Capítulo 33
2304palavras
2022-06-30 01:51
Eu fiquei muda e Lorraine começou a rir, dizendo:
- Eu vou pegar algo para comer. Alguém quer?
- Coca-cola. – eu disse ainda perplexa.
- Não dê Coca-cola para ela. – disse Nicolas. – Faz mal.
- Ela gosta de tudo que faz mal... E já que você vai pegar a prostituta, o refrigerante é o de menos, amigo.
Ela saiu deixando a fumaça mal cheirosa, que tentei espalhar com minhas mãos, fazendo careta:
- Perdoe os maus modos de todos nesta casa. – eu disse.
Ele se virou e sentou ao meu lado.
- Achei que ainda estivesse bêbada. Não foi sequer capaz de me ligar para agradecer por eu ter salvado você.
- Não me salvou... E sabe muito bem disto.
- Ainda quer ficar com Pedro?
- Nick... Eu preciso lhe contar uma coisa.
Ele me olhou. Estávamos tão próximos. Nossos corpos se encostavam, um ao lado do outro. Eu não sei se suportaria aquilo por muito tempo. Eu tentava me conter, mas ele fazia de tudo para ser “agarrado”.
- Fale...
- Val está começando a se interessar por você?
- Jura?
- Sim... Ela mesma me falou na segunda-feira.
- E por que você não me ligou para dizer isso? – ele falou tranquilamente, me observando.
Respirei fundo e respondi:
- Não sei.
- E o que você disse para ela quando soube do interesse repentino de sua amiga em mim?
- Repentino? – falei alto. – Vocês ficaram juntos no sábado.
- Não tenho mais interesse em Val.
- Como assim? Por que a beijou? E você não parecia estar desinteressado enquanto colocava sua língua dentro da boca dela e a abraçava.
Ele falou sarcasticamente:
- Você observou até onde estava a minha língua naquela noite?
- Sou uma boa observadora.
- Quer que eu lhe mostre o que posso fazer com minha língua?
Ele se aproximou e eu senti o cheiro dele. Mas com muita dificuldade o empurrei levemente:
- Não sou segunda opção de ninguém.
- E eu tenho que ser a terceira?
- Eu já disse...
- Não... Não disse que me odeia hoje. Fale logo.
Minha vontade era dizer “Eu te amo”. No entanto fiquei quieta, só olhando para ele.
- Vamos, diga que me odeia, Rainha do Drama.
- Não posso.
- Eu gosto, fale. – ele admitiu.
- Mas eu não odeio você. – falei. – Pelo menos não neste momento.
- Eu não gosto mais de Val. Estou gostando de outra pessoa.
- Por que ficou com ela?
- Está se referindo a este sábado ou ao dia que nos conhecemos?
Nicolas, você quer me matar, é isso? Eu senti meu coração quase saindo do meu peito.
- Eu acho que não tem explicação para isso, não é mesmo? – eu disse num fio de voz.
- E tem explicação para você ter ficado com Cadu no Lounge 191?
Lorraine entrou e me entregou um copo de Coca-cola, cheio, com limão e gelo.
- Está matando sua prima. – ele disse.
- Acho que quem está matando ela é você. – disse Lorraine acendendo outro cigarro.
- Você não consegue ficar um segundo sem fumar? – eu perguntei.
- Estou completamente viciada. – ela admitiu.
Ela foi trocar o CD que acabou de tocar. Enquanto isso senti a mão de Nicolas na minha barriga, descendo lentamente sob o cobertor. Senti um frio na espinha e estremeci. Eu estava com as pernas para cima, arqueadas. Olhei para ele sentindo um fogo se espalhando pelo meu corpo. Ele me tocou por cima da calcinha e começou a massagear, me deixando louca. Como não reclamei, ele entrou com facilidade pela minha calça, que era larga, e senti os dedos dele onde nunca algum homem tocou antes. Meu coração dava saltos e minha respiração estava lenta e pausada. Seus dedos começaram a tocar toda minha extensão, deslizando com facilidade. Um dedo alcançou meu ponto de prazer enquanto o outro foi colocado lentamente para dentro. Mexi-me lentamente, querendo que ele pudesse aprofundar o toque. Era uma sensação estranha, como se eu nada no mundo fosse mais importante que as mãos dele em mim. Aquilo era uma verdadeira loucura. E que loucura perfeita. Nossos olhos se encontraram e Lorraine falava algo, mas eu não conseguia prestar atenção. Estava completamente concentrada naquelas sensações que meu corpo produzia. Nicolas conseguia me fazer delirar de prazer e ainda tentar responder Lorraine. Até que derrubei todo líquido do copo sobre o cobertor, em cima de nós.
