Capítulo 32
2491palavras
2022-06-18 03:57
Quando cheguei na aula segunda-feira Alissa e Val já estavam sentadas em dupla. Dani não havia chegado. Apesar do ocorrido, eu estava tranquila. Não havia quebrado o pacto. Eu estava gostando de Nicolas (muito), mas não havia tido nada com ele... Até agora.
- E então, recuperada da bebedeira? – perguntou Alissa.
- Sempre.
- E Nicolas? – perguntou Val.
- Eu não sei. Deve estar bem. Não falei mais com ele. Aliás, devo agradecer por ele ter sido tão gentil comigo. – tentei.
- Até demais. – disse Val.
- Está com ciúme, Val? – perguntei curiosa.
- Não sei... E você, está gostando dele?
- Eu? Mas é claro que não... – falei sem ter certeza se fui convincente. Parecia que estava escrito na minha cara que eu estava gostando por ele.
- Não vão se estranhar por causa de Nicolas, não é meninas? – falou Alissa. – Gente, por Deus, é só Nicolas.
Não “é só Nicolas”. É “o Nicolas”. Nicolas é tudo... Já não é mais alguém rejeitado. Ei, eu quero ele. Se você não quer, deixa o caminho livre e diz que eu posso ficar com ele que vai ficar tudo bem.
- De uma hora para outra ele passou a fazer parte da nossa vida... – disse Valquíria. – Está em todos os lugares que estamos... É estranho. Parece que quer ser engolido goela abaixo.
- Talvez não seja por você... – disse Dani ouvindo a conversa e sentando ao meu lado.
Todas olharam para ela, que completou:
- E se Nicolas não gosta mais de Val e sim de Juliet?
Senti um frio na minha barriga. Acho que eu não estava preparada para aquela conversa.
Val e Alissa começaram a rir.
- Ei, falei algo engraçado? – perguntou Dani.
- Se ele gostasse de Juliet, por que teria ficado com Val? – questionou Alissa. – É óbvio que ele ainda gosta dela. Depois de tanto tempo, ele foi procurá-la.
- Eu não gosto dele... Mas é bom ficar com ele. – disse Val. – Gosto do beijo dele... Da forma como me trata. Ele é carinhoso, gentil...
Senti como se ela tivesse dado uma facada no meu coração. Doeu lembrar do beijo deles. E no fim elas tinham razão: foi ela que ele procurou naquela noite. Talvez eu realmente fosse só a amiga que ele se preocupava. Nada além disso.
- Então tem possibilidade de vocês terem algo mais sério? – perguntou Dani.
- Algo sério não... Mas talvez eu possa ficar com ele novamente no Manhattan, sem compromisso.
- Acho que ele pode estar gostando de Juliet, afinal, ficou com você, mas largou tudo por ela.
Porra, estava ficando cada vez mais rarefeito o ar ali dentro.
- O que você sente por ele afinal, Juliet? – me perguntou Val.
- Eu... Gosto de Cadu. – falei tentando fugir daquela conversa imediatamente.
Nisso Nadiny, provavelmente ouvindo nossa conversa mais adiante, veio até nós e disse:
- Ju... Encontrei Cadu no domingo. Ele mandou um beijo para você. Infelizmente não pôde ir no meu aniversário e...
Eu não consegui prestar atenção no que ela falava. Minha mente só pensava em Nicolas e Val e o que eu poderia estar fazendo com a minha vida. Eu gostava dele. Não tinha dúvidas. Talvez até beirasse o amor. Mas eu amava minhas amigas. Quando eu estava com ele, geralmente não pensava no pacto. Mas agora, que parecia que tinha chance de acontecer realmente algo entre nós, o pacto vinha de minuto em minuto lembrar-me que ele estava ali, de pé. Eu tinha mil defeitos, eu era uma péssima pessoa às vezes... Mas eu amava Alissa, Val e Dani como se fossem da minha família. Até mais que alguns membros da minha família. Eu não poderia quebrar o pacto. Eu não estava disposta a ficar sem elas. Ou estava? Minha cabeça era um turbilhão...
- Ju, você está me ouvindo? – perguntou Nadiny.
- Oi? – olhei para ela sem saber nada do que ela havia dito. – Sim... – menti.
- Que bom. Eu tenho certeza de que Cadu gosta de você.
Deus, ela ainda estava falando de Cadu? E para mim aquilo não tinha mais nenhuma importância. Como ela conseguia ser tão mentirosa e falsa? Como assim ele gostava de mim? Ele nem sabia que eu existia. Ela sempre parecia querer forçar algo que não tinha possibilidade de acontecer.
- E eu vou arranjar alguém para Nicolas. – disse Nadiny. – Assim você se livra dele de uma vez. – ela olhou para Val.
Val gostava de Nadiny. E aposto que até gostou da proposta dela. Mas quem aquela garota achava que era para encontrar alguém para Nicolas? Ele podia fazer isso sozinho.
Dani me cutucou com o braço, sem disfarçar muito sua ironia. Ela era assim: franca. Por isso não muito tolerada na nossa turma. Eu beirava o meio termo. Tinha vezes que eu estava de bom humor e falava com todo mundo. Outras eu era puro veneno e deboche.
