e Val preferiram ir ao Shopping. Eu não quis. Sabia que provavelmente Nicolas não estaria lá naquele horário. Dani aceitou ir comigo.
Andamos até a rua onde ficava o comércio da cidade. Durante o dia lojas e sorveterias. À noite, os melhores e mais badalados bares noturnos das redondezas.
Pegamos um sorvete e fomos andando despretensiosamente pela rua, olhando vitrines e conversando sobre assuntos aleatórios. Fazia tempo que não tínhamos uns momentos agradáveis entre nós duas, sem literalmente nada importante a fazer, somente espairecer.
Quase não acreditei quando vi quem estava andando na minha direção, com os olhos cravados nos meus. Senti meu coração dar um salto. E fiquei incerta se seguia ou voltava. Mas era tarde. Ele já estava a alguns metros de distância.
- Não acredito que encontrei você, gatinha. Só pode ser o destino.
- Tom... Quanto tempo!
Ele me deu um beijo no rosto. Depois cumprimentou Daniela.
- Confesso que vê-la à luz do dia é ainda melhor. – ele me olhou dos pés a cabeça.
Eu ri:
- Não brinca! Confessa que está decepcionado com esta estudante de ensino médio.
- Nunca... É sempre um prazer encontrá-la.
- Eu achei que você tinha morrido.
Ele gargalhou:
- Não, gatinha. Bem vivo. Estava viajando a negócios. Voltei neste final de semana. Estava cansado e por isso não fui ao Manhattan, embora estivesse louco de saudade de você.
Tom estava louco ou algo parecido?
- Juliet, não esqueça que temos compromisso. – disse Dani.
- Sim, sim... Tom, temos horário marcado para... Uma prova logo em seguida.
- Sério? Que pena. Achei que pudéssemos fazer algo e depois eu poderia levar você em casa. Mas o que acha de eu buscá-la mais tarde para sairmos?
- Hoje eu não consigo. Vou iniciar meu estágio e preciso organizar algumas coisas. Aliás, esta semana será bem difícil para mim.
- Em que área você vai fazer estágio?
- Comercial.
- Hum, posso oferecer minha empresa? – ele abriu um largo sorriso.
- O que seria exatamente?
- Eu tenho algumas agências de viagem.
- Eu... Nunca pensei nesta possibilidade, mas obrigada. Prometo amadurecer a ideia.
- Seria um prazer ter você numa de minhas lojas.
- Obrigada pelo convite. Mas... – olhei no relógio. – Eu preciso ir mesmo.
Ele veio até mim e me deu um beijo. E não foi no rosto, como eu esperava. Simplesmente, no meio da rua, me tascou um beijo na boca sem nenhuma preocupação. Quando ele me soltou fiquei meio tonta e sem saber o que dizer ou como agir.
- Nos encontramos no Manhattan então? Espero que não esteja fugindo de mim, gatinha.
- Eu? Claro que não...
- Bem, vamos então. – falou Dani me puxando pelo braço e dando meia volta.
Ela continuava me levando enquanto eu perguntei atônita:
- Dani, me diga que isso não aconteceu.
- Você ter encontrado Tom? Tom ter lhe oferecido um emprego? Tom ser dono de agências de turismo? Ou Tom ter lhe dado um beijo? – ela disse ironicamente.
- Acho que todas as coisas.
- Já nem sei mais se torço para Nicolas ou Tom. – ela balançou a cabeça. – Acho que vamos ter que dividir estes homens da sua vida.
- Cadu ninguém queria. – brinquei.
- Nem de graça. Aliás, falando em graça, o que você viu em Cadu?
- Ah, ele é bonitinho.
- Não é feio... Mas não chama a atenção. Além de não tem nada a ver com você.
- Nenhum deles tem nada a ver comigo.
- Você é a tempestade... Nicola é a calmaria. Ele a tranquiliza. Vejo você diferente desde que ele entrou na sua vida.
- Impressão sua.
- Não... Não é. Você amadureceu.
- Não foi ele que fez isso.
- Acho que foi. Ele é maduro. Ele lhe mostrou coisas que nenhum homem fez. Ele lhe diz verdades que ninguém tem coragem de lhe dizer. E ainda assim você gosta dele.
- Sim... Daí agora que estou quase certa dos meus sentimentos entra Tom na jogada... Para revirar tudo de ponta cabeça de novo.
- Vejo uma indecisão aí?
- Se hoje os dois viessem falar comigo eu escolheria Nicolas. Mesmo sabendo que escolher Nicolas é ficar sozinha.
- Como assim? Não entendi...
- Ele é parte do pacto.
- Esquece este pacto, menina. Ninguém liga para isso, só você.
- Ninguém liga até eu ficar com ele. Acha que Val e Alissa não irão me cobrar? Val parece até começar a se interessar por ele ultimamente, só porque eu passei a ter sentimentos por Nicolas.
- Confesso que algumas vezes me parece que Val tenta sim lhe fazer algum ciúme. Porque acho que ela sente ciúme dele com você. É tipo: “não quero ele, mas quero que ele continue me querendo”.
- Isso não vai ser fácil, minha amiga. Aliás, amadurecer não está sendo fácil.
- E quem disse quer seria, não é mesmo? Pelo menos estamos juntas nesta empreitada.
- Sempre. – eu abracei ela e seguimos assim até o final da rua.
- Mas a pergunta que não quer calar: como foi o beijo de Tom?
- Sinceramente? Não gostei como antes.
- E quando você vai beijar Nicolas?
Suspirei:
- Do jeito que anda, acho que nunca! Acredita que já até sonhei com isso?