Tentei puxar a coberta para colocar para o chão, mas ele não deixou. Segurou firme enquanto eu tentava arrancar dele.
- Deixa de ser idiota. – falou Lorraine retirando minhas mãos da coberta, como se entendesse o estava acontecendo.
Ele continuou coberto, mesmo com tudo molhado.
- Valeu, “prima”. – ele disse para Lorraine.
- Veja pelo lado bom, Nick, acho que a cama não vai dar para usar esta noite. Então se você resolver dormir aqui, talvez minha tia coloque vocês juntos.
- Vou dormir aqui. – ele disse na mesma hora.
- Não vai não. Você vai para sua casa.
- Não agora, de pau duro. – disse Lorraine rindo ironicamente.
Só então me dei em conta do que estava acontecendo. Como eu era ingênua. E ainda me achava esperta. Tinha muito a aprender na arte do sexo. Ah, e como eu queria aprender.
Fiquei ali, de pé, olhando para os dois, confusa. Então fui para o banheiro e retirei minha roupa, com meu corpo entrando em ebulição debaixo do chuveiro. Coloquei a água na temperatura fria e fiquei ali, até que me sentisse segura para retornar. Não havia pegado roupa. E ele acharia que foi proposital. Enrolei-me na toalha e quando saí ele estava de pé já.
- Aonde você vai? – perguntei.
- Para minha casa.
- Mas...
Ele veio até mim e disse:
- Acho melhor... Para nós dois.
- Pode ficar se quiser. – eu disse.
- Ainda não estou preparado. – ele disse me olhando.
- Algum dia vai estar? – me vi perguntando.
- Encontro você no próximo sábado. – ele disse me dando um beijo onde seus lábios pegaram metade nos meus e o restante no rosto.
Eu queria tanto beijá-lo que chegava a dar uma dor dentro de mim. Ele saiu e eu fiquei ali, enrolada na toalha me sentindo completamente atordoada.
- Este é dos bons... – disse Lorraine. – Ele conhece você tão bem que vai deixá-la completamente louca antes de finalizar. Mais inteligente do que eu pensava...
- E se eu desistir?
- Não vai... Ele sabe que você está louca por ele. E aposto que nem sabe como começou.
Claro que na segunda-feira, assim que acabou a aula, eu fui para o Shopping na tentativa de encontrar Nicolas. Mas ele não estava.
Quando cheguei em casa juro que tentei me conter e não ligar. Mas não consegui. Quando vi já estava deitada na minha cama, discando o número dele.
- Oi... – ouvi a voz conhecida do outro lado da linha, sentindo meu coração bater acelerado.
- Oi. Está em casa?
- Não. Na escola.
- Desculpe, não queria atrapalhar.
- Estou fora da sala.
- Eu...
Fiquei um tempo sem falar. Eu não sabia o que dizer.
- Estava morrendo de saudade, isso? – eu podia imaginar o sorriso lindo dele do outro lado da linha.
- Morrendo seria exagero.
- Hum, então um pouquinho sim.
- Só um pouquinho. – menti.
- Eu não vou conseguir estar com frequência no Shopping no horário que costumamos nos encontrar. Em breve inicio meu estágio. Então vou estar bem atarefado.
- Que pena. – falei desapontada.
- Mas você sabe que eu sempre arrumo um tempinho para você, não é mesmo?
- Vai me sobrar os sábados à noite para dividir com Val? – provoquei.
- Prometo que os domingos inteiros são para você.
- Que bom que sempre há tempo para os amigos.
- Eu não disse que para os amigos. Eu disse para você.
Sim, Nick era a única pessoa no mundo que conseguia me deixar sem palavras. Ou corada.
- Você ainda está aí? – ele perguntou.
- Sempre... – falei.
- Eu preciso voltar para a aula.
- Ok.
- Quer saber para quem eu estou olhando neste momento? – ele perguntou.
- Não. – respondi com certeza.
Ouvi a risada dele:
- Até sábado, Rainha do Drama.
- Até, Senhor Perfeito.
Não me restava nada a fazer a não ser dormir e pensar nele. E só de imaginar a forma como ele me tocou no outro dia senti meu sangue ferver e minha calcinha umedecer. Era ele que eu queria que fosse meu primeiro homem. Eu não tinha dúvidas. No fim, me parece que Cadu chegou na minha vida para ser o elo de ligação entre eu e Nicolas. O problema agora era Valquíria. Eu não tinha ideia de como iria lidar com aquilo.
A semana transcorreu normalmente e o combinado foi um sábado com todos no Manhattan.