A aula começou. E ao mesmo tempo nosso estágio começava a ficar próximo e em breve não mais nos encontraríamos diariamente.
- Acha mesmo que seremos melhores amigas para sempre? – Dani me perguntou enquanto eu mordia a caneta completamente absorta no mundo “Nicolas Welling”.
- Acho que sim. – eu disse.
- Não seremos. Em poucas semanas será cada uma para um lado. Nossa vida profissional inicia... E nos veremos raramente e teremos tão pouco tempo para tudo que isso nunca mais será como antes.
- Eu sei... E sentirei falta.
- Ele pode ser para sempre. – ela me olhou.
Eu não precisava perguntar. Sabia do que ela falava.
- Não sei se posso fazer isso.
- Contar a verdade? – ela perguntou.
- Também...
- Já rolou algo?
- Às vezes tenho a impressão que tudo é coisa da minha cabeça.
- Eu não acho que seja... Já beijou ele?
- Quase... Eu acho.
- Como assim “eu acho”. Você sempre foi a garota das certezas e nunca do achismo.
- Ele me deixa confusa... E insegura.
- E Cadu deixava você segura? – ela riu.
- Sim... – eu ri. – Por incrível que pareça sim. Era só gostar dele e ficar correndo atrás... E não corria risco real de sofrer. Eu gostava da forma como era. Esperar por ele, ficar com outro e tudo bem.
- E você não sofria com o que ele fazia?
- Acho que não... Porque eu não gostava dele, entende? Mas ver Nicolas com Val foi como se alguém cravasse um punhal no meu coração.
- Você está apaixonada por ele... – ela me abraçou.
- Isso é horrível.
- Ele é um fofo. Não o deixe escapar.
- Você quebraria o pacto?
- Sim. Tenho certeza de que Alissa também quebraria.
- Mas não Val.
- Porque ela não é normal, Juliet.
- E eu sou?
- Agora estou vendo uma luz no fim do túnel com você... – ela riu. – Acho que você pode estar ficando normal.
Eu não liguei para Nicolas naquela semana. E nem fui ao Shopping. Acho que precisava evitar um pouco encontrá-lo. Ele ficou com Val... E eu ainda achava que ele podia estar interessado nela. Eu não queria ser a traíra da história. Nem a traída.
No domingo, final de tarde, Lorraine veio à minha casa para conversarmos. Não havíamos nos visto durante toda a semana e começávamos a sentir falta uma da outra. A mãe dela também veio e minha mãe acabou fazendo uma janta para todos.
Estávamos à mesa quando a campainha tocou. Otto foi atender. E minutos depois ele retornou com Nicolas atrás dele. Quase engasguei com a comida quando o vi novamente na minha casa.
- O que você está fazendo aqui? – perguntei sem pensar muito.
- Quer que eu vá embora? – ele ficou confuso, parado na porta.
- Não. – quase gritei.
- Entra aí, “primo”. Sirva-se e fique a vontade. – disse Lorraine como se a casa fosse dela.
Minha mãe correu e pegou um prato para ele, fazendo questão de colocá-lo ao meu lado. Deus, eu fugi dele a semana inteira e agora ele estava aqui, do meu lado, completamente lindo e perfumado. Só pode ser castigo. O cheiro dele me deixava completamente fora de mim.
- Este é o famoso Nicolas. – disse minha tia o encarando.
- Famoso? – ele perguntou curioso.
- Lorraine fala muito de você... Que em breve entrará para a família.
Deus, poderia ficar pior? Praticamente me jogavam para cima dele. Senti minhas bochechas pegarem fogo.
- Calma, ainda é cedo. – disse Otto. – Ainda preciso conhecer melhor Nicolas. Quem sabe seus pais?
- Gente, não finjam que eu não estou aqui... Muito menos falem ou tomem decisões por mim. Eu e Nicolas somos só amigos... Não é Nick?
- Sim... – ele respondeu.
- Não me pareceu que eram só amigos quando eu abri a porta do seu quarto naquela noite. – disse minha mãe.
Perdi a fome. Respirei fundo e desisti. Eles não cansariam nunca. E se eu demonstrasse estar irritada, seria pior.
- Eu só estava fazendo uma massagem nela. – ele falou um pouco constrangido.
- Quem vai querer sobremesa? – perguntou Otto me salvando.
Depois da janta eu convidei Nicolas e Lorraine para irem ao meu quarto, para podermos conversar mais à vontade.
Ele tirou o tênis e sentou na minha cama, escorando-se na cabeceira. Lorraine sentou no chão e pegou alguns Cds para escolher.
- Quero TNT. – avisei.
- Não enjoa? – ela perguntou.
- Nunca.
Ela suspirou e colocou o Cd para tocar, dizendo:
- Na minha casa, eu escolho as músicas. Na de Nicolas, ele escolhe.
- Combinado. – eu disse me jogando na minha cama, quase por cima dele. Não tenho certeza se fiz de propósito ou foi sem querer.
Escorei-me na parede, colocando as pernas para cima. Os pés dele encostaram nas minhas pernas.