Lorraine não poderia ir, pois havia marcado com suas amigas de sair para outro lugar.
Eu me arrumei e enquanto andava para lá e para cá em busca de maquiagens no quarto da minha mãe (sim, eu tinha as minhas, mas amava mexer nas dela), eu vi um bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro sobre a mesa. Ele parecia estar esperando por mim. Olhei no relógio. Acho que dava tempo de comer um pedaço... Talvez três. Peguei um prato e servi uma fatia do bolo. Sentei e fechei os olhos ao sentir o sabor perfeito e a massa doce derretendo na minha boca.
- O bolo do Otto. – quase gritou minha mãe. – Você está louca?
Eu parei como uma estátua, com o garfo no meio do caminho entre o prato e minha boca. Quando vi, Otto estava ali também. Os dois me encarando. Até que ele começou a gargalhar.
- O que está havendo? – perguntei confusa.
- Otto levaria o bolo amanhã para uma confraternização com a família dele.
- Me desculpe, Otto.
- Tudo bem... Eu faço outro. – ele disse sem se importar.
- Estou me sentindo culpada.
Minha mãe limpou a minha boca:
- Tinha que se ver no espelho. Você está puro chocolate.
- Deixa eu mostrar uma coisa. – disse Otto saindo rapidamente.
Minha mãe sentou ao meu lado e cortou uma fatia:
- Já que você fez as honras, vamos seguir. – ela disse provando.
- Isso não é de Deus. – falei pegando mais uma fatia. – Eu comeria tudo sozinha.
Ela riu:
- Sempre uma formiga. Foi Otto que deixou você mal acostumada com estes bolos.
- Eu admito que ele faz bolos melhor que você.
Otto apareceu de volta com uma caixa grande. Era onde minha mãe guardava as fotos. Ele retirou uma de mim com uns 5 anos, com a boca puro chocolate de cobertura de bolo.
- Olhe se não é igual. Ela continua do mesmo jeito. – ele falou, mostrando para minha mãe.
- Exatamente. Até do mesmo tamanho. – ela debochou.
- Mãe, como você é má. – peguei a foto das mãos dela e olhei.
Tirando os cabelos vermelhos de hoje realmente parecia que nada havia mudado.
- Nem lembrava da cor natural dos meus cabelos. – ri.
- Loiros. Nunca esqueça disto. – ela falou com a voz doce.
Otto pegou mais fotos e começou a colocar sobre a mesa. Enquanto eu olhava, comíamos o bolo perfeito que ele havia feito. Quando percebi já havia passado da hora de eu sair. Olhei para os dois, tão felizes de relembrarmos momentos felizes que passamos juntos. E de todas as minhas lembranças, Otto estava lá. Eu não tinha nada guardado de recordação do meu pai... Nem mesmo na minha memória. Não sei se algum dia houve uma foto... E minha mãe se desfez. Mas falar com ela sobre aquilo era sempre tão difícil. Eu sabia a dor que ela sentia em reviver seu passado, mas ao mesmo tempo eu gostava de saber o que de fato havia acontecido. As respostas eram sempre curtas e terminavam da seguinte forma: “você foi a única coisa boa que ele fez”. Claro que eu sabia de alguns fatos, como que ela engravidou e ele não quis casar, o que naquela época já deu bastante problema para ela com a família. Eles moraram juntos pouco tempo. Então ela descobriu os vícios dele. De início achou que era passageiro. Mas com o tempo viu que aquilo acontecia há tempos e as drogas eram pesadas. Sei que ele roubou dinheiro dela e da família, assim como objetos para vender e sustentar o vício. Nunca trabalhou e minha mãe não só sustentava ele como seu vício, dando dinheiro para que ele não roubasse dos parentes. A relação deles não durou muito tempo. E depois da saída de uma das clínicas de reabilitação ele simplesmente nunca mais voltou para casa.
Minha mãe soube por conhecidos que tinha em comum com ele que estava morando em Paraíso e tinha dois filhos. Mas nem sabíamos com certeza se era verdade ou não. Mas eu acreditava que sim. E isso era o que eu sabia sobre Simon Dawson.
Conforme fui entrando na adolescência, comecei a querer saber mais sobre ele. Mas só via dor e mágoa da parte de minha mãe quando falava nele. Então passei a ver Otto com raiva, achando ele podia ser o responsável pelo sentimento ruim que minha mãe tinha contra meu verdadeiro pai.
Mas quando eu pensava na infância, ou via fotos como recordações impressas do que aconteceu, era Otto a presença masculina que estava o tempo todo lá. Ele não era o meu pai verdadeiro. Mas me deu tudo que um pai deveria dar: atenção e carinho.