As músicas da banda TNT tinham muitos palavrões e falavam sobre sexo. Mas eu estava acostumada a ouvir aquilo, então não me importava.
- E então? Semana que vem vamos aonde? – perguntou Lorraine. – Confesso que gosto muito de sair com vocês dois. É como viver uma novela mexicana. Ou andar numa montanha-russa. Pura aventura e emoção.
- Manhattan ou Lounge? – ele perguntou.
- Manhattan. – eu disse.
- Por que não tentamos outra cidade? Estou começando a ficar enjoado. – ele disse.
- Nem pensar... Eu amo o Manhattan.
- Ainda tem esperanças de encontrar Cadu por lá? – ele perguntou.
- Ah, não... Sem falar de Cadu. Por favor. – disse Lorraine.
- Eu concordo. – levantei meu dedo.
Começou a tocar uma música que a letra mencionava desejos sexuais. Lorraine acendeu um cigarro.
- Você vai deixar meu quarto com cheiro de cigarro? Não acredito. – reclamei.
- Não seja boba. – ela abriu a janela, deixando um vento frio entrar no quarto.
- Eu já transei na escadaria de emergência do shopping. – ela disse rindo enquanto jogava a fumaça para fora da janela.
- Você fez isso? – perguntou Nicolas rindo.
- Sim... E foi muito bom. O risco... Isso excita muito.
Não sei se aquele papo me agradava muito.
- E você, Nick, já comeu alguém fora de uma cama? – ela perguntou descaradamente.
- Já. – ele falou tranquilamente.
- Onde? – eu me vi perguntando.
Ele sorriu sarcasticamente:
- Acha que eu lhe contaria?
- Por que não?
- Eu digo se você disser com quem você chegou mais perto de transar.
- Nem pensar. – disse Lorraine. – Sem os joguinhos de vocês. Eu estou aqui, lembrem-se. E não vou ficar em segundo plano. Depois que eu for embora vocês resolvem estas questões sexuais que são só suas. E Nick, Juliet é virgem, mas não é santa. Aliás, de santa ela não tem nada.
- E eu não sei? – ele disse.
- Nossa... O que vocês pensam de mim?
- Não sei... Diga-me você, prima. Onde gostaria de transar a primeira vez?
- Numa cama. – admiti.
- Numa cama? Tão previsível. – ela disse.
- Acho que pode ser mais relaxante em menos tenso para a primeira vez. – falei.
- Depois da primeira vez isso é um caminho sem volta. Você vai querer fazer o tempo inteiro. Ainda mais se achar o cara certo.
- Ela já até decidiu quem vai ser o primeiro. – disse Nicolas.
- Você? – perguntou Lorraine ironicamente.
- Não. – eu disse.
- Não mesmo. Vai ser Cadu. E depois disso eles vão ficar juntos para sempre. – ele ironizou.
- Eu disse isso quando era apenas uma garota apaixonada. – me defendi.
- Tipo uns 5 meses atrás. – ele riu.
- Acho que Cadu vai ser padre ou algo do tipo. Acho que ele é virgem. – disse Lorraine.
- Eu duvido. – falei.
- Ele tentou algo com você? – ela perguntou curiosa.
- Pouco. – confessei rindo. – Agora a chance dele passou. Mas o certo é que não vou chegar aos 19 virgem.
- Seu melhor “amigo” pode lhe ajudar com isso. – ela disse enfatizando a palavra amigo.
- Sim... Pode me apresentar alguém, não é mesmo Nick? – provoquei.
- Talvez... – foi a resposta dele.
- Eu também tenho vontade de testar a escadaria de emergência do shopping. – falei rindo. – Mas quando lembrar que você esteve lá vai ser engraçado, Lorraine.
- Ah, esta fantasia não vale, Juliet. Eu já fiz. Qual a outra? Você deve ter outras... Uma mulher fogosa como você deve ter várias. – ela disse.
Um vento forte entrou pela janela e eu senti frio:
- Feche a janela. Estou com frio. – reclamei.
- Não mesmo. Vou fumar um atrás do outro. Estou tensa aqui. – ela disse me jogando um cobertor.
Me cobri e Nick pegou o restante para ele.
- Bem, eu tenho vontade de transar no banheiro do Manhattan. – confessei.
- Isso é comum. – disse Nicolas.
- Comum? Você já fez? – perguntei.
- No Manhattan não. Mas no Lounge sim.
- Com quem?
- Alguém que você não conhece... E que eu nunca mais vi.
- Está satisfeita com esta resposta, Juliet? – perguntou Lorraine. – Aliás, alguém quer um cigarro?
- Não. – nós dois respondemos juntos.
- E eu tenho vontade de transar num motel de beira de estrada... Como se eu fosse uma prostituta pega numa esquina. – aquele era meu desejo mais secreto.
- Que coisa louca. – disse Lorraine. – Perversão total. Eu quero dentro da água, mas não numa banheira. Num rio ou no mar.
Começamos a rir.
- E você, Nicolas? – perguntou Lorraine. – O que quer fazer que ainda não fez?
- Pegar uma prostituta numa esquina e levar para um motel de beira de estrada.